Sobre seleção brasileira, esquemas táticos e responsabilidades do jornalismo
Alisson, Danilo, Marquinhos, Thiago Silva e Guilherme Arana; Casemiro e Fred; Antony, Lucas Paquetá e Vinicius Júnior; Neymar. Essa será a formação titular do Brasil contra o Chile nesta quinta-feira, no Maracanã, pelas eliminatórias sul-americanas para a Copa do Mundo. Há algumas novidades.
A começar pela presença inédita de Antony iniciando uma partida pela seleção brasileira. Com o corte de Raphinha, desconvocado por ter testado positivo para COVID-19, o atacante do Ajax ganhou a oportunidade para fazer o lado direito do ataque. Em grande fase na Holanda, Antony tem enorme concorrência por um lugar no setor ofensivo entre os convocados para o Mundial.
Na frente, ainda, Neymar atuará mais uma vez como "falso 9". Partirá de um posicionamento central, abrindo espaços para os companheiros e oferecendo o jogo apoiado, com muita liberdade de movimentação. Já na defesa, Guilherme Arana foi o escolhido para começar na super concorrida lateral-esquerda e ser testado em uma partida com nível maior de enfrentamento.
Movimentação ofensiva
Desde quando Tite assumiu, no segundo semestre de 2016, a seleção brasileira já apresentou muita variação tática. Tudo que é executado em campo passa por intenso debate entre os membros da comissão técnica, que inclui avaliação dos adversários, observação dos atletas brasileiros em seus clubes e, acima de tudo, muito estudo. Nada é feito por mera intuição. Há razões e motivos para cada decisão tomada.
Contra o Chile, o plano tático estará baseado na plataforma do 4-2-3-1 e suas variações possíveis. Haverá muita similaridade com a partida contra o Uruguai na forma como a seleção atacará os chilenos: na construção de jogo o 3-3-4, com Danilo sendo um zagueiro pelo lado direito e Arana se posicionado próximo a Casemiro e Fred. Antony e Vini serão os responsáveis pela amplitude, o jogo forte pelo lado buscando o um-contra-um; Paquetá e Neymar atacando por dentro.
À medida que o time avança com a bola em campo, Arana e/ou Fred sobem e reforçam a construção ofensiva em linhas médias ou altas, tornando-se quinto e/ou sexto jogador no ataque (3-2-5 e 3-1-6). Tudo depende muito, também e obviamente, do posicionamento do adversário e como este vai se comportar nas fases do jogo: defensiva, transição defesa-ataque, ofensiva e transição ataque-defesa. Sempre, de qualquer modo, pensando em potencializar as individualidades dos jogadores brasileiros.
Mais detalhes táticos
A saída de bola, chamada pela comissão técnica da seleção brasileira de "iniciação sustentada", segue o padrão destas eliminatórias: sete jogadores, somando o goleiro, os quatro defensores e os dois meio-campistas centrais. Bola no chão e passes curtos, se aproveitando da qualidade técnica dos jogadores.
O Chile deve atuar dentro da plataforma do 3-5-2. Ciente disso, a comissão técnica realizou movimentações específicas no treino de terça-feira, na Granja Comary, para anular pontos fortes do adversário. Atenção especial foi dada aos atacantes de lado de campo para pressionarem o Chile no campo de ataque e cortarem as linhas de passe para os alas chilenos, que devem ser Mauricio Isla e Gabriel Suazo.
Na marcação alta, o Brasil pressionará no 4-2-1-3, justamente com Antony e Vini adiantados. A partir daí, de acordo com o avanço do adversário, o sistema defensivo é alterado para o 4-2-3-1 na marcação média, com os externos na linha do Paquetá, e o 4-4-1-1 no bloco baixo.
Deveres do jornalismo
Cada vez mais, dentro dos estudos de futebol em universidades ou nos cursos de formação de treinadores, a especificação dos desenhos táticos tem aumentado. No Brasil, historicamente, o 4-4-2 sempre foi o esquema tático padrão. Nas últimas décadas, mesmo com as equipes alterando suas formações, nas transmissões televisivas e nas escalações divulgadas no rádio, a leitura dos nomes seguia o desenho das duas linhas de quatro e dois atacantes.
Há, hoje, quantidade de informações disponíveis que não havia em um passado nem tão distante assim. Para explicar sobre posições, funções e as já citadas fases do jogo, tornam-se necessário tantos números e combinações. O jogo mudou. Nos quatro campos principais de análise - tático, técnico, físico e anímico - houve mudanças naturais aos nossos tempos: evolução tecnológica, aprimoramento das ciências, inovações digitais e novas formas de relações pessoais. Como escreveu Belchior, o novo sempre vem.
Assim como não podemos olhar para o passado com os olhos do presente na análise de futebol, não devemos analisar o futebol atual somente com as ideias do passado, o que demanda maior preparação. Tudo isso sem jamais descartar, naturalmente, a experiência de profissionais que viveram outras épocas do esporte e do país ou ignorar que o futebol, para a maioria, seja somente entretenimento.
Termos considerados "chatos" por muitos estão cada vez mais presentes em entrevistas de treinadores e jogadores. Nesse contexto, cabe ao jornalismo esportivo explicá-los ao invés de ironizá-los. É necessário, sempre, transmitir a informação da maneira mais clara possível, sem reduzi-la a discursos comuns se esta exigir maior complexidade.
A opinião é livre, mas se torna mais completa quando baseada em informações bem apuradas ou estudadas. O puro "achismo" pode gerar grandes debates e polêmicas fáceis, mas carece de responsabilidade no trato.
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