‘Counter-Strike’: Lokinha relembra vice-mundial em 2004 e fala sobre pioneirismo das Ladies

Roque Marques/ESPN.com.br

Lokinha (direita) e 1004 quase foram campeãs mundiais antes dos homens
Lokinha (direita) e 1004 quase foram campeãs mundiais antes dos homens UOL JOGOS

Quando o país ainda era coadjuvante em torneios internacionais de Counter-Strike, um quinteto de mulheres ficou a poucos instantes de conquistar o mundo. Na Electronic Sports World Cup 2004, as Ladies fizeram história.

A equipe terminou com o vice-campeonato da competição - considerada um dos majors da época -, feito nunca antes realizado por nenhuma equipe verde e amarela.

Uma das protagonistas da equipe, Claudia “Lokinha” Miranda relembrou os passos das Ladies, falou sobre pioneirismo, legado e contou como eram os esports para as mulheres.

“Não achávamos que íamos chegar tão longe. Não tínhamos muita ideia do que era o cenário feminino fora do Brasil”, afirmou a ex-jogadora em entrevista ao ESPN Esports Brasil.

“A preparação foi bem séria, treinamos quase todos os dias com um treinador e começamos do zero. Todas as meninas jogavam, mas sem embasamento técnico. Treinamos coisas absurdas, como movimentação nos mapas, pulos e compra de arma mais rápida”, continuou Lokinha.

Em 2004, a ex-jogadora contava com a parceria de Natalia "Nath" Ko, Michelle “1004” Jang, Paula “Cookie” Nishimura e Leticia “Le” Nagao. No ano seguinte, com Adriana “Dri-k” Song no lugar de Lokinha, as Ladies foram vice da ESWC novamente. Ela retornou ao torneio, disputado na França em 2006 e 2007 , mas a equipe não avançou da fase de grupos.

Hoje, aos 34 anos, a arquiteta de formação ocupa um cargo diretivo de uma construtora. Lokinha disse que acompanha pouco dos esports e costuma ver “uma coisa ou outra” na TV.

Cenário feminino na época

A ex-jogadora afirmou que o cenário feminino da época era bem restrito, já que poucas jogadoras estavam dispostas a seguir a carreira profissional: “O espaço era muito menor do que dos homens. As meninas não se dedicavam tanto, não abríamos mão de tudo para jogar. Hoje em dia deve estar um pouco melhor. Era mais restrito”.

“Eu acho que o segredo maior das Ladies era treinar só com homens. O nível de dedicação era muito maior que o feminino, então a gente tentava disputar com eles para aprimorar”, completou.

Disputa da ESWC 2004

Lokinha relembrou uma série de histórias de Paris, local de disputa do torneio. Patrocinadas pela AMD, as jogadoras embarcaram para França e encontraram um nível que  surpreendeu.

“Não tínhamos ideia do que iríamos encontrar e percebemos que éramos bem boas em relação aos outros. Começamos a perceber que as adversárias não eram tão boas assim”, afirmou.

Na fase de grupos, as Ladies terminaram em segundo no Grupo 4, vencendo FGirl, SCEE e perdendo para a líder Les Seules. Na fase 2, outro segundo lugar, após empatar com all 4 one e Girls Got Game e vencer a catz.

Na semifinal, a equipe encarou a EIBO, equipe chinesa que ainda não tinha perdido.

“Morremos de medo e foi um placar bem apertado”, lembrou Lokinha. “Ali foi um divisor de águas e acreditamos de verdade e que éramos o melhor time”, completou.

No duelo decisivo, as brasileiras acabaram derrotadas pela dinamarquesa all 4 one por 13-10 na Dust2. Lokinha relembrou de uma passagem curiosa - e decisiva -, da partida

“O servidor do Ventrillo [usado para a comunicação da equipe] caiu. Havíamos  perdidos uns 2 ou 3 rounds e ele não voltava. Pedimos para reiniciar os rounds e eles não quiseram. Jogamos sem comunicação, ficamos sem dinheiro e tivemos que fazer um eco de CT. Compramos mal e perdemos, aí [quando o Ventrillo] voltou, já não tínhamos mais ânimo”, contou a jogadora.

Com o vice, as Ladies levaram US$ 6 mil para casa.

Reação da comunidade e familiares

A ex-jogadora afirmou que a volta ao Brasil foi bem prestigiada e ela e suas companheiras passaram a ser respeitadas.

“Começou a rolar um respeito. Foram todos os times, foi a Intel com as Meninas de Brasília, o MIBR, e ninguém chegou na final, só a gente. Começaram a nos levar mais a sério”, contou.

Lokinha disse que a visibilidade e o apoio dos familiares também aumentou: “Eu acho que começaram a perceber que não era só diversão, que tinha responsabilidade atrás disso”.

O legado das Ladies

Ao final da entrevista, Lokinha destacou o grande legado deixado por ela e suas companheiras.

“Questão de treinamento, disciplina e forma de conduzir o time eu não tenho dúvida que fizemos corretamente. O maior exemplo disso é que no cenário feminino até hoje, 13 anos depois, as pessoas continuam perguntando, dando referência da gente. Fomos assertivas na forma que conduzimos o time. Levamos como profissão e não brincadeira”, afirmou.

“Talvez eu me posicionaria melhor num momento onde a gente enfrentasse algum problema. Nos defenderia melhor, aceitaria menos”, completou a ex-jogadora.

Lokinha que a equipe nunca perdeu jogando no Brasil e que todas as conquistas “nos enchem de orgulho. Fizemos muito com tão pouco”.

A jogador inclusive, revelou que as Ladies foram essenciais no título do MIBR na ESWC 2006 - o primeiro mundial do Brasil -, mas não quis contar a história: “Fica para uma outra entrevista”.

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