Ex-Santos revela que Ronaldo 'Fenômeno' puxava papo na área só para distrair rivais e marcar: 'Esse Neymar e esse Ganso têm futuro?'

Francisco De Laurentiis e Vladimir Bianchini, do ESPN.com.br

Germano marca Ronaldo Fenômeno na final do Paulista de 2009
Germano marca Ronaldo Fenômeno na final do Paulista de 2009 Gazeta Press

Ronaldo "Fenômeno" foi um dos maiores atacantes da história, se não o maior. Com suas arrancadas, sua finalização precisa com as duas pernas e o posicionamento quase perfeito, ele aterrorizou zagueiros, laterais e volantes de times e seleções pelos quatro cantos do mundo. Mas a pura habilidade e a ginga não eram suas únicas estratégias para deixar seus marcadores na saudade.

Quem conta é o volante Germano, que defendeu o Santos entre 2009 e 2010 e teve a inglória missão de marcar o pentacampeão do mundo na final do Campeonato Paulista de 2009, contra o Corinthians de Mano Menezes. 

Para matar a saudade: delicie-se com alguns gols maravilhosos do aniversariante Ronaldo Fenômeno

"Na final do Paulistão na Vila Belmiro, o jogo estava 0 a 0 e teve um escanteio para eles. Eu estava marcando o 'Fenômeno', e, pouco antes da cobrança, ele virou para mim e perguntou: 'E aí, esse Neymar e esse Ganso têm futuro?'. Aí eu na ingenuidade comecei a responder: 'Rapaz, você precisa vê-los nos treinos e...', só que antes de eu terminar a frase olhei para o lado e o Ronaldo já estava uns sete metros longe de mim, totalmente desmarcado e esperando uma enfiada de bola (risos)", conta Germano, em entrevista ao ESPN.com.br.

O meio-campista admite que foi "vítima" da malandragem de R9, e caiu como um "pato" no papo furado do centroavante na jogada de escanteio.

"Ele me chamou para fingir que queria falar de um assunto, mas o intuito dele era só me distrair e levar vantagem. No fundo, como grande jogador que sempre foi, era claro que ele sabia que Neymar e Ganso eram bons e tinham futuro. Só quis me enrolar mesmo (risos)", diverte-se o volante, hoje em ação pelo Londrina. 

Ronaldo marcou dois gols na final de 2009
Ronaldo marcou dois gols na final de 2009 Getty Images

"Para a minha sorte ele não fez gol nesse lance, mas olha a malandragem do cara! Era pura estratégia. Quando fui ver o posicionamento dele, o 'Fenômeno' já tinha ido embora e estava pedindo a bola. Depois disso, eu redobrei a atenção para não vacilar mais", completa.

Ronaldo, porém, ainda riu por último naquele 26 de abril de 2009. O ex-jogador da seleção brasileira fez dois gols, um deles uma pintura encobrindo o goleiro Fábio Costa, e comandou a vitória por 3 a 1 do Corinthians em plena Vila Belmiro.

"Infelizmente acabamos derrotados, e nessa partida ele desequilibrou, fez dois belos gols. Apesar dessa derrota, considero esse jogo como uma passagem bastante marcante para minha vida e carreira, aprendi bastante. Ainda troquei camisa com o Ronaldo no final e tenho ela guardada até hoje", exalta Germano.

No jogo de volta, os rivais empataram por 1 a 1 e o "Timão" confirmou o título. 

Ronaldo conta que levou socos em campo por ter dito que faria 3 gols, mas cumpriu promessa
  • Da roça para o futebol

Nascido em Toledo, no interior do Paraná, Germano Borovicz Cardoso Schweger passou a infância na pequena São Pedro de Iguaçu, cidade de apenas 5 mil habitantes e de população majoritariamente voltada para o trabalho rural. 

"É uma cidadezinha bem pequena e pacata. Todos se conhecem e trabalham na lavoura. Eu jogava bola aos finais de sábado e domingo, mas trabalhava no sítio a semana toda. Fazia de tudo: capinava, colhia, tirava leite das vacas... Nosso sustento vinha de lá", lembra.

"Foi assim até os 19 anos. Eu estudava em um colégio agrícola, porque minha perspectiva era trabalhar na roça mesmo para o resto da vida. Eu sonhava ser jogador, como Romário, Edmundo, mas era um sonho muito distante para mim. A certeza era que eu seria agrônomo, e minha vida caminhava para isso", afirma.

Mas seu destino estava escrito: ele seria jogador de futebol. Começou no Grêmio Maringá e passou por Toledo e Cascavel antes de chegar ao Londrina, time pelo qual se profissionalizou, em 2001.

Nos anos seguintes, rodou por Gama, Ceará, São Caetano e Vila Nova-GO até chegar ao Atlético-MG, o primeiro clube grande de sua carreira. Pelo "Galo", foi campeão mineiro em 2007 e acabou em seguida se transferindo para o Cerezo Osaka, do Japão, por indicação do técnico Levir Culpi, que lhe comandou em Belo Horizonte e também foi se arriscar no futebol do Oriente.

"Foi uma experiência única e maravilhosa. Tudo era diferente, um jogo muito veloz, mas me adaptei muito rápido e minha família também. Achei que não iria embora de lá nunca mais. Fui volante artilheiro, fiz 14 gols no campeonato, um deles do meio-campo, que acabou sendo eleito o mais bonito do ano", recorda.

"Recebo carinho dos torcedores do Cerezo até hoje. De vez em quando ainda me ligam do Japão para dar entrevistas sobre esse período", suspira. 

Germano começou a carreira no Londrina
Germano começou a carreira no Londrina Gustavo Oliveira/LEC

 Depois da boa temporada em 2008, porém, clubes brasileiros se interessaram pelo futebol do meio-campista, e ele retornou ao Brasil.

"Passei férias na Europa e, no dia 25 de dezembro, meu empresário me ligou para ir no escritório dele. Cheguei lá e ele me disse que estava com uma proposta do Santos. Eu nem acreditei, comecei a chorar na hora. Nem perguntei o salário, falei que podia fechar", relata.

 "O Santos teve o Pelé, maior jogador da história. Nunca imaginei que um dia jogaria no time do 'Rei'. Quando entrei no clube e vi Pepe, Clodoaldo, Zito, Chulapa, todos os heróis de antigamente que meu pai falava, eu me emocionei", conta.

  • A 'geração Neymar' e o retorno ao Londrina

Quando Germano chegou ao "Peixe", foi integrado a um time que faria história.

"Logo que cheguei surgiu a geração do Neymar, Ganso e André. Além disso, o time já tinha Edu Dracena, Léo, Fábio Costa... Eu estava vivendo algo inimaginável na minha vida, muito além do que sonhei quando era moleque. Só com o passar dos dias que fui me acostumando e colocando os pés no chão", rememora. 

Germano também jogou no Coritiba
Germano também jogou no Coritiba Gazeta Press

Na Vila Belmiro, o volante conquistou o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil em 2010.

"Realizei meu sonho de ser campeão com a molecada e consegui dar minha contribuição. Mas perdi um pouco de espaço com o Dorival Jr e, assim que acabou a Copa do Brasil, me transferi para o Sport. Até tinha contrato com o Santos para 2011, mas resolvi seguir a minha vida", recorda.

Germano defendeu o "Leão" entre o meio de 2010 e abril de 2011, quando rescindiu com a equipe do Recife. Ficou um bom tempo ser jogador e chegou a pensar em parar, mas resolveu tentar dar a volta por cima.

"No final de 2012, pedi para treinar no Londrina e fazer pré-temporada enquanto esperava alguma proposta. Precisava estar em forma se alguma coisa chegasse. Eles autorizaram e eu comecei a treinar. Só que aí veio o convite do Sérgio Malucelli [gestor do clube] para jogar o Estadual, e eu topei", conta. 

Explode coração! Veja como, nos braços do povo, o Londrina quebrou um jejum nacional de 37 anos

Em 2013, Germano ressurgiu. Fez um ótimo Campeonato Paranaense e uma boa Série C pelo "Tubarão", acertando depois sua transferência para o Coritiba, retornando à Série A do Brasileirão.

Em 2015, voltou mais uma vez ao Londrina e conseguiu o acesso à Série B do Brasileiro. No ano seguinte, por pouco não levou o clube à elite nacional: "Quase subimos, faltaram só três pontos para o G-4. Fiz 36 jogos e 11 gols na temporada, uma das melhores da minha carreira. Foi um ano muito especial", salienta. 

Germano ganhou Primeira Liga com o Londrina
Germano ganhou Primeira Liga com o Londrina Gustavo Oliveira/ Londrina Esporte Clube

Neste ano, ele mostrou que a maré continua boa e ganhou a Primeira Liga com a equipe paranaense, em cima do Atlético-MG, seu ex-clube. No entanto, o veterano acabou não jogando a finalíssima, já que estava suspenso.

Aos 36 anos, ele não pensa em parar, e também não tem ideia do que fará depois do futebol.

"Vivo um dia de cada vez... Sei que uma hora a parte física vai pesar, mas não me vejo parando pelo menos nos próximos dois anos. Não quero me enganar e nem o clube que estou defendendo. Também não quero sair do Londrina, pretendo até me aposentar por aqui. E não tenho histórico de lesão grave na carreira, sempre consegui jogar em alto nível e me recuperar bem entre os jogos", ressalta.

"Ainda não decidi o que vou fazer depois que pendurar as chuteiras. Só sei que não quero sair do meio do futebol", encerra.

Comentários

Ex-Santos revela que Ronaldo 'Fenômeno' puxava papo na área só para distrair rivais e marcar: 'Esse Neymar e esse Ganso têm futuro?'

COMENTÁRIOS

Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.