Pois Neymar segue com a minha simpatia
Me conta a ESPN em seu site que o jornal Le Parisien publicou nesta quarta-feira um texto onde aponta os vários privilégios de Neymar no PSG. De poder usar mala de viagem do patrocinador pessoal a ter dois fisioterapeutas brasileiros exclusivamente para cuidar de seus músculos. E recomendações para ninguém chegar junto e pegar pesado com ele nos treinos.
Também leio que, um dia antes, o volante Anguissa, do Olympique de Marselha, admitiu que o técnico Rudi García orientou seus jogadores a provocar Neymar no clássico de domingo, que terminou com o placar de 2 x 2 e o brasileiro expulso. Num arroubo de sinceridade, Anguissa declarou ao L’Equipe: "Minha função era ficar 'cutucando' Neymar. O treinador me alertou que ele é um talento enorme, mas pode ficar louco. Essas foram as instruções e nós, definitivamente, pegamos mais pesado com ele do que com o resto dos jogadores.”
Antes de tomar o segundo cartão amarelo e, consequentemente, o vermelho, Neymar havia sido cutucado também pela selvagem torcida do Marselha, que ficou por alguns minutos atirando coisas sobre ele, impedindo-o de cobrar um escanteio. Menos mal que fossem copos de plástico e bolinhas de papel e ele não seja tão sensível como aquele patético candidato careca a presidente de miolo mole... Mas a violência do ato de ser alvejado persiste, independentemente de serem objetos de papel ou de chumbo. Como nos aeroportos brasileiros, há também torcedores selvagens nos estádios franceses, sabia?
E vamos ao lance da expulsão. Neymar havia tomado um amarelo por ter feito uma falta por trás. Não houve violência, mas o cartão pode ser considerado adequado. No segundo amarelo, finalzinho do jogo, ele avança com a bola, entre dois adversários, toma um rapa, levanta-se para continuar o lance e, quando o juiz soa o apito, negando-lhe a vantagem, vem Ocampos e lhe dá um covarde pontapé por trás. Neymar se levanta revoltado, dá uma peitada requenguela no argentino, que despenca teatralmente no chão. Junta o bolinho ao redor dos dois, que logo se acertam, cumprimentando-se. O árbitro chega, dá amarelo para Ocampos e Neymar, mostrando o vermelho ao brasileiro na sequência. Não precisava. O brasileiro dá um sorrisinho, umas três palminhas curtas e sai de campo tranquilamente.
Casão disse que Neymar está conquistando a antipatia mundo afora. E muito se discutiu que essa rejeição seria um pacote de coisas, que inclui as saídas nada pacíficas de Santos e Barcelona, o posto de jogador mais caro da história, os dribles às vezes desnecessários, o status de “dono” do PSG, a treta com Cavani pela função de batedor de pênaltis, a superexposição midiática, o desejo de ser o melhor do mundo, etc.
Essa rejeição é real, e basta você correr nos comentários aqui embaixo para sentir. Toda vez que escrevo sobre Neymar, sinto isso na tela. Muitos brasileiros torcem o nariz para o maior craque nacional. Pois essa antipatia, creio, é mais problema de quem tem, não de quem é alvo.
Neymar não pediu para ser o jogador mais caro da história. O PSG pagou porque quer, com o dinheiro do nada democrático Qatar, comprar o status de clube grande europeu que até hoje não conquistou. Perto de United, Milan, Liverpool, Bayern, Inter, Juventus, Real e Barcelona, o PSG é um nanico. Mas agora montou uma constelação e tem grandes chances de conquistar a Champions League, fincando pela primeira vez sua bandeira no Everest do futebol. E o brasileiro é o principal trunfo para isso. Quem confere status ao PSG é Neymar, não o contrário.
Idem para o Campeonato Francês. Você tem ideia do quanto aquele torneio mediano se valorizou aos olhos do mundo com a chegada de Neymar? Muito, horrores! Uma atratividade que Beckham, Ibrahimovic, Di Maria, Cavani, Pastore e tantos outros jamais conseguiriam juntos. Pois uma liga inteira ganhou corpo após o sim do brasileiro – despertando centenas de negócios mundo afora, de salto no valor dos direitos de TV a venda de camisas, patrocínios, o diabo!
Você se incomoda por Neymar ser um bilionário, andar de jatinho e iate, namorar modeletes, desfilar cabelos e tatuagens, usar roupas da moda, se achar dono do mundo? Ele está no topo do business, é protagonista de um mundo rico em coisas e pobre em essência, qual a novidade nisso? Ou você antipatiza porque ele dribla além da conta, é fominha, não produz nada em campo, atrapalha o time? Qual a sua crítica, pessoal ou profissional? Ou as duas?
Neymar não tem vocação para ser um exemplo de posicionamento político, erudição cultural, elegância nas atitudes, consistência nas declarações, sofisticação dos meios onde circula. Não há sequer uma preocupação de seu staff em construir uma reputação. É um direito dele e deles, embora eu desejasse que fosse diferente. Mas nem todo mundo é Zico ou Raí, paciência. Neymar é um jogador de futebol brilhante, genial, único herdeiro em ação da nobre linhagem de craques brasileiros, de Garrincha, Pelé, Zico, Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo. É um moleque que sorri fácil e que adora jogar futebol, corre do primeiro ao último minuto, no clube e na seleção.
Quer dizer que porque ele é tratado de maneira especial no clube, paparicado aos montes e acende churrasqueira com nota de euro, vou sair aplaudindo carniceiros que lhe descem a botina, treinador que manda bater e selvagens que jogam coisas nele no gramado? Prefiro apreciar sua arte e criticá-lo por coisas pertinentes, seja nos clubes onde jogar, seja na seleção brasileira, que, aliás, não irá a nenhum lugar se ele não estiver feliz e a fim de jogo.
Fonte: Maurício Barros
Pois Neymar segue com a minha simpatia
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