O incompreensível ódio por Abel Ferreira
Os termos “idiota” e “boçal”, usados por Paulo Roberto Martins para criticar o técnico Abel Ferreira, a quem o comentarista classifica como “uma desgraça de ser humano”, foram apenas parte de mais um episódio entre os tantos que têm tratado o treinador português do Palmeiras de maneira não apenas desrespeitosa, mas violenta.
Antecipo-me, antes de prosseguir no tema, para dizer que discordo da postura da diretoria palmeirense ao vetar entrevistas para a rádio Transamérica “enquanto o comentarista fizer parte do quadro da emissora”, conforme informa o UOL Esporte nesta terça-feira (15).
Embora o ato agrade boa parte da torcida e não seja prática rara no universo do futebol brasileiro, pedir cabeças de profissionais não deveria fazer parte do procedimento de clubes, que têm muitos caminhos para cobrar e eventualmente penalizar um profissional por seus excessos – começando pela recusa em conceder-lhe entrevistas e chegando às vias jurídicas.
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Dito isso, é preciso tentar entender: por que tanto ódio por Abel Ferreira? Por que as críticas ao treinador do Palmeiras têm passado do ponto tão frequentemente, extrapolando o que acontece no campo?
Ser um técnico vitorioso, como Abel passou a ser desde que chegou ao Palmeiras, não deveria lhe garantir imunidade em relação às críticas, que, porém, seguiram em volume e contundência surpreendentes para um treinador cujos méritos nas conquistas são tão evidentes quanto a qualidade técnica superior de adversários que ele eliminou em seus títulos.
Mas isso pouco interessa. Criticar Abel, suas estratégias, escalações e modelo de jogo é um direito de quem quer que seja, e cabe a quem consome essas críticas concordar ou não com elas e com as motivações e justificativas de quem as elabora. Faz parte do jogo.
Bem mais surpreendentes e inexplicáveis são as críticas furiosas, cheias de veias saltadas, perdigotos e excessos verbais, que dizem respeito aos aspectos pessoais de Abel Ferreira; ou as críticas que condenam suas ótimas entrevistas coletivas e seu posicionamento sempre claro e firme contra o que há de pior no futebol do Brasil.
Exceção feita aos seus arroubos e indiscutíveis exageros contra a arbitragem na beira do gramado, onde Abel é apenas mais um entre tantos por aqui, o treinador português vai prestando inestimáveis serviços ao futebol brasileiro – e não apenas ao Palmeiras.
Afinal, não é bom ter quem nos ajude a perceber a forma violenta e tóxica com a qual temos nos relacionado com o futebol, ainda que para isso tenha que criticar seu próprio torcedor? Não queríamos alguém relevante que falasse constante e contundentemente contra o insano calendário da CBF sem temer retaliações? Não é positivo que um técnico faça questão de explicar suas escolhas da forma como ele faz, falando sobre futebol e deixando inclusive um livro publicado a esse respeito? Não é bom, em meio à nossa ode à ignorância e malandragem, ver celebrado um treinador obcecado pelo trabalho, aplicado e estudioso? Além de tudo isso, um sujeito que é tão exaltado por faxineiros, cozinheiros, roupeiros e seguranças do clube pode mesmo ser essa “desgraça de ser humano”?
Abel Ferreira não é perfeito. Já cometeu seus deslizes em coletivas, exagera na beira do gramado e, para muitos, recua o time mais que o necessário. Mas não há como negar: para o futebol brasileiro, o saldo de sua passagem é muito positivo.
Por que, então, o técnico português sofre o tipo de crítica que tem sofrido, com tanta contundência e continuidade? É a simples busca de audiência em cima de um personagem relevante? É por ser estrangeiro? É a praga do clubismo? É por se contrapor a um modelo que consagrou figuras relevantes e ultrapassadas, mas ainda bem relacionadas?
Difícil dizer. O ódio por Abel Ferreira é incompreensível.
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