Vinicius Jr. vira pedra no mocassim de Tite na seleção brasileira
Pessoal, perdi a conta das vezes em que vi convocações da seleção brasileira. Da mesma forma, já nem sei mais em quantas ocasiões testemunhei idiossincrasias de treinadores com relação a alguns jogadores. Idiossincrasia, em Português simples, pode ser tomada como “cisma”, para o bem ou para o mal. Para trocar mais em miúdos: o “professor” pega birra com um atleta; daí, ou o chama sempre, mesmo em má fase, ou o despreza, mesmo que entre na lista para compor o grupo.
Para citar de cabeça, lembro de Zagallo, que desprezou Ademir da Guia em 74 e só o colocou em campo meio-tempo, na disputa do terceiro lugar; de Cláudio Coutinho, com a insistência de ter Edinho como lateral em 1978; de Telê, que ignorou a fase de Leão e não o levou para o Mundial de 82; de Parreira, que só chamou Romário na última partida eliminatória para a Copa de 94; de Dunga, que não quis saber do jovem Neymar para a aventura na África do Sul em 2010. Tem um monte de casos.
Para Tite, Vini Jr. tem condições de atingir o nível do Real Madrid na seleção brasileira
É o que acontece agora com Vinicius Jr em relação a Tite. O rapaz está comendo a bola no Real Madrid, é o destaque, com dribles, assistências e gols, muitos gols. Com 21 anos (22 em 12 de julho) é mais maduro, mais robusto, além de técnica e taticamente mais evoluído do que na época em que apareceu no Flamengo. Olha que, então, ele já era muito bom. Agora confirma as expectativas que se criou em torno dele e justifica os milhões de euros que os espanhóis despejaram para levá-lo.
Sem exagero, e já correndo o risco de exagerar, dá para dizer que é um dos melhores, senão o melhor brasileiro em atividade, aqui ou no Exterior. Supera seus companheiros de clube, Casemiro e Rodrygo (também chamados hoje), brilha mais do que Gabigol, Raphinha, Gabriel Jesus, Antony e até Neymar, que dispensa apresentações, porém atravessa etapa delicada, com contusão.
Mesmo assim, Tite não derrama elogios para Vini Jr. Ao contrário, recorre a discurso conservador e cauteloso para tecer considerações e justificar por que não o enxerga como titular da seleção. Nesta quinta-feira, voltou a dizer que não se deve esperar demais de atletas nesse estágio, pois a oscilação aparece com frequência; lembrou que o moço demorou para firmar-se no Real; alegou que lhe tem oferecido oportunidades e advertiu para o risco de excesso de expectativa. Pediu calma.
Em resumo: dá a impressão de que ainda não bota fé em Vini Jr.
Tite não é paraquedista na profissão, tampouco aventureiro que apareceu do nada. Por isso, ao ficar cheio de dedos com o atacante sensação do momento deixa transparecer essa incerteza. Nem vale muito o argumento da idade. Antony também tem 21 anos (faz 22 em fevereiro), Rodrygo é de 2001, enquanto Emerson Royal e Matheus Cunha são um pouco mais velhos (ambos de 1999).
Claro que há muita estrada para essa rapaziada percorrer, e que seja repleta de sucessos. Mas, com 21, quase 22 anos, quem é bom já rouba a cena. E é o que vem acontecendo com Vini Jr. Fosse o Tite parava de onda, enchia o jovem de coragem e brios, ao dizer que quer vê-lo como titular. Sem essa tantos mas, porém, contudo, todavia, entretanto. Aposta no taco e vê o que acontece. Se não der certo, faça marcha a ré, deixe-o como opção no banco e parta para outra solução.
O entrave está no fato de Tite ter um bloco de jogadores com os quais trabalha há seis anos e nos quais confia, mesmo em fase instável. Pode dar certo, mas é raro. O Brasil se deu bem com a geração 58/62, mas quebrou a cara com a base mantida para 66. Telê confiou demais na turma de 82 e teve decepções com ela em 86.
Fico na torcida para que Tite esteja certo nas escolhas e seja coerente. Mas fico mais ainda na torcida para que Vini Jr., Antony, Matheus Cunha e outros consigam dar um nó na cabeça do professor e provem por A mais B mais C que vão surpreender e arrebentar no Catar. Quero o Brasil mais ousado e menos “ponderado”.
Vinicius Jr. vira pedra no mocassim de Tite na seleção brasileira
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