Emboscada na Imigrantes, cara a cara tenso em sítio: obrigado Rincón por me 'formar' jornalista
Freddy Rincón, que morreu nesta quarta-feira aos 55 anos depois de um trágico acidente de carro na Colômbia, era um craque. Muita gente pode contar com mais categoria para os mais jovens como ele era bom.
Minha lembrança nesse dia triste vai ser outra.
Rincón foi um dos personagens do futebol que mais me ajudou na minha formação prática em jornalismo.
Em 1997, eu era um novato na redação da "Folha de S. Paulo". E o colombiano tinha acabado de chegar no Corinthians.
No início, os resultados foram ruins. E isso resultou em uma quase tragédia.
Após uma derrota na Vila Belmiro para o Santos, em outubro de 1997, cerca de 40 torcedores com camisas da Gaviões da Fiel armaram uma emboscada contra o ônibus que levava à delegação corintiana de volta para São Paulo na madrugada.
Com paus e pedras, em plena rodovia dos Imigrantes (km 45), eles levaram terror para os jogadores e Rincón acabou ferido.
Foram dias ajudando a produzir infográficos de como foi o ataque, ouvindo a polícia.
Aprendi que, no Brasil, jornalismo esportivo não é só bola. Você precisa estar pronto para as missões bem diferentes a cada dia. E também a nunca mais confiar em torcida organizadas.
No ano seguinte, em 1998, o Corinthians, com a chegada de Vanderlei Luxemburgo, se transformou.
O time começou a ganhar títulos em uma época de ouro que culminou com o Mundial de 2000. Rincón brilhava.
Naquele tempo, o contato entre imprensa e jogadores era muito diferente do atual, em que basicamente só um jogador fala após os treinos no esquema de entrevista coletiva. E com os atletas seguindo quase sempre uma cartilha para evitar qualquer polêmica.
O Corinthians de Rincón treinava no Parque São Jorge. Nos momentos decisivos, em Atibaia, no campo de um hotel ou em um sítio na mesma cidade de um célebre conselheiro do clube: José Romão.
Quando o treino acabava, os repórteres podiam entrar em campo e conversar com qualquer jogador disposto a falar (e naquela tempo quase todos sempre estavam).
Rincón assustava. Gigante, muitas vezes parecendo mal humorado e pronto para rebater uma pergunta mal feita, era o maior desafio em um elenco em que sobravam personalidades fortes, como Marcelinho, Vampeta e Edílson.
Tomei coragem. Respirei fundo e perguntei algo (não vou lembra com exatidão) sobre algum problema com a diretoria corintiana. Ele deu um sorriso irônico, e respondeu sem rodeios.
Descobri que Rincón era um ótimo entrevistado. Falava das brigas com Marcelinho, Edílson. Reclamava muito de decisões da diretoria. Quando acabava o treino, ele era um alvo preferido.
Obrigado, Rincón. Pelo que jogou e por me fazer um jornalista melhor.
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