A importância da saúde mental para atletas de alto rendimento
Quantas vezes você já ouviu falar que para você fazer algo extraordinário precisa se dedicar 100%? Como atleta há quase vinte anos, ouço isso praticamente todos os dias. Tudo sempre foi sobre: "você não pode, tem treino", "você não é igual aos outros, precisa ser focada", "se o resultado for ruim, a única culpada é você", "não posso, tenho treino." Perceberam quantas vezes o "não" é recorrente? Pois bem, viver uma vida de privações é para poucos mesmo, você precisa ter consciência na hora de escolher sua profissão. E como ter essa consciência aos 5 anos ou até mesmo, quando você recém terminou o ensino médio? Escolha complexa, não?!
Me lembro bem quando tinha por volta dos meus 7 anos, quando minha família aos finais de semana ia ao parque aquático, eu não gostava de ficar na piscina das crianças, sempre acompanhava meu pai na piscina de salto. Ficava fazendo ondulações de um lado para o outro, enquanto isso ele saltava e minha mãe, concentrada em mim, sempre falava que eu parecia uma sereia. Talvez minha mãe tenha visto algo que ninguém até então tenha percebido, minha paixão por piscinas, por me exibir na piscina dos adultos rs. Na infância é tudo tão natural, sempre ouvimos falar que criança não mente. Então seria inteligente perguntar a essa mesma criança qual profissão ela gostaria de seguir, mesmo sem ela saber quais seriam suas abdicações, fracassos e dor ao decorrer da vida?
Um outro momento que lembro bem, foi quando entrei para aula de natação, na época não se falava sobre esporte para pessoas com deficiência, tão pouco sobre paralimpíadas, mas minha mãe achava que me faria bem algum tipo de exercício, e assim comecei. Pouco tempo depois, minha mãe preocupada com minha evolução nas aulas, pediu ao professor que me orientasse melhor, porque meu tempo era diferente, o professor se negou, foi assim que minha mãe me tirou da natação. Quando retornei as piscinas tinha meus 12 anos, já não era por diversão, foi por orientação medica. Não preciso dizer que aquela paixão adormecida por alguns anos, retornou mais viva do que nunca. O ambiente era completamente diferente da antiga escolinha do Sesi/Crato, morávamos em Natal/RN, estado conhecido por ter os maiores nadadores paralímpicos na época. Comecei de mansinho, fui aprendendo a ter mais domínio do meu corpo na água, um ano depois estava competindo; "me exibindo por todo lado", há quem diga que era um sonho de menina, talvez isso seja verdade, mas ainda não sabia o que estava por vir.
Sabe quando você começa a entender aquela historinha do "você não pode, tem treino"? Foi por volta dos meus 15 anos, treinando para o meu primeiro mundial, enquanto comia pela primeira vez um hambúrguer, que ouvi o NÃO. "Não pode comer besteira Edênia, você é atleta." Foi bem ali que descobri que seria o primeiro não de muitos; não para festas, não para finais de semana, não até para namoro.
Nunca questionei, sabia que para chegar no topo do mundo teria que viver só para o esporte, ou pelo menos é assim que somos ensinados no meio esportivo. O que ninguém fala é que você é um ser humano e não pode se privar de tudo o tempo todo. Dá mesma maneira que viver somente para o esporte pode trazer medalhas e glamour, pode desencadear depressão, ansiedade, causar transtornos psicológicos graves, inaptidão social, competitividade desmedida. Um grande exemplo disso é o Michael Phelps, o maior fenômeno do esporte mundial, em seu livro ele relata não ter perdido uma só sessão de treino num ciclo olímpico, porém depois de se aposentar declarou ter depressão, que lutou duro para superar essa fase, chegando até tentar o suicídio. Confesso que foi depois dos relatos do Michael, que comecei a pensar na minha saúde mental, do que seria saudável dentro dos meus limites de atleta, fazer para não cair na pressão mental que é viver no esporte. Passei a observar outros atletas, suas rotinas, o que na minha rotina poderia ser diferente. Não queria passar horas jogando games que estimulassem mais minha competitividade e me privassem de conviver com outras pessoas, também não queria passar horas assistindo series de TV, apesar de ser outra grande paixão.
Quanto mais historias de atletas com depressão surgiam, mais questionava tudo. Passei a ler sobre Coaching, PNL, biografias de atletas e com isso meu desejo por autoconhecimento só aumentava. Nesse meio termo, descobria que convivi com a ansiedade durante toda minha vida, momento muito difícil. Tempos depois decidi fazer um curso de meditação transcendental, me ajudou bastante na busca da consciência e redução do estresse e com isso minha recuperação pós treino.
O ponto máximo nessa descoberta foi quando me formei em Coaching, lá comecei a entender que o ser humano é mais complexo do que imaginamos, não existe uma receita pronta para o sucesso, não é só se dedicar 100% ao trabalho. Isso é uma crença que nos limita! E sendo limitados, os resultados também não serão duradouros. Temos a necessidade de conviver em sociedade, se queremos tanto um bom desempenho, precisamos de tempo de lazer e tirar um tempo com a família, com amigos é fundamental. Me atrevo a dizer que ter amigos que não estejam só no esporte é algo que me ajuda muito, os assuntos são diversos e fora do meio esportivo! Terminei o curso determinada a mudar meus hábitos, passaria a priorizar meus momentos de descanso sem me culpar, sem achar que minhas adversarias estariam treinando, passei a me entender melhor.
Bom estou no começo do caminho dessa descoberta do ponto de equilíbrio para manter minha saúde mental dentro do alto rendimento. Convido a todas a fazerem o mesmo!
A importância da saúde mental para atletas de alto rendimento
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