Taça do Campeonato Brasileiro exposta na sede da CBF, no Rio de Janeiro
Lucas Figueiredo/CBF
Na última quarta-feira (16), 10 dos 20 clubes que estão atualmente na Série A do Campeonato Brasileiro divulgaram um manifesto em que pedem um “Futebol Forte”. Com a presença de América Mineiro, Athletico Paranaense, Atlético Goianiense, Avaí, Ceará, Coritiba, Cuiabá, Fortaleza, Goiás e Juventude, a carta é uma mostra clara de como passam-se os anos e a mentalidade de nossos dirigentes não muda.
O baile de dez para lá, dez para cá que começa a se mostrar na Liga de Clubes é a típica situação que o futebol brasileiro adora criar há mais de três décadas, quando o Clube dos 13 foi fundado. Naquela ocasião, a ideia era tirar da CBF o poder de realizar o Brasileirão.
É preciso entender, porém, o contexto de fundação do C13 para perceber um pouco o porquê de termos essa bagunça até hoje na gestão de campeonatos no Brasil. Em 1985, tivemos um Brasileirão com quase 100 clubes. Não existia, ali, a menor condição de se criar um produto do campeonato.
O que fizeram os principais clubes do país foi se rebelar contra a incapacidade da CBF em ser impopular e fatiar em diferentes divisões o futebol do país. Daí veio a ideia do C13, baseada nas ligas americanas que começavam a ganhar espaço mundialmente. Até então, no futebol, praticamente não existiam as grandes ligas para servirem de exemplo para a criação de uma dessas no Brasil.
Só que o princípio do C13 foi errado desde o começo. Os clubes se articularam politicamente e juntaram apenas os 12 que tinham maior torcida. A ideia, claro, era ter um produto mais qualificado para TV, patrocinadores e público. O problema era que isso limitaria o “Brasileirão” a Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. Foi então que o Bahia cavou uma vaga e o C12 virou C13.
O sucesso comercial do torneio foi imediato. A Globo pagou pela transmissão, a Coca-Cola abraçou o campeonato e fechou a cota de patrocínio máster a 11 clubes do C13 (só Corinthians e Flamengo ficaram fora). O dinheiro ainda era ínfimo, o que não gerou briga entre os clubes.
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Só que essa divisão de clubes, bastante elitista, causou um racha político no futebol como um todo que germinou a semente de toda a confusão que temos nos dias de hoje. O resumo de toda essa briga que envolve poder, vaidade e, claro, divisão de receitas, é a famigerada discussão a respeito da Taça das Bolinhas e do título de campeão brasileiro de 1987.
Dessa briga resultou a reordenação de importância do Clube dos 13. A entidade passou a ser meramente comercial e política, negociando os contratos de mídia e patrocínio do Brasileirão, ficando a CBF responsável por decidir quem fazia parte do campeonato.
Isso gerou um novo problema. Os clubes que faziam parte da “panela” do C13 tinham praticamente todo o dinheiro que entrava na entidade, e os demais ficavam com o pouco que sobrava. A força política era maior do que o argumento esportivo, e o equilíbrio de divisão do dinheiro seguia a lógica implementada na liga MG-RJ-RS-SP + Bahia criada em 1987, com a inserção de outros times que ganhavam força política, como o Guarani e o Sport no fim dos anos 80, e a dupla Atletiba no final da década seguinte.
Foi essa salada de frutas em que se transformou o C13, que virou C19 ao longo dos anos, que levou à implosão da entidade em 2010. Mais uma vez por motivação política, sem qualquer preocupação com o negócio em si. Ao longo de todos esses anos, uma coisa era clara. O C13 era um centralizador de verbas e a garantia de manutenção do status quo. Mas, de certa forma, ele protegia os clubes menores quando entravam no Campeonato Brasileiro, já que havia uma mínima lógica na divisão de receitas.
Tudo isso veio abaixo em 2011, quando as negociações individuais com a TV começaram. Foi o começo do abismo que separa cada vez mais o clube grande do pequeno. Porque não foi só a negociação coletiva com a mídia que acabou. Os clubes deixaram de vender patrocínio para os jogos, deixaram de buscar contratos únicos para a competição e, mais ainda, deixaram de ter uma única voz para negociar por todos, tornando muito mais difícil para uma empresa querer investir num campeonato.
Quando os clubes anunciaram mais uma vez a ideia de criar uma liga, parecia que, dessa vez, havia uma clara motivação política (os clubes haviam acabado de perder poder de voto dentro da CBF), mas também existia, pelo menos no discurso, uma intenção dos dirigentes em organizar o Brasileirão economicamente. Isso foi lá em julho de 2021, quando Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, e Guilherme Bellintani, presidente do Bahia, foram juntos à CBF comunicar a criação da liga dos clubes.
Desde então, os clubes discutiram muito politicamente, receberam ofertas sem garantia de que os investimentos seriam feitos e, dessa forma, rodaram, rodaram, rodaram e não saíram do lugar.
O episódio de criação de uma liga “dissidente”, representando metade dos clubes da Série A, lembra muito toda a salada de fruta política de 1986. De um lado, os times de maior torcida, que são mais poderosos economicamente e atraem maior interesse do investidor por representar um maior número de consumidores. Do outro, os “renegados”, que têm tido sucesso esportivo, mas não conseguem força política para peitar o status quo. Nossos dirigentes até são outros do que os daquele tempo, mas eles continuam com a cabeça daqueles de 35 anos atrás. E, por conta disso, fazem com que qualquer projeto de Liga de Clubes, no Brasil, esteja fadado a um único objetivo: o fracasso.
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