Sem medo de pancadas e field goal de 45 jardas: conheça a primeira mulher a receber uma bolsa para jogar futebol americano
Se você ainda não ouviu falar dela, não deve demorar. Rebecca Longo, ou somente Becca Longo, entrou para a história em março deste ano ao se tornar a primeira mulher a receber uma bolsa de estudos de uma universidade da NCAA para jogar futebol americano. Isso mesmo, ela foi recrutada para jogar entre os homens do college football.
"Meu queixo caiu, não acreditei! Eu só lembro de estar sentada lá e o treinador dizer que eu era a primeira garota a fazer isso", conta.
Além de Becca, existem documentos que mostram que cerca de 12 mulheres já atingiram este feito, mas nenhuma havia recebido uma bolsa do programa antes.
Nascida em Chandler, no Arizona, Longo começou a jogar futebol americano ainda criança, junto com o irmão mais velho, Bobby. A grande inspiração veio, justamente, de uma companheira do time dele: Heidi Garret era a kicker da equipe e a fez perceber que seu sonho seria possível.
Mas Becca só começou a competir no esporte no segundo ano do colegial, na Queen Creek High. Ao passar pelo campo de futebol americano, percebeu que não tinha nenhuma mulher entre os jogadores. Lembrou de Heidi e pensou, por que não? Ela sabia que tinha um bom chute, pelos anos que praticou soccer (nosso futebol). No ano seguinte, avisou o diretor da atlética que participaria dos testes para o time de futebol americano e recebeu uma risada como resposta.
Ele duvidou de mim. E ficou espantado quando eu entrei para o time!
No seu primeiro ano como jogadora, foi treinada por Alex Zendejas, que comandou sete dos melhores kickers de Arizona e tem quatro familiares que já foram kickers da NFL. Para ele, Becca tem um talento natural.
"Eu fiquei impressionado com a potência que Becca tem nas pernas. Senti que algo muito grande aconteceria se ela mantivesse o ritmo", confessa Zendejas.
No ano seguinte, transferiu-se para a Basha High School e teve que ficar de fora dos jogos por conta das regras de transferência e de uma lesão nas costas. Lesão essa que quase a impediu de continuar a praticar esportes.
"Os médicos me disseram que eu nunca mais poderia jogar, mas eu usei isso como motivação para provar que eles estavam errados. Amo demais os esportes que pratico e dediquei muito tempo, dinheiro e esforço para simplesmente desistir", disse em entrevista à ABC News.
É justamente pela persistência e dedicação que coloca em tudo o que faz que Becca ficou conhecida. Nos treinamentos da pré-temporada de 2016, impressionou o treinador Gerald Todd ao acertar um field goal de 42 jardas e ganhou a vaga de titular!
No último ano do colégio, foram 35 de 38 chutes de ponto-extra convertidos, além do único field goal de 30 jardas pelos Bears (time de Basha High School). Becca contou à ESPN que se sente à vontade em chutar field goals a partir das 45 jardas, mas seu time geralmente tentava a quarta descida já que contava com um dos melhores quarterbacks da competição.
Em uma cerimônia da escola, o treinador Todd conta que quando decidiu que a vaga seria de Longo, foi buscar o conselho de seu irmão mais velho, que em 2003 treinou a primeira mulher a pontuar em um jogo de college football da Divisão I-A, Katie Hnida.
"Eu perguntei como se treinava uma garota. Ele me respondeu que não sabe como se treina 'uma garota', só sabe treinar jogadores de futebol americano", diz o treinador, que percebeu que o gênero não a impedia de ser tão boa quanto qualquer outro kicker.
A força de vontade e competitividade de Becca é algo que qualquer treinador deseja para um membro de seu time. Assim como o ex-quarterback da NFL, Timm Rosenbach, que hoje é técnico do Adams State Grizzlies, nova casa da atleta, que vai disputar a Divisão II da NCAA.
Eu a vejo como uma atleta que mereceu.Foicomo recrutar qualquer outro jogador!Não tenho nenhuma dúvida de que ela será competitiva. Ela tem uma perna forte e uma mira muito precisa
Becca só decidiu que queria jogar futebol americano na faculdade no final do seu último ano de escola. Foi quando entrou em contato com a Adams State para enviar seus vídeos e manifestar interesse. Depois do fim do campeonato, a universidade a procurou.
"O coordenador ofensivo Josh Blankenship disse que queria que eu fosse visitá-los. Eu me apaixonei pelo lugar", disse Becca Longo à ESPN.
Ela participou das seletivas da universidade e terminou com 23 de 25 tentativas de chute. Um desempenho sensacional para qualquer um, menos para ela, que se irritou muito com os dois chutes perdidos.
"Ela coloca mais pressão em si mesma do que nós poderíamos um dia colocar", disse Ross Brunelle, coordenador do special teams dos Grizzlies.
Becca Longo disputa a vaga de kicker com Montana Gomez, titular da equipe. Nesta temporada, o time já jogou quatro jogos, sendo duas vitórias e duas derrotas. Mas a caloura ainda não fez sua estreia. Enquanto isso, se dedica aos treinos e, segundo o seu atual quarterback, trabalho pesado não é um problema para a atleta.
"Ela treina como todos nós. Ela não está aqui só para fazer parte do time, ela está aqui para jogar", disse Jorge Hernandez, quarterback veterano dos Grizzlies.
A pergunta que sempre surge quando Becca é entrevistada é a possibilidade de levar um tackle. Mas ela não tem medo, confia nos bloqueios dos seus companheiros, os quais chama de irmãos.
"Em todos os times que joguei, eu formei grandes famílias. Confio neles", conta.
E se o tackle vier, ela encara! Quando jogava no high school, foi atingida por um oponente que escapou da linha pela direita, depois de um chute de ponto-extra. Becca o empurrou de volta e lembra que ele ficou espantado ao perceber que ela era uma garota.
E tem outro oponente que Longo precisa sempre superar, o machismo que assombra a sociedade ao ver uma mulher se destacar em um esporte dominado por homens. Desde que começou a jogar, ela ouve comentários de que não conseguiria jogar futebol americano e de que a jersey que veste é a do namorado. Um cenário agressivo, que sempre tende a afastar meninas do ambiente.
Mas dessa vez encontraram uma oponente que não se deixa controlar facilmente. "Sempre duvidaram de mim em tudo o que eu fiz. Ter a mentalidade forte é o único mecanismo de defesa que tenho". Hoje, ela tem a chance de inspirar outras meninas, assim como foi inspirada na infância pela kicker do time do seu irmão! A mãe dela conta que essa é a parte favorita da atleta.
"Tantas garotinhas seguindo ela, comentando e reconhecendo que podem fazer o mesmo. 'Ela fez isso. Se ela fez, eu posso também'", disse a mãe em entrevista ao espnW.
Entre as várias mensagens no Instagram de Becca, podemos ler frases como "vou jogar futebol americano, assim como você!" e "minhas filhas se espelham em você!"
E a história de Longo não deve parar por aí. Para muitos, Becca tem potencial para ser a primeira mulher a jogar na NFL. Ela já domina chutes de 45 jardas nos treinamentos, mas para atrair o interesse das franquias da liga, precisaria fortalecer ainda mais sua perna. O recorde de chute feminino mais longo em um jogo oficial é justamente da mulher que a inspirou a ser kicker, Heidi Garret, colega de time do seu irmão, que em 2004 converteu um field goal de 48 jardas. Distância essa que Becca já atingiu em alguns treinos.
Para se ter uma noção da potência do chute dela, a média da atual temporada da NFL dos field goals mais longos dos kickers é 46.42 jardas. O maior de 2017 aconteceu na última rodada, no jogo entre Philadelphia Eagles e New York Giants, quando o calouro Jake Elliott converteu um field goal de 61 jardas para fechar o jogo e garantir a vitória para Philly.
Mas Becca quer manter o foco e deixa a NFL para o futuro. Afinal, ela tem pelo menos três anos para se firmar na NCAA.
"Se a oportunidade surgir, eu com certeza vou aproveitar! Mas agora só estou tentando lidar com tudo o que está acontecendo", desabafa a atleta.
E se a oportunidade não vier, Becca também vai jogar basquete pela Adams State, no time feminino. A certeza é de que, dos esportes, ela não sai!
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