O Cruzeiro apertou os cintos. Sem um dono, isso seria possível?
Vanderlei Luxemburgo e comissão técnica demitidos. Alexandre Mattos dispensado antes mesmo de assinar pré-contrato, mas não sem antes inflar o elenco com nove jogadores. O Cruzeiro começa a viver uma nova realidade agora que tem um dono. E as primeiras medidas tomadas pelo grupo comandado por Gabriel Lima no time celeste são aquelas típicas atitudes que só um clube com dono é capaz de fazer.
O Cruzeiro não só estava quebrado pelas gestões passadas, mas vinha sendo dilacerado pela atual gestão. Se Ronaldo não tivesse chegado, ele viveria um 2022 de “aposta total” para tentar regressar à Série A do Campeonato Brasileiro e, no ano seguinte, teria de descobrir como se virar para reordenar o caixa, a casa e, claro, as expectativas dos torcedores caso o “Plano A” não desse certo.
Pelo que vinha fazendo neste mês de dezembro, a diretoria cruzeirense tinha literalmente jogado para o alto qualquer preocupação com a saúde financeira do clube e o longo prazo. O acerto com Mattos, conhecido por inflar elencos e, da quantidade, extrair desempenho esportivo, era o primeiro indicador disso. A manutenção de uma comissão técnica cara era outra forma de mostrar que não havia qualquer preocupação com as finanças e que a volta à Série A era tida como única alternativa para o clube.
Sérgio Santos Rodrigues, presidente cruzeirense, já havia abandonado o discurso que o alçou ao cargo mais alto do clube. A preocupação deixou de ser com o futuro do Cruzeiro, mas com a própria imagem.
Aqui não faço uma crítica às atitudes do presidente, mas apenas a constatação do fato.
Esse é um dos maiores problemas dos clubes associativos. O dirigente máximo, geralmente, é pressionado a gastar mais do que arrecada para tentar fazer com que o desempenho esportivo eleve sua imagem dentro daquele grupo de pessoas que o conduziram à presidência.
O ego do dirigente é, em boa parte, responsável pela gastança desenfreada do futebol. Não apenas no Brasil, mas no mundo todo. Inclusive nos clubes em que há um dono. Ou haveria outra forma de justificar o que gastaram PSG, Manchester City e Chelsea ao longo das últimas décadas a não ser um interesse desesperado por performance esportiva?
A diferença é que, num clube associativo, não há quem pague a conta de tamanho prejuízo. Ou melhor. Há. Só que esse responsável é a instituição, que encontra diversos meios para postergar o pagamento das dívidas enquanto contrai novos débitos para tentar o desempenho a qualquer preço do presente.
Explicar o que acontece no futebol brasileiro é simples. O dirigente do clube é um médico que entra no centro cirúrgico com um paciente à beira da morte. Quase sempre esse médico vai para a cirurgia dizendo que o paciente não só vai sobreviver como vai passar as férias na praia.
Ronaldo chegou como um médico que, primeiro, faz de tudo para o paciente sobreviver. Isso só é possível com dirigentes que tenham o controle pleno do clube ou apoio político suficiente para fazer o que for necessário para o clube sobreviver.
Antes de voltar à Série A, o Cruzeiro tem de entender e aceitar que está na Série B e, para isso, atuar dentro de patamares financeiros da Segundona. Qualquer dirigente comprometido com o futuro do clube deveria fazer isso, mas são poucos os que aceitam a nova realidade.
O Cruzeiro apertou os cintos. Será que, se não tivesse um dono, isso seria possível? Recentemente, só o Flamengo de Bandeira de Mello e o Grêmio foram capazes de assimilar uma situação dessas e trabalhar pensando primeiro no fluxo de caixa para depois olhar o desempenho dentro de campo. Prova de que não é preciso virar empresa para fazer isso, mas de que é preciso ter uma coragem que quase nunca é vista num ambiente tão recheado de egos como o do futebol.

O Cruzeiro apertou os cintos. Sem um dono, isso seria possível?
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