Ex-Palmeiras e seleção foi lavador de carros e quase desistiu da bola, mas hoje brilha na Itália

Francisco De Laurentiis e Vladimir Bianchini, do ESPN.com.br
OLIVIER MORIN/AFP/Getty Images
Gabriel Silva Genoa Milan Campeonato Italiano 14/02/2016
Gabriel Silva (centro) em ação pelo Genoa contra o Milan: titular absoluto na Itália

Gabriel Moisés Antunes da Silva foi mais um jogador que o futebol brasileiro perdeu cedo demais para a Europa. Lateral esquerdo rápido e habilidoso, virou titular ainda adolescente no Palmeiras e foi campeão do mundo pela seleção sub-20, mas acabou negociado com a Udinese-ITA quando tinha apenas 21 anos. Demorou para se firmar, mas hoje é um dos principais destaques do Genoa, equipe em que atua por empréstimo e que vem em boa fase, com quatro vitórias nos últimos cinco jogos da Serie A.

Nada disso teria acontecido, porém, sem um pouco de persistência, e também de sorte. Bom de bola desde cedo, ele demorou para conseguir se encontrar no mundo do futebol, e teve que dividir seu tempo com empregos "mundanos" antes de ser descoberto no interior paulista e depois no Palestra Itália.

"Eu trabalhava em um posto de gasolina, levava carros para ajudar a família e ganhava uma grana para ajudar em casa. Era complicado, não levava muito jeito, e ainda vinha um carro atrás do outro, tinha que fazer tudo rápido e bem feito. No começo foi difícil, mas depois fui pegando o jeito", lembra Gabriel, hoje com 24 anos, ao ESPN.com.br.

"Aí você chega em casa e vê seus pais na sala decidindo quais contas vai dar para pagar aquele mês, o que vai ter que cortar, passando o maior aperto. Pensei: 'Tenho que ser jogador de futebol para dar uma vida melhor para a minha família'", conta o ala.

O início da carreira, porém, não foi fácil. Natural de Piracicaba, no interior de São Paulo, Silva fez testes no XV de sua cidade e também no Rio Branco, de Americana, mas foi reprovado. Nesta época, pensou em desistir de vez e se aplicar nos estudos.

"Ser jogador sempre foi meu sonho, eu queria muito para poder ajudar a família, mas chegou a um ponto que eu não queria mais. Tinha tentando os testes e não passei, para um garoto é uma decepção muito grande. Até minha mãe falou para mim que era melhor fazer um curso no Senai, mas dentro de mim eu dizia: 'Ainda vou conseguir'", relata.

Tudo mudou em uma noite depois do colégio.

"Tinha quase largado de vez a bola e estava terminando o ensino médio. Um dia cheguei da escola e um amigo falou que estava montando um time pra jogar no clube e que era pra eu ir. Eu fui e arrebentei! O dono do clube gostou muito de mim, mas o técnico não. No fim, ele mudou de ideia eu acabei sendo chamado. Depois, fecharam parceria com o Rio Claro e eu finalmente comecei a carreira como jogador", relembra.

No Rio Claro, não demorou para os olheiros do Palmeiras encontrarem o garoto veloz e habilidoso que chegava à linha de fundo com muita facilidade. Gabriel foi chamado para um teste, caiu nas graças do técnico Jorginho e já acertou sua ida para o Palestra Itália.

Logo que chegou à capital paulista, em 2008, se viu em meio a um time de estrelas e sendo observado por técnicos de renome.

"No Palmeiras foi um aprendizado e um crescimento enorme. É um clube gigante, no qual todos têm uma responsabilidade muito grande, de brigar por títulos todo ano. Quando cheguei, o técnico era o Luxemburgo e tinha várias feras, como Valdivia, Diego Souza, Denílson, e eu era chamado para completar os treinos, era muito legal", conta.

A primeira chance na equipe principal veio em 2010, com Muricy Ramalho.

Cristiano Andujar/Agif/Gazeta Press
Gabriel Silva Comemora Gol Palmeiras Avai Campeonato Brasileiro 18/07/2010
Gabriel Silva comemora gol pelo Palmeiras, em 2010

"O Muricy foi um dos caras que mais me deu tranquilidade para jogar. Meu primeiro jogo foi com ele, contra o Monte Azul, no Paulistão, nunca vou esquecer. Ele falou: 'Meu filho, vai lá e joga tranquilo, sem responsabilidade nenhuma'. E eu correspondi, fui bem!", lembra,

Gabriel Silva caiu nas graças de Muricy e também de Antônio Carlos Zago, Jorge Parraga e Luiz Felipe Scolari, os técnicos seguintes. Em seus anos de Parque Antarctica, teve boas sequências como titular e fez grandes jogos, ao mesmo tempo em que ganhava títulos importantes com a seleção brasileira sub-20.

Não demorou, é claro, para o ala chamar a atenção do futebol europeu. Em meio à temporada 2012, a Udinese levou o garoto, que depois foi emprestado ao pequeno Novara para ganhar experiência e aprender a lidar com a dureza do calcio.

"Com o idioma não tive tranquilidade, até porque tem muitas palavras parecidas, aprendi rápido com as aulas. O que mais 'pegou' foi o frio! A primeira vez que vi neve parecia uma criança (risos). Peguei temperaturas de -15ºC! Mas depois de um ano já estava tranquilo e acostumado", ressalta.

Gabriel não chegou a se firmar na Udinese, e passou ainda por Granada-ESP e Carpi-ITA ainda de chegar ao Genoa, logo no início de fevereiro. De cara, conquistou o experiente técnico Gian Piero Gasperini e assumiu a titularidade da lateral esquerda, atuando também por vezes como meia esquerda em uma linha de quatro no meio.

Valerio Pennicino/Getty Images
Gabriel Silva Genoa Juventus Campeonato Italiano 03/02/2016
Gabriel Silva disputa jogada aérea contra a Juventus

Hoje, o brasileiro está feliz da vida. Poucos anos depois de quase desistir do futebol, ele diz viver um momento especial no Campeonato Italiano.

"Eu estou muito bem no Genoa, acho até que vivo o melhor momento da minha carreira. Eu vim emprestado pela Udinese e não sei o que vai acontecer ao final da temporada, mas pelo que tenho visto nos jornais, acho que eles querem me comprar e ficar comigo aqui em Gênova", revela.

Seu próximo jogo pelo Genoa será neste sábado, às 13h (horário de Brasília), contra o Carpi, pela 33ª rodada da Serie A, fora de casa.

Sucesso na seleção sub-20

Além do sucesso no Palmeiras e agora na Itália, Gabriel Silva também teve bom desempenho na base da seleção brasileira. Ele foi titular nas conquistas do Sul-Americano sub-20 de 2011 e depois também faturou, no mesmo ano, o Mundial sub-20, vencendo Portugal na final por 3 a 2 em uma partida emocionante, com três gols de Oscar, hoje no Chelsea, na competição realizada na Colômbia.

"Foi uma experiência maravilhosa aquela época. Daquele time, vários viraram grandes jogadores, como o Oscar, o Philippe Coutinho, o Alex Sandro, o Dudu, o Fernando, praticamente todos. Foi a melhor seleção de base que peguei. A final contra Portugal foi muito marcante. Antes de entrar em campo, eu lembrei de tudo o que passei e fiquei muito emocionado. É um jogo que vou guardar pra sempre", emociona-se.

Alex Grimm/FIFA via Getty Images
Gabriel Silva Brasil Austria Mundial Sub-20 01/08/2011
Gabriel em ação pela seleção sub-20

Silva também se lembra bem de outro jogo complicadíssimo daquela campanha mundial: as quartas de final contra a Espanha de Isco (hoje no Real Madrid), Koke (Atlético de Madri) e Bartra (Barcelona), entre outros. Após empate por 2 a 2, o Brasil ficou com a vaga nos pênaltis, graças a duas defesas do goleiro Gabriel, hoje no Napoli.

"Achei que contra a Espanha não ia dar pra gente. Eles só naquele toque de bola infernal e a gente correndo atrás dos caras. Até o goleiro deles era ambidestro, tocava a bola bem pra caramba (risos). Foi difícil, mas conseguimos o empate e depois o Gabriel nos salvou nos pênaltis", conta, aliviado.

Hoje, Gabriel sonha em vestir novamente a camisa amarelinha, mas desta vez em uma convocação do técnico Dunga para a seleção principal. Até hoje, ele só defendeu as equipes de base.

"A seleção é o sonho de qualquer jogador. Passei pelas categorias de baixo, e hoje sonho em chegar na principal. Preciso continuar trabalhando duro, jogando bem e confiar em Deus, que as coisas acontecem no tempo dele", encerra.

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