Maior jejum da MLS, concorrência com o futebol americano e dirigente brasileiro: como o FC Dallas vai em busca do inédito título nos EUA
Dez clubes disputaram a temporada inaugural da Major League Soccer em 1996. Três jamais ficaram com o título da competição e, destes, somente dois estão classificados para os playoffs que começam neste final de semana. O New England Revolution é quem ficou de fora da festa do futebol nos Estados Unidos; enquanto isso, FC Dallas, ex-Dallas Burn, e New York Red Bulls, antigo NY/NJ MetroStars, tentarão dar fim ao jejum de 26 anos sem a MLS Cup. Entre tantas diferenças existentes nos modelos de gestão das duas franquias, uma das principais está no comando (brasileiro) do futebol.
André Zanotta, de 42 anos, chegou ao Dallas em janeiro de 2019 e assumiu o cargo de Diretor Técnico, após passagens por Grêmio, Sport e Santos, onde sobreviveu a três trocas de presidente. Advogado de formação, sempre quis atuar no ramo esportivo e, após cursar o FIFA Master, ingressou no Atlante, do México; posteriormente, trabalhou na Traffic já no Brasil. Hoje em dia é ele quem toma as principais decisões envolvendo contratações, dispensas e todo planejamento do departamento de futebol. O contato inicial foi feito por um dirigente do Dallas, que o conhecia dos tempos de Traffic, na época em que André estava no Grêmio e negociava o zagueiro Bressan com a equipe norte-americana.
"Há um bom mercado para sul-americanos e europeus, buscam profissionais especializados, já que o futebol aqui não tem a mesma popularidade de outros países. Por mais que o futebol tenha crescido muito nos Estados Unidos, graças à MLS. Contratam pessoas que possuem conhecimentos de grandes centros onde o futebol é muito forte, para levar experiência e cultura para dentro dos clubes", conta André Zanotta, que não é o único dirigente brasileiro atuando na MLS. A liga já teve um proprietário de franquia, Flávio Augusto da Silva, oriundo do Brasil e que em 2021 vendeu o Orlando City. Na equipe, de qualquer modo, continuam Luis Muzzi, Gerente Geral, e Ricardo Moreira, Diretor Técnico. Há outros exemplos, em cargos variados também, como Bruno Paschoalini, que coordena toda estrutura da Academia do Charlotte FC.
Uma das principais mudanças que o dirigente brasileiro sentiu na mudança para a MLS foi a ausência da política nos bastidores das equipes. O FC Dallas pertence à Hunt Sports Group, que também é proprietária do Kansas City Chiefs na NFL. "A gente acaba, no Brasil, ficando acostumado à quase irracionalidade da pressão política externa e do ambiente tão carregado. Aqui são dois donos, há uma linha de trabalho definida há muitos anos e eu tenho que me adaptar a isso", afirma André. Além disso, há também várias particularidades que tornam a MLS uma liga muito diferente de tantas tradicionais mundo afora - como o Draft, as possibilidades de trocas sem consentimento dos jogadores e os limites salariais.
Luta nos playoffs
O Dallas foi o terceiro colocado na Conferência Oeste nesta temporada. A equipe do técnico espanhol Nico Estévez enfrentará o Minnesota United na primeira rodada dos playoffs, em jogo único, nesta segunda-feira no Toyota Stadium, localizado em Frisco, região de Dallas. O estádio, inaugurado em 2005 e com capacidade total para 20.050 torcedores, é totalmente dedicado ao futebol e em 2022 teve média de 16.469 nos jogos do Dallas pela MLS. Para o jogo contra o Minnesota, não há dúvidas que a casa estará cheia, mas a tarefa da diretoria do Dallas é complicada na região, onde o futebol americano é a maior paixão.
"A maior parte da temmporada da MLS não coincide com a NFL, mas agora que começou, ajustamos nossos horários de jogos para não baterem com o Dallas Cowboys, um dos times mais populares do país. Além disso, o esporte universitário aqui é muito forte. Aqui dentro do Dallas mesmo, em pesquisas, quando perguntamos qual é o seu time favorito, respondem Texas A&M, que á e universidade. Esses jogos de futebol americano universitário levam mais de 100 mil pessoas para o estádio". O ponto positivo da relação com as outras equipes da cidade é a inteação e a própria "troca" de torcedores. Nas redes sociais, é comum os Cowboys, os Mavericks na NBA, os Stars na NHL ou o Texas Rangers na MLB.
Além disso, há ainda o relacionamento com a enorme presença de latinos no estado. "Estar no Texas é um diferencial competivivo muito grande para nós. A cultura de futebol aqui, por causa da comunidade latina, é muito forte. Temos escolinhas de seis a 14 anos com quase quatro mil alunos. Encontramos talentos bem mais fácil do que times em outras regiões dos Estados Unidos. Flórida e Califórnia são regiões parecidas nesse sentido".
Perfil da liga
Por muito tempo a Major League Soccer investiu em estrelas com idade mais avançada. Isso mudou há alguns anos, principalmente com o Atlanta United buscando jovens talentos na América do Sul, casos de Miguel Almirón (hoje no Newcastle), Ezequiel Barco (emprestado agora ao River Plate) e Pity Martínez (negociado com o Al Nassr-SAU). Alguns veteranos ainda chegam, casos recentes de Gareth Bale e Giorgio Chiellini no LAFC, time de melhor campanha na temporada regular em 2022, mas não é mais a regra. "Esse é um fator muito importante no crescimento da MLS. A liga foi vista por muito tempo, e ainda é um pouco, como a liga onde os jogadores vão para se aposentar. Muitos jogadores ainda enxergam assim. Eu mesmo recebo mensagens com bastante frequência de jogadores veteranos pedindo uma oportunidade para vir para cá. Vejo uma mudança no comportamento dos agentes também, que veem a liga como um bom degrau antes de dar um salto para a Europa", diz André Zanotta, que lembra a qualidade de vida oferecida pelos Estados Unidos como outro diferencial.
O atual campeão, New York City, terceiro colocado na Conferência Leste neste ano e que enfrentará o Inter Miami na primeira rodada dos playoffs, possui alguns jovens brasileiros. Gabriel Pereira, de 21 anos, ex-Corinthians, estreou pelo clube com oito gols e três assistências em sua temporada inaugural. Talles Magno, ex-Vasco, de 20 anos e desde 2021 no clube, foi um dos destaques do time com sete gols e oito assistências. Nenhum, no entanto, brilhou mais do que Brenner, 22 anos, ex-São Paulo, que marcou 18 gols pelo Cincinnati, além de seis assistências, e é a principal arma de seu time contra o New York Red Bulls nos playoffs.
A missão do FC Dallas é muito difícil, já que o time não está entre os favoritos ao título da MLS neste ano - grupo liderado por Philadelphia Union e LAFC. Em 2010 a franquia foi vice-campeã, batida pelo Colorado Rapids na final; já em 2016, quando obteve a melhor campanha na temporada regular, não chegou na decisão. Os playoffs da liga norte-americana são cruéis, com jogos eliminatórios logo na primeira rodada. As semifinais são disputadas em duas partidas, enquanto a decisão volta a ser em um único jogo. "Playoff é um campeonato totalmente à parte, muito cruel. Já vimos surpresas antes na MLS... Estamos com um time forte e os jogadores acreditam muito que é possível. Espero que, na próxima vez que conversarmos, seja com o título", finaliza e deseja André Zanotta.
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