Origem de dinheiro suspeita e dificuldade de pagar as contas: o Milan e seu misterioso dono chinês

ESPN.com.br
Li Yonghong, o misterioso dono do Milan, fala durante evento do clube em julho deste ano
Li Yonghong, o misterioso dono do Milan, fala durante evento do clube em julho deste ano VCG/VCG via Getty Images

Neste sábado, o gigante Milan tem um jogo dificílimo pelo Campeonato Italiano. Às 17h45 (de Brasília), a equipe encara o líder Napoli, fora de casa, com transmissão da ESPN Brasil e do WatchESPN, em clássico válido pela 13ª rodada da Serie A.

Será mais uma prova de fogo para o time rubro-negro, que, apesar dos gigantescos investimentos feitos na última janela de transferências, está apenas em 7º lugar na tabela, fora até mesmo da zona de classificação para a próxima Liga Europa. 

E se os jogadores não estão correspondendo dentro de campo, fora das quatro linhas o heptacampeão europeu e tetracampeão mundial também não passa por bom momento.

Tudo isso graças a recentes descobertas feitas sobre o misterioso empresário chinês Li Yonghong, que comprou o Milan em abril deste ano por 740 milhões de euros (R$ 2,86 bilhões).

Em reportagem investigativa publicada nesta semana, o jornal The New York Times mostrou que o magnata, de quem ninguém nunca havia ouvido falar na Europa e nem na China até a aquisição do clube italiano, está no centro de uma polêmica sobre quem é o verdadeiro dono de seu suposto império de mineração na China. 

"O Sr. Li nunca havia aparecido na lista de pessoas mais ricas da China. E o império da mineração que ele descreveu aos dirigentes italianos não era conhecido por ninguém do meio. Além disso, segundo documentos, o tal império pertence na verdade a outras pessoas", diz trecho da reportagem.

Além disso, o veículo mostrou que o bilionário vem tendo dificuldades para pagar os volumosos empréstimos que fez para assegurar a compra do Milan as mãos do ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, apesar do chinês ser apontado supostamente como um dos homens mais ricos de seu país.

"O gigante do futebol, que está 'sangrando dinheiro' depois de gastar em uma série de jogadores na janela, procura novos investidores ou tenta refinanciar o enorme empréstimo que o Sr. Li fez para comprar o clube", acrescenta a matéria.

  • Empresa mudou de dono diversas vezes
Li Yonghong é dono do Milan desde abril
Li Yonghong é dono do Milan desde abril MIGUEL MEDINA/AFP/Getty Images

Quando negociava para comprar o Milan, Li Yonghong se apresentou como dono de um gigantesco conglomerado de mineração na China. As informações foram checadas por dirigentes da Federação Italian de Futebol, por bancos e por todos os interessados na transação, que deram o "OK" para a venda ser concluída.

No entanto, após muitas investigações e ligações, o jornal americano descobriu que a empresa de Li Yonghong não só não está em nome do agora proprietário do Milan como teve quatro donos diferentes só neste ano. E, em duas das trocas de mandatários ocorridas nos últimos anos, nenhum dinheiro foi envolvido.

Explica-se: Li Yonghong alegou ser dono de uma empresa de mineração de fosfato na cidade de Fuquan, província de Guizhou, na China. No entanto, registros empresariais do país mostram que essa companhia na verdade é propriedade de uma outra empresa, esta do ramo de investimentos, a Guangdong Lion Asset Management. E essa firma possui uma complicada história de troca de donos nos últimos dois anos, com pessoas de nomes muito parecidos se alternando. 

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Originalmente, a Guangdong Lion Asset Management pertencia a dois investidores: Li Shangbing e Li Shangsong. Assim como Li Yonghong, eles vêm da cidade de Maoming, província de Guangdong, no litoral sul da China. O NY Times procurou ambos, que negaram conhecer o dono do Milan.

Li Shangsong, por sua vez, disse que vendeu sua parte da Guangdong Lion Asset Management em 2015 para um empresário chamado Li Qianru, que não foi localizado pela reportagem. Já em maio do ano seguinte, Li Shangbing e Li Qianru venderam a companhia para mais um Li, este chamado Li Yalu. O preço? Zero.

Três meses depois, Li Yalu, cujas informações também não foram encontradas pelo jornal, vendeu sua parte para um outro investidor obscuro, Zhang Zhiling. Novamente, nenhum dinheiro foi envolvido, deixando tudo cada vez mais nebuloso. 

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Li é um dos sobrenomes mais comuns da China, mas, através das entrevistas e documentos oficiais, não foi possível determinar se existe parentesco entre Li Yonghong, Li Shangbing, Li Shangsong, Li Qianru e Li Yalu, todos supostos donos do império de mineração que hoje tem o gigante Milan como propriedade.

Questionado sobre o tema pelo jornal, o Milan não quis dar esclarecimentos.

A reportagem do NY Times, por sua vez, visitou o endereço dado como sede da Guangdong Lion Asset Management, em um luxuoso edifício na cidade de  Guangzhou. A esperança era encontrar alguém que pudesse esclarecer quem é o verdadeiro dono da companhia e, por tabela, do Milan. 

No entanto, isso não foi possível...

"Os escritórios estavam fechados, com uma nota de despejo pregada na porta. Dentro do local, as mesas e cadeiras estavam todas bagunçadas, os computadores tiveram os discos rígidos removidos e havia muitas larvas nas latas de lixo", diz trecho da matéria, mostrando que o local estava abandonado há tempos.

  • Risco de calote é grande

Li Yonghong durante jogo do Milan contra o Cagliari, pelo Campeonato Italiano
Li Yonghong durante jogo do Milan contra o Cagliari, pelo Campeonato Italiano Claudio Villa/Getty Images

Também segundo o jornal americano, Li Yonghong fez um empréstimo de US$ 354 milhões (R$ 1,162 bilhão) através de um fundo chamado Elliott Management, para bancar a compra do Milan.

Esse fundo é chamado de "abutre", pois atua com investimentos em papéis de empresas e de governos em crise, que são considerados “lixo” no mercado financeiro. Ele é conhecido por ter "quebrado" a Argentina, que teve que pagar US$ 2 bilhões em um longo e complicado processo judicial, como mostrou o ESPN.com.br em agosto.

O empréstimo, feito com juros de 11,5%, precisa ser pago até outubro de 2018, mas a chance de calote é grande. De acordo com o diário, o empresário vem tendo muitas dificuldades para honrar seus compromissos financeiros. 

"O Milan segue totalmente endividado e não dá lucro, e pode ter muitos problemas para pagar o que deve. Até porque a equipe torrou US$ 274 milhões para contratar 11 jogadores na última janela de transferências, transformando o clube no mais gastão do futebol Europeu", ressalta a matéria.

"Em agosto, o Milan teve que esperar para a transferência de dois jogadores que havia contratado serem confirmadas, porque não havia depositado as garantias bancárias. O clube, porém, colocou a culpa em 'problemas de timing' pelo atraso, e as negociações foram eventualmente completadas", cita. 

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A situação pode ficar ainda pior se o Milan não conseguir garantir a classificação para a Champions League na próxima temporada, seja através do Campeonato Italiano ou do título da Liga Europa, já que a equipe deixará de receber os bônus da Uefa e perderá boa parte do que ganha com direitos de televisão.

Para um time que não sabe nem que é seu próprio dono, porém, talvez esse não seja o maior dos problemas atualmente...

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