Ex-Palmeiras salvou Robinho no vestiário e foi 'ídolo cult' quando City era pequeno

Francisco De Laurentiis e Vladimir Bianchini, do ESPN.com.br
Divulgação
Gláuber ficou durante uma temporada no Manchester City
Gláuber, ex-Palmeiras, ficou durante uma temporada no Manchester City: virou ídolo

Se hoje Fernandinho e Fernando são titulares absolutos do City e curtem a melhor fase da história do time, tanto nas finanças quanto em campo (principalmente pela classificação à semi da Uefa Champions League pela 1ª vez na história), houve um tempo em que os brasileiros não tinham tanta sorte assim no lado azul de Manchester.

Em 2008/09, por exemplo, quando o o sheik Mansour bin Zayed Al Nahyan havia acabado de comprar o time britânico, nomes como Robinho e Elano tentaram levar os Citizens às glórias, sem sucesso. Com o tempo, seus nomes provavelmente serão esquecidos pelos torcedores daquele que hoje é um dos times mais ricos do mundo.

Outro brasileiro, porém, ficará para sempre na memória da torcida azul, mesmo tendo entrado em campo só uma vez, e por apenas alguns minutos, com a camisa do City.

Trata-se de Gláuber Leandro Honorato Berti, zagueiro revelado pelo Atlético-MG, mas que alcançou a fama (e inclusive chegou à seleção brasileira, pela qual disputou uma partida, em 2007) atuando pelo Palmeiras entre 2003 e 2005.

Após passagem pelo Nuremberg, da Alemanha, Gláuber defendeu o Manchester City entre 2008 e 2009. Apesar do clamor da torcida, que em todos os jogos pedia para que o técnico Mark Hughes colocasse o defensor para jogar, ele pouco entrou em campo pela equipe britânica. Para ser exato, foram apenas 10 minutos na última partida da temporada.

Isso, no entanto, não impediu que o zagueiro se tornasse um "ídolo cult" dos Citizens, como escreveram vários veículos britânicos à época. Pela dedicação nos treinos e pela paciência de monge budista, o brasileiro virou um xodó dos torcedores, que se referiam ao banco de reservas como "The Berti", já que ele, Gláuber Berti, estava sempre lá.

Rótulo que ele mesmo aceita, e com muita satisfação.

"Rapaz, a TV do City foi há pouco tempo na minha cidade, Nhandeara, perto de São José do Rio Preto, na minha casa, para fazer uma matéria comigo. Passaram o Kompany e o Zabaleta falando de mim, muito legal ter esse carinho. Aí o repórter perguntava de mim para os torcedores e eles lembravam, falavam que eu era ídolo, uma doideira (risos)", conta o ex-palmeirense, em entrevista ao ESPN.com.br.

"Eu virei um ídolo cult dos caras (risos). Os torcedores até me apelidaram de "The Invisible Man" ["O Homem Invisível"], porque eu ia para o banco na maioria dos jogos e não entrava", lembra o defensor, hoje aposentado da bola aos 32 anos e cuidando de loteamentos e de um restaurante no interior de São Paulo, além de gerenciar carreiras de jogadores ao lado de seu empresário dos tempos de atleta.

Seu momento aconteceu contra o Bolton, na partida derradeira de 2008/09.

Naquele 24 de maio, ele, como sempre, ficou sentado pacientemente no banco de reservas esperando sua chance, que veio há 10 minutos do fim. Nas arquibancadas, a torcida explodiu de alegria quando o brasileiro entrou no lugar do lateral Wayne Bridge, tornando-se "visível" pela primeira vez [confira no vídeo abaixo].

"Para falar a verdade, eu achei que naquela partida não ia entrar de novo, mas a torcida meteu pressão no técnico, por ser o último jogo da temporada. Era agora ou nunca (risos). Mal o juiz apitou e os caras começaram a gritar 'Gláu-ber Ber-ti', aí o técnico olhava pra mim e dava risada, ele sabia que ia ter que me colocar. E eu esperava ansioso, a todo minuto pensava que era minha hora", relata.

"E aí eu entrei (risos)! Fiquei feliz demais, pois treinei muito duro para chegar àquele momento. A galera do time sempre brincava que queria ter a mesma moral com a torcida que eu tinha, aí eu sempre falava: 'Com a torcida eu tenho, mas com o técnico não (risos)'", diverte-se o ex-jogador da seleção brasileira.

Os 10 minutos em campo contra o Bolton foram suficientes para ratificar a condição de Gláuber como "ïdolo cult". Logo em seu primeiro lance, cobrou um lateral e imediatamente fez toda a torcida se levantar e irromper em aplausos. Após a partida, foi eleito como o homem do jogo em enquete no site da BBC, com nota 8,67 de 10.

"A torcida que ia aos treinos via que eu me esforçava, mas quando parecia que eu ia jogar não dava certo. Passaram a questionar muito o técnico sobre isso. A pressão foi tão grande que ele acabou me colocando (risos). Foi maravilhosa a festa, lembro até hoje. Era uma puta bagunça sempre que eles me viam, sempre pediam para tirar foto, é demais! Até hoje se você falar meu nome lá eles lembram de mim", sorri.

Apesar do carinho dos torcedores, o brasileiro acabou liberado pelo City ao final de seu contrato, e acabou retornando ao Brasil para defender o São Caetano. Passou ainda pelo Rapid Bucareste, da Romênia, até chegar ao Columbus Crew, dos Estados Unidos, time que defendeu até sofrer uma lesão que o levou a pendurar as chuteiras.

Veja matéria da TV do City com Gláuber (em inglês):

Hoje, Gláuber fala com carinho do time inglês, e diz que poderia ter ficado até mais na "Terra da Rainha". No entanto, não se arrepende de nenhuma decisão.

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Glauber vestiu o uniforme do Manchester City
Gláuber só fez um jogo pelo City

"Eu tinha contrato de um ano e eles até queriam renovar, mas eu não podia ficar mais um ano sem jogar, precisava sair. Não queria ficar lá só para ganhar dinheiro. Não digo que me arrependo, porque não dá para medir as consequências de nada. Você tem pouco tempo para decidir e tem que ser rápido. Se tivesse ficado mais um ano, é difícil saber o que ia acontecer. Talvez eu teria mais oportunidades. Ou minha carreira poderia acabar", salienta.

Após a saída do ex-palmeirense, o City passou a crescer cada vez mais a cada ano, graças ao dinheiro "infinito" dos árabes. Nos últimos anos, foram dois títulos da Premier League, além de conquistas da Copa da Inglaterra e da Copa da Liga Inglesa, que colocaram a equipe azul no grupo dos grandes ingleses. O próximo objetivo é a Champions League, que pode vir já neste ano, já que o clube alcançou pela primeira vez na história a semifinal do torneio, após eliminar o Paris Saint-Germain.

Mesmo sem ter ganho nada pelos Citizens, Gláuber, o "Homem Invisível", terá para sempre um lugar especial no coração do lado azul de Manchester.

Salvando Robinho no vestiário

Sete anos depois de sua passagem pelo Manchester City, Glaúber foi testemunha do processo que transformou o time de um pequeno a uma potência na Inglaterra.

"Eu estava no Nuremberg e fomos campeões da Copa da Alemanha, o que chamou muito a atenção. Na temporada seguinte, caímos para a segunda divisão e meu empresário me levou para o City. Foi um baita susto, porque aí chegou o sheik e de cara trouxe vários jogadores de seleção, como o Robinho. Nas datas Fifa, só ficávamos treinando eu, um espanhol e o Zabaleta, o resto era todo convocado!", lembra.

"Quando eu cheguei, o time era modesto para o mundo, e do nada virou 'pica das galáxias' (risos). Hoje, é um clube conceituado, tem respeito e muita grana. Antes, lutava para não cair, e hoje é um time que briga por todos os títulos", elogia.

Reprodução
Glauber Robinho Elano Manchester City
Gláuber e Robinho no banco do City

Em seu ano na Inglaterra, o brasileiro também acumulou uma série de boas histórias ao lado de atletas que depois viriam a se tornar grandes nomes do futebol mundial. Uma delas foi o dia em que salvou Robinho de levar uma surra do maluco Craig Bellamy, atacante conhecido pelo temperamento agressivo - ele chegou a agredir colegas do Liverpool com um taco de golfe.

"O Robinho era muito dedicado, queria jogar todos os jogos. Uma vez ele se machucou, mas queria muito jogar e fez infiltração e sessão dobrada de fisioterapia, pois não queria ficar de fora de jeito nenhum. Só que, no meio do jogo, sentiu muitas dores. Como estava se arrastando em campo, pediu para sair, para não atrapalhar o time", relatou.

"Só que, no intervalo, o Bellamy ficou puto e foi falar merda pra ele. Eu entendia tudo, mas o Robinho não entendia nada, ainda mais pelo sotaque do cara. Quando ia começar a briga, eu fui pra dentro dele, empurrei e mandei o Bellamy ter respeito, aí ele ficou quieto. E pra você ver como são as coisas, todos os ingleses me deram razão! Ele estava se aproveitando que o Robinho não falava inglês para crescer pra cima dele", revela.

Outros amigos de Gláuber eram o zagueiro Kompany, que admirava sua disposição nos treinos, e o goleiro Hart, à época reserva, mas hoje titular da seleção inglesa.

"Eu conversava com o Kompany em alemão, ficamos muito amigos. Ele gostava de mim, dizia sempre que eu me dedicava muito aos treinos e ele curtia muito, considerava uma postura exemplar. Ele sempre falava para mim: 'Gláuber, a gente tem que 'sentar o pau' nos caras até nos treinos, é assim que zagueiro ganha a vida' (risos)", conta.

"Na minha época, o Hart era terceiro goleiro da seleção e era reserva do Shay Given no City. Ele ficava doido, porque queria jogar de qualquer jeito, ficava de cara fechada no vestiário porque não tinha chances e treinava o dia todo. Quando não estava em campo, ia para a academia, era um fenônemo (risos). Hoje é um monstro, está gigante no gol, pegando tudo! Tinha muita vontade de vencer! E além disso era um cara muito humilde e bacana, ia sempre jantar com a gente", finaliza.

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