Lisca é só mais um doido no sanatório geral do futebol brasileiro
Lisca Doido diz que quer se afastar do apelido que o consagra cada vez mais. Só que, a cada nova declaração do treinador, é impossível desapegar-se da alcunha. A maluquice da vez foi a entrevista em tom de desabafo antes do jogo do América-MG pelo Campeonato Mineiro.
"Eu sou pai de família, tenho duas filhas e uma esposa. Eu quero viver, gente", declarou Lisca, pedindo bom senso para as autoridades do futebol brasileiro.
De fato, é surreal o futebol ainda jogar por todo o país, forçando atletas a viajarem, enquanto batemos recordes diários de mortes na pandemia e enfrentamos o colapso dos sistemas público e privado de saúde em diversos municípios.
O problema é que Lisca é só mais um doido no sanatório do futebol brasileiro.

O apelo emocionado do treinador acontece depois de provavelmente ele finalmente entender o perigo real da COVID-19 Em novembro passado, na euforia da conquista do América de uma vaga para a semifinal na Copa do Brasil, o treinador preferiu os louros da fama à racionalidade. Jogou-se nos braços da torcida que fazia festa pela vaga inédita.
Isso não tira a razão do que o treinador falou, quando pediu um choque de realidade ao futebol. O problema é que o futebol não vai parar no Brasil por um simples motivo. É inviável, economicamente, fazer mais uma paralisação do esporte no país, por mais necessária que ela seja.
A desorganização do futebol cobra, agora, o seu preço. Por mais que entendam que é preciso parar, clubes, federações e CBF não têm condições de fazer a pausa. Não há mais dinheiro no caixa para ficar de pernas cruzadas.
Os clubes não procuraram reduzir suas folhas salariais durante a pandemia. A receita com sócios-torcedores desabou. Os ganhos com patrocínio estão incertos e, se existem, estão em patamares menores que os de 2020, que já ficaram menores que os de 2019. A receita de TV neste começo de ano derreteu, e qualquer paralisação agora significa parar de receber da mídia, que hoje é a maior fonte de receita dos clubes.
Tivemos, em abril de 2020, a oportunidade de unir o futebol para debater de que forma é possível enfrentar os desafios da pandemia. Era para se discutir limite de gastos, divisão mais igualitária da receita da TV, saúde financeira dos clubes, redução de taxas para disputa de torneios, auxílio dos times mais ricos para os times com menos recursos, plano de férias para os atletas para que em 2021 a gente consiga ter a temporada inteira sem estourar os jogadores...
Tudo isso aconteceu em diversos países da Europa. Muitos países e ligas mais fracas sofrem com a redução de receitas e têm apelado ao governo para montar um plano de financiamento dos clubes. Mas, em vez de proporem uma agenda geral de interesses, os dirigentes seguiram procurando olhar apenas para o próprio umbigo, sem entender a relação umbilical que existe entre todos que trabalham no esporte.
É loucura continuar a jogar com o país desse jeito? É claro que é! Só que o futebol brasileiro já é um sanatório. No jogo do cada um por si que fazemos há décadas por aqui, não há possibilidade de parar o futebol. Qualquer semelhança com o que acontece na política pelo país adentro não é mera coincidência.
Lisca é só mais um doido no sanatório geral do futebol brasileiro
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