Aos 65 anos, Vanderlei Luxemburgo diz não ter muitos arrependimentos na vida.

Uma decisão que não tomou em 2014, quando comandava o Flamengo, porém, lhe assombra até hoje. 

Em participação no "II Debate Pense Bola", em São Paulo, evento organizado que reuniu treinadores, analistas e profissionais que trabalham com futebol, Luxa revelou que deveria ter contratado Adriano "Imperador" para a equipe rubro-negra.

À época, o centroavante estava sem clube desde sua saída do próprio Fla, em 2012. Havia a chance dele retornar mais uma vez à Gávea, mas a equipe carioca optou por não oferecer um contrato. Com isso, ele acabou indo para o Atlético-PR para jogar a Libertadores.

Três anos depois, o experiente treinador disse que, se fosse possível voltar no tempo, teria apostado no "Imperador" como seu grande trunfo.

"Fiz uma grande bobagem na minha vida... Não contratei o Adriano no Flamengo. Eu deveria. A única coisa que ele precisava era de um cara que apostasse nele, que saísse de porrada com ele o tempo todo", disse Luxemburgo, que foi além. 

"O Adriano precisava que alguém subisse a favela e falasse com o dono do tráfico: 'Quando ele chegar aí você mete a porrada nele e manda lá pra baixo para ficar comigo", afirmou o pentacampeão brasileiro. 

Atualmente, o "Imperador" está sem clube. Em uma entrevista recente, ele mostrou vontade de retornar ao Flamengo e disse que jogaria de graça.

"O Flamengo sempre foi meu mundo. Independentemente de qualquer coisa, eu sou flamenguista doente. Isso aí não preciso mais provar para mais ninguém. Estou aqui, ano que vem vou começar a treinar direitinho. Se me quiserem também, estou aqui, não precisa me pagar nada. Eu faço por amor", prometeu.

• 'Eu teria contratado Jô ao invés de Drogba'

Em seguida, Luxa traçou um paralelo com a situação de Jô, que, após anos vivendo problemas por várias equipes, ganhou um "voto de confiança" para retornar ao Corinthians neste ano e arrebentou, sendo decisivo na conquista do atual Campeonato Brasileiro pelo "Timão".

O comandante, atualmente sem clube após ser demitido recentemente do Sport, garantiu que, se fosse treinador do Corinthians, teria contratado Jô no início do ano, preterindo até mesmo o marfinense Didier Drogba, com quem o clube paulista chegou a negociar.

"O Jô só precisava de alguém que desse uma oportunidade. Ele estava querendo buscar um caminho bom", salientou.

"Eu teria contratado o Jô. Sou metido, mesmo (risos). Entre Drogba e Jô, eu optaria pelo Jô no começo do ano. Falei isso em programa de TV!", assegurou. 

Com 18 gols, o centroavante corintiano é também o atual artilheiro do Brasileirão, ao lado do também atacante Henrique Dourado, do Fluminense.

Na sequência, Vanderlei explicou o porquê de ter tanta fé em suas convicções e também por que segue com o mesmo "jeitão" de quando começou a carreira de técnico, em 1983, no pequeno Campo Grande-RJ.

"Sabe por que? Isso é cheiro de grama. Cheiro de vestiário. Vivência de futebol. Olho no olho. Futebol tem a sua necessidade. No futebol não pode falar: 'Por favor, você pode voltar para marcar?' Eu falo: 'C.., volta pra marcar!'",  bradou.

"Eu sou mal-educado no futebol. Isso é inerente ao futebol. Tem coisas que não podem ficar esquecidas. Nossa cultura é assim!", ensinou.

• Ensinando Neymar

Em sua palestra, Luxemburgo também lembrou de quando treinou o atacante Neymar em seu início de carreira, no Santos, e o apelidou de "filé de borboleta", já que o hoje astro do Paris Saint-Germain era muito magro.

O "Pofexô" ainda recordou que deu instruções específicas para o atleta chutar mais e driblar menos, considerando-se em parte responsável pelo sucesso do craque.

"O Neymar eu chamei de filé de borboleta e a mídia ficou brava comigo. Só que ele gostava de driblar. Drible é bom, mas o atacante não vive de gol? Eu falei para ele: 'Se você só driblar não vai a lugar algum. Precisa driblar, pegar diagonal em direção ao gol. Aí, você será fenomenal'. São detalhes que você precisa ver", analisou.

Luxa ainda reclamou que os jogadores atuais "perderam a essência" do "futebol moleque" que durante décadas caracterizou o Brasil, e culpou em grande parte os celulares e as redes sociais pelo distanciamento entre os próprios atletas. 

"Os jogadores hoje perderam a essência. Eu não nasci de olhos azuis. Eu sou negro de cabelo enrolado. A nossa essência é de favelado. O futebol nasceu na favela. Não podemos perder isso. Hoje, pela modernidade, eles não se falam e não estão mais juntos", indignou-se.

"Eu coloquei jogador em quarto duplo, porque eles ficam de saco cheio de ficarem sozinhos e podem conversar entre eles. Não tem mais uma participação e não discutem. Quantas vezes eu saía da preleção e falava para os jogadores: 'Vocês agora fiquem aí que essa é a hora de vocês conversem. Vocês que vão ganhar o jogo!'. A minha função de técnico já tinha acabado. A partir dali, eram eles que eles iam conversar, falar sobre a maneira que iam se juntar", acrescentou.

"Vestiário hoje é totalmente vazio. Não conversam mais. O celular é uma loucura", finalizou, triste.