O Brasil colhe o que plantou
Entro de sola no assunto, no melhor estilo zagueiro botinudo. A Argentina descumpriu protocolos sanitários e levou para o estádio do Corinthians, neste domingo (5), quatro jogadores que deveriam estar de quarentena porque se achou no direito de agir como bem entendesse.
Provável que seus cartolas tenham chegado à conclusão de que não iriam dar em nada as advertências da Anvisa. A agência sanitária alertava para a necessidade de Martinez, Romero, Lo Celso e Buendía cumprirem período de isolamento, por atuarem na Inglaterra, país da lista vermelha por aqui em relação à Covid. Esse retiro os deixaria fora do confronto com o Brasil pelas Eliminatórias da Copa-22.
E por que agiriam assim nossos visitantes? Porque vieram para um lugar em que, há um ano e meio, não faltam exemplos cotidianos de que rigor no combate à pandemia ocorre só em alguns setores. Os argentinos se comportaram com despreocupação e desleixo porque recentemente perambularam pelo nosso território nacional, na Copa América, protegidos por um protocolo bem complacente para os competidores. Na ocasião, autoridades fecharam um olho para a pandemia e trataram jogadores e comissões técnicas das dez seleções como classe privilegiada.
Talvez os argentinos tenham imaginado que o procedimento anterior valeria também para o compromisso de agora. Afinal, o que teria mudado em relação ao torneio sul-americano, em junho, que a própria Argentina tinha abdicado de organizar por causa dos riscos de contaminação pelo coronavírus?
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Na época, o governo brasileiro acolheu a Copa América com entusiasmo, como se não houvesse riscos à saúde. Além disso, diariamente altas figuras da nossa República promovem aglomerações e manifestações sem seguir normas de segurança sanitária. Ao contrário: desdenham delas, pois seriam coisas de fracotes. Naquele momento, foi feita alguma recomendação para a Anvisa fechar o cerco sobre descumprimento de normas? São interrogações a serem respondidas.
Com os critérios que variam, estrangeiros se acham no direito de supor que podem driblar nossas normas – e isso é mais uma consequência da péssima imagem que estamos a difundir pelo mundo. Pagamos o preço por aquilo que plantamos. Vejam se argentinos, brasileiros, colombianos, ou quem quer que seja, teriam esse comportamento de afronta, se tivessem de ir para a Europa ou para os Estados Unidos. Por aqui, é o vale-tudo – ou ao menos essa a impressão que causamos para quem é de fora.
Brasil x Argentina suspenso: entenda o que aconteceu e por que ANVISA entrou em campo
Essa história, no entanto, ainda carece de muitos esclarecimentos. Os argentinos peitaram a Anvisa por conta própria ou tiveram informações de bastidores de que poderiam escalar os atletas supostamente interditados? A Conmebol não sabia das restrições no Brasil? A CBF não os avisou? Ela já tirou o corpo fora de qualquer conivência e seu presidente garantiu que a entidade cumpre todas as normas prescritas por lei…
O incidente mostra também que há fragilidade no controle dos que chegam por aqui. Por que não há testes, como aconteceu com os brasileiros que na semana passada foram jogar no Chile? No aeroporto mesmo todos passaram por controle. Não há como fazer o mesmo nestas bandas?
Resta saber também por que a Anvisa não impediu o jogo desde a largada. Alega-se que os argentinos fecharam o vestiário para não serem notificados. Ok. Mas a lista de jogadores foi divulgada com quase uma hora de antecedência. Que a intervenção fosse feita assim que a turma subia para o gramado. Não teria sido mais produtivo,em vez de entrar literalmente em campo para acabar com o clássico?
(Aliás, já vi muito jogo ser interrompido pelos mais diversos motivos, de chuva e alagamento a invasão e rojões atirados em campo. Por questões sanitárias é a primeira vez. A vida sempre nos reserva surpresas…)
E, para fechar a conversa, que seria bem longa e sei que você, amigo leitor, não tem tempo e paciência para textos enormes, fica outra questão: a Anvisa desta vez agiu bem e fez prevalecer a lei. Concordo com seus agentes, e não há ironia de minha parte. Gostaria de ver rigor idêntico das autoridades competentes em encontros, a pé ou motorizados, que dão um bico com gosto em recomendações de segurança sanitária.
O Brasil consciente, solidário e que crê na Ciência certamente aplaudiria, se a Anvisa aparecesse para acabar com a farra.
O Brasil colhe o que plantou
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