Violência no futebol cresce e nossa incapacidade de lidar com isso é cada vez mais nítida
O futebol tem tido semanas muito tristes recentemente. Uma escalada de violência vem crescendo e as coisas parecem cada vez mais fora do controle.
Pedradas em ônibus em Salvador e Porto Alegre, briga entre corintianos e são-paulinos no metrô e, principalmente, a batalha campal no México que chocou o mundo inteiro com suas imagens.
Nas minhas participações no SportsCenter tenho batido muito na tecla que aqui no Brasil estamos cada vez mais perto de uma tragédia de maior impacto. Estamos no limite, todos nós. Torcedores, jogadores, dirigentes, jornalistas...

Mas no fim das contas, por que essa é uma realidade que sempre vem à tona?
O primeiro ponto é entender que esses atos de barbárie nada tem a ver com o futebol. É um problema social, enraizado, fruto de uma sociedade extremamente violenta e problemática.
Se não for por futebol, as pessoas dariam um jeito de se matar da mesma forma. Já fazem isso por religião, política, cor da pele, orientação sexual... O futebol é só mais uma desculpa para colocar o ódio para fora.
Fala-se muito em guerra agora por conta do conflito entre Rússia e Ucrânia, mas a verdade é que sempre estivemos em guerra. Aí vai do quanto damos de importância a elas. Do quão é interessante para quem controla a narrativa, tratar delas.
Outro ponto extremamente importante é entender que as pessoas que cometem estes atos violentos são minoria. E isso não é achismo. É uma questão de dados mesmo.
De acordo com o livro "A violência no futebol", escrito pelo pesquisador do assunto Mauricio Murad - inclusive, fica aqui a indicação de uma baita leitura -, a porcentagem de pessoas das torcidas organizadas que vão para a "pista" (termo utilizado pelos mesmos para ir para a pancadaria) é muito pequena.
No fim das contas, a grande maioria das pessoas destas organizações só querem viver o seu time, socializar, curtir o futebol. Mas é por conta de poucos que as coisas saem do controle. Obviamente que as organizadas têm sim seu peso em tudo isso, poderiam ter atitudes mais eficazes para ajudar no combate a toda essa confusão.
Mas até mesmo por isso, é papel do Estado coibir e punir esses atos violentos. Primeiro usar de inteligência e investimento para antecipar estes confrontos. Eles são marcados pela internet, por mensagens... São sempre as mesmas pessoas e lugares. É possível.

Depois passar a ter um olhar para a punição individual e criminal destas pessoas. Tudo hoje em dia é gravado, tudo tem imagem. Nos próprios estádios existe tecnologias que filmam tudo. É só ter a boa vontade de identificar e tomar as devidas providências.
Pessoas que matam outras por futebol fariam isso por qualquer outro motivo. São indivíduos que normalmente estão envolvidos em casos de feminicídio, homofobia, intolerância religiosa... Por isso a necessidade de individualizar, de até antecipar outras tragédias do dia a dia.
Enquanto isso, as medidas tomadas são sempre generalizadas. Decisões que, na maioria das vezes, ajuda a elitizar o futebol e afastar as pessoas de uma das maiores identidades nacionais que temos.
Torcida única? Os caras marcam de brigar até um dia antes.
Portões fechados? Prejudica o clube que não controle sobre seus torcedores e o cidadão honesto que perde a oportunidade de se divertir.
Fechar a torcida organizada? Os membros que são criminosos continuarão na rua para cometer mais crimes.
E aqui entre nós: o que adianta estas medidas? No fim das contas, essas pessoas vão arrumar um jeito de cometer estes crimes da mesma forma. Como disse, o futebol é o de menos. E isso nada tem a ver com ele.
Somos uma sociedade doente, se medicando apenas para melhorar os sintomas, mas nunca indo na raiz da doença. No fim das contas, não dá para não pensar que isso é interessante para alguém.
Violência no futebol cresce e nossa incapacidade de lidar com isso é cada vez mais nítida
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