Multicampeão Daniel Alves pode ampliar recorde de títulos e ter o ano mais feliz da carreira

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Messi, enfim campeão com a seleção principal da Argentina, é a maior ameaça em atividade ao recorde de títulos de Daniel Alves, o jogador mais vezes campeão de torneios oficiais no futebol. Os dois são amigos e ostentam um título mundial sub-20, que entram em algumas contas e ficam fora de outras listas de taças dos dois grandes parceiros na época de Barcelona. Messi possui também uma medalha de ouro olímpica, algo que Daniel Alves poderá conquistar neste sábado na final contra a Espanha no Japão.

Há quem diga que o título olímpico não deveria contar na lista de títulos profissionais, assim como as disputas sub-20, pois são competições com restrição de idade. Eu entendo que devem sim entrar na conta, sobretudo o ouro olímpico, que acertadamente está sendo a prioridade de Daniel Alves no momento. E não é porque ele disse, em entrevista à Fifa, que planeja chegar a 50 títulos na carreira, apontando para a Copa do Mundo de 2022.

Daniel Alves conquistou 23 títulos oficiais com o Barcelona, incluindo três Mundiais de Clubes da Fifa
Daniel Alves conquistou 23 títulos oficiais com o Barcelona, incluindo três Mundiais de Clubes da Fifa Shaun Botterill/FIFA via Getty Images

Uma medalha de ouro olímpica vale muito mais do que muitos dos títulos que o lateral-direito e meio-campista do São Paulo já faturou em sua carreira. Ele tem cinco Supercopas da Espanha e uma Supercopa da França. São taças oficiais, mas torneios de menor importância, disputas que servem simbolicamente mais para abrir a temporada de um país. O primeiro e o último título de Daniel Alves nem são nacionais, mas certamente valem mais do que Supercopas para o folclórico ala baiano. Ele ganhou a Copa do Nordeste com seu querido Bahia em 2002 e conquistou o Paulista com seu amado São Paulo em maio deste ano, ajudando a tirar o time do coração da fila e realizando um sonho de criança.

Registros frios indicam 33 títulos para Cristiano Ronaldo e Xavi, 34 taças para Piqué e Vítor Baía, 35 troféus para Kenny Dalglish e 36 conquistas para Giggs. Messi tem 37 títulos, assim como Iniesta e Maxwell, se não contarmos seu Mundial sub-20. Mas, se usarmos esse critério, Daniel Alves teria 41 títulos, e não 42, como muitos divulgam. O gênio argentino ganhou 35 de seus troféus oficiais com o Barcelona. O lateral brasileiro, decisivo na semifinal olímpica contra o México, experimentou sucesso em várias frentes e pode ser capitão de mais uma conquista do Brasil. São duas taças da Copa América para ele (a de 2019 como capitão e melhor do torneio) e duas edições da Copa das Confederações.


'A vitalidade do Daniel Alves é impressionante', diz Eugênio Leal após classificação do Brasil à final olímpica


  


         
 


    

 

Com a esperada permanência de Messi no Barcelona, o argentino tem boa chance de chegar aos 40 títulos oficiais na carreira. Aos 38 anos, Daniel Alves tem menos tempo e menos chance de empilhar mais troféus. Ele voltará ao São Paulo para tentar uma Libertadores e talvez uma Copa do Brasil (o Brasileiro está fora de cogitação nesta temporada). Qualquer título pelo time de seu coração será muito festejado, seja pela importância, seja pelo sentimento, seja pelas estatísticas pessoais. No melhor dos mundos para Daniel Alves, ele ganharia o ouro no sábado, a Libertadores neste ou no próximo ano e fecharia a conta dos principais títulos do futebol mundial com a Copa de 2022.

Daniel Alves, que já tem títulos da Copa América e da Copa das Confederações pela seleção, tenta agora o ouro olímpico
Daniel Alves, que já tem títulos da Copa América e da Copa das Confederações pela seleção, tenta agora o ouro olímpico Lucas Figueiredo/CBF

Listas de títulos às vezes têm mais quantidade do que qualidade. Mas cada um sabe melhor do que ninguém o real valor de cada troféu conquistado. Daniel Alves, que tem se comportado como um garoto faminto na primeira Olimpíada, sabe aproveitar a vida e seus troféus. Mesmo que não vença mais nada na carreira, seu currículo já é histórico. Resta saber agora aonde ele vai acabar?

 

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Democracia faz bem para os torneios da Conmebol e também para o Mundial feminino de futebol

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Estamos vendo um momento de democracia na América do Sul e na Oceania. Isso porque temos times de cinco países diferentes nas quartas de final da CONMEBOL Libertadores, o mais nobre torneio da América, e porque teremos um campeão mundial novo no Mundial feminino, disputado na Austrália e na Nova Zelândia. Se o Flamengo, clube mais rico e dono do melhor elenco aqui na nossa região, foi eliminado por um esforçado Olimpia cuja folha de pagamento bate apenas em R$ 4 milhões (Gabigol e Arrascaeta ganham isso juntos por mês, aproximadamente), os Estados Unidos, maior economia do planeta e maior potência do futebol feminino, deixou precocemente o Mundial das mulheres, assim como a Alemanha, maior economia da Europa e outra forte equipe que era uma das grandes favoritas ao título na Oceania.    

Na Libertadores, estão vivos ainda times de Bolívia (Bolívar), Colômbia (Deportivo Pereira) e Paraguai (Olimpia). Na CONMEBOL Sul-Americana, ainda está na briga um time do Equador (LDU), que aliás fez o último campeão (Independiente del Valle). Desde 2016, não havia tantos times de países diferentes nas quartas de final da Libertadores. Naquela oportunidade, havia equipes de seis países diferentes nessa fase, mas é bom lembrar que os mexicanos participaram daquela edição (o Pumas foi até as quartas de final). A final de 2016, um tanto quanto surpreendente para muita gente, reuniu Atlético Nacional, da Colômbia, e Independiente del Valle, do Equador (a equipe de Medellín conseguiu seu bicampeonato). Neste ano, temos apenas uma certeza na semifinal: haverá um argentino, o vencedor do confronto entre Boca Juniors e Racing. Podemos ter uma semifinal sem brasileiros, inclusive. O grande favorito ao título continental agora é o Palmeiras de Abel Ferreira, mas o futebol colombiano costuma por vezes apresentar equipes surpreendentes, como o Once Caldas campeão de 2004, ou mesmo o Tolima, que eliminou em 2011 um rico Corinthians. O Deportivo Pereira, desde o sorteio o mata-mata, foi rotulado como o “patinho feio” da Libertadores, muito por sua falta de tradição. Mas, diante do que estamos vendo até agora na disputa, o Verdão que se cuide.

Mosaico da torcida do Olimpia nas arquibancadas do Defensores del Chaco, estádio onde o tricampeão da América eliminou o endinheirado Flamengo da Libertadores
Mosaico da torcida do Olimpia nas arquibancadas do Defensores del Chaco, estádio onde o tricampeão da América eliminou o endinheirado Flamengo da Libertadores Getty

 

O Bolívar, que já despachou o Athletico, decide fora contra o Inter, mas tem a chance de abrir vantagem na altitude, um problema para o adversário, mas não o único. O Bolívar é um grande de seu país, assim como é o Olimpia, no Paraguai. O time de La Paz merece respeito também por sua história e organização tática (o Bolívar esteve na semifinal em 2014, quando nós já tínhamos um domínio claro, bastante por razões econômicas, dos brasileiros nos torneios da Conmebol). Uma classificação do Bolívar e do Olimpia para as semifinais não seriam uma grande zebra, embora enfrentem equipes mais endinheiradas. O sucesso do Deportivo Pereira, sim, poderá ser visto como uma surpresa maior, muito pelo nível de competitividade do Palmeiras de Abel, que já conquistou uma Libertadores no Maracanã e espera chegar ao seu tetra continental no mesmo mítico estádio carioca (por razões financeiras também, o Maracanã vai receber outra final).

Na Sul-Americana, há apenas uma equipe de fora de Brasil e Argentina nas quartas de final, mas é simplesmente a equipe que lidera o ranking histórico da competição: a LDU. O time de Quito é o que tem mais pontos (148), mais vitórias (43) e mais gols (140) na história da Copa Sul-Americana. E curiosamente a LDU vai pegar nas quartas de final o também tradicional São Paulo, segundo no ranking história da competição continental (139 pontos, 39 vitórias e 121 gols marcados). O Tricolor chega forte após virar o duelo contra o San Lorenzo e agora conta com reforços de nível europeu, casos de James Rodríguez e Lucas Moura, atletas que um time do Equador não consegue bancar. Defensa y Justicia e Estudiantes são os representantes argentinos ainda vivos na Sul-Americana, mas apenas o segundo, tetra da América, parece ter forças para desafiar o poderio maior dos brasileiros, que colocaram cinco equipes nas quartas de final.

Mudando a chave para o futebol feminino, vimos a queda do Japão nas quartas de final, caindo assim o último campeão mundial que ainda estava vivo na disputa na Oceania. A Suécia, de tanta tradição na modalidade, despachou as japonesas e enfrentam na semifinal a Espanha, que é mais um caso de sucesso quando o tema é desenvolver o futebol feminino. A equipe espanhola reúne talentosas jogadoras e pode ser mais uma equipe a ter título mundial no futebol tanto no masculino quanto no feminino. A Europa melhorou demais na modalidade, tanto que França e Inglaterra chegaram entre as seleções mais cotadas. Mas vemos força também na anfitriã Austrália e assistimos à ascensão de uma surpreendente equipe sul-americana: a Colômbia, que passou pela sensação Jamaica nas oitavas de final. Brasil e Canadá, assim como a Alemanha, pararam na fase de grupos, o que já dava uma cara de novidade para este Mundial feminino. A fraca campanha norte-americana já era vista na fase de grupos, tanto que Portugal meteu bola na trave dos EUA nos acréscimos em um jogo que poderia ter colocado as lusitanas nas oitavas.

Este Mundial feminino mais democrático talvez fosse mais fácil de ser previsto e imaginado, pois é inegável que aumenta no mundo o interesse pela modalidade, com mais praticantes e com mais investimento. O que era no início uma festa para poucos países, notadamente nórdicos e os Estados Unidos, virou uma tendência mundial, com boas equipes em todos os continentes. A África também mostrou boa evolução nesta disputa na Oceania. O Brasil tem tradição no futebol feminino, apesar das dificuldades que antigas gerações tiveram em nosso país, mas hoje há mesmo um equilíbrio entre várias nações na modalidade. Ficou mais difícil ser campeã mundial com tantas seleções postulantes. Claro que para a Fifa essa democracia maior na disputa é algo positivo.

Também é positivo para o futebol sul-americano ver um rodízio maior de times e países nas fases mais agudas das competições interclubes. Hegemonias costumam tirar um pouco a graça das disputas esportivas, ainda mais quando isso se dá pelo dinheiro. A América do Sul tem visto ainda muitas cenas de racismo, o que precisa ser combatido com cada vez mais rigor (dois homens foram presos no Morumbi por atos racistas no São Paulo x San Lorenzo pela Copa Sul-Americana), mas vemos também agora como moda rasgar dinheiro na Argentina para provocar o povo local por conta da economia do país. Os argentinos vão prender os estrangeiros que fizerem esse ato também imbecil. Toda forma de preconceito deve ser condenada. Infelizmente, o racismo não é crime em todos os países do nosso continente. E, infelizmente, até o dinheiro virou agora moeda de provocação na América do Sul.

Que tenhamos mais democracia, mas mais respeito acima de tudo.

 

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Janela de transferências no Brasil surpreende, mostra a força do nosso mercado e pode mudar muita coisa

Rodrigo Bueno
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Quem diria que o São Paulo, cheio de problemas financeiros, contrataria James Rodríguez e Lucas Moura nesta janela de transferência? E quem diria que o Palmeiras da milionária Leila passasse praticamente em branco neste período de contratações? O Flamengo ensaiou bater o recorde de valor gasto em uma janela de transferências no futebol brasileiro, mas algumas negociações, como as de Claudinho, De La Cruz e Wendel, não foram ainda concretizadas. Mesmo assim, o rubro-negro gastou R$ 91 milhões em apenas duas contratações (já são R$ 222 milhões na aquisição de reforços em 2023). Os dois clubes mais endinheirados do Brasil e, consequentemente, da América do Sul, continuam praticamente no mesmo patamar de antes. Só que o Flamengo acertou com Allan, Luiz Araújo e Rossi, três bons nomes para compor o melhor elenco do continente, o único elenco capaz de conquistar neste ano Libertadores, Brasileiro e Copa do Brasil.

O Palmeiras, já eliminado da Copa do Brasil, joga suas fichas na Libertadores por conta da diferença grande de pontos em relação ao Botafogo. Mas não conseguiu contratar o esperado camisa 5 para suprir a ausência de Danilo. Wendel, do Zenit, e Aníbal Moreno, do Racing, não foram comprados ainda, e a torcida alviverde tende a culpar ainda mais a presidente Leila, que fez grande alarde ao apresentar o avião que adquiriu para a equipe. A comemoração palmeirense na janela foi manter nomes bastante importantes, como Gustavo Gómez, Zé Rafael e Piquerez. Já o rival Corinthians fez dois movimentos importantes, trazendo o ótimo zagueiro Lucas Veríssimo, emprestado pelo Benfica, e o bom meia-atacante Matias Rojas, que veio do Racing. Porém Róger Guedes partiu para o futebol do Qatar, o que deixa o time alvinegro sem o seu melhor jogador neste ano, seu goleador. Há um cenário diferente agora para a volta da semifinal da Copa do Brasil entre São Paulo e Corinthians por conta desta janela, ainda mais porque o Tricolor ainda não vendeu peças importantes.

James Rodríguez, um dos mais talentosos jogadores sul-americanos dos últimos tempos, chega como reforço do São Paulo para o futebol brasileiro
James Rodríguez, um dos mais talentosos jogadores sul-americanos dos últimos tempos, chega como reforço do São Paulo para o futebol brasileiro Getty Images

Veja o duelo Atlético x Athletico: o mineiro, que tirou Luiz Felipe Scolari do Furacão, não contratou ninguém nesta janela. Já o paranaense se reforçou com Vidal, ex-astro do Flamengo, e ainda ficou mais robusto com Caca, Zapelli e Esquivel. Em um ano muito especial por conta da inauguração de sua arena, o Galo entra nas oitavas da Libertadores em baixa diante do favorito Palmeiras e sua campanha no Campeonato Brasileiro é das mais decepcionantes. Já o Athletico se complicou na Libertadores na altitude, mas ainda conta com Vitor Roque (muito bem vendido) para tentar uma virada na Arena da Baixada contra o Bolívar. No Sul, o Inter parece ter levado ligeiramente a melhor sobre o Grêmio no mercado. Além de pegar o técnico Eduardo Coudet, trouxe Enner Valencia, Aránguiz, Bruno Henrique e o goleiro Rochet, titular do técnico “Chacho” e que salvou o Colorado na partida de ida das oitavas da Libertadores na Argentina. Já o Grêmio fez mais barulho ao dar uma nova chance para Luan, o “Rei da América” de 2017 que parece ter deixado a sua carreira em segundo plano. O time de Renato Gaúcho, que trouxe ainda João Pedro, Rodrigo Ely e Lucas Besozzi, teve como grande reforço a permanência de Luis Suárez, apesar da boa proposta que teve dos Estados Unidos. O Grêmio está praticamente eliminado da Copa do Brasil, e o Inter ainda sonha com uma remontada na Libertadores diante do River Plate após o 1 a 2 no Monumental.

O Botafogo, líder disparado do Brasileiro, teve que correr atrás de novo técnico e foi bem na sucessão de Luís Castro. Bruno Lage, também português, parece um ótimo nome para dar sequência o excelente trabalho que está sendo realizado, tanto no Brasileiro quando na Copa Sul-Americana. O elenco está provando cada vez mais que foi bem montado, figurando até aqui de longe como o melhor exemplo de SAF no futebol brasileiro. Esse grupo recebeu agora o meia-atacante uruguaio Diego Hernández e pode acertar com o lateral-direito Mateo Ponte. O Vasco, outro grande carioca que vendeu seu departamento de futebol para estrangeiros, trouxe o técnico argentino Ramón Díaz e oito reforços, alguns deles bem discutíveis: o zagueiro Maicon, o lateral Jefferson, o volante Medel, os meias Paulinho e Praxedes e os atacantes Pablo Vegetti, Serginho e Sebastian Ferreira. O único motivo certo para festejos dos vascaínos nesta janela foi a troca do CEO da SAF, Luiz Mello, cujo nome já estava bastante desgastado. Há o interesse ainda na contratação do experiente centroavante espanhol Diego Costa.

O medo do rebaixamento fez o Santos também se mexer, como havia prometido Falcão, diretor de futebol muito contestado. Chegaram Dodô (Atlético-MG), Jean Lucas (Monaco), João Basso (Arouca) e Julio Furch (Atlas). Ainda pode pegar Nonato (Ludogorets) e Roberto Pereyra (Udinese). Paulo Turra não tem uma situação das mais confortáveis à frente do Peixe, e não será surpresa se uma nova correção de rota acontecer na Vila Belmiro. O Cruzeiro e sua SAF foram atrás de sete reforços, dentre eles Matheus Pereira, do Al Hilal, Rafael Papagaio, ex-Palmeiras, Arthur Gomes, ex-Santos, e o colombiano Palacios. Na parte de cima da tabela e ainda na Libertadores, o Fluminense foi mais comedido na janela, acertando os retornos do zagueiro Marlon, do meia Danielzinho e do atacante Yony González, além da compra do meia uruguaio Leo Fernández. Bahia e Coritiba, também nesta onda de SAF, conseguiram se reinventar e parecem agora mais fortes e confiantes na luta contra o rebaixamento. O Tricolor baiano, do Grupo City, gastou R$ 15 milhões no lateral Gilberto e R$ 13,3 milhões no atacante Rafael Ratão. O Coxa acendeu após a saída barulhenta do técnico Antônio Carlos Zago e já desfruta de oito reforços: Diogo Oliveira, Edu, Fransérgio, Hayner, Lucas Barbosa, Maurício Garcez, Reynaldo e Sebastián Gomez.

O mercado brasileiro está cada vez mais convidativo para estrangeiros, até pelo aumento no limite de gringos nos times e pela situação econômica favorável em relação aos nossos países vizinhos. Isso certamente tem atraído nomes como os de Luis Suárez e James Rodríguez, jogadores com boa passagem por futebol europeu e por suas seleções e que há algum tempo nós não imaginávamos que estariam atuando em território brasileiro a não ser em Copa do Mundo ou Copa América aqui. Mais jogadores brasileiros de bom nível estão mais dispostos a aceitar projetos no país. Voltas esperadas, como as de Lucas Moura, no São Paulo, e Fernandinho, no Athletico, tendem a ser mais comuns. Há uma briga escancarada agora com os efervescentes mercados da Arábia Saudita e dos Estados Unidos, mas as várias SAFs que estão nascendo no Brasil e a melhor organização de muitos de nossos clubes (talvez o melhor exemplo disso seja o Fortaleza, forte candidato na Copa Sul-Americana) podem superar várias outras ligas periféricas. Foram gastos mais de R$ 250 milhões por clubes brasileiros na compra de jogadores nos últimos 30 dias. Nesta janela de meio do ano, que tradicionalmente tem muitas saídas, foram contratados mais de 80 atletas apenas na Série A.  

Não tem mistério. Quem investe mais e melhor acaba tendo muito mais chance de ter sucesso no futebol, no esporte. Uma janela pode mudar drasticamente o nível dos times. Veremos como será este final de 2023, com chance de surpresas positivas e negativas.





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Devemos evitar comparações do futebol feminino com o masculino, mas devemos ainda mais respeitar

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

O futebol feminino tem crescido cada vez mais e estamos diante da maior Copa do Mundo da modalidade, um evento que vem se superando em termos de audiência, visibilidade, público, valores, interesse, exposição na mídia etc. Não é uma modinha como o filme da Barbie neste meio de ano, já temos sim um esporte bem consolidado, com milhões de praticantes e fãs no mundo todo. A Fifa, espertamente, tem investido mais no futebol feminino. Não só por razões comerciais, mas para firmar a modalidade mesmo como a preferida da maioria da maioria das pessoas do planeta (as mulheres). Os Estados Unidos, maior economia do planeta, já têm esse olhar para o futebol feminino faz tempo, mas hoje vemos de verdade a globalização do esporte e o desenvolvimento dele.

As nações europeias, tradicionalmente boleiras, cresceram bastante no feminino e rivalizam hoje com as norte-americanas (incluo aqui o Canadá). Vemos bons times na América do Sul (sobretudo o Brasil) e na Oceania, anfitriã da atual edição. As ligas estão mais fortes, os patrocinadores estão mais presentes, a mídia está mais aberta e o mercado está cada vez mais favorável e convidativo para as causas das mulheres. E o futebol está mesmo deixando de ser apenas uma causa para elas. Foi-se o tempo em que a modalidade era proibida ou malvista, especialmente em alguns lugares mais preconceituosos. Os latinos, por exemplo, demoraram mais para aceitar o futebol feminino, creio que isso se deve a uma cultura mais machista, a que vemos ainda aqui ou acolá em comentários do tipo “mulher não tem que jogar bola”.  

A popularização do futebol feminino passa por um envolvimento maior de clubes tradicionais e de federações poderosas, nacionais e internacionais. No Brasil, até por regra, as principais camisas do país tiveram que destinar verba para a montagem de equipes femininas. Ter uma liga regular é o básico para a consolidação do esporte. Sem competição, não há desenvolvimento. Hoje, nós já temos torneios diversos, incluindo a base, embora ainda com um calendário tão ou mais confuso e problemático do que o que vemos no masculino. E é nesse ponto que quero tocar aqui neste post: as comparações recorrentes do futebol de homens e o de mulheres. Claro que são coisas bem diferentes, afinal homens e mulheres são bem diferentes, os corpos são diferentes, a velocidade é diferente, a potência é diferente, a força é diferente. Isso já vemos em praticamente todas as modalidades esportivas (algumas permitem uma “igualdade” maior). Mesmo com um investimento pesado ou desenvolvimento grandioso, as mulheres não vão ter, naturalmente, as mesmas condições para alcançar marcas dos homens (veja os recordes do atletismo para perceber a diferença).  

Eu entendo alguém não gostar muito do nível apresentado pelas equipes femininas. Quero acreditar que bastante gente está, desde a infância, acostumada a acompanhar o futebol masculino, e apenas por isso custa um pouco a aceitar algumas jogadas que parecem mais amadoras. E, convenhamos, especialmente no futebol local, longe da nata europeia da bola, assistimos mesmo no masculino a muitas peladas e lances de churrasco. Como somos apaixonados por nossos times, vemos os jogos mesmo sabendo que são ruins, que os jogadores são meia boca etc. Essa paixão já está passando para os clubes no feminino, afinal as maiores torcidas estão representadas hoje em campo. Vimos nas últimas décadas a mudança de bastão de times históricos, como o Saad, para o domínio dos clubes de massa, como o Corinthians. E vemos cada vez mais essa paixão em termos de seleções, com a expansão da modalidade e um equilíbrio maior de forças. A Copa do Mundo está maior e mais atraente mesmo, com jogadoras de grande nível e com treinadoras também de excelente trabalho (sou particularmente fã de Sarina Wiegman, técnica holandesa que já foi campeã europeia com seu país e que reina agora na Inglaterra).

Eu entendo alguém ser apaixonado demais por futebol feminino, até pela luta e pela resiliência de muitas das pessoas envolvidas na modalidade, quase sempre à sombra do masculino. Toda forma de apoio ao esporte é válida, seja financeiro ou mesmo de espaço na imprensa. Isso vale para o futebol feminino e também para outras modalidades que querem ser lugar ao sol, seus 15 minutos de fama que seja. Tenho várias colegas que estão na cobertura da Copa, do outro lado do mundo e aqui, e estou feliz demais por elas. Percebo bem como isso é uma realização de um sonho, não só o pessoal de trabalhar em um grande evento internacional, mas por estar fazendo parte da história, por estar ajudando a difundir uma modalidade que por tanto tempo ficou em um quinto plano.

Ary Borges, autora de um hat-trick na goleada do Brasil sobre o Panamá na Copa do Mundo feminina, deu lugar no fim do jogo para a Rainha Marta, uma mostra de como a nova geração está chegando com força
Ary Borges, autora de um hat-trick na goleada do Brasil sobre o Panamá na Copa do Mundo feminina, deu lugar no fim do jogo para a Rainha Marta, uma mostra de como a nova geração está chegando com força Thais Magalhães/CBF

 

Pela primeira vez, vi minha filha Ísis (hoje com 13 anos) com o rosto pintado e acordando cedo nas férias para ver o jogo do Brasil com a priminha Rebeca. Estavam animadas como poucas vezes vi e logo passei para elas o aplicativo oficial do Mundial para elas colecionarem o álbum de figurinhas do torneio. Minha filha, que antes brigava para ter o Neymar, o Messi e o Cristiano Ronaldo em seu álbum, agora tem boas referências femininas para seguir e curtir. As novas gerações já estão sendo criadas em um ambiente muito mais receptivo ao futebol feminino. Legal que elas saibam da dificuldade que até uma Marta, Rainha do futebol, enfrentou para ter sucesso na carreira. Mas mais legal ainda elas verem que hoje que a Ary Borges, com seus 23 aninhos, já pode sair do Centro Olímpico para o Sport, para o São Paulo, para o Palmeiras e para a bem-sucedida liga norte-americana. Autora de um hat-trick na estreia do Brasil, Ary Borges deu lugar para Marta no final da partida, algo bastante simbólico neste Mundial.

Com o tempo, vai ser inevitável que mais pessoas curtam o futebol feminino e que mais gente largue seus preconceitos para se divertir com a modalidade. Assim como as mulheres estão cada vez mais altas, mais fortes, mais rápidas, mais habilidosas, mais independentes, mais destemidas, mais corajosas, mais confiantes, mais protagonistas, mais endinheiradas e mais empoderadas, o futebol feminino está cada vez maior e melhor. Eu quero fazer aqui uma menção especial à minha amiga Renata Silveira, primeira narradora em TV aberta no país a trabalhar em uma Copa do Mundo. Eu já dividi transmissão de jogo em televisão com 36 narradores diferentes, e ela é uma das melhores, tem uma excelente voz, estuda e se prepara demais para os jogos e possui um bom ritmo, passa sim emoção até em partidas chatas e pouco interessantes de futebol masculino. Sei o quanto a Renata deve estar sofrendo com críticas e ofensas terríveis oriundas puramente do machismo e da estupidez de algumas pessoas, mas que ela siga firme e forte, bailando em seu trabalho como de costume, para incentivar ainda mais outras narradoras e outras mulheres a ter seu espaço, a estar no lugar em que desejam estar, a fazer e jogar o que mais gostam.

Boa Copa do Mundo feminina para todas as pessoas, não importa o gênero, a idade, a orientação sexual, a raça etc. Desfrutem!     

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Se for rebaixado, Santos pode ter a pior temporada de um clube brasileiro com tantas notícias ruins

Rodrigo Bueno
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O ano começou com o maior luto santista, afinal o Rei Pelé foi sepultado nos primeiros dias de 2023. Ao longo do ano, o caso de estupro de Robinho, outro ídolo histórico do Peixe, foi ainda mais escancarado e ele, condenado na Itália, poderá ser preso mesmo estando no Brasil. Neymar, mais um genial raio que caiu na Vila Belmiro, parece cada vez mais longe de ganhar a tão sonhada Bola de Ouro e continua aparecendo no noticiário com situações nada agradáveis, como traição à mulher grávida na véspera do Dia dos Namorados e multas por questão ambiental em seu palacete em Mangaratiba. O orgulho santista nunca esteve tão abalado, pois pelo terceiro ano seguido o time não se classificou para o mata-mata do Campeonato Paulista e mais uma vez corre risco de rebaixamento no Brasileiro, algo que seria inédito para o clube.

Há um pensamento de que o atual presidente do Santos, Andrés Rueda, é até um bom administrador na parte financeira, mas que ele pouco entende de bola. O departamento de futebol do clube foi entregue em boa parte a um craque que não tem ligação com o Santos, o ex-volante Falcão, que não emplacou como se esperava como técnico nem como dirigente. Sua atuação até aqui tem sido opaca, pouco acrescentando a um time com elenco limitado e que parece um tanto quanto perdido, sem comando. Paulo Tura, um treinador em início de carreira solo, chegou para colocar ordem, mas parece que isso estragou ainda mais o ambiente no vestiário. A saída de Soteldo, uma rara reserva técnica que o Santos tinha neste ano, foi o grande exemplo disso. O pequeno venezuelano é mais um nome adorado pela torcida que vive um 2023 ruim.

Falcão, que teve cinco dias de folga no Sul para curtir o aniversário da esposa e que foi flagrado vendo a final de Wimbledon entre Alcaraz e Djokovic (não posso culpa-lo muito por isso porque o jogo foi épico, e acho que Alcaraz vai ser o maior tebnista da história um dia) no Morumbi pouco antes do clássico San-São, passou a ser criticado ainda mais internamente pelo que seria um descaso com a fase negativa da equipe, que venceu apenas um dos últimos 15 jogos da equipe (um 4 a 3 sofrido na Vila contra o Goiás em que o árbitro anotou um pênalti muito polêmico para o alvinegro). A vitória anterior da equipe, contra o Vasco em São Januário, também teve muita reclamação do adversário com a arbitragem. Isso mostra a dificuldade que o Santos vem encontrando para superar até mesmo times da parte inferior da tabela, com quem em tese e na prática está brigando de fato contra o descenso.

Confusão na Vila Belmiro durante Santos x Corinthians, um dos muitos momentos tensos vividos pelos santistas neste ano terrível de 2023, que começou com o sepultamento do Rei Pelé e pode acabar com inédito rebaixamento
Confusão na Vila Belmiro durante Santos x Corinthians, um dos muitos momentos tensos vividos pelos santistas neste ano terrível de 2023, que começou com o sepultamento do Rei Pelé e pode acabar com inédito rebaixamento Abner Dourado/Agif/Gazeta Press
 

A torcida santista, desesperada com a possibilidade real de um primeiro rebaixamento, tem passado do ponto em atos violentos e protestos com arremesso de bombas e objetos. O cenário terrível fez com que a Vila Belmiro fosse justamente punida, e o alçapão alvinegro foi decisivo muitas vezes para que times fracos do Santos superassem equipes mais poderosas e impedissem uma queda para a segunda divisão. Estamos vendo um Brasileiro que tem tudo para bater recorde de público na era dos pontos corridos, mas o Santos está quase sozinho sem a torcida do seu lado. E, quando ela está presente, em pouco número ou não, a pressão tem sido a tônica nas arquibancadas. A nova geração dos Meninos da Vila não é das melhores, e o que seria o último raio (Rodrygo) partiu cedo para o Real Madrid e pouco foi aproveitado pelo Santos, diferentemente de Pelé, de Robinho e de Neymar.

O possível título brasileiro do Botafogo, algo mais inesperado do que um rebaixamento do Santos em 2023, jogaria ainda mais luzes nas SAFs, nova onda do futebol brasileiro. O lendário time de Pelé está concorrendo mesmo agora com empresas, e está ficando para trás de várias delas (foi eliminado da Copa do Brasil pelo Bahia, parceiro do Grupo City, por exemplo). Quase todos os adversários estão se organizando melhor, estão recebendo mais investimento, estão contando com mais apoio nas arquibancadas, estão vendo mais perspectivas do que o Santos. Na Copa Sul-Americana, a campanha santista foi de envergonhar a tradição internacional do clube. Apenas uma vitória em seis jogos, não conseguiu vencer na Vila Belmiro nem o bom Newell’s Old Boys nem o mediano Audax Italiano nem o fraco Blooming. Terminou com saldo de gols negativo e fora até mesmo do playoff contra um terceiro colocado de grupo da Libertadores. Eliminado assim precocemente de todas as copas da temporada, o caixa santista fica ainda mais combalido. E, por mais que Falcão acredite que chegarão reforços de bom nível para elevar a qualidade do elenco, a torcida não confia na direção. A frase de Falcão sobre descenso foi de cair o olho da cara: “Não existe a palavra rebaixamento para mim. Se a gente conseguir trazer os jogadores que a gente imagina, é pensar em Libertadores.” Falta de noção da realidade.

No próximo fim de semana, o Santos recebe simplesmente o líder disparado do Campeonato Brasileiro, uma equipe que venceu 13 de 15 jogos na disputa. Depois, até o final do primeiro turno, pega dois times da Libertadores (Fluminense e Athletico) e outro que faz uma das melhores campanhas da Sul-Americana (Fortaleza). Não é difícil imaginar que o Santos terminará a primeira metade da competição nacional com apenas quatro vitórias, com menos de 20 pontos e com saldo de gols bem desfavorável, ainda mais após ser goleado por 4 a 1 pelo São Paulo. O Corinthians tem um ponto a menos do que o Santos hoje, mas tem um jogo a menos também e está dando sinais de melhora, com a recuperação de Renato Augusto, com o aparecimento do bom volante Moscardo e com a contratação interessante de Rojas. América-MG e Vasco, que estão na zona da degola atualmente, também possuem uma partida a menos em relação ao Santos. O Coritiba, que parecia já condenado, melhorou bem após a saída do técnico Antônio Carlos Zago e também anima agora seu torcedor. No Santos, nada anima.

Lucas Pires e Nathan foram afastados após serem flagrados em balada até altas horas da madrugada quando tinham treino pela manhã. Ângelo, que poderia ser uma esperança, foi vendido para o Chelsea. A situação de atletas como Daniel Ruiz, Ed Carlos e Lucas Barbosa está indefinida no clube. Nem o bom goleiro João Paulo está salvando mais. Há uma tensão na Vila de que um “facão” poderá gerar a dispensa de vários jogadores e existe também uma certa resistência ao pulso forte de Paulo Turra, que não tem a habilidade ainda no vestiário nem o perfil “amigão” de Dorival Júnior, técnico que deixou saudade nos santistas e que hoje mostra seu valor ao recuperar o São Paulo. Com a falta de química entre atletas, comissão técnica, direção e torcida, a tendência é de um trabalho bastante complicado. A atuação apática do Santos no clássico contra o São Paulo, que parecia treinar em campo, chamou a atenção do tamanho do buraco em que o Santos se colocou. Há quem diga que, se o Santos não cair neste ano, não cairá nunca mais. Mas os mais pessimistas entendem que o primeiro rebaixamento da história gloriosa do time de Pelé está próximo e é inevitável pela falta de dinheiro, organização e visibilidade em comparação aos rivais.

Será que o seleto clube dos “incaíveis” do futebol brasileiro, que tem apenas Flamengo, Santos e São Paulo, vai perder um de seus membros neste ano? O Flamengo não cairá, o São Paulo parece ter achado um bom caminho, só o Santos agora preocupa mesmo. Caso esse rebaixamento santista se confirme, será, claro, o pior ano da história do Santos. Aliás talvez seja o pior ano de qualquer clube brasileiro de grande expressão. Do Rei Pelé a Robinho, passando por Neymar e Soteldo, o Santos, fundado no mesmo dia em que o Titanic naufragou, parece hoje um submarino pouco confiável que está perto de implodir no fundo do oceano.

 

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Se for rebaixado, Santos pode ter a pior temporada de um clube brasileiro com tantas notícias ruins

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Onda de violência no futebol pede intervenção firme do Estado, dos esportistas e de todos nós

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Gabriela Anelli, de apenas 23 anos, está morta. Por uma garrafada atirada por um torcedor do adversário. Ela queria ver Palmeiras x Flamengo. Não conseguiu. E não verá mais nenhuma partida. Ela será mesmo só mais uma vítima da violência no nosso futebol? Ou a morte dela vai fazer com que as coisas sejam diferentes a partir de agora? A polícia prendeu em flagrante Leonardo Felipe Xavier Santiago, flamenguista de 26 anos, por ter atirado garrafa e ter causado a morte da jovem palmeirense. Tudo indica que ele passará alguns aninhos apenas na cadeia, talvez com algumas regalias em algum tempo, talvez esteja frequentando estádios em temporadas não tão distantes. A impunidade é uma das doenças do Brasil. Crimes acontecem em quase todos os jogos de futebol, às vezes em aeroportos, hotéis, motéis, bares, baladas etc (de racismo a homofobia, de ameaça a agressão, de roubo a morte). A paixão pelo esporte seria o combustível e também a desculpa para essa onda de violência. Mas tem muito mais coisa por trás disso tudo. E coisas que, infelizmente, não são tão belas como a paixão.

Nada justifica a violência. Não importa se é contra jogador, treinador, árbitro, dirigente, jornalista, torcedor. O que digo aqui é óbvio, e existem leis para punir quem causar algum tipo de dano. Mas neste país, como escrevi no post anterior, quase ninguém acredita nas instituições, nem mesmo na Justiça. Há uma certa sensação, que é antiga, de que o futebol é um mundo à parte, que tudo é permitido quando se está em um estádio. Não se vê alguém depredando o metrô quando se está indo para o trabalho ou para a escola, mas não raramente vemos vandalismo em patrimônio público antes ou após partidas de futebol. Torcedores, sobretudo os “organizados”, atacam em bando adversários, rivais. Isso vem pelo menos desde a década de 90 com alguma frequência no país (a violência ligada ao futebol começou para valer no nosso continente nos anos 60, quase simultaneamente nasceram muitas torcidas organizadas). Tanto que em São Paulo a “solução” foi adotar torcida única nos jogos entre os times grandes. Hoje, até mesmo quem contesta essa decisão, que impede o direito de ir e vir, vai preferir essa medida polêmica a ver mais mortes estúpidas como a da Gabriela Anelli.

Torcedora do Palmeiras faleceu após uma briga na frente do Allianz Parque


          


     



Na Inglaterra, o genuíno país do futebol, a onda de hooliganismo foi abortada com uma intervenção firme do Estado. O Relatório Taylor nasceu após a tragédia de Hillsborough em 1989. Poucos anos depois, surgia a Premier League, liga nacional mais vista e admirada no mundo, um modelo que quase todos tentam copiar. Os estádios ingleses viraram um lugar para pessoas sentadas apenas, espectadores com bilhetes e assentos marcados. Houve um combate a cercas, barreiras, catracas, além de um controle maior na venda de bebidas alcoólicas dentro dos estádios. Um combo que alguns chamam de Nutella, mas que resolveu bem o problema da violência, também porque lá as punições para quem fere a lei são severas, quem atenta de alguma forma contra o futebol fica invariavelmente fora do futebol. Em 1985, devido à tragédia de Heysel na final da Copa dos Campeões da Europa entre Liverpool e Juventus, os clubes ingleses ficaram proibidos de jogar competições oficiais da Uefa por cinco temporadas. Uma medida que ajudou também na conscientização de que o Reino Unido precisava de alguma forma mudar drasticamente sua relação, mais que secular, com o esporte mais popular do planeta.

E é exatamente isso o que o Brasil precisa: mudar seu jeito de tratar o futebol. Em todos os níveis e em todas as áreas, uma união em torno da paz se faz necessária. Não dá para dirigentes de Flamengo e Palmeiras, os times mais endinheirados e poderosos do país já faz alguns anos, ficarem trocando farpas públicas nos mais diversos temas, incentivando de alguma forma a rivalidade besta entre as equipes, insinuando sistemas e esquemas sem provas. Por questões de ego e vaidade, às vezes, cartolas que adoram holofotes e que sonham com uma hegemonia de seus times passam dos limites. Mesmo após a triste morte da jovem torcedora palmeirense, o truculento presidente do Conselho de Administração do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, postou algo que mostra pouca ou nenhuma sensibilidade. “Jogamos no país inteiro sem problemas com nenhuma polícia ou torcida. Mas em SP, contra o Palmeiras, nossa torcida é considerada como problemática. Há anos tentam impedir a presença da nossa torcida em jogos contra eles”. Mesmo nesse momento de luto, o cartola rubro-negro não abaixa as armas e parece desejar ainda mais conflito com o adversário “inimigo”.

O chocante caso da Gabriela Anelli fez com que Tiago Leifert virasse um dos assuntos da segunda-feira, pois ele deu informação errada sobre a vítima do fim de semana esportivo. Ele até pediu desculpas depois, mas foi bastante criticado porque parecia culpar inicialmente a Gabriela por sua morte, basicamente por ter sido de torcida organizada. Eu citei o Tiago Leifert porque agora trato aqui da imprensa, que tem papel importante para denunciar quem causa dano ao futebol e à sociedade e que não deve fomentar ainda mais o ódio que vemos neste momento no esporte. Algumas vezes, em busca de audiência ou de cliques, pessoas da mídia (tradicional e “blogueirinhos”) passam do ponto e estimulam o ódio entre os times e seus torcedores. De fato, é uma tremenda responsabilidade falar ou escrever sobre assuntos que envolvam paixão, como é o caso do futebol. Termos militares que são tradicionalmente usados no esporte, como guerra ou batalha, deveriam ser evitados, na minha opinião. Tudo está muito bélico, há muita intolerância e raiva. A coisa já está fora de controle.

Luan, perseguido e agredido por torcedores corintianos em um motel de São Paulo, publica foto de sua bermuda ensanguentada
Luan, perseguido e agredido por torcedores corintianos em um motel de São Paulo, publica foto de sua bermuda ensanguentada Reprodução

 

Luan, no fim da passagem no Grêmio e depois no Corinthians, não tem sido o melhor dos profissionais há alguns anos, comentei já algumas vezes sobre isso, mas nada justifica uma perseguição seguida de agressão a ele em um motel ou em qualquer lugar. Assim como nada justifica uma garrafa no pescoço da Gabriela. A humilhação pela qual passou Gil, zagueiro corintiano, em um hotel em Minas Gerais foi deprimente. Um torcedor o chamando de vagabundo, acusando o beque de estar roubando o Corinthians simplesmente por ele não estar em seu melhor momento. A impaciência é geral, seja em São Januário ou na Vila Belmiro. Dentro de campo e nas coletivas, vemos um comportamento que vai além do competitivo por parte de integrantes de comissão técnica. Abel Ferreira, ótimo treinador palmeirense, outro dia tomou o celular de um jornalista que estava na área de imprensa. Dias depois, insano, estava partindo para cima de Calleri no jogo. E, se alguém o critica, passa a ser massacrado por adoradores dele. As mídias sociais ajudaram demais a turbinar essa onda de ódio, todo mundo passou a ter o poder de ofender e até ameaçar, acreditando que ainda passarão impunes com seus crimes na internet.  

Muita gente já esperava uma morte no futebol brasileiro para estes dias. Era algo meio que cantado. Não sabíamos se a vítima seria jogador, treinador, juiz, jornalista ou torcedor. Acabou sendo uma garota que não estava nessa vibe de ódio, que foi a campo apenas para desfrutar do seu time de coração, uma jovem que deveria virar mártir na luta contra a violência no futebol, talvez dar nome para a liga independente da CBF que só não nasce porque há uma eterna desunião entre os clubes, porque há muita cobiça e vaidade, pouca preocupação com o outro. Pouco tempo depois de a Gabriela agonizar na entrada do Allianz Parque, em campo atletas de Palmeiras e Flamengo, assim como alguns torcedores, sentiam os efeitos do gás lançado pela polícia para tentar deter um outro tumulto fora da arena palmeirense. Sei que os sindicatos de jogadores no Brasil pouco funcionam e às vezes são até explorados por algumas poucas pessoas, mas deveriam pensar seriamente em paralisar o futebol por aqui enquanto este cenário persistir. Os dirigentes deveriam se reunir e fazer um pacto pela paz, evitando declarações ácidas contra os adversários, promovendo mais respeito e cortando relação com organizadas.

Há muitas coisas importantes que precisam ser feitas, inclusive pelo Estado, e há tantas coisas simples que podem ser feitas por qualquer um de nós. E o resultado disso tudo tende a ser muito mais do que positivo, pode ser incalculável: o valor de uma vida.

 

 

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Onda de violência no futebol pede intervenção firme do Estado, dos esportistas e de todos nós

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No país em que quase ninguém acredita nas instituições e nas pessoas, todo campeonato acaba 'manchado'

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Já reparou que, mesmo na era dos pontos corridos, quando em tese o campeão é mesmo o time que mais mereceu e que o resultado reflete mais claramente a força dos clubes, quase todo campeonato no Brasil é "manchado"? Não importa quem esteja na liderança ou brigando por posições nobres, invariavelmente vai aparecer um dirigente, um técnico, um auxiliar, um jogador ou alguém na imprensa ou em mídias sociais para insinuar que há um esquema para favorecer uma determinada equipe, seja porque tem muito dinheiro envolvido, porque é do Eixo, porque tem boa relação com dirigentes ou porque não se pode ganhar muitos campeonatos de forma seguida, como falou João Martins, auxiliar de Abel Ferreira, após o duro empate de 2 a 2 contra o Athletico-PR.  

O ótimo treinador português parece ter entendido bem a cultura do futebol brasileiro e já "manchou" campeonato que ele mesmo veio a vencer. "Façam o que quiser. O Campeonato Paulista está manchado. Eu não sou árbitro, mas, pelas regras que eu leio, o VAR só deve interferir em decisões muito flagrantes, infelizmente ele (juiz) não teve coragem de seguir em sua decisão", reclamou Abel Ferreira após perder por 3 a 1 para o São Paulo na partida de ida das finais do Paulista de 2022. No jogo da volta, o Palmeiras venceu no Allianz Parque o rival por 4 a 0, e o campeonato que estava "inquinado", segundo Abel, passou a ser legítimo e justo.

A comissão técnica palmeirense não está sozinha nas críticas à arbitragem e à CBF, insinuando que há uma orquestração no campeonato para prejudicar determinado time e até jogador, no caso o Hulk. Luiz Felipe Scolari, o experiente Felipão que trabalhou duas vezes como técnico da seleção brasileira, chegou a dizer que há "ordem lá de dentro" para dar cartões para o forte astro atleticano. O atacante, que tem reclamando constantemente das arbitragens desde que voltou ao Brasil, já teve confusão com o juiz Anderson Daronco e, agora, foi protagonista na treta com o Wilton Pereira Sampaio, reclamando, ofendendo e aplaudindo de forma irônica o árbitro do 2 a 2 contra o América-MG (assim como no 2 a 2 do Palmeiras, o time que abriu 2 a 0 no placar e que depois cedeu o empate ficou pistola com a arbitragem).

Hulk foi campeão brasileiro com o Galo de forma histórica, acabando com o jejum de 50 anos sem título do clube mineiro no principal campeonato nacional, em 2021. Mas teve gente naquele ano, sobretudo dirigentes flamenguistas, como Paulo Cesar Pereira, vendo um favorecimento para o Atlético. Após o título do Galo, o dirigente em questão postou uma foto da taça do Campeonato Brasileiro com a mensagem "VAR", alusão à tecnologia que teria ajudado o Galo a ter mais de dez pênaltis a seu favor naquele campeonato. Hulk, claro, não reclamou do árbitro na marcação de nenhuma dessas penalidades máximas.

Felipão, assim como o Abel Ferreira e outros tantos técnicos mundo afora (José Mourinho reclama muito e é um mestre nos "jogos da mente"), ataca a arbitragem sistematicamente. Além de desviar o foco dos problemas de seu time, fazendo isso nasce uma esperança de uma ajuda nos próximos jogos. E cria-se ainda uma narrativa de que estamos jogando “contra tudo e contra todos", o que casa bem para muitos torcedores, especialmente no Brasil, onde quase ninguém acredita em instituição nenhuma, em que há uma cultura de corrupção, de sacanagem, de malandragem etc. O atleticano historicamente se sente prejudicado pela CBF e pelas arbitragens, trauma que vem de confrontos decisivos contra o Flamengo nos anos 80. O Palmeiras, em menor grau, também já apontou favorecimento algumas vezes para os dois times mais populares do país: Flamengo e Corinthians. Muito por isso o palmeirense tende a abraçar a tese de que há um “sistema” contra o clube, que passaria pelas federações e também pela imprensa.

Se você pegar a história do futebol brasileiro, constatará que muitas teorias da conspiração surgiram. Felipão, campeão mundial em 2002 com a seleção, certamente já ouviu aquela bobagem de que o Brasil perdeu a final para a França em 1998 em um acordo comercial e político que garantiria o penta quatro anos depois. Felipão também já ouviu falar nos anos 90 do "Esquema Parmalat", que usaria a dinheirama da parceira palmeirense para abocanhar vários títulos a partir de 1993. Felipão foi adversário feroz do Palmeiras na metade dos anos 90 e depois virou um treinador do clube alviverde na reta final da Parmalat no time. Aliás morreu recentemente José Aparecido de Oliveira, árbitro que ficou marcado por muito tempo por conta da final do Paulista de 1993, sendo acusado por corintianos de ter feito parte do tal "Esquema Parmalat" (o mesmo José Aparecido de Oliveira ajudou o Corinthians a ir para a final daquele Estadual ao validar gol impedido de Neto contra o São Paulo de Telê nas semifinais).

O São Paulo, quando era o soberano do futebol brasileiro, conquistou seu tricampeonato nacional genuíno em meio a acusações de que teria aliciado árbitro oferecendo ingressos para show da Madonna no Morumbi. A CBF apontou tentativa de suborno ao árbitro Wagner Tardelli na reta final do Brasileiro de 2008, quando o Tricolor faturou seu hexa. Tardelli, que apitaria o jogo derradeiro do São Paulo naquele campeonato, seria um dos destinatários de ingressos para ver a Madonna. Dirigentes são-paulinos ironizaram a acusação vinda da CBF, alegando que Tardelli prejudicava o clube do Morumbi várias vezes. "O curioso disso tudo é que nesta semana nós enviamos à CBF uma carta lembrando várias atuações desastrosas deste juiz contra o São Paulo", afirmou João Paulo de Jesus Lopes, então diretor tricolor. Mais recentemente, quando o São Paulo de Fernando Diniz liderava o Brasileiro de 2020, havia gente insinuando que existia um favorecimento ao Tricolor porque o então presidente da CBF, Rogério Caboclo, era são-paulino, filho de cartola tricolor.

A tal "força nos bastidores" parece acompanhar sempre o futebol brasileiro. Um jogo fora de campo é travado para que se possa ter alguma vantagem futura ou para que não haja pelo menos um prejuízo. Cartolas da antiga foram criados dessa forma, essa prática de causar e bradar contra o sistema é mais velho do que o próprio futebol. Mas vemos ainda nesta era moderna de SAF's e executivos renumerados reclamações e insinuações "old school". Rodrigo Caetano, um dos mais respeitados diretores remunerados do mercado, foi citado na súmula de Atlético 2 x 2 América por protestar contra o árbitro: "Já sabia que você ia fazer isso! Você não é homem", teria dito Caetano a Wilton Pereira Sampaio.


         
     

Volte no tempo e veja o que os cruzeirenses falam sobre favorecimento ao Vasco na decisão de 1974, o que os santistas dizem da atuação de Márcio Rezende de Freitas contra o Botafogo na final de 1995 ou o que os colorados pensam do mesmo Márcio Rezende na partida decisiva contra o Corinthians no Pacaembu em 2005. Nesse ano, houve sim um esquema, uma máfia do apito tendo como protagonista o ex-juiz Edilson Pereira de Carvalho. Jogos dele foram anulados, o que depois acabou favorecendo o campeão Corinthians, na época parceiro da nebulosa MSI. O Corinthians já conseguiu jogar o Mundial de Clubes de 2000 muito por conta de sua parceria com a Traffic, que ajudou a organizar o primeiro Mundial da Fifa no Brasil. Motivado muito pelo título mundial corintiano, o Palmeiras fez um dossiê para tentar ser proclamado campeão mundial de 1951. E depois outro dossiê, elaborado por um santista, seria levado à CBF para unificar os títulos nacionais, equiparando inclusive uma copa curta (Taça Brasil) com o Campeonato Brasileiro. Por uma questão política, Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, aprovou a unificação. E tentou fazer o Flamengo ser proclamado também campeão brasileiro de 1987, o que a Justiça logo vetou.

São décadas e décadas de polêmicas. O futebol brasileiro não é para os fracos. Alguém sempre vai dizer que Eurico Miranda fez o Vasco ser campeão brasileiro em 2000 driblando a tragédia contra o São Caetano em São Januário, que o Fluminense ganhou dois Brasileiros devido a um "Esquema Unimed", que o Cruzeiro ganhou suas duas últimas Copas do Brasil montando time que não tinha direito para pagar, que o Internacional só foi campeão invicto em 1979 porque muitos times grandes ficaram de fora daquele campeonato bagunçado, que o Santos quase ganha o Brasileiro de 1983 sendo que nem deveria ter jogado aquela disputa por conta de sua campanha ridícula no Estadual, que o Flamengo de Zico só ganhou muito por causa da TV Globo etc.

Se os brasileiros tendem a não acreditar mesmo nas pessoas, nos políticos e nas instituições, por que iriam confiar em dirigentes e em árbitros de futebol? Ainda mais com cartolas clubistas que só conseguem olhar para o próprio umbigo e não são capazes de montar uma liga independente. Ainda mais com juízes mal preparados e que ainda não são oficialmente profissionais. Não tem VAR nem tecnologia nenhuma que vá mudar essa cultura do futebol brasileiro de desconfiar de cada campeonato, ainda mais com o aumento das casas de apostas e com um escândalo de manipulação de resultados chegando à Série A. O Campeonato Brasileiro de campeonato mais manchado continua firme e forte! 

João Martins, auxiliar de Abel Ferreira no Palmeiras, durante partida contra o Athçetico-PR, na Arena da Baixada, pelo Brasileirão
João Martins, auxiliar de Abel Ferreira no Palmeiras, durante partida contra o Athçetico-PR, na Arena da Baixada, pelo Brasileirão Cesar Greco/Palmeiras


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A possível saída de Luís Castro é um dos maiores pecados já vistos no Botafogo e no futebol brasileiro

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Eu falei na semana passada, antes de Palmeiras x Botafogo, que Luís Castro está em um momento melhor do que Abel Ferreira. E o grande jogo do fim de semana no futebol brasileiro, a vitória de 1 a 0 do Glorioso sobre o Verdão, quebrando a longa série invicta palmeirense no Allianz Parque, confirmou a minha impressão e o que muita gente não estava pronta para conversar. O trabalho de Luís Castro não é fogo de palha, ele entendeu muito bem a nova fase do tradicional clube carioca, apostou acertadamente em um gramado sintético no estádio Nilton Santos, pinçou reforços que são cirúrgicos, corrigiu a rota de um projeto de SAF que começou gerando alguma desconfiança e críticas contra o próprio técnico.

A campanha insatisfatória no Estadual do Rio neste ano ajudou na avaliação ruim que muitos fizeram do atual Botafogo, que está mais organizado em todos os setores. Tenho amigos competentes que foram trabalhar no time da Estrela Solitária que não tem bem uma estrela solitária em campo, embora Tiquinho Soares seja o artilheiro com folga do Brasileiro (responde pela metade dos gols do time no campeonato nacional) e já pinte como ídolo alvinegro. Eu mesmo não acreditava na liderança duradoura do Botafogo após ver como sofreu para vencer São Paulo e Bahia nas duas primeiras rodadas. A ideia de um time reativo que vencia mais pela eficiência ficou para trás. Os principais favoritos ao título do Brasileiro foram sendo batidos um a um: Flamengo, Atlético, Fluminense e Palmeiras. O Botafogo mostra em campo de forma exemplar a organização que exibe fora de campo. Luís Castro foi uma escolha muito acertada de John Textor, sua boa relação com os superiores e com os jogadores mostra que ele catalisa tudo.

Nas coletivas, o experiente treinador português tem dado aula de futebol e até de vida, de comportamento, provocando reflexões. Tanto que recebeu elogios rasgados de Abel Ferreira, que ganhou fama no Brasil também por dar aulas em coletivas. “Mandei uma mensagem particular para ele (Luís Castro), mas agora mando uma pública. Parabéns pelas declarações dele. É uma pessoa que, quando era treinador do Penafiel, eu ainda era gandula. Fiquei muito contente pelo o que ele falou, da forma que falou. Se eu tivesse estudado para fazer um discurso daqueles, não iria conseguir. Espero que alguns de vocês entendam a profundidade das palavras dele”, afirmou Abel na metade de maio, quando Castro mostrou aos jornalistas muito do seu caráter. “A minha vida não é só resultados. Por muito que sejam resultados só para vocês, para mim a vida não é só resultados. Para mim a vida é trabalho com dignidade. O trabalho com dignidade deve se sobrepor sempre aos resultados”, ensinou o professor português.

Luís Castro, que tem dado aulas no futebol brasileiro, cumprimenta Tiquinho Soares, artilheiro do Brasileiro, após a histórica vitória do Botafogo sobre o Palmeiras
Luís Castro, que tem dado aulas no futebol brasileiro, cumprimenta Tiquinho Soares, artilheiro do Brasileiro, após a histórica vitória do Botafogo sobre o Palmeiras Vítor Silva/Botafogo FR

 

Luís Castro, em um gesto de inclusão, já levou para a coletiva um integrante da comunidade surda, por exemplo. Ressalta muito a honestidade de seu trabalho. E se orgulha por nunca ter sido demitido, coisa que alguns, de forma precipitada, queriam que acontecesse com ele no começo do ano. Não fosse a SAF do Botafogo, fatalmente esse profissional elogiável estaria no olho da rua. O próprio Abel Ferreira, caso raro de treinador mais longevo do que Castro no futebol brasileiro, elogiou a confiança dada pela cúpula botafoguense ao seu treinador. “Os trabalhos longevos têm a ver com quem manda. Dei os parabéns a ele (Luís Castro), mas temos que parabenizar o presidente dele, que sabe do treinador que tem. Mesmo que todos os treinadores fiquem 10 anos nos mesmos clubes, só um vai ganhar. Não sei se é possível mudar essas mentalidades em um espaço tão curto de tempo. Tudo que é cultural, mudança de mentalidade... isso demora décadas. Cada país tem uma história. Não acredito que esse tipo de mentalidade aqui vai mudar tão cedo”, afirmou o palmeirense.

Na vitória na partida que tinha cara de “final” contra o Palmeiras, Luís Castro tentou cumprimentar Abel, mas esse, que tem fama de mau perdedor, foi logo para os vestiários, certamente abatido pela derrota em casa. Não foi algo grave como tomar o celular de um jornalista, mas é mais uma imagem que não pega bem para Abel, ainda mais pelo fato de o adversário ser seu conterrâneo e já ter uma idade mais avançada. Com a possível saída de Castro do Botafogo, Abel continuará sendo o técnico de mais destaque no futebol brasileiro. Só o experiente lusitano conseguia competir taticamente e nas coletivas/aulas com o ótimo Abel Ferreira aqui. A perda para o Botafogo seria colossal, claro, mas o nosso futebol precisa de mais profissionais como Luís Castro. O dinheiro da Arábia Saudita e o Cristiano Ronaldo são argumentos fortes para o técnico do líder do Brasileiro (com sete pontos de diferença em apenas 12 rodadas) deixar o Botafogo, mas sua marca já está muito bem estabelecida no Glorioso e também no nosso país.

“Ouvi muitas vezes no ano passado que havíamos gasto muito dinheiro em contratações. Imagina um carro, você não precisa gastar muito dinheiro se for trocar só um pneu. Quando um carro só tem o chassi, aí tem que ter quatro rodas, volante, faróis, vidros, é claro que teríamos que gastar mais. E foi o que aconteceu com o Botafogo. O que queriam que fizéssemos? Tínhamos que agir ao longo da temporada, mas agir de uma forma planejada. Tivemos que contratar muito em determinado momento, avaliar, contratar em função da nossa avaliação e fomos andando até chegar a este elenco. No começo da temporada, tínhamos problemas. Tinham saído Jeffinho e Júnior Santos, fizemos entrar Diego Hernández, Júnior Santos e Matías Segovia”, explicou Luís Castro, certamente o maior acerto de uma SAF no futebol brasileiro até este momento. O correto português é o empregado ideal para um dono de clube e um mestre para seus atletas. Hoje, a torcida do Botafogo e a imprensa aprenderam a respeitar e admirar Luís Castro. Nunca é tarde para aprender.


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Seleção brasileira está interina, no nível das melhores africanas, viúva de Neymar e na pior fase do século

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

O Brasil perdeu de 4 a 2 de Senegal. Normal! O Brasil perdeu de 2 a 1 de Marrocos. Normal! Na Copa do Mundo, o Brasil perdeu de 1 a 0 de Camarões. Parecia anormal, mas estou mudando de opinião. Nas últimas seis partidas da seleção brasileira, três derrotas para equipes africanas. E não foram duelos de seleções de base, não eram também confrontos de Olimpíada (Nigéria e Camarões já eliminaram a equipe amarelinha em 1996 e 2000). Além do jogo derradeiro na fase de grupos da Copa, vimos dois amistosos oficiais em Data Fifa com as equipes principais dos países. Em tese, era o que os times tinham de melhor. Mas o melhor do Brasil ainda é Neymar, e ele não esteve em campo em nenhum desses três tropeços da seleção contra rivais africanos.

O Brasil goleou Guiné por 4 a 1 no amistoso anterior, porém o adversário ocupa apenas a 79ª posição no ranking da Fifa. Já sabíamos antes da Copa que os europeus eram a grande pedra no sapato brasileiro. E a Croácia repetiu no Qatar o que Bélgica, Alemanha, Holanda e França fizeram nos Mundiais anteriores, eliminando a equipe pentacampeã mundial. A sensação antes da Copa era que o Brasil estaria no nível das principais europeias, mas os resultados estão mostrando que o Brasil está no mesmo patamar das melhores seleções africanas, especialmente quando atua sem o seu único verdadeiro craque dos últimos 12 anos. Vinícius Júnior hoje está entre os melhores do mundo, porém ainda não faz a diferença na seleção que Neymar costuma fazer.

Agora, Senegal entrou para o seleto clube das seleções que levam vantagem no retrospecto contra o Brasil na história. Antes, apenas Holanda, Hungria e Noruega, todas europeias, podiam dizer que a seleção brasileira é freguesa. A boa seleção senegalesa fez quatro gols no Brasil, sendo o time que mais balançou as redes da equipe amarelinha em uma partida desde aquele fatídico 7 a 1 diante da Alemanha na semifinal da Copa de 2014. Especialmente com Tite, a equipe brasileira vinha sendo pouco vazada, com goleiros, zagueiros e volantes sendo destaques (o Brasil levou 7 gols neste ano, marca que Tite levou 26 partidas para alcançar após assumir o comando técnico do time em 2016). Ontem, Ederson teve chance como titular e foi vazado quatro vezes, inclusive cometeu um pênalti. Marquinhos até fez um gol meio sem querer, mas anotou um gol contra antes. Casemiro ficou de fora, o que nos faz pensar que tem Casemirodependência na volância. O Brasil levou gol nos últimos seis jogos que disputou. Foram 10 tentos sofridos nessa sequência negativa que inclui a eliminação para a Croácia.

Jogadores do Brasil após derrota para Senegal em amistoso
Jogadores do Brasil após derrota para Senegal em amistoso Stringer/Anadolu Agency via Getty Images

 

Vários jogadores que vivem bom momento no futebol brasileiro foram chamados para os dois amistosos contra africanos pelo técnico interino Ramon Menezes: Weverton, Ayrton Lucas, André, Raphael Veiga, Pedro e Rony. Há quem acredite que os jogadores locais jogam com mais vontade na seleção. De fato, houve vontade, mas faltou organização e um pouco de talento (Pedro é quem parece sentir menos a camisa amarelinha). O time do Brasil que perdeu de Senegal foi uma equipe comum. Alex Telles, Joelinton, Malcom e Richarlison são todos bons jogadores, mas, cada um na sua função, estão pouco acima da média apenas. Dentre os mais renomados do time que entrou em campo ontem (exceção feita a Vini Jr), estão Danilo, Militão, Bruno Guimarães e Lucas Paquetá. São alguns dos jogadores que devem atuar nas eliminatórias da Copa, que já estão perto de começar. O Brasil não tem nem de longe uma de suas melhores gerações. Muitos bons jogadores, poucos excelentes, capazes de mudar um jogo.

Considerando que a CBF vai esperar um ano por Carlo Ancelotti, o qualificatório sul-americano para o Mundial de 2026, que seria ainda mais acessível devido ao aumento de seleções, começa a ficar animador para os nossos vizinhos. A Argentina é a atual campeã do mundo, o Uruguai se renova com Marcelo Bielsa e acaba de ser campeão mundial sub-20, a Colômbia derrotou a Alemanha por 2 a 0 ontem. Aliás como a seleção colombiana conseguiu marcar um amistoso contra os alemães? A federação da Colômbia arranjou um duelo de peso, algo que a CBF não está encaixando na agenda. A política de amistosos contra seleções de segunda linha pode ser explicada bastante pela criação da Nations League, mas parece que interesses comerciais ainda impactam demais na escolha dos adversários e dos locais das partidas. A parte técnica não parece estar em primeiro plano faz tempo na seleção brasileira. Hoje, parece que qualquer jogador em boa fase pode aspirar uma convocação, qualquer treinador do país pode servir como interino até a chegada de um técnico europeu, e qualquer cartola do país pode ocupar a presidência da CBF.

A seleção brasileira deixou de ser temida já tem algum tempo. A fila de 24 anos sem título mundial (será assim em 2026) corre um sério de risco de ser ampliada se continuar essa aura de várzea em torno da equipe nacional. Não tem treinador há muitos meses e ainda não existe nada oficial com o esperado italiano que dirige o Real Madrid, clube que hoje é maior do que a seleção brasileira. Logo na primeira Copa do século, o Brasil conquistou seu penta. Depois, parou sempre nas quartas de final, exceção feita ao 7 a 1 de 2014. Tite, apontado como o melhor treinador brasileiro dos últimos anos, foi mal nas duas Copas em que trabalhou. Aliás o futebol brasileiro ganhou o seu último Mundial de Clubes com Tite em 2012, isso já tem mais de uma década. Pensando em termos mundiais, o Brasil está se acostumando a ficar fora do topo (já saiu dessa posição no ranking da Fifa). Algumas das alegrias do futebol brasileiro são vistas nos torneios de clubes da Conmebol, mas essa hegemonia recente se deve muito pelo abismo financeiro dos times nacionais em relação aos vizinhos.

A seleção brasileira vive seu pior momento neste século. Perdida, sem muitas referências dentro e fora de campo, o melhor que faz é ampliar as campanhas na luta contra o racismo, atuar com o seu bacana uniforme negro. Ancelotti, se é ele mesmo que será o cara, vai ter trabalho. Acima e abaixo do treinador no Brasil, faltam craques, faltam boas ideias, falta talento. Já temos duas gerações de torcedores que não viram a seleção brasileira reinar no mundo. Pior que isso, os mais jovens estão se acostumando com um time comum. Rony, até outro dia, era muito criticado pelos próprios torcedores palmeirenses, ganhou o apelido meio pejorativo de “rústico”, mas passou a render bem em seu vitorioso clube e agora é jogador de seleção. Em outros tempos, não teria chance. Nada contra o esforçado atacante do Verdão, assim como nada contra o Ramonismo, mas o Brasil hoje é uma seleção interina.  

 

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Seleção brasileira está interina, no nível das melhores africanas, viúva de Neymar e na pior fase do século

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Guardiola passa a ser agora o melhor técnico de futebol de todos os tempos ou ele ainda não é Pelé?

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Para muitos, especialmente os mais jovens, Guardiola já é o melhor técnico da história do futebol após o título da Champions League conquistado no último fim de semana com o Manchester City. Para outros tantos, o espanhol já era o maior de todos antes mesmo desta conquista tão esperada pelo endinheirado clube inglês. A temporada 2022/2023 acabou com a seca de 12 anos de Guardiola no principal interclubes europeu e coroou o genial treinador com uma Tríplice Coroa espetacular. Se a final contra a Inter de Milão não foi a oitava maravilha do mundo, os números de Guardiola nesta temporada e em toda sua carreira são enormes.

Eu já venho dizendo há um bom tempo que o técnico dos Citizens é o mais influente treinador deste século. Isto porque seus times viraram referência para quase todo mundo, mesmo para quem o critica, para quem não é fã de seu estilo. Outros grandes técnicos tiveram que arranjar maneiras de parar as equipes de Guardiola e, sobretudo em pontos corridos, isso se tornou mesmo algo quase impossível. Em 14 anos de carreira como técnico de time principal, o cara ganhou simplesmente 11 ligas nacionais. Tal domínio passa também, claro, pelo poderio das equipes que ele treinava (Barcelona, Bayern de Munique e Manchester City em fase rica), mas é inegável nos clubes o impacto de Guardiola, sua filosofia e seu conceito de jogo, que vem de seu mentor: Johan Cruyff.

“Não sabia nada de futebol até conhecer Johan Cruyff”, afirmou Guardiola em um de seus livros. Em coletiva após o seu terceiro título da Champions League, respondendo ao companheiro PVC, o mais famoso treinador da atualidade voltou a falar em Cruyff: “Hoje, há 14 anos, é curioso, ganhamos o triplete (Trípice Coroa) com o Barcelona, e 14 é o número de Johan Cruyff.” De Rinus Michels para Cruyff e de Cruyff para Guardiola. Esse bastão do bom futebol, que passa muito em ter a bola, em roubá-la o mais rápido possível do adversário, vem sendo cultivado desde os anos 1970 dentro do Barcelona. A influência do futebol total holandês no Barça é histórica, e Guardiola posa como a evolução desse tipo de jogo, que encanta muitas pessoas por ter uma vocação ofensiva.  

Guardiola chegou a 35 títulos como técnico, sendo que 11 deles em ligas nacionais da elite europeia e 3 da Champions, o que o aproxima de ser unanimidade como o Pelé dos treinadores
Guardiola chegou a 35 títulos como técnico, sendo que 11 deles em ligas nacionais da elite europeia e 3 da Champions, o que o aproxima de ser unanimidade como o Pelé dos treinadores EFE/EPA/ANDREW YATES

 

Em termos de títulos, já não dá para comparar Guardiola com os mestres Michels e Cruyff faz algum tempo. O primeiro marcou época com seleção em Copa do Mundo como treinador, algo que Guardiola ainda não tem no currículo (e talvez não tenha nunca por vontade de dirigir apenas clubes, onde se controla mais o dia a dia, ou será que ele mudou ou está mudando de ideia?). O segundo perdeu o posto de maior treinador da história do Barcelona para seu pupilo (o Dream Team de Cruyff dos anos 1990 está na história, porém foi superado pelo Barça 2009/2010/2011 do espanhol). Épocas diferentes, especialmente no que se refere ao fim do limite de estrangeiros e à transformação de clubes ricos em verdadeiras seleções. Guardiola usufruiu mais de craques e esquadrões, sem dúvida, e bebeu bem na fonte de outros mestres, mas é assim que funciona no esporte e na vida. Os tempos mudam, tudo evolui.

O badalado espanhol não inventou o falso 9, a marcação alta, o recuo de volantes para zagueiros, a pressão pós-perda, a saída de bola com três jogadores, linha de cinco no ataque e mais uma série de coisas. Só que ele tem muito mérito em aproveitar todos esses itens de forma eficiente, bem trabalhada. Alguém pode dizer, como de costume, que ele só faz sucesso porque coloca em prática tudo isso em equipes com grande poder de investimento. Seria de fato mais complicado neste Século 21 conquistar uma Champions League com o Porto ou mesmo uma Conference League com a Roma, alguns dos feitos de José Mourinho, talvez ainda o maior antagonista de Guardiola pelo estilo de jogo. O marrento e vitorioso português abocanhou, até hoje, 26 troféus como treinador, mesmo número de Carlo Ancelotti, outro papa-títulos em diversos países. Guardiola já acumula 35 taças, o que dá uma média de 2,5 conquistas por ano em sua carreira. Falta só um troféu para ele igualar Valeriy Lobanovskyi e três para empatar com Jock Stein e Mircea Lucescu, três nomes históricos da prancheta que dominaram ligas nacionais periféricas na Europa (as de União Soviética, Ucrânia, Escócia, Romênia e Turquia).

Em números absolutos, ninguém venceu mais do que Sir Alex Ferguson. O escocês que mudou a história do Manchester United, rival local do time de Guardiola, tem impressionantes 50 taças conquistadas, 13 delas na tão valorizada Premier League. Faltam muitos títulos para o espanhol alcançar o lendário treinador que venceu títulos europeus até com o Aberdeen. Alex Ferguson também tinha times com natureza ofensiva e foi dominante no campeonato nacional em que hoje reina Pep Guardiola. Já temos uma década sem Ferguson como treinador e há uma clara ameaça para seus recordes (são 16 ligas nacionais para o escocês), uma vez que Guardiola ainda tem contrato relativamente longo com o Manchester City e, se um dia mudar de clube, pode escolher qualquer outro projeto com bastante dinheiro envolvido.

Rinus Michels foi eleito oficialmente pela Fifa em 1999 o melhor técnico do Século 20. Campeão da Europa com a Holanda e com o Ajax, pesou muito sua revolução no futebol para ele ser eleito o maior de todos mesmo tendo perdido a final da Copa de 1974. As ideias do mentor do Carrossel Holandês e a influência desse time no futebol moderno perduram até hoje. Poderia dizer, por essa premiação histórica da Fifa e pelo século de atuação, que Rinus Michels é o 'Pelé dos técnicos' e que Guardiola seria o 'Messi dos treinadores' (enfim, Pep ganhou uma Champions League sem ter o craque argentino em sua equipe). Levando em conta tanto os resultados quanto o desempenho, Guardiola estaria hoje em uma Santíssima Trindade da prancheta com Ferguson e Michels. Só que Guardiola ainda tem muito chão pela frente e pode tornar no futuro qualquer discussão sobre quem é maior em algo menor.

Guardiola não é perfeito, tanto que já cometeu muitos equívocos em jogos de mata-mata quando tinha a melhor equipe, era o grande favorito. Mas, na média na carreira, ele tem 77,08% de aproveitamento, só em uma temporada seu time apresentou menos de 70% de aproveitamento (foi na primeira com o Manchester City, em 2016/2017, com 66,6% de aproveitamento, dois terços dos pontos disputados, o que já é uma excelente marca). O genial espanhol precisaria ter sucesso em alguma seleção para ser o maior de todos indiscutivelmente? Ferguson não precisou disso. Ele precisaria triunfar em equipe de segundo escalão para ser aclamado como o melhor de todos? Também acho que não, ele está sempre bem empregado porque ele é a excelência em pessoa no que faz. Ele poderia muito bem admitir que seu clube é, nos últimos anos vitoriosos, um time-Estado que soube driblar o fair play financeiro. Isso não afetaria a sua boa imagem consideravelmente. Ele é muito bem pago e faz por merecer esse dinheirão todo, e ele sabe qual é a origem da grana.

Pelé virou neste ano, até como homenagem póstuma, palavra no dicionário, algo realmente justo e diferenciado. Excepcional, incomparável e único são agora de forma oficial os significados do adjetivo Pelé. Guardiola, dentre os técnicos, já merece todas essas citações da frase anterior. Você pode ainda deixá-lo no patamar de Messi 'apenas', mas a fama, a relevância, a influência, a liderança e os números já são de Pelé. Só que muita gente hoje, inclusive Guardiola, acha Messi melhor do que Pelé. Então pode escolher um dos dois gênios para adjetivar Guardiola.  

 

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A despedida de Ibrahimovic mostra o bem que alguns mascarados trazem ao esporte

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Zlatan Ibrahimovic foi craque. Verbo no passado porque, infelizmente, o maior símbolo de jogador mascarado anunciou sua aposentadoria. Foi reverenciado domingo (4) nas mídias sociais por todo tipo de gente, como se ele fosse mesmo alguém de fato especial, quase que do tamanho que ele acha que possui. Foi cornetado também por alguns tantos, inclusive por parte da torcida do Hellas Verona ainda no campo quando ele falou do adeus ao futebol: “Continue vaiando. O maior momento do seu ano é estar me vendo.” Nada mais Ibra do que isso para fechar com chave de ouro (ou de algum material ainda mais caro) sua diferenciada trajetória no esporte.

Tecnicamente, o sueco com origem iugoslava (filho de pai bósnio muçulmano e de mãe croata católica) foi brilhante, capaz de fazer gols e jogadas antológicas por conta de seu talento com a bola e sua habilidade com as artes marciais. Muitas vezes ele aplicava mesmo golpes na bola, como naquele mágico momento em que acertou uma bicicleta contra a Inglaterra bem distante da grande área. Tem que respeitar um cara que anotou mais de 500 gols e com chute que pode chegar a 150 km/h. Tamanha força recheada com frieza e qualidade, o que lhe permitiu realizar aquele gol descomunal com a camisa do Ajax em que dribla seis vezes os jogadores do NAC. No excelente documentário “Becoming Zlatan”, é possível perceber algumas razões, sobretudo familiares, para a formação dessa personalidade tão forte (e que o golaço pelo Ajax veio muito em explosão de raiva contra Rafael Van der Vaart, um dos maiores desafetos assumidos do marrento centroavante).

A história com LeBron James, com quem já trocou farpas por política, é das mais saborosas. Quando o grande astro de números 6 e 23 (Ibra já usou a 8, a 9, a 10, a 11, a 16, a 18, a 21 e a 27) chegou ao Los Angeles Lakers, já houve uma leve provocação marqueteira: “Agora, LA tem um Deus e um Rei. Zlatan dá as boas vindas ao King James”, postou o mito da prepotência. Ibra atuava no Los Angeles Galaxy e, diz a lenda, que LeBron lhe mandou então uma camisa do famoso time de basquete. O sueco cabeludo autografou então a camisa e a enviou de volta a LeBron. Nada mais Ibra do que isso. O cara se colocou acima até da Torre Eiffel quando estava em Paris: “Se substituírem a Torre Eiffel por uma estátua minha, fico no PSG”. Como não amar esse cara?

Zlatan Ibrahimovic, um dos maiores centroavantes e mascarados deste século, já se achou Deus e já foi o Diabo no futebol
Zlatan Ibrahimovic, um dos maiores centroavantes e mascarados deste século, já se achou Deus e já foi o Diabo no futebol Reprodução

 

Ibra jogou em alguns dos maiores clubes do mundo e nunca ficou cinco temporadas seguidas na mesma equipe. Rodou bastante, talvez por conta de sua personalidade, talvez porque não soube nunca ficar acomodado. Chegou a ser treinado no Barcelona por Pep Guardiola, sem dúvida o técnico mais influente deste século, mas a parceria não deu certo. Sobrou para o genial espanhol, claro. “Quem me compra, compra uma Ferrari. E quem tem uma Ferrari abastece com combustível premium, vai para a estrada e na velocidade máxima. O Guardiola colocou diesel e deu um passeio pelo campo. Deveria ter comprado um Fiat”, falou o sueco, que diria tempos depois nos Estados Unidos que ele era uma Ferrari em meio a Fiats na liga norte-americana profissional de futebol.

“Me dê a bola, e eu faço o resto”. A frase até caberia no currículo de Ibrahimovic, mas é de Michael Jordan. Pelé falava na terceira pessoa, tratando-se mesmo como uma entidade. Muhammad Ali, talvez o maior ídolo de Zlatan, também se achava demais e tudo bem. Citei três lendas do esporte para mostrar que nem sempre a arrogância é ruim. Como já cantou Beyoncé na bacana “Ego”, “alguns chamam de arrogância, eu chamo de confiança.” Ibra se diz fã de Ali porque ele manteve sempre seus princípios e nunca desistia. De fato, ninguém pode chamar o sueco de incoerente ou acusá-lo de mudar de acordo com o vento ou com a situação. Mesmo antes de ser muito famoso, ele já demonstrava seus traços egocêntricos, que obviamente viraram um folclore que ele e seus patrocinadores (inclui a Nike) souberam aproveitar muito bem.  


         
     

Ibra se deu muito bem com José Mourinho, outra notável figura mascarada que também é um profissional de excelência que foge da mesmice. Mesmo quem critica a falta de humildade deles, sorri e se diverte com as declarações que chocam o lugar comum. São personagens deliciosos, eu diria que até necessários, são pessoas que fazem mesmo falta quando param, como é o caso de Zlatan agora. Não tenho dúvida de que suas falas ácidas e contundentes vão continuar pipocando mundo afora, seja aquelas que ele já consagrou, seja as que ele ainda soltará na condição de ex-atleta.

É preciso diferenciar (se é que isso é possível) o craque de bola que Ibrahimovic foi, um dos maiores deste século mesmo sem ter conquistado a Copa do Mundo (era quase impossível com a seleção da Suécia) e a Champions League, do homem falastrão que faz a alegria da imprensa e de milhões com as suas frases de impacto. Eu sentirei muito a falta dos dois: do jogador e do personagem bocudo. Você também sentirá, mesmo que não admita ou não dê o braço a torcer. Estamos todos no mundo de luto pela aposentadoria de um dos malvados favoritos da bola.

 

 

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Que os jornalistas não recuem e não abaixem a cabeça quando houver censura e intimidação

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Passaram dos limites no futebol brasileiro! Um técnico super elogiado no país acaba de tomar o celular de um jornalista que estava trabalhando em uma área reservada para a imprensa. Depois, visivelmente alterado (como de costume quando perde ou quando acha que foi prejudicado pela arbitragem), desconta também em outro integrante da imprensa que estava registrando a confusão no acesso aos vestiários do Mineirão após Atlético 1 x 1 Palmeiras, acusando-o de ser o responsável pelo futebol brasileiro estar nesta fase. No mesmo Mineirão, na coletiva de outro técnico que também já foi muito elogiado no Brasil (o argentino Eduardo Coudet), uma questão simples e justificada sobre um determinado jogador (Igor Gomes) recebe inicialmente uma negativa (treinador dizendo que não fala de jogador, que não responde sobre indivíduos) e logo depois uma sugestão para o jornalista fazer curso de treinador para poder fazer uma pergunta.

Parem as máquinas, como já diria, os jornalistas da antiga, como o saudoso Roberto Avallone! E não é questão de ser estrangeiro ou não, de ter idade avançada ou não. Vanderlei Luxemburgo, um dos maiores treinadores da história do futebol brasileiro, voltou ao mercado (o que achei legal) distribuindo patadas e grosserias nas coletivas no Corinthians, tentando intimidar especialmente os jornalistas mais jovens, que ficam procurando palavras às vezes para tirar alguma resposta básica que seja do veterano técnico. No começo, parecia apenas uma certa mágoa dele pelas críticas que ele vem recebendo nos últimos anos, quando não teve resultados muito expressivos e se dedicou a outras áreas além do futebol. Mas virou rotina para o Luxa responder com perguntas ou nem responder, falando apenas sobre o que ele quer. Várias figuras importantes no futebol brasileiro neste momento estão se achando no direito de ensinar os jornalistas a perguntar (são quatro anos para se formar jornalista, Coudet, mais tempo do que o curso de treinador) ou, pior, de censurá-los mesmo de alguma forma.

Quando Abel toma o celular de um jornalista e tenta dar uma lição do que deve e do que não deve ser mostrado (como entregar uniforme do clube para a arbitragem, por exemplo), ele está sim censurando. Ele sabe que errou feio e já tratou de pedir desculpas a um dos jornalistas que atacou neste fim de semana. O treinador palmeirense, que faz excelente trabalho na América do Sul, tem temperamento forte e sistematicamente é advertido pelos árbitros, mas desta vez ele foi longe demais. Precisa mesmo fazer uma reflexão sobre seu comportamento, ainda mais se quer ter sucesso um dia na elite do futebol europeu. Um tempo atrás ele ficava irritado quando faziam uma pergunta normal sobre o Endrick. E a resposta, quando vinha, era pouco amistosa, para dizer o mínimo. Agora, simplesmente ele levanta e vai embora quando o indagam sobre o suposto interesse do Paris Saint-Germain em seus serviços, tema que merece sim um esclarecimento, até para o torcedor palmeirense que tanto o ama (as perguntas dos jornalistas normalmente são as que os torcedores gostariam de fazer).     

O temperamental Abel Ferreira faz trabalho exemplar no Palmeiras, mas não teve cabeça fria no Mineirão, onde tomou celular de um jornalista e acusou outro profissional da imprensa de ser o responsável pela fase ruim do futebol brasileiro
O temperamental Abel Ferreira faz trabalho exemplar no Palmeiras, mas não teve cabeça fria no Mineirão, onde tomou celular de um jornalista e acusou outro profissional da imprensa de ser o responsável pela fase ruim do futebol brasileiro Cesar Greco / Palmeiras

 

Cássio, o principal goleiro da história do Corinthians, também mostrou seu lado ditador. Ele conseguiu discutir com o ótimo e pacato Rodrigo Vessoni, do site Meu Timão, porque entende que o portal deve apenas falar bem do clube que tanto diz nas mídias sociais ser democrático. “Estou cansado de criarem polêmica em situação. Você [Vessoni] usa Meu Timão, é em prol do clube, tem que ajudar. Vamos falar da vitória, se unir um pouquinho, parar de jogar contra. Vamos tentar ajudar o Corinthians”, afirmou Cássio, que parece não entender mesmo nada sobre jornalismo. Vessoni tem seu time preferido, como praticamente todos os jornalistas possuem, mas em seu trabalho jornalístico ele pode e deve sim apontar os problemas do clube, dentro e fora de campo, tem todo o direito de fazer uma pergunta sobre o incomum gesto do ídolo corintiano no jogo contra o Fluminense (após fazer uma defesa, ele levou as mãos aos ouvidos, aparentemente mandando uma mensagem para os torcedores que estavam em Itaquera). Cássio pode até não querer responder, mas cobrar que o jornalista ajude o time e só fale coisa boa dele é demais, uma falta de noção.

Renato Gaúcho é outro nome forte do futebol brasileiro que vez ou outra tenta intimidar jornalistas, inclusive publicamente. Neste ano mesmo, ameaçou dar os nomes dos profissionais da imprensa que estavam perguntando sobre uma folga do treinador no Rio de Janeiro. Soou como uma ameaça, como se Renato fosse passar os alvos para a torcida gremista ficar de olho. Nessa mesma coletiva, o treinador “pautou” a imprensa dizendo que deveriam falar de quantas vitórias o Grêmio teve desde que ele chegou. Perguntas sobre os tropeços do time o Renato não gosta muito, está claro.

Não costumo ser corporativista, mas neste momento isso se faz necessário. Na semana passada, durante o Futebol 90, eu disse que o comportamento de Luxemburgo seria diferente se entre os entrevistadores estivessem nomes consagrados do jornalismo e que trabalharam na época do auge de Luxa. Citei os nomes dos companheiros Abel Neto, Mauro Naves e Osvaldo Pascoal, que foram grandes na reportagem (uma vez repórter, sempre repórter) e que hoje estão nos canais ESPN participando de programas em outras funções, sem nunca deixar o jornalismo de lado. Parece mais fácil nas coletivas “crescer” para cima de jornalistas mais jovens ou que não se conhece bem. Então digo para os colegas da nova geração que não recuem e que não abaixem a cabeça diante da estupidez e da intimidação que alguns estão praticando. Façam seu trabalho com ainda mais vontade, sem medo de perguntar e de registrar os fatos que estão acontecendo dentro dos clubes. Antes de o Cruzeiro cair afundado em dívidas, houve protestos de torcedores cruzeirenses contra jornalistas, achando que a imprensa estava “jogando contra” o clube mineiro. Mais tarde viram que quem estava sabotando o Cruzeiro eram seus dirigentes. A imprensa apenas tentava fazer seu trabalho e mostrar a sujeira dentro do clube.

Talvez o mundo do futebol, agora mais acostumado com TVs dos próprios times, canais parceiros e influenciadores digitais, queira que só passem pano para tudo. Se falarem bem, atendem. Mas, se criticarem, não falam ou respondem de forma mal-educada. No Futebol 90 desta segunda-feira, eu citei uma frase clássica dos jornalistas. Acho que é bom e também necessário lembrá-la neste momento. “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”. Eu vou acrescentar aqui outra frase (que o companheiro e brilhante jornalista Edu Elias tão bem me lembrou) sobre a nossa profissão. “Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”, sentenciou Millôr Fernandes.

 

 

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Europa respira um verão italiano como o tema da Copa de 1990, mas os favoritos nas finais são outros

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Quem diria no começo da temporada que a Itália teria um time finalista nas três competições interclubes da Uefa? As campanhas da Inter de Milão (Champions League), da Roma (Europa League) e da Fiorentina (Conference League) resgatam o saudosismo da época dourada do calcio, nos anos 80 e 90, quando muitas equipes da terra da Bota triunfavam em disputas continentais. E essa doce nostalgia só aumentou com o título italiano do Napoli, o primeiro sem Maradona, conquistado pouco tempo depois da morte do genial meia argentino. O tema da Copa do Mundo de 1990, de Gianna Nannini, era “Un’ Estate Italiana”, uma canção que embalou aquele verão na Itália e que parece ressoar agora. 

Não há hoje um Bayern de Munique um Paris Saint-Germain ou um Manchester City para dominar a Itália, são quatro campeões nacionais diferentes nas quatro últimas temporadas, uma rotatividade no topo da tabela incomum nas principais ligas nacionais da Europa. A Azzurra venceu de forma convincente o título da última Eurocopa e, embora tenha ficado de fora do Mundial do Qatar, mostra força de novo sendo uma das semifinalistas da atual Nations League. Se não há praticamente craques no futebol italiano neste momento, há muito trabalho coletivo, bastante estratégia e organização que recolocam o tradicional calcio em uma posição de destaque internacional.   

Mas, diante das limitações financeiras dos clubes italianos em relação aos ingleses e até espanhóis, não dá para apontar hoje os times da terra da pizza como favoritos nas decisões continentais. Na nobre Champions League, creio que há o maior abismo em termos de desempenho em campo e de investimento (não necessariamente nessa ordem). A máquina de Guardiola já era poderosa na temporada passada, mas a chegada de Haaland transformou o Manchester City em um tubarão faminto. Busca sua primeira Champions e leva muita vantagem, teoricamente, sobre a Inter, tricampeã da Europa. A última vez que o esquadrão nerazzurro venceu a disputa foi também a última vez que o futebol italiano conquistou a famosa “Orelhuda”. O técnico da Inter na ocasião foi José Mourinho, o mesmo homem que conquistou a Conference League na temporada passada com a Roma e o mesmo comandante que guiou a simpática equipe da capital rumo à final da Liga Europa na atual competição.

José Mourinho, que venceu os dois últimos títulos europeus de clubes italianos (Inter em 2010 e Roma no ano passado), tenta mais uma taça da Liga Europa em final grandiosa contra o dominante Sevilla
José Mourinho, que venceu os dois últimos títulos europeus de clubes italianos (Inter em 2010 e Roma no ano passado), tenta mais uma taça da Liga Europa em final grandiosa contra o dominante Sevilla reprodução Roma Channel

 

A Roma tem como adversário na grande final em Budapeste simplesmente o dono da Europa League. O Sevilla venceu seis vezes a disputa e se acostumou a derrubar gigantes e poderosos ao longo de sua rica história na disputa que cresce em relevância a cada ano. O caliente clube espanhol jamais perdeu uma decisão da Liga Europa e já dobrou em uma final uma equipe italiana: a forte Inter de 2020, base do time que foi à final da Champions agora. Muito da força da Roma está no sistema defensivo montado pelo estrategista José Mourinho, que também nunca perdeu uma final europeia (o carismático português é o único treinador a ter os troféus dos três interclubes atuais da Uefa). Contra o Bayer Leverkusen, o famoso ônibus do “Special One” se fez presente, sobretudo na partida de volta na Alemanha, quando estatísticas mostram 23 x 1 em finalizações para o clube alemão. Mesmo assim, o 0 a 0 foi garantido por Mourinho e seus jogadores. Será possível segurar também na final o embalado rival espanhol?

Mourinho teve que superar mais uma vez lesões e desfalques para avançar no torneio europeu, mas a Roma acabou fora do G4 do italiano. A rival Lazio está na quarta posição, seis pontos à frente da Roma quando faltam apenas três rodadas para o final. A briga romanista agora em âmbito nacional é com o Milan e a Atalanta por uma vaga na próxima Liga Europa. Só que o título da atual Europa League, que seria o maior troféu da história da Roma, renderia vaga na Champions League. Assim como um título da Fiorentina na Conference League a jogaria na próxima temporada para a Liga Europa. A equipe de Florença está na oitava posição no Italiano, bem longe da zona de classificação para competições europeias na pontuação. A chance de vaga é conquistando mesmo a taça contra o forte West Ham em Praga no final deste mês. Encarar um time da Premier League não será uma tarefa fácil para a Viola, a primeira campeã da antiga Recopa (faturou o caneco na temporada 1960/61 diante de outro britânico: Glasgow Rangers).  

A Juventus, que caiu apenas na prorrogação em Sevilla na semifinal da Liga Europa, recuperou os pontos que havia perdido no tapetão e chegou assim ao G4 do Italiano, garantindo assim virtualmente uma vaga na próxima edição da Champions League (matematicamente, bastam dois pontos em três jogos para a classificação da Velha Senhora). Quando o assunto é escândalo de manipulação de resultados, algo que já marcou bastante o calcio, neste momento trata-se de um problema bem mais brasileiro. A imagem do futebol italiano de fato está mudando agora. A imensa maioria dos jogadores que servem a seleção italiana atuava no futebol local até pouco tempo atrás, mas hoje vemos muitos jogadores se destacando em outras ligas. Dentre os jogadores “estrangeiros” da Azzurra atual, estão Donnarumma e Verratti, do PSG, Emerson Palmieri e Scamacca, do West Ham, Jorginho, do Arsenal, Grifo, do Freiburg, Gnonto, do Leeds, Zaniolo, do Galatasaray, Luiz Felipe, do Betis e até Mateo Retegui, do Tigre.

O renascimento do futebol italiano é real. E belo, como a Itália. Mas essa paixão toda que o calcio carrega talvez não seja suficiente para ganhar a Europa, em termos de clubes, agora.

 

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Casas de aposta são vítimas nos casos de manipulação de jogos, mas decidi não fazer propaganda agora

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

O escândalo de manipulação de jogos no futebol brasileiro é o assunto do momento. Para algumas pessoas, era uma bomba relógio, um problema que vem aumentando na esteira do crescimento colossal das casas de apostas, que hoje em dia financiam centenas de equipes e ligas mundo afora. Ouvíamos sobre casos em jogos de menor expressão e em outros países. A ideia de que isso estava acontecendo na elite do futebol brasileiro parecia meio irreal, afinal jogador de time grande normalmente é bem remunerado e não precisaria de um “dinheirinho” extra, não seria tolo a ponto de colocar a sua carreira em risco por causa de um lateral, um escanteio, um cartão amarelo, um pênalti etc.     

Como falei no programa Futebol 90 outro dia, entendo mesmo que as casas de aposta são grandes vítimas nesses casos de manipulação de jogos. São estabelecimentos que, de certa forma, até dependem da credibilidade no esporte para existir. Se ninguém acredita na lisura das partidas, ninguém vai apostar. E tem gente ganhando dinheiro de forma ilícita em cima das casas de aposta. Assim, satanizar agora esse mercado não é bem o caminho, até porque apostas existem desde que o esporte existe (a tão elogiada Inglaterra é pátria mãe do futebol e também das casas de aposta).

Minha relação com as casas de aposta começou há alguns poucos anos, quando comecei a botar uma grana por diversão como um apostador normal. Não ganhei nem perdi dinheiro relevante, mas me viciei rapidamente. Estava perdendo tempo precioso da minha vida apostando seguidamente e, depois, acompanhando todo tipo de jogo de várias modalidades ao longo do dia e da noite. Esse é um problema sério das casas de aposta: elas viciam. Tanto que achei bacana uma casa de aposta que já indicava até tratamento psicológico para os casos de viciados em jogatina. Eu parei um tempo com as apostas, voltei depois de um tempo com essa prática e parei de novo já faz mais de um ano. Essa vontade de apostar varia, para mim, muito da época em que estou, das conversas com amigos que apostam com bem mais frequência, das inúmeras propagandas e vantagens oferecidas pelas casas de aposta. Mas eis que eu recebi há poucas semanas um convite diferenciado: virar parceiro comercial de uma dessas casas.

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Até hoje, como jornalista, só fiz parceria comercial mesmo com cursos. Em um deles, fui professor. Em outro, faço divulgação nas minhas mídias sociais e ganho uma pequena porcentagem se algum seguidor meu se matricula usando meu desconto. Essa é uma prática hoje comum entre jornalistas, muito por conta desta era das mídias sociais em que quase todo mundo tenta monetizar postagens. Divulgar um curso, ainda mais sobre jornalismo e sobre futebol, não foi um problema para mim, pois estimulo mesmo naturalmente as pessoas a sempre estudar e aprender como for possível. Pensei como seria quando eu recebesse uma proposta para vender um outro tipo de produto. Há quem não goste de fazer comercial de bebida alcoólica ou de cigarro, coisas que causam dependência e afetam negativamente muitas famílias. Mas não seria um problema parecido divulgar casas de apostas?

Fiquei pensando durante alguns dias se devia associar a minha imagem ou não a uma casa de apostas. Eu preciso mesmo fazer isso para ganhar um dinheiro extra? Hoje, não. Tenho um bom salário na ESPN, onde estou empregado e satisfeito. Talvez precise de uma parceria comercial como essa no futuro para garantir, sobretudo, a saúde e a educação dos meus filhos. E por eles (e em uma situação de desemprego) eu faria sim propaganda de uma casa de apostas tranquilamente, pois, como escrevi no início deste post, não as vejo como responsáveis por manipulação de jogos. Eu talvez recomendasse apenas apostar com sabedoria para não comprometer o dinheiro dos meus seguidores e alertaria para o risco de se viciar nas apostas. Tenho colegas na imprensa que fazem publicidade de casas de aposta. Não os condeno. E tenho colegas que vetam com veemência qualquer contato com casas de aposta. Eu os respeito. Se um dia eu fizer propaganda de casa de apostas, será porque a proposta é muito compensadora ou porque eu esteja precisando muito de grana. Tomei essa decisão conversando com pessoas próximas e com colegas. Cada um sabe o que faz e o que precisa. Mas por que eu estou tratando disso?

A fala de Marçal, lateral-esquerdo do Botafogo após os 3 a 0 no Corinthians, foi bem sincera e reveladora. Ele contou que recebeu um convite, em mensagem no Instagram, de uma pessoa que queria lhe pagar por cartão amarelo recebido. Vetou na hora a proposta, respondendo com palavrão ao aliciador. Na entrevista, Marçal falou que quase todos os jogadores no futebol recebem hoje algum tipo de oferta do tipo. E, com o caso Bauermann bastante exposto, percebemos que há jogadores que aliciam outros atletas. Isso já acontecia tradicionalmente no nosso futebol com a chamada mala branca. Normalmente, eram jogadores que faziam propostas para outros jogadores, afinas os cartolas espertos não queriam se “sujar” se o caso fosse revelado. Não trata-se então de um caso isolado, o ex-zagueiro do Santos (creio que já posso falar assim de Bauermann) não é o único investigado no momento. Talvez estejamos vendo apenas o topo do iceberg. Não temos ideia real do alcance do problema ainda, qualquer lance agora pode ser colocado em dúvida, o que é triste demais para o esporte.

“No meu caso, foi ano passado contra o Flamengo. Eu tomo cartão por reclamação. Depois, eu recebi uma mensagem no Instagram dizendo: ‘Tomando cartão por reclamação? Mais vale ganhar dinheiro por isso.’ Eu dei uma resposta que não pode passar na televisão e nunca mais tive contato. Acaba tendo esse tipo de abordagem. Como foi assim. Com outros é de outra maneira. Todo jogador já recebeu algum tipo de convite. Que as pessoas possam responder à altura e também mostrar à polícia. Se (um apostador) faz o convite e você diz não, com certeza ele procura outro. E talvez outro diga sim, seja por uma situação ruim no clube ou problema financeiro. Que esses jogadores que foram pegos sirvam de lição para outros e que a gente possa ter um campeonato limpo. É triste porque acaba afetando o Campeonato Brasileiro. Acaba tendo uma visibilidade negativa. Porque isso está acontecendo com jogadores que não precisam disso. Isso passa pelo caráter do jogador. Vocês sabem o quanto é difícil chegar no profissional, sabem o quanto é difícil você estar em um clube grande de Série A. E você, depois de toda essa luta que tem para chegar, se queima por causa de um esquema. É ridículo. Espero que os jogadores respondam”, afirmou Marçal.

Onde está o sindicato dos jogadores para tratar deste assunto tão sério agora? Trabalho com ex-atletas que estão revoltados, tristes e até envergonhados pela classe. Os jogadores precisam se manifestar, se posicionar, esclarecer todo tipo de convite ou aliciamento. Mesmo se tiver que acusar algum colega que se vendeu por algum lance para esses criminosos do submundo das apostas, que as denúncias sejam feitas. As casas do ramo têm mecanismos para detectar apostas suspeitas e devem também ajudar a revelar esses casos que atentam contra o esporte e contra o próprio negócio. Não acho que as casas de apostas deixarão de perder poder no futebol atual (embora a Premier League já tenha decidido que, a partir de 2026/2027, não vai ter mais patrocínio de casas de aposta na frente das camisas dos times), mas algo precisa ser feito para pegar e punir com rigor quem está roubando.

Tem muita gente roubando dinheiro e, mais que isso, a honra e a credibilidade do futebol. E há algumas coisas que não têm preço.

 

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Casas de aposta são vítimas nos casos de manipulação de jogos, mas decidi não fazer propaganda agora

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Após metade dos jogos da fase de grupos dos torneios da Conmebol, vemos nova realidade na América

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Estamos nos acostumando ainda com o domínio brasileiro avassalador nos torneios da Conmebol, e claro que muito disso por razões financeiras e pelo aumento dos estrangeiros no nosso futebol. Mas a situação não está tão confortável para muitas das equipes do país na Libertadores e na Copa Sul-Americana. São 14 clubes brasileiros nos dois torneios, e só cinco estão liderando seus grupos. Outros cinco estão em segundo lugar, o que é um perigo especialmente para quem está na Sul-Americana (os segundos jogarão um playoff contra os terceiros da Libertadores). E quatro “brazucas” estão em terceiro lugar em suas chaves, algo que foge um pouco da lógica econômica e técnica do continente.   

O Atlético-MG é colocado atualmente na Santíssima Trindade dos elencos do futebol brasileiros juntamente com Flamengo e Palmeiras. Só que o Galo está ameaçado de não se classificar para as oitavas da Libertadores. Está hoje em terceiro lugar e vai ter muito possivelmente uma decisão no Paraguai contra o Libertad, rival que o derrotou em Minas. Outro elenco caro do futebol brasileiro está na terceira posição: o Corinthians. A situação para o time, agora comandado por Vanderlei Luxemburgo, é delicada em termos de classificação. Perdeu em casa de Argentinos Juniors e Independiente del Valle em Itaquera e tudo indica agora que irá para a Copa Sul-Americana como um “prêmio de consolação”.

O Santos, com toda a sua tradição internacional, está atrás de Newell’s Old Boys e do Audax Italiano em seu grupo. Hoje, luta apenas pelo segundo posto da chave, sendo que decidirá, quase que seguramente, sua sorte no Chile contra o Audax, que segurou o alvinegro praiano na Vila Belmiro. Já o América-MG, tão elogiado por boas administrações recentes e mais acostumado agora a jogar torneios continentais, é quem corre mais risco de terminar em terceiro lugar em seu grupo na Copa Sul-Americana.  

Em segundo lugar na Libertadores, estão Palmeiras, atual campeão brasileiro, Internacional, vigente vice-campeão nacional, e Flamengo, detentor do maior título continental no momento. O clube alviverde, por conta da decisão do Paulista, estreou com derrota na altitude diante do Bolívar. Terá que dobrar esse mesmo adversário no Allianz Parque para terminar como líder de sua chave. O Inter de Mano Menezes não está convencendo mesmo nos jogos no Beira-Rio, o que preocupa nessa disputa contra o Nacional e o Independiente Medellín por vaga nas oitavas. Já o poderoso rubro-negro, agora nas mãos de Jorge Sampaoli, não conseguiu vencer o Racing mesmo jogando com um a mais por boa parte da partida. Como já perdeu uma para o Aucas, corre sério risco de avançar para o mata-mata como segundo colocado, o que o obrigaria a decidir fora de casa, talvez com um forte rival.

Na Copa Sul-Americana, o Botafogo, mesmo embalado como líder do Campeonato Brasileiro, não passou pela LDU em casa e tudo aponta agora para uma segunda posição que o jogará para um playoff de alto risco contra um time da Libertadores, que pode ser o Corinthians, por exemplo. O Goiás é outro clube brasileiro que está na segunda posição na Sul-Americana. O esmeraldino time do Centro-Oeste, que já foi vice-campeão uma vez no torneio da Conmebol, possivelmente decidirá sua sorte contra o Independiente Santa Fé na Colômbia, o que não é moleza.

O São Paulo, agora de Dorival Júnior, lidera ainda seu grupo na Sul-Americana, mas não venceu o Tolima e viu a aproximação do Tigre na tabela. Mais uma vez um duelo entre eles no Morumbi será decisivo, portanto. Pelo desempenho recente do Tricolor, o cenário não é muito animador pensando em título da competição, lembrando que o São Paulo foi campeão em 2012 e vice no ano passado. O Bragantino também lidera sua chave, mas parou em casa no Estudiantes, rival que nunca foi vazado (em três jogos) pela equipe da Red Bull. Será difícil a vida do time de Bragança Paulista na partida de volta em La Plata. A vice-liderança do time brasileiro, talvez até no saldo de gols, é possibilidade muito real.

O técnico Fernando Diniz, muito elogiado agora após fazer 5 a 1 no River Plate, pode levar o Fluminense ao seu primeiro título de Libertadores
O técnico Fernando Diniz, muito elogiado agora após fazer 5 a 1 no River Plate, pode levar o Fluminense ao seu primeiro título de Libertadores MAILSON SANTANA/FLUMINENSE FC
 

Apenas três times brasileiros estão fazendo de fato grandes campanhas nos torneios da Conmebol até agora: Athletico, Fluminense e Fortaleza. O Furacão, que estava menos cotado do que o Galo, já venceu o ex-xará brasileiro e triunfou fora de casa contra o Libertad de virada. Assim, o atual vice da Libertadores encaminhou bem a sua classificação em primeiro lugar. O Flu, que aplicou a maior goleada que o River Plate já sofreu em torneios da Conmebol na história (5 a 1), une resultados e ótimo desempenho. Desponta como um dos grandes favoritos agora para o título continental, que seria inédito para o Tricolor. Também seria inédito para o Nordeste um título continental, algo que pode acontecer neste ano com o excelente Fortaleza, que mantém 100% de aproveitamento em seu grupo na Sul-Americana. O Leão do Pici faz a melhor campanha da competição e, caso não se perca nas viagens longas e no calendário recheado, deve brigar sim pelo título internacional. Dos 14 clubes brasileiros nos torneios da Conmebol, só Fortaleza e Flu ostentam 100% de aproveitamento.

Caso Athletico, Fluminense ou Fortaleza sejam campeões continentais neste ano, vamos continuar falando do domínio brasileiro na América, mas seriam gratas novidades, pois seriam taças nobres conquistadas por esses clubes pela primeira vez na história. Podemos ter um certo ar de renovação após os últimos anos em que Flamengo e Palmeiras reinaram na Libertadores e que o Athletico triunfou duas vezes na Copa Sul-Americana (torneio que seu dirigente máximo agora despreza devido ao crescimento à nova realidade do rubro-negro paranaense).

Esse domínio brasileiro no continente faz com que várias marcas e recordes coletivos, como o de invencibilidade fora de casa (Palmeiras ficou 20 jogos sem perder como visitante, e Galo e Flamengo somaram 14 partidas sem perder em sequência), estejam virando rotina. E também já vemos uma nova realidade em estatísticas individuais no continente. Gabigol, por exemplo, chegou a 30 gols na Libertadores, sendo agora de forma isolada o brasileiro com mais tentos na competição. Mas ele está a só sete gols de ser o segundo maior goleador da história do nobre torneio (pode muito bem passar o argentino Daniel Onega e os uruguaios Fernando Morena e Pedro Rocha). Só é difícil para o atacante do Flamengo pegar os 54 gols do lendário equatoriano Spencer.

O Palmeiras disparou entre os times brasileiros em praticamente todas as estatísticas da Libertadores (partidas, vitórias, gols, participações etc.) e já começa a se aproximar do pelotão de elite histórico do torneio, que inclui os dois maiores clubes de Argentina, Uruguai e Paraguai, todos com inúmeras participações. O São Paulo, em contrapartida, vai se isolar como o segundo melhor clube nessas estatísticas todas na Copa Sul-Americana. Jogando bastante o torneio nesse período de vacas magras, o Tricolor, precisa de seis pontos para se igualar ao Independiente, o Rey de Copas, e ficar atrás apenas da LDU, recordista em jogos, vitórias e gols na agora valorizada segunda copa da Conmebol.  

O Brasil nunca esteve tão voltado para o resto da América do Sul. Talvez mudem os clubes dominantes nas competições e alguns personagens como destaque, mas a importância dada para todos no país aos torneios da Conmebol é uma nova realidade que veio para ficar. Os clubes brasileiros, que vêm fazendo finais seguidas na América nos últimos anos, estão se aproximando dos argentinos em títulos da Libertadores (está 25 a 22 para os “hermanos”) e da Sul-Americana (9 a 5 para os vizinhos). “Soy loco por ti, América” nunca foi tão atual como agora no Brasil.

Juan Pablo Vojvoda, técnico do Fortaleza, já fez história no clube ao vencer o San Lorenzo na Argentina e pode dar a primeira taça internacional oficial para o Nordeste
Juan Pablo Vojvoda, técnico do Fortaleza, já fez história no clube ao vencer o San Lorenzo na Argentina e pode dar a primeira taça internacional oficial para o Nordeste Vinicius Palheta / Fortaleza EC
 
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Após metade dos jogos da fase de grupos dos torneios da Conmebol, vemos nova realidade na América

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Após duas recentes pesquisas de torcida conflitantes, veja o alcance dos times nas mídias sociais

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

No último dia 10, saiu uma pesquisa de torcida feita pela CNN Esportes/Itatiaia/Quaest que gerou estranheza em algumas torcidas e festa em outras. Nela, Atlético-MG e Cruzeiro dividiam a quinta posição entre as maiores torcidas do país, ficando à frente do Vasco, reconhecidamente um time com muitos fãs espalhados pelo país. Nessa mesma pesquisa, o Palmeiras apareceu na frente do São Paulo em terceiro lugar, uma novidade em relação a praticamente todas as pesquisas desde os anos 90. Talvez a boa fase alviverde nos últimos tempos e a sofrência são-paulina de quase uma década estariam causando essa virada. Mas eis que vem uma outra pesquisa, essa feita pelo instituto AtlasIntel, que recoloca as coisas, digamos, em seus lugares mais tradicionais: São Paulo na terceira colocação, e o Vasco na frente dos mineiros.

A primeira pesquisa teve como base 6.507 entrevistas presenciais com pessoas de 16 ou anos mais em 325 cidades brasileiras. Pelo que foi divulgado, a margem de erro seria de 1,4 ponto percentual para mais ou para menos e o nível de confiabilidade seria de 95%. Já a segunda pesquisa foi feita pela internet e colheu 1.600 votos em 640 municípios do país. A margem de erro dessa votação é de 2% para mais ou para menos. Como somos aproximadamente 215 milhões de brasileiros, o universo ouvido é bem pequeno, e muita gente contesta as pesquisas por isso. Mas é bom lembrar que as pesquisas têm um cunho científico, uma metodologia, trata-se de um trabalho normalmente respeitável. Mas por que então números tão diferentes de uma pesquisa para outra? Talvez pela forma diferente como foram realizadas. Deve ter uma lógica que vai além do bairrismo (uma pesquisa mais mineira ou mais paulista) e do clubismo (já ouvi que dono de instituto de pesquisa dava um peso maior para seu time de coração na pesquisa de sua empresa).   

Então como saber com mais certeza o tamanho de cada torcida? Usar o público pagante seria uma opção, mas estádios têm capacidades diferentes e preços distintos. Uma outra forma de medir seria pelo número de sócios, de sócios-torcedores, de audiência, de venda de camisas, etc... Os departamentos de marketing dos clubes, claro, turbinam todos esses números. Haveria algum dado então confiável que pudesse aferir quantos simpatizantes um clube possui? As mídias sociais estão aí com seus números absolutos, mesmo que não sendo 100% de verdadeiros fãs. A Chapecoense virou um dos clubes mais queridos do país nas mídias sociais mesmo não tendo uma das maiores torcidas, houve na verdade uma grande onda de apoio (até de fora do Brasil) ao clube de Santa Catarina após o acidente aéreo que matou quase toda a delegação da equipe em 2016.

Feitas essas ponderações todas, acho bastante significativo analisar os números de seguidores que cada clube possui. O Flamengo, que certamente tem mais de 40 milhões de torcedores, ostenta, no Instagram, 17,1 milhões de seguidores e, no Twitter, pouco mais de 10 milhões de fãs. Nem todo mundo usa internet, claro, especialmente as pessoas da terceira idade e os bebês. Mas as pesquisas descartam tradicionalmente os menores de 16 anos. Um bom número de crianças e adolescentes certamente devem seguir hoje em dia seus times de coração. Também por isso acho válido dar uma olhada com carinho nos números que passarei aqui abaixo com clubes das Séries A, B e C do Brasileiro, bem como algumas outras equipes tradicionais do nosso futebol.  

Em todas as pesquisas de torcida no Brasil, o Flamengo aparece em 1º lugar e o Corinthians vem na 2ª posição, com a briga esquentando a partir do 3º posto, inclusive nas mídias sociais
Em todas as pesquisas de torcida no Brasil, o Flamengo aparece em 1º lugar e o Corinthians vem na 2ª posição, com a briga esquentando a partir do 3º posto, inclusive nas mídias sociais Gazeta Press

 

TWITTER (27/03/2023)

CLUBE              SEGUIDORES

Flamengo       10.219.510

Corinthians    7.713.863

São Paulo       4.864.406

Palmeiras       3.758.617

Santos             3.105.984

Grêmio           3.101.138

Vasco              2.688.304

Atlético-MG  2.606.638

Cruzeiro         2.577.955

10º Inter              1.903.230

11º Sport             1.687.416

12º Bahia            1.576.145

13º Fluminense  1.524.448

14º Botafogo      1.458.665

15º Vitória           1.218.952

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17º Coritiba        981.192

18º Goiás            666.058

19º Figueirense  662.717

20º Chapecoense 611.009

21º Criciúma      574.933

22º Ceará            448.000

23º Fortaleza      431.403

24º Santa Cruz   278.632

25º Avaí              240.674

26º Paysandu     225.830

27º Ponte Preta  212.949

28º América-MG 184.288

29º Náutico        179.204

30º Remo            155.024

31º ABC             139.431

32º Atlético-GO 134.135

33º Bragantino   127.635

34º Paraná           124.731

35º Vila Nova    120.889

36º América-RN 110.447

37º CRB              107.467

38º Portuguesa   104.163

39º Juventude    94.676

40º CSA              69.565

41º Cuiabá           67.779

42º Londrina      63.626

43º Guarani        56.591

44º Ituano           55.238

45º Botafogo-SP 48.029

46º Volta Redonda 46.963

47º Sampaio Corrêa 43.573

48º Operário-PR 38.995

49º Confiança    25.721

50º América-RJ  24.234

51º Bangu           23.744

52º Ypiranga-RS 21.849

53º Brusque       17.922

54º Manaus        15.892

55º Novorizontino 12.573

56º São José-RS 12.544

57º Santo André 12.523

58º São Bernardo 9.422

59º Aparecidense 8.017

60º Altos             7.112

61º Floresta        6.400

62º Mirassol       4.020

63º Pouso Alegre 3.649

64º Paulista        2.705

65º Amazonas    1.953

66º Tombense    não tem Twitter oficial

 

INSTAGRAM (27/03/2023)

CLUBE              SEGUIDORES

Flamengo       17.100.000

Corinthians    9.400.000

São Paulo       5.000.000

Palmeiras       4.700.000

Grêmio           2.600.000

Atlético-MG  2.500.000

Cruzeiro         2.300.000

    Santos             2.300.000

    Vasco              2.300.000

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13º Sport             1.100.000

14º Bahia            1.000.000

15º Botafogo      874.000

16º Athletico      684.000

17º Figueirense  662.717

18º Chapecoense 611.009

19º Criciúma      574.933

20º Bragantino   526.000

21º Paysandu     519.000

22º Remo            514.000

23º Ceará            448.000

24º Santa Cruz   436.000

25º Fortaleza      431.403

26º Goiás            410.000

27º CSA              321.000

28º Coritiba        302.000

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30º CRB              260.000

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32º Sampaio Corrêa 236.000

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34º América-MG 225.000

35º Avaí              207.000

36º Portuguesa   197.000

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39º Vila Nova    182.000

40º Confiança    169.000

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42º Juventude    149.000

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49º Volta Redonda 102.000

50º Botafogo-SP 97.200

51º Floresta        90.900

52º Brusque       81.500

53º Novorizontino 79.000

54º Operário-PR 78.000

55º São Bernardo 71.600

56º Pouso Alegre 56.500

57º Altos             55.300

58º Bangu           54.100

59º América-RJ  51.700

60º Ypiranga-RS 50.000

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62º São José-RS 42.300

63º Aparecidense 37.700

64º Santo André 36.600

65º Amazonas    32.400

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FACEBOOK (27/03/2023)

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Flamengo       13.375.263

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12º Fluminense  1.500.000

13º Botafogo      1.369.506 14º Athletico      1.100.363

15º Bahia            1.100.000

16º Sport             1.000.000

17º Fortaleza      985.733

18º Ceará            963.000

19º Vitória           697.358

20º Santa Cruz   537.000

21º Remo            465.000

22º Coritiba        454.000

23º Paysandu     438.000

24º Bragantino   378.000

25º Goiás            324.000

26º Ponte Preta  288.107

27º Figueirense  280.000

28º Avaí              260.000

29º América-RN 232.000

30º ABC             231.000

31º Náutico        214.068

32º Portuguesa   205.000

33º Paraná           203.000

34º Juventude    200.566

35º Criciúma      194.000

36º Botafogo-SP 191.617

37º Sampaio Corrêa 188.000

38º CSA              173.000

39º América-MG 165.000

40º CRB              154.000

41º Cuiabá           142.000

42º Vila Nova    118.000

43º Londrina      116.000

44º Atlético-GO 104.000

      São Bernardo 104.000

46º Manaus        103.000

47º Guarani        101.000

48º Ituano           64.000

49º Operário-PR 60.000

50º Confiança    59.000

51º Ypiranga-RS 58.000

52º Bangu           56.364

53º Volta Redonda 54.000

54º Mirassol       50.000

55º Brusque       39.000

56º Paulista        38.000

57º Pouso Alegre 32.073

58º Novorizontino 32.000

59º Santo André 31.000

60º São José-RS 24.000

61º Altos             18.000

      Floresta        18.000

63º Tombense    16.000

64º Aparecidense 9.300

65º Amazonas    não encontrado

      América-RJ  não encontrado

 

 

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Após duas recentes pesquisas de torcida conflitantes, veja o alcance dos times nas mídias sociais

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Muita gente ama odiar Rogério Ceni, era assim como jogador e é assim como técnico também

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Rogério Ceni é não só um ídolo gigantesco do São Paulo, mas também um dos principais jogadores da história do futebol brasileiro. Maior goleiro artilheiro do esporte, dono de inúmeros recordes, multicampeão, desperta admiração em muita gente pelas suas marcas e sua liderança, mas sofre uma resistência absurda de muita gente também, sobretudo de torcedores de clubes rivais do Tricolor. Era assim como atleta e é assim como treinador. Ver o São Paulo rebaixado com Rogério como comandante talvez seja a maior alegria possível em 2023 para muitos. Mas vários desses antis já festejariam a simples demissão de Ceni neste momento.  

Quando era goleiro, ele sofria uma espécie de preconceito. Por tratar muito bem a bola com os pés, era rotulado por alguns como um arqueiro comum debaixo das traves (o que sempre foi uma grande injustiça com ele) e por querer aparecer demais (hoje exaltam os goleiros-líberos, cobram que todos sejam como o Neuer, que sejam como era o Rogério Ceni em seus tempos como atleta), passando por cima de companheiros e até superiores. Vou citar como exemplo um trecho de uma coluna publicada na Folha no dia 23 de março de 2004 por Marcos Augusto Gonçalves.

“A imagem vai se tornando rotineira: Rogério Ceni, em vistoso uniforme, e depois de algumas tentativas de acertar um gol de falta, posta-se na intermediária são-paulina assumindo o papel de líbero. A essa altura o jogo já está invariavelmente perdido. Mas vale a encenação. Apressadinho, pega a bola, olha para lá e para cá, faz que passa para ali, depois faz que passa para acolá, mas acaba mesmo chutando para frente. Beleza. Está “empurrando” o time, pensam os incautos. Na verdade, o efeito muitas vezes acaba sendo o contrário: retarda a articulação da equipe, produz mais nervosismo e mais desconcentração. No domingo, na derrota do São Paulo para o São Caetano, a cena se repetiu. Com o leite já derramado, o presepeiro guardião da meta do Tricolor estava lá, oferecendo seu show de “garra” e “liderança” para uma torcida que gosta de chamá-lo de o “melhor goleiro do Brasil”.”    

Um ano depois dessa coluna, Rogério Ceni foi o principal jogador do futebol brasileiro, fazendo dezenas de gols (muitos de falta, não era só batedor de pênalti) e ganhando CONMEBOL Libertadores e Mundial de Clubes pelo São Paulo sendo o melhor atleta das duas competições. Dois anos depois dessa coluna, com Rogério iniciando um período hegemônico do Tricolor no Campeonato Brasileiro (tri genuíno até hoje único, contando o Nacional a partir de 1971), houve a famosa treta entre o arqueiro são-paulino e a jornalista Milly Lacombe, que terminou na Justiça com vitória de Ceni na causa que tratava, sem entrar aqui em detalhes, de sua imagem sendo atacada. As críticas a Rogério, mais especialmente as públicas, passavam a ficar cada vez mais raras com ele ganhando tudo em campo e com ele virando exemplo de líder positivo, símbolo de atleta articulado e inteligente, figura respeitada aqui e no exterior.

Mas a verdade é que uma grande rejeição (para não dizer um certo ódio) a Rogério nunca deixou de existir. Ele poderia ter saído de cena do futebol, poderia ter virado comentarista e criticar os outros, mas preferiu ser treinador, profissão que é vidraça desde sempre. Se como atleta ele já era criticado por dominar o vestiário em excesso, por passar por cima de técnico e por ser personalista demais, imagina com ele sendo o chefe mesmo, com ele sendo o líder de fato do grupo. No atrito entre o jovem Marcos Paulo e o experiente ídolo tricolor, muita gente na mídia ficou do lado do jogador que acabou de chegar ao São Paulo e cobrou a demissão de Rogério por abuso de autoridade, assédio, agressão, por não saber se controlar e comandar etc. Marcos Paulo quebrou a hierarquia e sacaneou o técnico (que é simplesmente um mito no clube) publicamente, mas a imagem que ficou forte (não tem imagem na verdade) é que Rogério extrapolou ao atingir, de alguma forma física e na frente do grupo, um “garoto” que “só” cometeu um deslize virtual, coisa tão comum nos dias atuais. O mesmo Marcos Paulo fez um gol contra o Puerto Cabello que aliviou um pouco a situação de Rogério e depois o abraçou, como o grupo quase todo fez com palavras, basta ouvir o bravo Calleri.

Rogério Ceni em São Paulo x Puerto Cabello pela CONMEBOL Sul-Americana
Rogério Ceni em São Paulo x Puerto Cabello pela CONMEBOL Sul-Americana Marcello Zambrana/AGIF/Gazeta Press

Apesar de o grupo de atletas demonstrar com declarações e com luta em campo estar com o treinador, Rogério Ceni, no clube em que é lenda, está na corda bamba agora em vários níveis. As críticas à sua figura, que eram quase praxe em algum momento (inclusive com ele na seleção sendo campeão do mundo em 2002) e que rarearam bastante com ele multicampeão e artilheiro, estão de volta agora com ainda mais peso. A própria Independente, maior torcida organizada do Tricolor, citou na nota em que pede a demissão de Rogério que ele tem “erros de atitude e de personalidade” e que “ninguém é perfeito”. Rogério nunca foi perfeito e nunca será, assim como ninguém. Mas por que tanta gente detesta sua postura, seu jeito? É algo para pensar. Será por clubismo? Afinal ele representa demais o São Paulo, clube que em algum momento se achou o soberano, o “rei da cocada preta”, como a presidente palmeirense Leila Pereira se referiu ao Flamengo, o “time da soberba” agora. Será porque Rogério é falso ou tem caráter discutível? Não me parece que seja isso, ele dá declarações bastante sinceras para os padrões do futebol brasileiro e isso que talvez incomode algumas pessoas, inclusive dentro do São Paulo, do DM até o responsável pela piscina.

A fama de arrogante paira desde sempre sobre Rogério Ceni. Ele sabe disso e não sei se depois de tanto tempo isso o afete de verdade. O treinador do São Paulo não é santo e já cometeu vários deslizes, erros e excessos mesmo, mas será que a pena que querem aplicar a ele não é exagerada? Será que muitos não desejam o mal de Rogério apenas por ele ser uma figura grandiosa e centralizadora dentro de seu clube? O mesmo tratamento acontece com outras pessoas desse tamanho no futebol? A ausência de simpatia faz de Rogério um alvo ainda mais prazeroso? Cobram comando forte de alguns treinadores. Ceni é criticado por comandar demais. Cobram dedicação de alguns técnicos. Poucos caras são tão obcecados com trabalho quanto Rogério. Ele já venceu muita coisa como treinador, procurou estudar, buscar auxiliares estrangeiros, falar outros idiomas, evoluir, mas a análise rasa diz que ele ainda não é um técnico de verdade, que ainda estaria preso na figura de jogador ou pecaria se achando maior do que é em sua função de comandante.

Você quer Rogério Ceni fora de seu clube porque ele é um treinador limitado e incapaz ou porque ele é um mala como pessoa? Deixo essa pergunta para os antis. Para você, são-paulino, as questões são outras. Rogério é o maior culpado pela fase tenebrosa do único clube tricampeão mundial deste país? Que técnico de ponta ou melhor do que Rogério atualmente aceitaria assumir este time medíocre do Tricolor, que nem consegue pagar em dia seu elenco meia boca e que corre sério risco de descenso inédito? Com a saída de Ceni, os jogadores “pés de rato” vão começar a brilhar, o DM passará a funcionar, as finanças entrarão em ordem e a política danosa vai parar de atrapalhar a equipe?

 

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Festas, imagens e públicos comprovam que Estaduais ainda fazem a alegria geral

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Ano após ano ouvimos uma ladainha de que os Estaduais não servem para nada, não passam de um estorvo no calendário, que deveriam ser extintos e que iludem torcedores, especialmente os mais carentes. E ano após ano a gente vê grandes celebrações pelos títulos estaduais, públicos vultosos na final, emoção dos campeões e postagens alegres de todo tipo, em especial com crianças vendo com os pais mais uma conquista do clube do coração (até jornalistas que malham sistematicamente os Estaduais têm seus 15 minutos que sejam de celebração com familiares e amigos). É um ciclo que se renova a cada temporada, a cada geração, mesmo que os mais jovens não tenham vivido a época em que os Estaduais valiam muito e os torneios internacionais ficavam em um segundo plano no nosso país.

Estamos vendo em vários Estados uma hegemonia rara de um determinado time. Começando por São Paulo, o Palmeiras venceu seu terceiro Paulista em quatro anos. Pela primeira vez em sua história, o alviverde disputou quatro finais seguidas do torneio, que teve durante muitas décadas o sistema de pontos corridos. Pouco tempo atrás, após perder de forma polêmica para o Corinthians uma decisão estadual, Maurício Galiotte, então presidente palestrino, desdenhou a competição, dizendo que “o Palmeiras é muito maior do que um Paulistinha”. Nós nos acostumamos no Brasil a chamar os Estaduais no aumentativo: Paulistão, Gauchão, Baianão etc. De alguns anos para cá, algumas pessoas passaram a usar o diminutivo para zombar desse tipo de torneio. Foi o que o Galiotte fez quando perdeu o “Paulistinha”. Só que, quando o time ganha, mesmo um Palmeiras que tem conquistado Libertadores, Brasileiro e Copa do Brasil, o estádio bate recorde de público, a diretoria faz camisa especial e festa, técnicos e jogadores choram, se ajoelham, pagam promessas, se dão banho de água ou outra coisa em coletivas, a imprensa exalta os recordes e os currículos dos vencedores (aí é “Paulistão”). Abel Ferreira já é o segundo técnico com mais troféus no Palmeiras também porque é bicampeão estadual, e o português que dirige muito bem o Verdão não tira o pé no campeonato teoricamente menos importante da temporada (para muita gente, superar os rivais estaduais e ser campeão regional é mais gostoso do que vencer uma disputa como a Supercopa ou mesmo a Recopa).    

Abel Ferreira, bicampeão paulista cm o Palmeiras, leva muito a sério o Estadual e virou o segundo técnico com mais títulos na história do clube alviverde
Abel Ferreira, bicampeão paulista cm o Palmeiras, leva muito a sério o Estadual e virou o segundo técnico com mais títulos na história do clube alviverde Cesar Greco/Palmeiras/by Canon
 

Neste século, o Palmeiras havia vencido o Paulista apenas uma vez até 2020. Tinha triunfado em 2008 quando teve o apoio da Traffic. Nesta era vitoriosa tendo a Crefisa como grande parceira, o Palmeiras venceu bastante, mas não deixou de lado o Estadual. Agora, tenta se aproximar de novo do maior rival em número de títulos (chegou a 25 Paulistas, cinco a menos que o Corinthians). O Timão só supera o Verdão em taças de Mundial e do Paulista. Claro que o Mundial tem um peso muito maior, carrega todo um simbolismo de grandeza, mas torcedor, especialmente os mais acostumados com vitórias e títulos, querem estar à frente dos rivais em tudo, até em disputa de bocha e de cuspe à distância.

A cena mais marcante do título carioca do Fluminense foi a comemoração efusiva de Fernando Diniz, técnico que é tão elogiado quanto é criticado por sua diferenciada filosofia de jogo. Ele chorou e deu cambalhota como se fosse uma criança, tirou um caminhão das costas de tanta pressão que sofria por não ter conquistado ainda nenhum título de expressão. Há quem diga ainda que ele não ganhou nada, pois venceu “só” um Estadual. Mas no fundo todos sabem a dimensão histórica desses 4 a 1 com domínio absurdo sobre o Flamengo. Por mais que os tricolores repitam que “é normal ganhar Fla-Flu”, a forma como o título veio engrandece e valoriza demais a conquista. Quem viu esse jogo, seja rubro-negro, tricolor ou neutro, não vai esquecer. O Fluminense é bicampeão em cima do maior rival, que possui ainda o melhor elenco do país, que ostenta o maior faturamento do futebol brasileiro, que mantém boa vantagem como a maior torcida do país, que investiu em treinador estrangeiro mais uma vez, que era o mais cotado etc. Não é pouca coisa não o que o Flu conseguiu fazer, mesmo com limitações e com o Fla aproveitando muito revelações de Xerém, como Ayrton Lucas, Gerson e Pedro.

O Fluminense chegou a 33 títulos estaduais. O clube tantas vezes campeão está agora quatro atrás do Flamengo. Se nós pensarmos no poderio rubro-negro e em seu poder de investimento, especialmente nos últimos anos, a distância não é tão grande assim. E contra o Flamengo o Flu não tem na prática o mando de campo, pois ambos dividem o Maracanã e basicamente lá duelam. No ano passado, o Tricolor já impediu o que seria um inédito tetra do maior rival. Agora, em decisões diretas pelo título carioca, o Flu levou a melhor sobre o Fla em 1919, 1936, 1941, 1969, 1973, 1983, 1984, 1995, 2022 e 2023. Isso é história, isso não tem preço. Um time de futebol tem como principal objetivo alegrar seu torcedor. E, para quem gosta do Fluminense, talvez nada seja mais gostoso e dê mais orgulho do que castigar o Flamengo através dos tempos, incomodar aquele irmão ou vizinho rival. Se em São Paulo o Palmeiras conquistou seu primeiro bi estadual desde 1994, na era Parmalat, o Flu não encaixava dois títulos seguidos no Rio desde o tricampeonato na metade dos anos 80.

Fernando Diniz chorou e deu cambalhota após o título carioca conquistado de forma brilhante pelo Fluminense em cima do Flamengo
Fernando Diniz chorou e deu cambalhota após o título carioca conquistado de forma brilhante pelo Fluminense em cima do Flamengo MARCELO GONÇALVES / FLUMINENSE FC
 

Vamos agora para Minas! O maior campeão do Estado faturou um tetra. O Galo confirmou seu favoritismo e conquistou pela 48ª vez a disputa, colocando dez troféus de vantagem agora sobre o Cruzeiro, com quem briga (até com participação polêmica de fornecedora de material esportivo) pelo título de “Maior de Minas”. Cada um tem seus valiosos argumentos: mais títulos internacionais, mais taças nacionais, mais conquistas estaduais, vantagem no confronto direto, maior torcida, torcida mais apaixonada etc. Estamos vendo agora a maior hegemonia de um clube em Minas desde o hexacampeonato do Galo entre 1978 e 1983, o lendário time de Reinaldo. Isso passa bastante pela fase endinheirada do Galo, que vai inaugurar nesta temporada sua arena, e se explica também pela derrocada administrativa, financeira e esportiva do Cruzeiro. Por mais que o América-MG faça um bom trabalho, não alcança o patamar do rival alvinegro.

O Galo teve mais uma vez como destaque Hulk, um ídolo nacional hoje em dia, eu diria. A crise após as declarações fortes de Coudet roubaram muito a atenção na semana decisiva, mas o Mineirão (sempre o principal palco do futebol mineiro, embora o Independência tenha sido muito importante para os dois finalistas nos últimos anos) foi de novo o lugar perfeito para a coroação atleticana. Talvez os próximos troféus venham todos na nova casa do Galo, mas o Mineirão será sempre uma praia atleticana, assim como o Campeonato Mineiro. O tão esperado bi brasileiro veio, a Libertadores foi conquistada, a Copa do Brasil está na galeria do clube, mas não é tudo isso que fará o Galo desprezar o Mineiro.

Chegou a hora do Rio Grande do Sul, uma “aldeia” cada vez mais gremista. Pintou o hexa do Tricolor, uma sequência que apenas é superada na história pelo hepta do Grêmio nos anos 60 e pelo octo do Internacional na década de 70. O time de Renato Portaluppi superou o Caxias em uma acirrada final que foi decidida com um pênalti conquistado (cavado) por Luis Suárez, a estrela uruguaia que vai abrilhantar muito o futebol brasileiro em 2023. Não foi fácil o título gremista, que não foi invicto por conta da derrota na semifinal para o Ypiranga de Erechim. É bom lembrar que o Grêmio vem da Série B e que o Colorado foi vice-campeão brasileiro outro dia. Superar o rival treinador por Mano Menezes não era uma tarefa das mais simples, mas o Grêmio venceu com méritos o Gre-Nal e soube ser mais copero no mata-mata.  

O Grêmio chega agora a 42 conquistas, apenas três a menos que o Inter. Aquela diferença larga que o Colorado tinha colocado no rival e aquela provocação de D’Alessandro e seus parceiros pelos 15 anos sem títulos importantes dos gremistas ficou no passado. E agora o jogo virou: o Inter que não conquista nada desde 2016, e com Renato no comando do Grêmio a freguesia no clássico vem se invertendo (o Inter leva a vantagem histórica, mas nos últimos anos o Grêmio vem castigando seu maior inimigo seguidamente). Curioso ver como em poucos meses o Grêmio remontou a equipe e se colocou em uma situação melhor do que o Inter. Os gremistas não têm taça internacional para disputar em 2023, mas tudo indica que voltará a disputar essas copas em 2024. Enquanto isso, vai “brincando” no Brasileiro com Renato e enfileirando Estaduais.  

Uma outra hegemonia estadual que chama a atenção neste momento é a do Fortaleza. Primeiro, porque trata-se de um pentacampeonato inédito e sem contestação (o Ceará conseguiu depois de muito tempo ser proclamado campeão cearense entre 1915 e 1919). Depois, porque os dois rivais estão em grandes fases, sendo que o Vozão tem tido mais sucesso na Copa do Nordeste. Claro que o campeonato regional tem valor maior na hierarquia do futebol, mas essa supremacia tricolor no Estado é algo histórico. O Fortaleza, com o penta atual, superou o Ceará de vez e é o maior campeão cearense agora: 46 a 45 em trofeús.

Um outro título emblemático no Nordeste veio na Bahia. O maior campeão do Estado chegou à marca de 50 taças. O Tricolor superou na final o Jacuipense, uma prova de que o Vitória não vive mesmo uma fase negativa de sua história (desde 2018 o rubro-negro não consegue nem ser vice do Baiano). O Bahia tem dado mais importância para a Copa do Nordeste, o que faz sentido, mas o título estadual serviu para amenizar um pouco a dor sofrida pela surra histórica que tomou do Sport (6 a 0). O Leão da Ilha do Retiro está tanto na decisão da Copa do Nordeste (duelo forte contra o Ceará) quanto na final do Pernambucano (é favorito contra o Retrô de Camaragibe) e pode ganhar seu 43º título estadual, interrompendo série de duas taças do Náutico.

Se tem um time no país que ganhou fama por minimizar o Estadual é o Athletico, mas adivinha quem conquistou o Campeonato Paranaense? O Furacão e algumas de suas estrelas, como Felipão e Vitor Roque, posaram bem alegres como campeões estaduais. O título desta vez foi conquistado em cima do Cascavel. Pegando os últimos 8 campeonatos no Paraná, são 5 títulos do Athletico. Será que dá mesmo para dizer que o Furacão não leva a sério o Estadual? Pode não ser a prioridade do clube (e não é mesmo), mas ser campeão é sempre bom. O Furacão está encurtando a vantagem estadual do rival Coritiba. Agora, são 39 troféus para o Coxa e 27 para o rubro-negro. Se não dá para falar ainda em hegemonia atleticana no Paraná (levando em conta todos os torneios, isso é evidente), não dá para dizer também que o Athletico não curte ser campeão em seu Estado, o que pode ajudar também a conquistar mais torcedores dentro do Paraná.

Em Goiás já dá sim para falar em uma nova hegemonia ou pele menos em uma nova onda. O Dragão tem colocado fogo na disputa estadual com o Goiás, maior campeão do Estado com 28 títulos. Pelo segundo ano seguido, o Atlético-GO foi campeão em cima do rival alviverde. O Goiás não conquista o Goiano desde 2018. De lá para cá o Dragão se estruturou, investiu e já faturou quatro canecos estaduais. Chegou a 17 títulos estaduais, deixando para trás o tradicional Vila Nova, que parou em 15 troféus e está na fila desde 2005. Curiosamente, o Goiás é o único representante do Estado na Série A, sendo um candidato forte ao rebaixamento. Em contrapartida, o Atlético-GO é um dos mais cotados para ficar entre os quatro primeiros da Série B e voltar à elite do país.

Para fechar o giro pelos Estaduais que possuem time na primeira divisão nacional, vou para o Mato Grosso. O Cuiabá, fundado em 2001, já virou o segundo maior campeão do Estado. Venceu o União Rondonópolis na decisão deste ano e chegou a 12 troféus, empatando assim com o CEOV de Vargem Grande. O Mixto, maior campeão mato-grossense com 24 conquistas, não levanta a taça desde 2008. Cuiabá venceu 10 dos últimos 13 campeonatos no Mato-Grosso e virou uma força regional, tendo chegado e permanecido na Série A. Investimento explica essa guinada que o Dourado vem dando em seu Estado e em termos regionais (ganhou dois títulos da Copa Verde). Como se vê, resultados e hegemonias não acontecem do nada. Isso em qualquer lugar.

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Os palpites para os grupos da Libertadores e da Sudamericana, cada vez mais previsíveis

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Devido ao poderio econômico dos clubes brasileiros na América do Sul, é claro que os times do nosso país entram como favoritos nas disputas da Conmebol mais uma vez. Isso não é novidade mais nem para os nossos combalidos vizinhos. Se Atlético-MG, Flamengo e Palmeiras, não necessariamente nessa ordem, são os clubes mais cotados para ganhar a Libertadores e estender a hegemonia nacional no continente, o Fortaleza me parece o candidato mais pronto no Brasil para conquistar a Sudamericana (seria o primeiro título internacional oficial de time do Nordeste).

Claro que Athletico, Botafogo, Corinthians, Fluminense, Inter, Red Bull Bragantino, Santos e São Paulo podem avançar longe nas disputas, ainda mais com um bom cruzamento no mata-mata. Mesmo esses clubes que não são os mais badalados no momento têm a esperança de ao menos brigar por taça em copas. Eu fiz um prognóstico simples de todos os grupos da Libertadores e da Copa Sudamericana e só não classifiquei, dentre os times brasileiros, o América-MG, que caiu em um verdadeiro Grupo da Morte (podia muito bem ser um grupo da Libertadores), e o Goiás, que também encontrará adversários encardidos logo de cara. Na Libertadores, eu passei quase todos os clubes brasileiros em primeiro lugar, exceção feita ao Corinthians (respeito demais o Independiente del Valle, que aliás até já eliminou o Timão de Sudamericana) e ao Athletico, que teve o azar de ver o forte Galo cair em seu grupo.

É bom lembrar que os segundos colocados dos grupos da Sudamericana não são mais eliminados. Eles fazem agora um playoff com os terceiros colocados dos grupos da Libertadores. Não será estranho se algum time que for mal na Libertadores virar depois favorito na Copa Sudamericana. O próprio Fortaleza, meu favorito maior para o título do segundo interclubes da Conmebol, naufragou nesta Libertadores e “caiu” para a Sudamericana.

O Fortaleza do bom técnico Vojvoda naufragou na Libertadores cedo neste ano, mas virou assim favorito para ganhar a Sudamericana e dar ao Nordeste o seu primeiro título internacional oficial interclubes
O Fortaleza do bom técnico Vojvoda naufragou na Libertadores cedo neste ano, mas virou assim favorito para ganhar a Sudamericana e dar ao Nordeste o seu primeiro título internacional oficial interclubes GETTY
 

Bem, vamos às classificações finais dos grupos agora. Se eu estou certo em dizer que a Libertadores, mais especialmente, e também a Sudamericana, em menor grau, estão cada vez mais previsíveis, eu deverei ter alto índice de acerto no fim das contas. Me cobrem!

 

 

LIBERTADORES

GRUPO A

1º Flamengo (Brasil)

2º Racing (Argentina)

3º Aucas (Equador)

4º Ñublense (Chile)

GRUPO B

1º Internacional (Brasil)

2º Nacional (Uruguai)

3º Independiente Medellín (Colômbia)

4º Metropolitanos (Venezuela)

GRUPO C

1º Palmeiras (Brasil)

2º Cerro Porteño (Paraguai)

3º Barcelona (Equador)

4º Bolívar (Bolívia)

GRUPO D

1º Fluminense (Brasil)

2º River Plate (Argentina)

3º Sporting Cristal (Peru)

4º The Strongest (Bolívia)

GRUPO E

1º Independiente del Valle (Equador)

2º Corinthians (Brasil)

3º Argentinos Juniors (Argentina)

4º Liverpool (Uruguai)

GRUPO F

1º Boca Juniors (Argentina)

2º Deportivo Pereira (Colômbia)

3º Colo Colo (Chile)

4º Monagas (Venezuela)

GRUPO G

1º Atlético-MG (Brasil)

2º Athletico (Brasil)

3º Libertad (Paraguai)

4º Alianza Lima (Peru)

GRUPO H

1º Atlético Nacional (Colômbia)

2º Olimpia (Paraguai)

3º Patronato (Argentina)

4º Melgar (Peru)

 

SUDAMERICANA

GRUPO A

1º LDU (Equador)

2º Botafogo (Brasil)

3º Universidad César Vallejo (Peru)

4º Magallanes (Chile)

GRUPO B

1º Huracán (Argentina)

2º Emelec (Equador)

3º Guaraní (Paraguai)

4º Danubio (Uruguai)

GRUPO C

1º Estudiantes (Argentina)

2º Red Bull Bragantino (Brasil)

3º Oriente Petrolero (Bolívia)

4º Tacuary (Paraguai)

GRUPO D

1º São Paulo (Brasil)

2º Deportes Tolima (Colômbia)

3º Tigre (Argentina)

4º Academia Puerto Cabello (Venezuela)

GRUPO E

1º Newell’s Old Boys (Argentina)

2º Santos (Brasil)

3º Audax Italiano (Chile)

4º Blooming (Bolívia)

GRUPO F

1º Peñarol (Uruguai)

2º Defensa y Justicia (Argentina)

3º América-MG (Brasil)

4º Millonarios (Colômbia)

GRUPO G

1º Independiente Santa Fé (Colômbia)

2º Gimnasia y Esgrima (Argentina)

3º Goiás (Brasil)

4º Universitario (Peru)

GRUPO H

1º Fortaleza (Brasil)

2º San Lorenzo (Argentina)

3º Palestino (Chile)

4º Estudiantes de Mérida (Venezuela)

 

 

 

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O Calcio volta a brilhar nos interclubes europeus, mas os favoritos ainda são os outros

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Há uma energia bastante positiva em torno das campanhas dos times italianos nos interclubes europeus nesta temporada. Vejo uma celebração coletiva por aquele que pode ser um resgate, mesmo que tímido, do futebol que foi o Eldorado da bola nos anos 1980 e 1990. São seis representantes do Calcio nas quartas de final dos torneios da Uefa: Inter de Milão, Milan, Napoli, Juventus, Roma e Fiorentina. Essa esquadra italiana remete ao final do século passado, quando a Serie A dominava em boa parte o futebol do Velho Continente. Só na temporada 1990/1991 tivemos mais clubes italianos nas quartas das competições continentais do que agora (naquela oportunidade, foram sete equipes da terra da pizza: Milan, Juventus, Sampdoria, Atalanta, Bologna, Inter e Roma).

Felizmente ou infelizmente para a Itália, o sorteio desta sexta-feira (17) colocou os times do Calcio na Champions League do mesmo lado da chave. Milan e Napoli vão duelar agora (saudade daqueles embates entre o trio de holandeses e Maradona/Careca) e quem passar pode pegar a Inter na semifinal (desde que essa supere o perigoso Benfica). Mas podemos ter uma final Juventus x Roma na Europa League, e a Fiorentina pode repetir a Roma da temporada passada sendo campeã da Conference League (foi o primeiro título do Calcio em interclubes da Uefa desde a conquista da Inter na Champions League em 2010, sendo que José Mourinho, ainda vivo na Liga Europa, responde por esses dois títulos). De fato é saboroso ver tantos times italianos competitivos após muitos anos como coadjuvantes. Só que ainda acho outros clubes favoritos. O Napoli, virtual campeão italiano (primeiro scudetto do clube sem Maradona), talvez seja o time mais espetacular da temporada, mas não posso dizer que ele está mais cotado do que os times que estão do outro lado da chave e que têm elencos bem mais caros.   

Farei aquela tradicional aposta nos duelos das quartas de final, dando mais ênfase, claro, para a Champions. Vamos ver se meus palpites vão funcionar e se eu de fato estou acreditando no calcio.

Osimhen e Kvaratskhelia, destaques do Napoli, virtual campeão italiano e forte candidato a finalista na Champions League
Osimhen e Kvaratskhelia, destaques do Napoli, virtual campeão italiano e forte candidato a finalista na Champions League EFE/EPA/CIRO FUSCO

REAL MADRID (60%) X (40%) CHELSEA

Vão se encontrar como na temporada passada, quando o Real Madrid avançou. Aliás o gigante espanhol também deixou o Liverpool para trás na campanha que lhe rendeu mais uma taça, a de número 14 no torneio. E a equipe de Carlo Ancelotti ainda pode pegar o Manchester City de novo, isso na semifinal. Será que a camisa mais pesada do planeta vai varrer os ingleses mais uma vez?

Nas oitavas, o Real fez um 6 a 2 no Liverpool no agregado. A base merengue é a mesma, com destaque para Benzema, Courtois e Vinícius Júnior, além da boa aparição de Tchouaméni. Vini é o artilheiro do time no torneio, com seis gols. Está voando no pós-Copa, o que não se pode dizer do Bola de Ouro Benzema. O Real completou 300 jogos de Champions League, sendo o primeiro clube a atingir tal marca. Chelsea x Real Madrid acontece pela terceira vez seguida (nos últimos dois anos, quem passou deste confronto acabou ficando com o mais nobre título europeu).

O Chelsea vem em uma fase muito irregular, com campanha capenga na Premier League apesar de ter sido o clube que mais dinheiro gastou em 2023. O trabalho de Graham Potter é alvo de críticas, e alguns dos destaques do time não estão em seu melhor momento. A chegada do português João Félix é uma esperança.

Nas oitavas, os Blues suaram para eliminar o Borussia Dortmund após perderem o jogo de ida. A equipe não é mais tão sólida como era na gestão de Thomas Tuchel. O time costuma atuar hoje com três zagueiros e dois volantes. O clube londrino tem se mostrado bastante cascudo na Champions, tanto que venceu 8 dos últimos 11 duelos de quartas de final da competição..

BENFICA (55%) X (45%) INTER DE MILÃO

O gigante português está fazendo uma campanha histórica, com seis vitórias e dois empates contra o endinheirado PSG. Um ataque eficaz é uma das armas do time dirigido por Roger Schmidt (anotou 25 gols até aqui no torneio). João Mário é o artilheiro da equipe na competição, com seis gols, uma a mais do que Rafa Silva, uma peça desequilibrante no elenco encarnado.

Inter de Milão x Benfica já foi final da antiga Copa dos Campeões da Europa, em 1965. A equipe de Milão levou a melhor e conquistou na ocasião seu bicampeonato europeu. Uma prova da força do atual Benfica é que ele chega pela segunda temporada seguida às quartas de final da Champions. Mesmo com a saída de Enzo Fernández, que foi para o Chelsea, a equipe lidera com certa folga o Campeonato Português. David Neres, ex-São Paulo, vive grande fase de novo.

A Inter sofreu para superar outro gigante português nas oitavas. Fez apenas um gol no Porto, o que bastou para a classificação. O goleiro Onana teve que fazer várias defesas no confronto. O time de Milão oscilou no Campeonato Italiano e viu o Napoli disparar. Na Champions, no entanto, conseguiu passar por um grupo duro, com Bayern de Munique e Barcelona. Parece que o time de Inzaghi joga melhor as partidas grandes (contra Milan, Napoli e Porto) do que as pequenas (perdeu de Empoli, Bologna e Spezia). Atuando em um 3-5-2, a Inter conta com a força e o entrosamento da sua dupla de ataque 'Lu-La' (Lukaku e Lautaro Martínez).

MANCHESTER CITY (55%) X (45%) BAYERN DE MUNIQUE

A equipe de Guardiola triturou o Leipzig no jogo da volta com um 7 a 0, cinco gols de Haaland, um recorde que poderia ser maior se o treinador espanhol não substituísse o artilheiro norueguês aos 17 minutos do segundo tempo (o 'Cometa' é o grande goleador da atual Champions, com 10 gols). O City, que também briga pelos títulos da Premier League e da Copa da Inglaterra (a FA Cup), ainda está invicto na competição. Guardiola usa no papel um 4-3-3 que se transforma em 2-3-5 quando tem a bola (o que acontece na maior parte do tempo contra quase todos os adversários).

A grande mudança na equipe de Manchester em relação à temporada passada, quando caiu diante do Real Madrid de forma dramática no final, é a presença de Haaland no comando do ataque. Antes, Guardiola adotava jogadores com 'falso 9' (o verdadeiro 9 do time virou o mais jovem a chegar a 30 gols em Champions, aos 22 anos e 236 dias ou em só 25 jogos). O genial treinador não vence uma Champions League desde 2011, quando ganhou seu segundo troféu continental com o Barcelona.

De Bruyne, eleito o melhor jogador da temporada passada na Inglaterra, ainda é o cara no Manchester City: ele deu quatro assistências nesta Champions, sendo o vice-líder nesse fundamento no atual torneio. Ele fica atrás justamente do ex-companheiro João Cancelo, lateral português que trocou o City pelo Bayern e que será uma grande atração deste confronto.

O Bayern não conta mais com seu verdadeiro 9 Lewandowski (hoje, no Barcelona), mas ainda tem um time muito forte. Goretzka deu o mesmo número de assistências de De Bruyne nesta Champions (4). Choupo-Moting e Sané dividem a artilharia do time bávaro na competição europeia, com quatro gols cada um. Será o primeir duelo de mata-mata entre os times. Até aqui, um grande equilíbrio na história com três vitórias para cada lado (nunca empataram).

A defesa tem sido um ponto forte do time do ainda jovem Julian Nageslmann, que molda sua equipe de acordo com o adversário. O 'Magic Musiala' tem sido a cereja desse bolo alemão, que caminha para conquistar mais uma Bundesliga. A tradicional equipe do Sul da Alemanha chega às quartas de final da Champions League pela 21ª vez, um recorde no torneio.

MILAN (40%) X (60%) NAPOLI

A velha rivalidade entre o Norte e o Sul da Itália, só que agora com o time de Nápoles como favorito. Virtual campeão italiano, o time azul enfim vai conseguir um scudetto sem Diego Armando Maradona, nome de seu estádio. O Napoli atropelou o Eintracht Frankfurt nas oitavas com um placar agregado de 5 a 0. Tem sete vitórias e apenas uma derrota nesta Champions, tendo marcado incríveis 25 gols. O clube da Bota humilhou o Ajax na fase de grupos e mostrou seu poderio também para o Liverpool.

O time de Luciano Spalletti joga com linha de quatro atrás, variando do 4-3-3 para o 4-2-3-1. A ordem é explorar os espaços deixados pelos rivais. Há muitas jogadas de velocidade pelas pontas, o que favorece o perigoso Osimhen, que divide a artilharia do time com Raspadori, Simeone e Zielinski, todos com 4 gols. Kvaratskhelia é o responsável pelas assistências (são 4 nesta Champions) e talvez o jogador mais importante da equipe.

O Milan melhorou bem em relação à campanha passada na Champions, quando ficou na lanterninha de seu grupo. Campeão vigente da Itália, vê em Giroud seu artilheiro na Champions, com quatro gols. Nas oitavas, superou o Tottenham em um duelo bem travado e passou com um 1 a 0 apenas no agregado. O time de Stefano Pioli também é muito flexível e pode se adaptar ao tipo de jogo do adversário. A camisa é pesada, mas o elenco é bem mais fraco do que aqueles que o mundo viu nas décadas de 80, 90 e 00, por isso o Napoli chega sem dúvida mais cotado ao duelo.

Theo Hernández é um dos poucos destaques individuais de fato do Milan, que vai decidir o confronto fora de casa. A força coletiva e a tradição do time podem tornar o embate equilibrado.


EUROPA LEAGUE

MANCHESTER UNITED (60%) X (40%) SEVILLA

JUVENTUS (55%) X (45%) SPORTING

BAYER LEVERKUSEN (60%) X (40%) U. SAINT-GILLOISE

FEYENOORD (50%) X (50%) ROMA

 

CONFERENCE LEAGUE

LECH POZNAN-POL (40%) X (60%) FIORENTINA-ITA

GENT-BEL (40%) X (60%) WEST HAM-ING

ANDERLECHT-BEL (50%) X (50%) AZ-HOL

BASEL-SUI (50%) X (50%) NICE-FRA

 

 

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O Calcio volta a brilhar nos interclubes europeus, mas os favoritos ainda são os outros

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Nunca na história deste país se torceu tanto contra um time como com o Flamengo de Vítor Pereira

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

 

Não deixa de ser algo natural existir uma certa torcida contra os mais poderosos, isso em qualquer parte do mundo. Mas o que vemos neste momento no Brasil com o Flamengo de Vítor Pereira é algo singular. Nunca a sensação de “todos contra um” foi tão grande no futebol brasileiro, e por uma série de razões.

Desde sempre o Flamengo é o time de futebol mais popular do país, o que por si só já o torna um gigantesco ímã para “antis” (aqueles torcedores que se alimentam muito do ódio ao rival). Há uma sensação, ainda mais nos últimos anos, de que o rubro-negro é forte demais para a concorrência. Os importantes títulos que o clube conquistou desde 2019 confirmam isso, embora tenha pelo menos uma equipe, o Palmeiras, que esteja conseguindo rivalizar administrativamente, financeiramente e esportivamente com o Flamengo atual. Acontece que a diretoria flamenguista tem dado muitos sinais de soberba, especialmente quando ganha.

A frase “Real Madrid, pode esperar, a tua hora vai chegar”, puxada pelo diretor rubro-negro Marcos Braz, virou piada dos rivais e deve embalar as arquibancadas Brasil afora neste ano (a temporada em que o Flamengo não só não enfrentou o Real Madrid como ainda perdeu do Al Hilal, do Independiente del Valle, do Vasco, do Fluminense...). Braz, mesmo com apoios como o de Romário e com a Nação por trás, não conseguiu se eleger deputado federal e fazer parte da bancada bolsonarista na Câmara dos Deputados pelo PL. Agora, vem enfrentando um forte desgaste (era um dos maiores símbolos do Flamengo arrasador de 2019) até na torcida rubro-negra que o idolatrava. Outras figuras importantes da atual política flamenguista, como o presidente Rodolfo Landim e o BAP (Luiz Eduardo Baptista), por vezes também dão alguns sinais de arrogância, o que a pujança do Flamengo, especialmente nesta fase glamourosa em que o clube fatura cerca de R$ 1 bilhão por ano, talvez possa explicar.  

Vítor Pereira, ex-técnico corintiano, cumprimenta, Dorival Junior, a quem sucedeu no Flamengo, clube que une cada vez mais as torcidas adversárias
Vítor Pereira, ex-técnico corintiano, cumprimenta, Dorival Junior, a quem sucedeu no Flamengo, clube que une cada vez mais as torcidas adversárias Staff Images / CONMEBOL

 

Em campo, alguns dos principais jogadores do Flamengo dão uma ou outra cutucada em adversários. Bruno Henrique soltou o mantra de que o Flamengo está em “outro patamar”, e Gabigol, muito identificado com a Nação, entre outras coisas anunciou o “inferno” para o Atlético-MG. O atacante tão confiante ficou incomodado com o fato de André, do Fluminense, ter apontado o Tricolor como favorito para a decisão da Taça Guanabara. Logo no comecinho do jogo, foi caçar o volante com um pontapé e uma bolada com o jogo já paralisado. Talvez se Felipe Melo tivesse feito o mesmo, seria expulso mesmo com poucos segundos de partida. Após o Flamengo abrir o placar contra o Flu, Gabigol foi para cima de André dizer que ele havia escolhido “o favorito errado”. O ídolo rubro-negro queria que André dissesse que o Flamengo ganharia? O bom volante, agora da seleção brasileira (onde Gabigol não ficou para a Copa nem para este início de ciclo em 2023), não pode confiar no próprio time, que vem fazendo bons jogos? Há muita gente humilde ou sem nariz em pé no time do Flamengo, como Everton Ribeiro, mas outras figuras, como Gerson "Vapo Vapo" ou o próprio Vidal, que chegou faz pouco tempo à Gávea, espalham uma certa imagem de marra e superioridade.    

Eu tratei até aqui da diretoria e de parte do elenco de atletas do Flamengo, mas chegou a hora da cereja do bolo: Vítor Pereira. A forma como o treinador português conduziu sua saída do Corinthians e seu acerto com o Flamengo causou indignação e repulsa até em gente que trabalhava com ele. Não são apenas os corintianos que estão secando o trabalho do técnico que mais pegou a fama de traíra no Brasil (a sogra mais famosa do Brasil é a de um português, quem diria). Quase ninguém no mundo do futebol e mesmo da sociedade tolera esse tipo de figura, esse comportamento reprovável que remete ao caráter. O Flamengo tinha todo o direito de não renovar com o bonzinho Dorival Júnior, mesmo com os títulos da Libertadores e da Copa do Brasil. E tinha todo o direito de buscar um treinador que achava ser melhor para evoluir sua boa equipe. Mas talvez nem tenham pensado em como seria a rejeição interna e externa desse técnico.

A decisão da Supercopa entre Flamengo e Palmeiras já foi emblemática nessa união de torcidas contra o gigante rubro-negro. Muitos corintianos (para não dizer todos) apoiaram o grande rival alviverde contra o clube carioca. Há um sentimento forte na Fiel de que o Flamengo com Vítor Pereira é mesmo o time a ser batido e odiado, as rivalidades históricas com Palmeiras e São Paulo estão agora em um segundo plano. Se somarmos as torcidas de Corinthians (segunda maior do país) e Palmeiras (a quarta maior) com as de Vasco (quinta maior), Fluminense e Botafogo (essas duas estão tecnicamente empatadas), veremos que a maior torcida do país neste momento é a contra o Flamengo. Alguém vai dizer que sempre foi assim, pois as torcidas de Athletico-PR, Atlético-MG, Grêmio e Sport, por exemplo, nunca morrerão de amores pelo rubro-negro carioca. Só que nunca houve uma união tão grande de torcidas contra um clube apenas como vemos agora no país.  

O Flamengo deve se preocupar com essa colossal rejeição ou deve se orgulhar disso? O Real Madrid é o clube mais vitorioso e poderoso da história, tem mais de 300 milhões de torcedores mundo afora, e talvez mais do que isso de haters. O madridismo é quase tão forte quando o antimadridismo, não só na Espanha, e tudo bem para os merengues. Incomodar os adversários talvez seja mesmo a ideia e o propósito de um time. Não é um crime o que o Flamengo está fazendo ao tentar ser hegemônico, brigando sempre para ter as melhores cotas de TV. Crime, mesmo que não seja doloso, foi a morte dos dez garotos no CT do clube.

O caso, que revoltou todo o país em 2019, voltou à tona agora porque, como mostra matéria do UOL, um engenheiro contratado pelo Flamengo acusou Reinaldo Belotti, o CEO flamenguista, de ter adulterado a cena do local em que os jovens atletas morreram para impedir a perícia de descobrir uma possível negligência no Ninho do Urubu. O clube carioca, em nota oficial, negou que isso seja verdade, mas o fato é que até agora ninguém foi de fato responsabilizado por aquela tragédia nas dependências do Flamengo. Será que não há mesmo culpados pela morte dos meninos? Essa é uma pergunta que deve ser dada devidamente à sociedade. A diretoria rubro-negra não lidou da melhor forma, desde o início, com esse triste caso. Não sei bem como estão todas as famílias das vítimas e a luta deles por justiça. Não é só uma questão financeira, de pagar uma quantia e está tudo certo. Tem a necessidade de identificar eventuais culpados e também um lado moral. Muita gente, com clubismo (o que é deplorável nessas horas também) ou sem clubismo, vê o Flamengo, como um todo, como o responsável pela tragédia. Isso, creio, contribua ainda mais para essa rejeição recorde que vemos no país agora.

Meu pai costuma dizer que o futebol é cíclico, que clubes de futebol vivem como em uma roda gigante, uma hora estão por cima e outra estão por baixo. Na era Pelé, o Santos era o time dominante do país também por ter muito investimento, tanto que manteve o Rei por muito tempo e ainda contratava outros craques, como Carlos Alberto Torres. O Santos atual tem um de seus piores elencos da história, vem de três anos seguidos sem avançar ao mata-mata do Paulista e vai brigar mais uma vez para não cair no Campeonato Brasileiro, o que tem virado rotina. O Flamengo, neste mesmo século em que estamos, brigou mais de uma vez para não cair e ganhou fama de mau pagador. Hoje, está em uma situação invejável que o permite ser favorito em tudo, inclusive em ser o favorito na torcida contra de todos os não-flamenguistas.

       

 

  

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