Em meio a incertezas pelo coronavírus, a MLS está de volta
Quando O Show de Truman foi lançado, em 1998, a ideia de viver em uma bolha parecia algo extremamente futurista. O filme, além de mostrar um lado que o mundo do cinema não conhecia de Jim Carrey, apresentou uma história distópica. Passadas pouco mais de duas décadas, a realidade atual lembra a distopia do filme.
A partir desta quarta-feira, a Major League Soccer (MLS) vai retomar seu campeonato em uma 'bolha' criada no Walt Disney World, em Orlando, no estado da Flórida. Sem público nas arquibancadas e com final previsto para 11 de agosto. Vinte e cinco dos 26 times estão concentrados e isolados nos hotéis do complexo da Disney para a disputa do MLS is Back Tournament.
Eram 26 até à última segunda-feira. O FC Dallas teve dez jogadores que testaram positivo para COVID-19, com isso, o time foi excluído da competição. A pandemia de coronavírus é a responsável pela situação de excepcionalidade, que obrigou a liga a criar um novo formato para retomar a temporada 2020.
As conferências Leste e Oeste foram abandonadas e substituídas por seis grupos:
Grupo A: Orlando City, Inter Miami, New York City, Philadelphia Union, Chicago Fire e Nashville
Grupo B: Seattle Sounders, Vancouver Whitecaps, San Jose Earthquakes e FC Dallas (excluído)
Grupo C: Toronto FC, New England Revolution, Montreal Impact e DC United
Grupo D: Real Salt Lake, Sporting Kansas City, Colorado Rapids e Minnesota United
Grupo E: Atlanta United, FC Cincinnati, New Yord Red Bulls e Columbus Crew
Grupo F: Los Angeles FC, LA Galaxy, Houston Dynamo e Portland Timbers
Os três primeiros colocados da chave A avançam para os playoffs, assim como os dois primeiros das outras cinco, mais os três melhores terceiros colocados no geral. Depois, a competição segue o modelo da Copa do Mundo, com jogos únicos das oitavas de final até a decisão. Sem o Dallas, porém, ainda pode haver mudanças na tabela, inclusive porque há risco de mais uma exclusão.
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O Nashville, estreante na liga ao lado do Inter Miami (também conhecido como 'time do Beckham'), teve cinco jogadores que testaram positivo para COVID-19. Assim, sua partida inaugural contra o Chicago Fire foi adiada, sem data confirmada para realização. Outro jogo que precisou ser remarcado foi Toronto x DC United, por causa do atraso da chegada dos canadenses aos Estados Unidos.
"A MLS e o Dallas estão dando todo suporte. Tivemos alguns casos antes de ir para a Flórida, mas achávamos que iríamos jogar. Provavelmente os jogadores se recuperariam rápido, alguns deles deram positivo bem no começo da volta aos treinos, então daria tempo. O problema foi quando chegou lá, sem dez jogadores fica difícil. É quase um time inteiro", afirma Bruno Paschoalini, supervisor do Toyota Soccer Complex, casa do FC Dallas. Ele foi designado pelo clube para auxiliar as famílias dos jogadores brasileiros do time, Bressan e Thiago Santos, enquanto estivessem na 'bolha' de Orlando.
"Em primeiro lugar está a saúde dos jogadores e de todo mundo do clube. Tenho certeza que daremos a volta por cima e logo o time estará de volta", completa Paschoalini, que teve contato direto com os atletas, fez vários testes e não deu positivo. O Dallas concordou integralmente com a decisão da MLS. "A saúde de todos envolvidos no nosso retorno sempre foi nossa prioridade máxima, e vamos continuar a tomar decisões consistentes nessa prioridade", garantiu Don Garber, comissário da liga.
Não há uma política de combate nacional ao coronavírus nos Estados Unidos. Cada estado age como seu governador determina, e muitos são negacionistas, como o presidente do país, Donald Trump. Até a última terça-feira, a Flórida, por exemplo, tinha cerca de 240 mil casos, além de 3.840 óbitos, enquanto Nova York conseguiu controlar a situação. Esse cenário preocupa demais a organização da liga.
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O atacante Carlos Vela, maior estrela da Major League Soccer na atualidade, anunciou que não vai retornar ao LAFC para concluir a temporada. Sua esposa tem uma gravidez de risco e o atacante mexicano, ex-Arsenal, preferiu permanecer em casa ao lado da família. Outro jogador importante que decidiu não jogar o MLS is Back Tournament foi o colombiano Fredy Montero, do Vancouver Whitecaps.
"Sinceramente, eu já estava na bolha desde que começou a pandemia. Não saía de casa, fazia tudo de dentro, até mesmo as compras, tudo online. Agora está sendo fácil pra mim, mas querendo ou não, os dias são iguais. Tudo aqui está muito controlado, com todos os cuidados, só saímos do hotel com o crachá para podermos circular, porque há muita segurança", explicou em entrevista ao blog Júnior Urso, ex-jogador de Corinthians, Atlético Mineiro e Coritiba, contratado pelo Orlando City nesta temporada.
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Aliás, as duas rodadas iniciais da MLS aconteceram normalmente, antes da paralisação, mas não contarão para a classificação final.
"Hoje eu me sinto bem, bem tranquilo, e não só pelo fato de estar com muita vontade de jogar futebol. Claro que a nossa saúde, dos amigos, da família vem em primeiro lugar, mas hoje vejo que temos todo respaldo de fora. Estamos fazendo exames todos os dias, então não vai jogar se tiver qualquer tipo de sintoma. Estão nos deixando bem seguros", complementou o meio-campista.
Em campo, os favoritos são os mesmos do início, com a ressalva da ausência de Carlos Vela, MVP da última temporada, na qual o Seattle Sounders ficou com o título. O time do meia uruguaio Nicolás Lodeiro também está entre os melhores da competição, junto com o LA Galaxy, de Chicharito Hernández, o Toronto FC, do experiente Michael Bradley, o New York City FC, do veterano argentino Maxi Morález, e o forte Atlanta United, do artilheiro venezuelano Josef Martínez.
Porém, com a mudança no formato a competição se torna absolutamente imprevisível. Um dia ruim, uma expulsão no início do jogo... E a classificação para os playoffs fica comprometida, uma vez que a fase de grupos reservará três partidas no máximo para cada time.
Por isso as estratégias definidas pelos treinadores terão um peso enorme na disputa pelas vagas, e no banco estão algumas das principais atrações da MLS. Frank de Boer (Atlanta), Jaap Stam (Cincinnati), Diego Alonso (Inter Miami), Tab Ramos (Houston Dynamo), Guillermo Barros Schelotto (LA Galaxy), Thierry Henry (Montreal Impact), Bruce Arena (New England Revolution), Brian Schmetzer (Seattle Sounders) e Matías Almeyda (San Jose Earthquakes) são os principais nomes.
"Formato totalmente diferente de competição. Joguei algumas vezes a Copa do Brasil, mais ou menos nesse formato. A diferença é que a chance de classificação com o terceiro colocado é maior", disse Júnior Urso, que será comandado pelo colombiano Óscar Pareja, no Orlando City, e terá como companheiros mais três brasileiros: o zagueiro Antônio Carlos, ex-Palmeiras, o lateral-direito Ruan, ex-Ponte Preta, e o meia Robinho, ex-Santa Cruz. As partidas da fase de grupos contarão para a temporada regular da MLS, que deve voltar em setembro. O campeão do MLS is Back Tournament garante vaga na Concachampions.
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Todos os jogos acontecerão no complexo esportivo existente dentro do Walt Disney Orlando, com dezenas de campos para treinamentos e alguns estádios para as partidas. Todos os times estão concentrados nos hotéis da Disney e existe controle absoluto sobre todos que entram e saem da bolha. Os testes patra COVID-19 são diários em todos os envolvidos.
A MLS está de volta, repleta de dúvidas e incertezas, como o personagem principal de O Show de Truman. A bola rola nesta quarta-feira (8), com Orlando City x Inter Miami ao vivo em ESPN e ESPN App, às 21h (de Brasília).
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