Em 2011, o Cruzeiro chegou a última rodada do Campeonato Brasileiro com a chance de ser rebaixado para a Série B pela primeira vez em sua história. Para conseguir se salvar sem depender de qualquer outro resultado, a missão da equipe celeste não era nada fácil: vencer o arquirrival Atlético-MG.

De acordo com o zagueiro Naldo, no entanto, a pressão sobre os jogadores fez com que todos se unissem durante a semana para impedir a queda.

"Entramos muito motivados naquela semana. A gente falava que não iria perder nenhuma dividida. Se bobeasse, na moedinha a gente daria um soco para ela virar (risos). Precisávamos ganhar de qualquer forma", disse o jogador, atualmente no Espanyol-ESP, ao ESPN.com.br.

"Estávamos tão focados que desde a saída de bola sabíamos que iríamos ganhar. No primeiro lance, perdemos uma bola e logo em seguida a recuperamos com um carrinho. Ali eu vi que seria um grande jogo", afirmou.

A partida que poderia ser inesquecível para os atleticanos, se tornou motivo de pesadelo. Na Arena do Jacaré lotada, o O Cruzeiro goleou seu rival por 6 a 1 e tirou qualquer risco de queda para a Série B. A equipe terminou na 16ª colocação do torneio com 43 pontos - dois a mais do que o rebaixado Atlético-PR.

"A gente não fez uma festa como se tivesse ganho um título. O sentimento foi de alívio. Estávamos em um time muito grande, com aquela camisa e que nunca havia sido rebaixado. Não poderíamos nunca ter passado por aquilo. Deveríamos ter brigado por coisas muito maiores, não à toa que nos anos seguintes o time foi bicampeão brasileiro", afirmou.

A decepção de Naldo tinha fundamento. Vice-campeão brasileiro na temporada anterior, o Cruzeiro iniciou o ano de 2011 de forma arrasadora na Copa Libertadores, com cinco vitórias em seis partidas com direito a uma goleada sobre o Estudiantes-ARG - algoz na final do torneio continental em 2009 -  por 5 a 0.

Com a melhor campanha da fase de grupos, o clube mineiro enfrentou o Once Caldas nas oitavas de final, o pior classificado entre todas as equipes. Mesmo assim, foi eliminado. A partir daí, as coisas começaram a mudar. Com o começo ruim no Campeonato Brasileiro, o técnico Cuca foi substituído por Joel Santana.

"O Joel era um carioca figura, que adorava contar histórias. Ele falava: ‘Vocês não podem fazer as coisas de qualquer jeito. Quando o jogador quer pegar uma gatinha precisa andar bem arrumado. Dentro de campo é a mesma coisa’. Aprendi muito com o Joel", disse.

Mesmo com seu jeito "folclórico" e amigo dos jogadores, os resultados no Nacional não melhoraram. Joel saiu e Vágner Mancini foi contratado para comandar o time celeste até o final do ano. A missão não era mais brigar pelas primeiras posições, mas evitar a queda para a Série B.

"Eles aprenderam muito com aquele campeonato. Se estruturaram melhor antes e conseguiram ser campeões em 2013 e 2014", afirmou.

Com demora para definir a renovação de contrato com o Cruzeiro no final do ano, Naldo acertou sua transferência ao Grêmio no começo de 2012.

"Naquela época eles ficaram um pouco indecisos no que iriam fazer. Não sabia se o Cruzeiro iria ficar comigo e as coisas não estavam evoluindo. Fui para o Grêmio e deu tudo certo", comentou o zagueiro.

• Do ABC para a Espanha

Nascido em Santo André, Naldo foi criado no bairro de São Matheus, zona leste da capital paulista.  Após começar em escolinhas na região, ele foi reprovado em vários testes antes de emplacar no futebol.

"Fui na peneira dos quatro grandes mas sempre fui rejeitado. Até que eu consegui um amigo que jogava no Força Sindical e treinava por lá até pegar um pouco da malícia. Jogava na várzea naquela época.  Passei pelo União Barbarense-SP e Ecus Suzano-SP nos juniores e me profissionalizei. Joguei a 4ª Divisão do Paulista, Copa São Paulo de futebol Júnior e Copa Paulista", disse.

A partir daí, o zagueiro passou por alguns clubes até conseguir se destacar nacionalmente com a Ponte Preta na Segunda Divisão. 

"Depois fui para o Lemense-SP, Cascavel-PR e União São João-SP. Não conseguimos o acesso, mas fui bem nessa A2 do Paulista. Veio a Ponte Preta atrás de mim. Foi um salto bem grande na minha carreira e vi um outro lado do futebol. Já que as divisões inferiores são muito diferentes. Eu joguei bem no Brasileiro da Série B de 2010", afirmou.

Depois da boa campanha e a passagem pelo Cruzeiro, Naldo chegou ao Grêmio em 2012. No novo clube, viu as diferenças do futebol gaúcho para o restante do país, no que lhe ajudou a atuar no exterior.

"O Rio Grande do Sul é um futebol mais pegado e de catimba, um jeito mais argentino de ser. A partir daí consegui abrir portas para fora do Brasil", concluiu.

No mesmo ano, o zagueiro se transferiu ao futebol italiano, sendo negociado com o Bologna-ITA. Ainda passou por Udinese-ITA, Getafe-ESP, Sporting-POR, Krasnodar-RUS até chegar no Espanyol-ESP, sua equipe atualmente.