‘Não posso, tenho treino’; seus amigos ainda te chamam para sair?
Ontem fiz uma entrevista com uma lutadora do UFC (publico no espnW.com.br em breve) e ela me disse uma coisa que, como jornalista, eu não podia (eticamente) responder “sei como é”, mas talvez eu tenha dito disfarçadamente. Ela disse algo do tipo: "eu tive que mudar a minha rotina, não posso ficar saindo e tal"; e eu disse "seus amigos nem te chamam mais, né?". E ela concordou. [I know what you feel, bro].
É exatamente isso que acontece quando você opta por ter uma vida de atleta. Você precisa estar disposto a se abdicar de algumas coisas para que outras venham. E não é fácil, mas claro, deve ser prazeroso. Esse papo com a lutadora me fez pensar em algumas coisas que eu abri mão de fazer para estar treinando, tendo como gancho também a 'famosa' frase de uma grande amiga (que me chama para sair às vezes): "Má, você sabe que tem uma vida dupla, né?" (obrigada, Giovanna Sayuri, por sempre me lembrar que eu não vivo para isso nos meus momentos de desespero). Então vamos lá!
Quem me conhece sabe que eu não sou atleta profissional. Eu faço jiu-jitsu única e exclusivamente porque eu gosto. Vejo nele uma motivação, aprendo muito, não apenas dentro, mas fora do tatame. O jiu-jitsu me ensina muito! São coisas que eu nem percebo, mas que, quando vejo, já estou aplicando na minha vida 'out'.
Eu sempre digo que o meu maior objetivo não é ser uma campeã mundial, eu teria que abrir mão de algumas coisas que não estaria disposta, embora eu saiba que já abro mão de várias. Mas algo que eu não largaria, por exemplo, é o meu trabalho. E na minha cabeça, eu faço um treino de manhã e outro a noite e isso é cansativo, mas o mais cansativo mesmo é estar dentro de uma empresa durante, pelo menos, 8 horas do meu dia. Essas 8 horas, caso eu decidisse lutar um mundial, teriam que ser convertidas em treinos, porque eu sei que enquanto eu estou trabalhando (e foi uma escolha minha e eu adoro), minhas adversárias estão treinando, descansando e se focando naquele objetivo. Mas ok, isso foi só uma introdução.
"Não posso, tenho treino". Quantas vezes você já repetiu essa frase? Quantas vezes deixou de ir em algum aniversário de família porque precisava treinar? Quantos sábados deixou de sair com seus amigos porque tinha campeonato no domingo de manhã? Quantas vezes não pôde sair porque tinha um treino específico que não poderia perder?
Isso para mim é algo muito natural. Sério, é absurdamente natural dizer que tenho treino porque eu, de fato, tenho. É meu compromisso. Eu preciso estar na academia de segunda a sexta, em X horário para fazer o que me prontifiquei a fazer. E se eu escolhi, preciso fazer bem feito. Ninguém nunca me chamou de canto para falar: "Então, Mayara, você não pode sair hoje porque precisa treinar", mas é algo que você percebe com o tempo que precisa conciliar e, deixar algumas coisas de lado, é necessário. Por isso, deixo de lado as coisas que estão ao meu alcance.
No início desse ano, uma das minhas resoluções foi que eu podia abrir mão de um dia por mês de treino caso quisesse fazer alguma coisa pessoal. E, ainda assim, tem sido difícil para mim, porque quando vejo, o mês já passou. Treinar para mim é prazeroso, embora seja algo mecânico. Parece que todo meu subconsciente está programado para fazer isso, que meu carro já vai fazer o caminho da academia sozinho, que meu kimono vai entrar na minha bolsa por força do pensamento... É quase isso, porque eu faço e nem percebo.
Mas sim, seus amigos começam a te deixar de lado. E você começa a perceber que poucos sobraram. Aqueles amigos que antes te chamavam para "o rolê", hoje parecem ter preguiça de te chamar porque já sabem que você vai ter uma "desculpa" e dizer "não". Eu já tenho até vergonha de falar que vou treinar - sério, hahaha. Mas eles sabem. E não tem problema, desde que te respeitem (e os meus me respeitam, muito).
Se eu já fui em happy hour do trabalho? Em seis anos e meio de empresa, eu digo que nunca (mentira, eu fui em uma confraternização em dezembro de 2017, a Gigi lá de cima que me lembrou). Eles antecedem meu treino. E por mais que as pessoas falem sobre isso, me parece que elas já estão acostumadas em simplesmente não me chamar. Às vezes eu realmente sinto vontade de ir, mas eu fico pensando como vai ser em um mês, quando eu estiver em uma competição e as opções são matar ou morrer.
E sim, minha família me cobra e ela é minha prioridade, mas se no começo era muito estranho entender que eu precisava estar treinando em todo meu tempo livre, hoje para eles é mais estranho se eu não estiver treinando. Quando eu não treino, meus avós me perguntam se estou doente, de verdade hahaha.
Muitas vezes você deixa de fazer as coisas não por querer, mas por estar cansado. Quem treina, sabe: o corpo sente, muito. É cansativo e exaustivo. E muitas vezes, você só quer deitar e descansar. E mais do que uma escolha, descansar é uma necessidade extrema que geralmente, não fazemos como deve ser feito: já parou para pensar quantas horas por noite você dorme?
Mas o que tenho a dizer desse 'blá blá blá' todo é que você precisa se permitir. Não tem problema se algum dia sua cabeça não estiver boa e você precisar faltar. Não tem problema se uma dor te impedir de treinar naquele dia. E também não tem problema se você optar por não ir para tomar alguma coisa com os amigos (mas não abuse). Mas você precisa ter e manter o foco. E precisa ter a cabeça boa o suficiente para entender que não pode relacionar qualquer derrota ao fato de ter 'falhado' uma vez.
Curta sua jornada. :) E obrigada, amigos, por me chamarem para sair às vezes, mas por entenderem meus 'nãos' <3
‘Não posso, tenho treino’; seus amigos ainda te chamam para sair?
COMENTÁRIOS
Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.