No Brasil, Argentina traz ares de futebol de clubes à Copa do Mundo
Há quem acredite que o verdadeiro apaixonado por futebol é aquele que se interessa pelo tema diariamente, em todos os anos durante o ano todo, e não quem se atrai pela modalidade a cada quadriênio, apenas na disputa de uma Copa do Mundo.
Pode até ser. Mas ainda que seja assim, vale fazer a ressalva do quanto é empolgante, para quem ama futebol, vê-lo atraindo para si todos os holofotes do noticiário mundial durante um mês inteiro a cada 1.500 dias.
Em quase qualquer país do planeta, uma das principais diferenças entre o futebol doméstico para a Copa do Mundo costuma ser a ausência da rivalidade, da tiração de sarro constante, aquele prazer de desfrutar da derrota de um rival tanto quanto da sua própria vitória.
Numa Copa do Mundo, o marcante costuma ser a união nacional em torno de uma única equipe, enquanto a preocupação com o outro, tão comum entre os torcedores de clubes, perde completamente espaço.
Não no Brasil.
Passadas pouco mais de 24 horas da derrota da Argentina para a Arábia Saudita em sua estreia da Copa do Mundo, a constatação se torna evidente.
Poucos minutos após o incrível gol da virada marcado por Al-Dawsari, o tema já dominava as redes sociais dos brasileiros, atingindo todos os trending topics e recheando de memes nosso universo virtual.
No mundo real, apesar do horário ingrato para um jogo de futebol, gritos, cornetas e até fogos de artifício puderam ser ouvidos em bairros das mais variadas cidades brasileiras.
Um brasileiro maluco se meteu no meio da fun fest em Buenos Aires para acompanhar ao jogo entre argentinos e árabes com uma camisa do Brasil escondida sob o casaco.
Galvão Bueno, o maior narrador de TV da história do país e talvez um dos principais responsáveis pela geração dessa rivalidade por aqui, divulgou vídeos nos quais vibrava com o resultado do jogo.
Veículos de comunicação, mesmo os supostamente jornalísticos, deixaram a compostura de lado (em alguns casos perdendo a mão nos termos utilizados) para comemorar a derrota dos vizinhos.
Até mesmo uma propaganda de 'pipoca', já engatilhada para o caso de um eventual tropeço dos hermanos, pode ser vista no intervalo do Jornal Nacional, o telejornal de maior audiência do país.
É um caso único no mundo.
Peguemos, por exemplo, a rivalidade entre as duas maiores, mais tradicionais e mais vencedoras seleções europeias: Alemanha e Itália cansaram de se enfrentar em duelos decisivos e já fizeram até final de Copa do Mundo. A Alemanha já ganhou uma Copa jogando na Itália, a Itália já ganhou uma Copa jogando na Alemanha, mas não há paralelo possível com o que ocorre entre Brasil e Argentina, naquilo que uma derrota do rival pode gerar.
Há, sim, outras rivalidades muito significativas, casos em que o fracasso de uma seleção específica causará enorme satisfação, mas nesses casos encontraremos, em geral, razões históricas que extrapolam o futebol, como ocorre entre a mesma Argentina e a Inglaterra ou, eventualmente, entre franceses e ingleses.
Brasil e Argentina só precisaram do futebol para gerar a rivalidade da qual desfrutam. E, sim, apesar de alguns exageros eventuais, é esse mesmo o verbo: desfrutam. Como vimos na terça-feira.
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