As retrancas que não me deixam jogar: afinal, quando isso vai parar no futebol?

Sim, o título deste post é totalmente irônico. Então leia o texto, eu não estou louco. E se for para discordar, deixe para o final.
Se tem uma parada bem bizarra no futebol é a desculpa: "meu time não ganhou porque o adversário jogou fechado demais". Após o 0 a 0 contra o Cuiabá, no último domingo, dentro de casa, Renato Gaúcho deixou essa insatisfação bastante nítida em vários momentos da sua entrevista coletiva. Nas redes sociais, vários torcedores também foram na mesma linha.
E deixando bem claro aqui: essa não é um exclusividade do treinador do Flamengo. É algo bem recorrente e que por vezes passa desapercebido.
Mas o grande problema deste argumento é que ele simplesmente não faz o menor sentido.
O primeiro ponto é entender que não existe só uma maneira de se jogar futebol. Vivemos tempos no Brasil em que tem sido reproduzido um discurso só um tipo de futebol é válido. Um pensamento de que estratégias que fogem da opinião comum são simplesmente uma afronta à história do esporte. Resumindo: só pode jogar ofensivamente, no campo do adversário, pra frente... Fora isso, está errado. E ponto.
Trata-se de até de um pensamento quase que antidemocrático.
Mas sabemos bem que não é assim que funciona. Existem inúmeras formas de vencer e perder, e jogar bem trata-se, pelo menos pra mim, de se aplicar com sucesso a estratégia imposta para aquela partida. Se é bonito ou feio, aí depende. É um gosto meramente particular, que cada um tem o seu.
Dito isto, fica claro que o Cuiabá, dentro do que planejou, fez um ótimo jogo e o Flamengo, dentro do que tinha com estratégia na partida, não foi eficiente. Simples assim.
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No duelo do Maracanã, o time visitante optou por baixar o bloco defensivo, congestionar o centro do campo e obrigar a equipe rubro-negra a atuar mais pelos lados. Com isso, vimos um festival de cruzamentos. Muitas vezes eles eram feitos de forma antecipada (na entrada do terço ofensivo e não chegando no fundo), o que facilitava as rebatidas de Paulão e Empereur. No fim das contas, foram 46 bolas alçadas na área.
E lá vamos nós quebrar mais um preconceito: não existe problema em cruzar. Aliás, é um artifício bem válido, desde que seja feito com critério. Da maneira que o Flamengo o fez e sem ter jogadores com características para vencer os duelos aéreos, realmente não fez sentido.
Dizer que o adversário não jogou é no mínimo desrespeitoso. Ainda mais quando se fala de uma equipe inferior tecnicamente, que briga por permanência na primeira divisão diante de um time amplamente mais qualificado. É simplesmente tirar o mérito de atletas que se doaram por uma causa, treinaram, se concentraram e se aplicaram totalmente por ela. É simplesmente esconder o fato do seu plano não ter dado certo.
E não tem problema nisso. Tem jogos que não acontecem, que você não flui. Realmente é difícil se sobrepor a este tipo de estratégia. Não é só o Flamengo que encontra essas dificuldades neste tipo de cenário. A questão aí é reduzir o trabalho do oponente a "só se defender". Defender é jogar.
Não é jogar o tipo de jogo que você gosta de assistir? Ok. Está no seu direito. Mas é futebol, queira você ou não. E com tudo dentro da regra.
Mais que isso: é querer aplicar sua estratégia de jogo e ainda querer controlar a estratégia do adversário. "Ora, joga mais aberto aí, preciso de espaço para meu jogo funcionar". Não dá. Parece papo de doido, não?
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Espaço, algo tão raro no futebol atual, precisa ser criado e existem mecanismos e estímulos para isso. Por outro lado, a cada rodada que passa, fica claro que o Flamengo tem grandes dificuldades de se desenvolver neste sentido. Desde a chegada de Renato Gaúcho o time rubro-negro tem funcionado muito melhor em transições ofensivas, recuperando a bola e acelerando as jogadas com o adversário desorganizado. E esse é, de fato, um ponto relevante para se discutir.
Cobrar que o adversário faça o que você julga melhor para sua equipe é inimaginável. Mais que isso, beira a insanidade.
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