Deportação, humilhação, fome e miséria. Entenda o que é a Geração Windrush e o que Michail Antonio tem a ver com isso
Theodore Withmore representa muito para a história do futebol da Jamaica. Foi ele que marcou os dois gols da única vitória da seleção de seu país em uma Copa do Mundo. Aquele time, treinado por Renê Simões, perdeu para os favoritos Argentina e Croácia, antes de bater o Japão por 2 a 1. Já naquela época, Withmore, quando era convocado para defender a Jamaica, entrava em um avião em Londres e encontrava com boa parte de seu time em Kingston, capital do país.
Hoje em dia, 23 anos depois daquela Copa do Mundo, é Theodore Withmore que convoca os jogadores. Entre idas e vindas, seja como treinador principal ou como assistente, Withmore está no ambiente de comissão técnica da Jamaica desde 2007. São 54 vitórias, 17 empates e 35 derrotas.
Não são poucos os que repetem os passos de Theodore da época de jogador do Hull City. Para o último jogo, derrota por 1 a 0 para a seleção dos Estados Unidos, dez jogadores partiram do Reino Unido. Alguns mais conhecidos como Andre Gray, Hector ou até mesmo Decordova-Reid. O maior artilheiro do West Ham na Premier League, Michail Antonio, é outro natural da Inglaterra que atravessará o oceano para defender o time de Theodore. O caminho que os jogadores fazem é historicamente o inverso ao que cerca de 500 mil pessoas fizeram. No dia 22 de junho de 1948, 492 pessoas, muitas delas crianças, desembarcaram do navio Empire Windrush, no Porto de Tilbury, em Londres.
O Empire Windrush se tornou o símbolo, mas não foi o único navio que recebeu imigrantes vindos das diversas colônias britânicas. Uma lei promulgada em 1948 passou a conceder a nacionalidade britânica para cidadãos nascidos em países como a Jamaica. A Segunda Guerra Mundial provocou, além de outros problemas, uma grave escassez de mão de obra no Reino Unido. A medida servia como uma oportunidade de vida nova aos imigrantes e reaqueceu a economia e a vida dos países do Reino Unido. Entretanto, muitos que deixaram seus países eram crianças e não portavam documentos, outros tantos já saíram de seus países em condições precárias e nem tinham registros, mas foram aceitos e produziram e viveram como britânicos.
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Algumas medidas entre 1960 e 1970 começaram a restringir os direitos das pessoas que vinham de países como a Jamaica. Aos cidadãos que chegaram até 1973 foi concedido o direito de permanência, mas não era oferecido a eles qualquer tipo de documento atestando a situação. Em outubro de 2012, a primeira-ministra Theresa May deu início a ações que dificultaram muito a vida de milhares de pessoas.
Quase que do dia para a noite, cidadãos que não conseguissem comprovar com documentos que eram britânicos ou que tinham avôs, avós ou pais que haviam chegado no Reino Unido até 01 de janeiro de 1973 seriam convidados a sair do país em programas de incentivo à deportação voluntária. Muitos perderam seus empregos, os benefícios de atendimento médico e escola. Entenda que nunca foi pedido um documento a quem chegou tanto tempo antes e os filhos e netos nasceram no Reino Unido e não tinham como provar que seus pais chegaram até 1973.
As medidas sofreram reações imediatas. Órgãos de vigilância e observação dos direitos humanos do Reino Unido se mobilizaram e entraram com ações na justiça contra as medidas do governo. O prejuízo para muitos foi irreparável. Sem documentos, sem emprego, sem saúde, sem moradia e sem esperança.
Já em 2013, após diversas investigações constatarem abusos e erros do governo o processo de hostilidade retrocedeu, mas não a ponto de parar totalmente. A chamada geração Windrush ajudou a reconstruir o Reino Unido, mas se viu desprotegida, usada e fragilizada.
Hoje, quando a seleção da Jamaica recorre a muitos jogadores nascidos na Inglaterra, não é que ela devolva os direitos usurpados, mas oferece o brilho nos olhos que somente a esperança pode dar.
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