Botafogo e Cruzeiro não vão ganhar dinheiro com a SAF

Neste Natal, voltei receber o carinho da torcida após o anúncio de mais um investidor disposto a entrar no futebol brasileiro, com a sinalização do negócio do Botafogo com o americano John Textor, que passará a ser acionista majoritário da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) criada para recuperar financeiramente o clube e transformá-lo numa empresa.
A recordação, claro, é do texto que escrevi aqui pouco antes de Ronaldo comprar o Cruzeiro, no primeiro grande negócio amparado na nova legislação que permite a criação das SAFs: “Não há mais compradores de clubes no futebol mundial”.
Nem 15 dias depois desse texto e já são dois os clubes brasileiros que encontraram um investidor. O ponto, porém, segue o mesmo que abordei naquele texto do dia 14 de dezembro. Existem pessoas que querem investir, claro, mas não são “salvadores da pátria”, como o próprio Ronaldo fez questão de frisar ao falar sobre o que aconteceria com o Cruzeiro.
Até agora, Botafogo e Cruzeiro foram vendidos sem o clube receber nenhum valor por esses negócios. Sim, é isso mesmo o que você leu. Atolados em dívidas, os clubes conseguiram o compromisso dos investidores de aportarem, durante um período pré-determinado pelos contratos, cerca de R$ 400 milhões no negócio. Ou seja, o clube não verá um centavo desse investimento, o que torna impossível determinar qual é o real “valor” dele.
Além disso, não necessariamente, os R$ 400 milhões serão injetados no time de futebol. O melhor exemplo disso é com Ronaldo no Cruzeiro. O novo dono aportará cerca de R$ 80 milhões para quitar as dívidas cruzeirense que estão registradas na FIFA e que, caso não sejam pagas, provocarão sanções esportivas para o clube, como o não-registro de jogadores e até a perda de pontos e eventual rebaixamento para a Série C do Campeonato Brasileiro.
Não adianta o torcedor e a mídia se empolgarem e especularem quais os investimentos que serão feitos com esses R$ 400 milhões, muito menos acreditar que o valor do clube é a soma da dívida existente com o aporte que será feito. Boa parte desse aporte irá para cobrir exatamente essas dívidas, outra parte será investida em infraestrutura ou reestruturação do clube.
Na prática, Botafogo e Cruzeiro foram compras baratas dos investidores. Investimento de longo prazo, que pode ser quitado com o próprio desempenho do negócio e que, no final das contas, fará com que os clubes sejam saudáveis financeiramente.
Para torcidas que viram seus times serem dilapidados nas últimas décadas com gestões temerárias, para dizer o mínimo, é um alento saber que agora tem um dono que vai exigir maior controle dos gastos e, claro, priorizar a saudabilidade financeira do negócio. No caso do futebol, ter um negócio rentável implica, necessariamente, em montar times competitivos para buscar aumento de receitas e, com isso, reinvestir o dinheiro no projeto para tornar o clube maior e faturar numa possível revenda.
Isso não significa, porém, que os donos de Botafogo e Cruzeiro vão aportar milhões em contratações e montar supertimes prontos para disputar títulos. Mais ainda. Não necessariamente essa será a realidade do clube depois de as dívidas terem sido sanadas.
Como diz o famoso meme: “Torcedores, calma!”. Ser um clube-empresa não significa ter um megainvestidor torrando dinheiro a fundo perdido em jogadores estrelados. Ainda mais no Brasil. O futuro é muito menos empolgante do que parece. E é melhor conter a euforia para que a frustração não seja tão grande...
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