O São Paulo e a casa da sogra
Ainda tem bafafá por causa do áudio vazado em que Muricy Ramalho corneta a situação do São Paulo com um amigo. Bom, para início de conversa, se tratava de assunto pessoal, privado, que nem deveria ter vindo a público. Mas a gente sabe como funcionam zaps e outras modalidades de contato virtual: quem recebe mensagens quentes fica com coceira nas mãos para passá-las adiante. Foi o que ocorreu com o ex-treinador e dirigente tricolor. Muy amigo quem fez isso com ele…
Noves fora a fofoca, Muricy não falou mentira ao criticar a precariedade na organização e na capacidade de investimento do clube. Não é diagnóstico de quem caiu de para-quedas no Morumbi. Ele é são-paulino histórico, cria da casa desde os tempos de jogador, lá nos anos 1970. Tem história, também, como assistente técnico (comandava o famoso Expressinho na década de 1990), como treinador tricampeão brasileiro do time principal e agora como aprendiz de cartola.
Muricy veio a público na sexta-feira mesmo, em entrevista aos colegas Eduardo Tironi e Arnaldo Ribeiro, não retirou uma vírgula, embora tenha recuado no ponto principal do áudio, aquele em que falava que iria tirar o cavalo da chuva, junto com Rogério Ceni. Como se sabe, ambos continuam no comando do futebol, já se reuniram com a direção e iniciaram programação para a temporada de 22.
'É muito sofrimento': ouça o áudio vazado em que Muricy diz que deve deixar São Paulo ao lado de Rogério Ceni
A constatação óbvia do episódio é a de que o São Paulo continua em busca de rumo - isso para ser educado e não escrever que não sabe o que quer da vida. Faz tempo que afirmo na tevê e escrevo em colunas de jornal e blog que o glorioso Tricolor se perdeu no tempo, embriagou-se com as merecidas glórias e passou de ator principal a coadjuvante e agora só figurante. Ok, não cai no Brasileiro, mas também não incomoda ninguém, passa em brancos nuvens, fora os sustos.
(Aliás, me permitam um parágrafo como parênteses, com uma observação que pode soar provocativa, mas não é. Será que uma queda não faria bem ao clube? Será que passar uma temporada no limbo da Série B não ajudaria a chacoalhar como se deve as estruturas e a forma de agir da cartolagem? Vejamos Palmeiras, Corinthians, Atlético, até Grêmio, alguns dos grandes que tiveram seus momentos de Segundona. Vários aprenderam a lição e, na sequência, venceram tudo (ou quase) o que foi possível. Galo e Palestra hoje são dois que dominam por aqui.)
O São Paulo errou ao não se modernizar, dentro e fora de campo. O grupo que controla a política há décadas continua no poder, só com rodízio de nomes. No futebol, ultimamente tem revelado jogadores muito menos do que ocorria anteriormente. Em pouco mais de dez anos, triturou uns 20 e tantos técnicos, de variadas nacionalidades e currículos. Queimou quantias exageradas em contratações duvidosas, com retorno técnico e financeiro decepcionante. E, como consequência, não ganha mais nada. Depois do tri de 06/07/08. foram só uma Sul-Americana (em 2012) e o Paulistão de 2021. Pouco, constrangedor para uma equipe que dava as cartas no plano doméstico, nacional, sul-americano e mundial.
As palavras de Muricy incomodam, doem, mas revelam a realidade são-paulina. E, pelo visto, as perspectivas para o ano não são entusiasmantes. Porém, há saída, e ela passa por atitudes sérias e comprometidas. Primeiro, se a direção confia na dupla Muricy/Rogério tem de dar mão forte. Não pode jurar de pés juntos que vai apoiá-los e, na primeira crise (que certamente haverá), dar-lhes um pé no traseiro.
Em segundo lugar, que se contratem atletas aptos a chegarem, vestirem a camisa e jogarem. Não adianta comprar de baciada e vir com o papo furado de que são “reforços”. Com grana curta, é imprescindível gastar bem. E, por fim, traçar metas e deixá-las claras para a torcida, sem enrolação. Se o objetivo for 2023, por exemplo, que se mostre isso e se sustente a convicção. Mostrar indecisão só atrapalhará. O São Paulo é gigante, só não pode achar que isso basta; tem de ter atitude.
Eu falei no título que o São Paulo é a casa da sogra, para usar expressão antiga. Sei não, na casa da minha sogra não tem bagunça, não. A dona Lúcia (que não é a da cartinha do Parreira na Copa de 20140) não dá moleza, ninguém folga com ela…
O São Paulo e a casa da sogra
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