Luis Suárez e Renan Lodi mudaram o roteiro de Iván Rosado e Ante Budimir
O retorno à LaLiga fora conquistado poucos meses antes. Em abril de 2003, o Atlético de Madrid ainda era um clube em reconstrução, se recuperando da passagem pela segunda divisão espanhola. Um dia antes de completar 100 anos, o clube programou enorme festa na capital.
O Vicente Calderón receberia, pela 31ª rodada, o Osasuna. A equipe basca, assim como a colchonera, estava no meio da tabela, sem grandes pretensões, querendo se distanciar da zona de rebaixamento. Jogos no El Sadar sempre foram muito difíceis para todas equipes espanholas, mas em casa o Atleti tinha tudo para garantir a comemoração do centenário com uma boa vitória.
Sem Fernando Torres, jovem estrela colchonera, o técnico Luis Aragonés mandou a campo uma equipe experiente, na qual se destacavam Emerson, Demetrio Albertini e José Mari. As arquibancadas do Calderón estavam completamente lotadas, 56 mil rojiblancos em uma festa que começou horas antes, pelas ruas madrilhenhas em plena quarta-feira. Um enorme bandeirão foi carregado até o estádio, os hinchas tomaram as margens do rio Manzanares e celebraram a paixão de suas vidas. "Atleti, Atleti, Atleti".
Iván Rosado, atacante revelado pelo Recreativo de Huelva e que, antes de defender o Osasuna, jogara pelo Rayo Vallecano, foi o responsável por estragar a festa. Aos 44 minutos, o marfinense radicado na Itália Cristian Manfredini recebeu passe na entrada da área e chutou cruzado. Juanma espalmou muito mal, deixou que a bola sobrasse na pequena área para Rosado tocar para o gol vazio. Dali até o final, aflição e nervosismo nas arquibancadas, reflexo do que se via em campo. Os fogos de artifício que iluminaram a noite de Madri foram o fim melancólico de uma amarga festa.
Dezoito anos depois, neste 16 de maio, quando Ante Budimir fez 1 a 0 para o Osasuna no moderno e vazio Wanda Metropolitano, parecia que o destino da equipe basca era, definitivamente, traumatizar a torcida colchonera. Em Bilbao, o Real Madrid já vencia o Athletic por 1 a 0, gol de Nacho. A combinação de resultados dava aos merengues a liderança de LaLiga na última rodada.
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Budimir tem uma bela história de superação, assim como muitas crianças que deixaram suas casas nos Balcãs durante a guerra da Iugoslávia na década de 1990. Natural de Zenica, na Bósnia, mudou-se para Velika Gorica, nos arredores de Zagreb, capital da Croácia, com poucos meses de vida. Lá cresceu, perdeu o pai em um acidente de carro, se apaixonou pelo futebol e virou fã de um jogador. "Luka Modric é um capitão em todos os sentidos da palavra. Lembro-me de quando nos conhecemos na Suíça, em um elevador. Eu me encontrei com Modric e para mim foi como 'uau!' Ele me deu as boas-vindas. Eu não estava treinando naquele dia; era o último dia da janela de transferência e eu estava assinando meu contrato online [com o Osasuna] em meu quarto, então não treinei com a equipe”, disse o atacante. Nos conhecemos melhor na hora do jantar, quando ele me disse: ‘Vamos nos ver no campo este ano! Estou muito feliz por você’. Ele é o cara que te motiva, que o lidera em campo. E, particularmente, ele é uma pessoa muito calma e amigável. É bom tê-lo ao seu lado".
Havia um belo roteiro acontecendo em Madri e Bilbao, sem dúvida, com a terrível coincidência - pelo aspecto colchonero - da presença do Osasuna na capital. Renan Lodi e Luis Suárez, no entanto, trataram de reescrevê-lo. Os gols marcados pelo brasileiro e pelo uruguaio promoveram uma virada épica e recolocaram o Atleti na primeira posição de LaLiga. Dois personagens marcantes, de maneiras bem diferentes, na temporada rojiblanca.
Quando, ainda no primeiro turno, Diego Simeone mudou o esquema tático do Atlético de Madrid, o lateral perdeu o lugar entre os titulares. A linha de cinco defensores, com Yannick Carrasco como carrillero pela esquerda, fez com que o titular da seleção brasileira fosse para o banco. Enquanto isso, o atacante brilhava nos primeiros jogos como colchonero. Dispensado pelo Barcelona, Luis Suárez causou impacto imediato e se tornou peça fundamental no ataque do Atleti. A queda de desempenho da equipe no segundo turno muito teve a ver com o sumiço de gols do uruguaio.
Neste domingo, mais uma vez, Lodi começou na reserva. Entrou em campo aos 21 minutos e não conseguiu cortar o cruzamento que terminou com a cabeçada de Budimir. Defensivamente chegou a ser criticado por Simeone durante a temporada, após ter se destacado no anterior. O gol marcado por ele aos 37 trouxe novamente a esperança à torcida do Atlético. Ainda não era suficiente, o Real Madrid permanecia em vantagem. El Pistolero, então, surgiu para redefinir o roteiro ao marcar o segundo do Atleti, seis minutos depois. Luis Suárez não comemorava um gol há cinco jogos.
Na última rodada de LaLiga, valendo título, o Atlético, com 83 pontos, visita o Valladolid, que ainda luta contra o rebaixamento. Já o Real Madrid, com 81 pontos e vantagem no confronto direto, recebe o Villarreal, de olho na final da Europa League e ainda brigando pela própria competição. O filme de 2003, com Rosado e Budimir como protagonistas, foi cancelado. A obra de 2021 segue em produção e terá o último capítulo escrito no próximo final de semana.
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