Ohtani é eleito MVP por unanimidade, e como isso pode influenciar o beisebol
Líder disparado em WAR (algo como “vitórias acrescentadas”) e probabilidade de vitórias acrescentadas, top 3 da liga em home runs, rebatidas multibase e walks intencionais recebidos, top 5 em corridas criadas, percentual de potência, bases totais e walks recebidos, top 10 em bases roubadas. Shohei Ohtani foi um dos principais jogadores ofensivos da MLB em 2021, mas tudo isso se soma a um top 10 em aproveitamento dos rebatedores adversários e top 15 em ERA e percentual de strikeouts para jogadores com um mínimo de 130 entradas arremessadas. O japonês teve mais home runs como rebatedor do que corridas cedidas como arremessador.
Não é difícil entender como o jogador do Los Angeles Angels foi eleito por unanimidade o MVP da Liga Americana em 2021. Ele foi um dos melhores jogadores da liga em duas funções completamente diferentes, configurando uma das maiores temporadas de um atleta na história dos esportes americanos. Para entender melhor, já escrevi sobre isso nos dois links abaixo, e evitarei ser repetitivo.
LEIA MAIS: Na semana de Alisson e Enzo Pérez, precisamos apreciar o que faz Shohei Ohtani
VEJA TAMBÉM: As ligas americanas têm um superatleta japonês, sim
Agora que a temporada terminou, já vimos que Ohtani conseguiu jogar em alto nível como rebatedor e como arremessador e foi reconhecido como o melhor jogador do ano. Mas o que isso pode mudar daqui para frente? Ele pode se tornar a referência para um novo tipo de jogador de beisebol, que arremesse e rebata com competência similar? Mais que uma temporada individual espetacular, ela pode ser um marco histórico para o esporte?
É preciso entender o que seria repetir Ohtani. O arremessador-rebatedor dos Angels não é apenas um arremessador que vai bem quando precisa ir ao bastão. Esses jogadores até chamam a atenção pelo bom desempenho rebatendo, mas tendo como parâmetro de comparação os demais homens do montinho. Em geral, não têm números bons o suficiente para brigar por posição com um rebatedor nato.
“Ah, mas se o Madison Bumgarner tivesse mais continuidade no bastão, poderia rebater tão bem quanto um rebatedor.”
Sim, provavelmente poderia. Somando suas duas melhores temporadas no bastão, 2014 e 15, Bumgarner teve 25,2% de aproveitamento e 9 home runs em 65 jogos (seriam 22 HRs em 162 jogos). Mas o abridor do Arizona Diamondbacks estaria disposto a se sujeitar ao regime de treinamento necessário para fazer um ano todo rebatendo nos jogos em que descansa o braço, como Ohtani?
Quem deu pistas de que consideraria essa possibilidade foram Christian Bethancourt, do San Diego Pedres, e Michael Lorenzen, do Cincinnati Reds.
Bethancourt era um terceira base com um braço forte, que fez algumas temporadas no Atlanta Braves no início da década de 2010 e se transferiu para os Padres em 2016. Na Califórnia, ele disse que gostaria de ter algumas oportunidades como reliever, deixando sua posição na defesa para arremessar. No entanto, seu desempenho era fraco no bastão e no montinho e acabou dispensado em 2017.
Lorenzen teve sinais mais consistentes. Como reliever, ele poderia ficar um ano inteiro sem ir ao bastão. Mas ele teve 29% de aproveitamento e 4 home runs em apenas 34 aparições no bastão em 2018. Oportunidades que só surgiram porque ele não apenas se mostrou bom rebatedor, mas passou a ser visto realmente como opção ofensiva para as entradas finais.
O problema é que seu desempenho no montinho não é dos mais sólidos. Em 2021, seu ERA subiu para 5,59 e a estratégia dos Reds foi priorizar o Lorenzen-arremessador. Se o reliever voltar a ter números melhores (teve ERA de 3,01 somando 2018 e 19) e, principalmente, retornar à rotação da equipe ou se tivermos rebatedor designado na Liga Nacional, há uma chance de termos um segundo arremessador-rebatedor. Mas há muitas condicionantes, e nada indica que ele teria desempenho semelhante ao de Ohtani nas duas funções.
É mais fácil imaginar que o Ohtani poderia mudar o beisebol do futuro. No beisebol escolar, é comum os garotos de mais talento serem arremessadores e rebatedores de suas equipes. No entanto, todos acabam se especializando quando chegam a níveis mais altos do esporte. No universitário até há alguns arremessadores-rebatedores, mas os poucos que se mantém acabam escolhendo um lado quando se profissionalizam nas ligas menores. Há até casos de atletas se passam a trabalhar com uma função, percebem depois que têm mais futuro na outra e trocam. Ainda assim, eles nunca fazem a preparação nos dois papeis. Trabalham um de cada vez.
É aí que poderia surgir um novo Ohtani de verdade. Pegar um garoto muito promissor no bastão e no montinho no ensino médio e deixá-lo se desenvolver nas duas funções na universidade e nas ligas menores. Isso só vai acontecer quando os próprios jovens atletas, as pessoas que orientam suas carreiras (família e empresários), os treinadores e, principalmente, as franquias da MLB se convencerem que é possível um jogador ser produtivo fazendo as duas funções ao mesmo tempo. Enquanto isso não acontecer, é inevitável que o garoto ouça a frase “uma hora ele vai ter de escolher para poder chegar ao nível das grandes ligas”.
No Japão, Ohtani teve a chance de se desenvolver e se profissionalizar como um jogador que faz os dois papéis. Acabou mostrando qualidade suficiente para convencer uma franquia da MLB a contratá-lo com a possibilidade de seguir assim. O que os times agora estão observando é o quanto esse regime é sustentável em longo prazo. Até o início deste ano, não se sabia nem se era possível chegar a uma temporada completa sendo competitivo nas duas funções. Agora já se sabe que dá. Mas é viável pensar em várias temporadas nesse nível? Qual a melhor maneira de aproveitar o atleta: rebatendo todo dia, só nos dias de folga no montinho, dando folga no bastão antes ou depois de uma abertura? E isso só é viável para quem rebate com um braço e arremessa com outro (casos de Ohtani e Bumgarner, mas não de Lorenzen e Bethancourt)?
Por enquanto, a tendência é que a MLB continue vendo Ohtani como um fenômeno isolado, um atleta com dom único. Sua temporada histórica não deve mudar a forma como os times vêem os jogadores que mostram talento tanto para arremessar quanto para rebater. Em um cenário ideal, o japonês faz uma sequência de grandes temporadas nos dois papeis, alguns jovens passam a se interessar a seguir seus passos e alguns dirigentes consideram dar chance a novos arremesadores-rebatedores. Mas só veríamos esse efeito em alguns anos. E, ainda assim, é improvável.
Isso tudo torna a temporada 2021 de Ohtani tão especial. Somar um desempenho tão competitivo no bastão e no montinho não é apenas difícil para executar. Só ter a chance de fazer isso já é algo único. E também por isso tem de ser saudado e apreciado.
OUTROS PREMIADOS
Claro que Ohtani não foi o único premiado na semana de anúncio das eleições de melhores da temporada 2021. Veja abaixo a lista de vencedores:
MVP Liga Americana - Shohei Ohtani (Los Angeles Angels)
MVP Liga Nacional - Bryce Harper (Philadelphia Phillies)
Cy Young Liga Americana - Robbie Ray (Toronto Blue Jays)
Cy Young Liga Nacional - Corbin Burnes (Milwaukee Brewers)
Melhor Técnico Liga Americana - Kevin Cash (Tampa Bay Rays)
Melhor Técnico Liga Nacional - Gabe Kapler (San Francisco Giants)
Estreante do Ano Liga Americana - Randy Arozarena (Rays)
Estreante do Ano Liga Nacional - Jonathan India (Cincinnati Reds)
Ohtani é eleito MVP por unanimidade, e como isso pode influenciar o beisebol
COMENTÁRIOS
Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.