O não esclarecimento dos registros violentos no Allianz Parque até agora e as urgências do novo tempo
O tempo tem mostrado que avanços acontecem. Nas mais variadas esferas, avançamos como civilização. É processo natural e parte do que definimos por evolução. Porém, ele, senhor da razão, tem também mostrado retrocessos. Retornos a pensamentos e condutas que já não deveriam mais ter espaço em nossa sociedade, mas que, infelizmente, são realidades.
Nesse sentido, crescem as manifestações de ódio e de ideologias que nada tem a ver com a Era da liberdade do pensamento e do ser. E este é, para mim, um terreno perigoso. Quando nos apoiamos no desejo de ter a ordem restabelecida por meio da repressão, quando temos escancarados os pedidos do retorno dos tempos de chumbo e da censura, quando vemos o preconceito racial, quando acompanhamos o gênero ser elemento determinante em atitudes, excludente e desigual, decretamos nossa falência como sociedade.
Por isso, o conhecimento é a melhor das armas. Precisamos conhecer, saber, entender, estudar; nos aprimorarmos para termos a capacidade de entendimento de que, se os tempos mudaram, os discursos devem acompanhar esse mesmo tempo. Não cabem preconceitos nas palavras. A disseminação do ódio tem que ser contida. As manifestações de violência punidas. Precisamos refletir sobre nossas ações, dizeres e mesmo posicionamentos. TODOS NÓS. Homens e mulheres.
Nas últimas semanas, vivemos um turbilhão de emoções com o manifesto de jornalistas esportivas #DeixaElaTrabalhar. Fizemos do movimento que é de todas nós braços para quem precisava de um abraço, pernas para quem se sentia paralisada, voz para quem tinha que ser ouvida. Nessa linda sororidade, movimentamos a imprensa nacional e internacional, fizemos muito e pouco ao mesmo tempo, diante de tantas necessidades que nós mulheres temos.
No domingo passado, durante a final do Campeonato Paulista no Allianz Parque, registramos e divulgamos essas imagens, mas dessa vez, as centenas de mensagens compartilhadas nas redes sociais ainda não foram suficientes para que tivéssemos uma ação imediata ou uma resposta até o momento. Além do vídeo, outros acontecimentos de violência contra jornalistas foram registrados dentro do estádio (inclusive contra homens). Situações que não podem acontecer e que não devem ser consideradas normais para o ambiente esportivo (nem para local algum).
Assim, independentemente de outros fatores, merecem atenção e são sim urgentes, na minha opinião. Por exemplo: recentemente, em situações semelhantes, os clubes gaúchos Internacional e São José agiram de forma ágil e eficiente para a identificação de torcedores. Em São Paulo, o Corinthians planeja mudar o posicionamento dos jornalistas na saída de campo para evitar que fiquem expostos a situações ofensivas e violentas com torcedores.
Nessa semana, o Palmeiras teve uma postura incansável no que diz respeito às questões de arbitragem. Importante, afinal, o que acontece nos gramados deve ser debatido e mesmo questionado. O esporte permite questionamentos, a Justiça é, também, o recurso a ser utilizado quando alguém se sente desfavorecido/prejudicado. E nessa linha, é também justo que queixas sejam ouvidas. O campo é urgente. Só que a arquibancada, a zona mista, a tribuna de imprensa, a área para jornalistas também são urgentes. Tudo que cerca o ambiente esportivo é prioridade.
Estamos em um momento em que as manifestações surgem de demandas sociais, de necessidades que não são individuais, mas coletivas. Clubes não são rivais na luta pela igualdade, não são vilões, nem clubes, nem seus torcedores. Pelo contrário, devem ser aliados numa luta que representa a pluralidade. Esses torcedores são indivíduos, com seus rostos e atos agressivos expostos. Eles precisam ser identificados e punidos.
É trabalho coletivo. O estádio é responsabilidade de todos, mas principalmente daqueles que ali atuam.
O #DeixaElaTrabalhar é como um lembrete diário: os tempos mudaram, façamos alguma coisa! Repensemos! Vamos agir!
O não esclarecimento dos registros violentos no Allianz Parque até agora e as urgências do novo tempo
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