Sampaoli e o desafio de chamar Icardi
Imagino como anda a cabeça de Jorge Sampaoli. Uma parrilha fervilhante. Depois de fazer muito sucesso na Universidad de Chile, na Seleção Chilena e no Sevilla, enfrenta o desafio mais complexo de sua carreira: treinar a Seleção Argentina na Copa da Rússia. Já não foi fácil classificar, definindo-se a vaga direta apenas na última rodada das Eliminatórias. E agora vem essa goleada por 6 x 1 diante da Espanha. Que pancada! Um cronista do Clarín definiu assim o passeio espanhol: “Isco parecia estar na Disney. Os zagueiros argentinos, em Sarajevo”. Foi mesmo um pesadelo. E um perplexo Sampaoli admitia na entrevista coletiva que teria que rever algumas questões na convocação que antes considerava resolvidas.
Contra a Espanha, não estiveram Messi, Agüero e Di María, desfalques gigantescos. Mas o trio só não estará na Copa se houver uma lesão na reta final dos respectivos campeonatos nacionais. A questão recai agora sobre outras duas figuras que estão voando no Campeonato Italiano: Dybala, da Juventus, e Icardi, da Inter, respectivamente terceiro e segundo na tábua de artilheiros. Na Itália, ninguém entende como ambos ficaram de fora da última convocação.
Sampaoli disse que eles não estão ausentes dos planos para a Copa, mas como não haviam ido bem da última vez em que foram chamados, era hora de observar outros jogadores. O treinador precisa de tempo para botar as ideias no lugar. Ninguém passa impune a um 6 x 1 como último jogo antes do Mundial.
O caso Icardi parece mesmo o mais complicado. O atacante interista sofreu uma condenação moral na Argentina porque casou com Wanda Nara, ex-esposa de seu então grande amigo Maxi López. Os dois jogavam juntos na Sampdoria, e aconteceu de Wanda e Icardi se apaixonarem. Hoje, são casados. Mascherano e Messi teriam tomado as dores do amigo Maxi quanto ao novo desafeto. Até Maradona meteu sua delicada colher: “Esse argentino é um traidor, porque você não pode se casar com a mulher do seu amigo após ter ido jantar com eles. Ele irá pagar para o resto de sua vida aquilo que fez a Maxi López”, disse Diego. Como se a decisão não tivesse sido consensual entre Icardi e Wanda, como se não houvesse muito mais coisa nessa história. Quanta hipocrisia.
Bem, Sampaoli chegou e, ao contrário do que fizeram seus antecessores Martino e Bauza, decidiu peitar a questão e chamou Icardi para amistosos no final do ano passado. Mas o atacante não repetiu as atuações que vinha tendo pela Inter. O resultado foi Icardi de fora para os últimos amistosos contra Itália e Espanha.
Não sabemos se, depois dos encontros no ano passado, a relação de Icardi com Messi, Mascherano e outros intocáveis melhorou. Mas, depois do desastre contra a Espanha, cresce a pressão para que o interista entre na lista de convocados.
Sampaoli é um estudioso obsessivo, discípulo de Marcelo Bielsa e admirador de Pep Guardiola. Sabe que, além das qualidades como treinador, precisa ser craque nas questões de liderança. Me lembro da Magic Paula, que certa vez me contou que a Seleção Brasileira Feminina de Basquete só começou a ter bons resultados quando ela e Hortência, lado a lado em um longo voo, sem ninguém por perto, puderam conversar e botar as cartas na mesa. Elas decidiram que, a partir dali, deixariam diferenças de lado e trabalhariam para que a seleção não fosse formada por duas “panelinhas” distintas, mas por um grupo único e coeso. Paula diz que a mudança de postura foi decisiva para que o Brasil fosse campeão mundial e ganhasse a prata em Sydney-2000.
Em uma equipe, ninguém precisa necessariamente ser amigo. Basta que o interesse coletivo esteja em primeiro plano, trazendo tolerância e compromisso. A Argentina precisa de Icardi e, também, de Dybala. E de Messi, Agüero, Di María, Mascherano, Rojo... Sampaoli tem um desafio gigante para esses próximos dois meses e meio: juntar os cacos e remonta-los com uma cola superpotente.
Fonte: Maurício Barros
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