Nassar, o médico abusador das ginastas, tem seus “seguidores” no futebol. Vamos denunciá-los!
Larry Nassar tem 54 anos e deve apodrecer em uma cadeia dos Estados Unidos. E lá dentro vai sofrer o diabo. Eu não a celebro, mas a ética particular dos presídios não costuma perdoar certos crimes. Ele foi condenado por pornografia infantil a 60 anos de prisão. O FBI encontrou em seu poder centenas de imagens de menores em atos sexuais, algumas feitas em sua casa.
Nassar foi também médico da Confederação de Ginástica dos Estados Unidos de 1998 a 2015. E aguarda julgamento por outra denúncia: abuso sexual de ao menos 140 mulheres, muitas atletas menores de idade. O estopim foi uma investigação do jornal Indianapolis Star, que trazia indícios dos crimes de Nassar. Na série de reportagens, uma vítima relatava ter sofrido abuso por parte do médico em seu consultório quando tinha 15 anos.
Tem sido assim, demorado, porque não é fácil ser o primeiro a denunciar. Mas quando alguém toma coragem, outros quebram o silêncio. E uma onda de denúncias contra o médico começou a aparecer de dois anos para cá. Quando os rumores atingiram decibéis minimamente audíveis, não tardou para as primeiras atletas se sentirem encorajadas a contar os crimes e constrangimentos de que foram vítimas. Entre elas, estrelas como McKayla Maroney, Aly Raisman, Gabby Douglas e, mais recentemente, Simone Biles, o maior nome da ginástica feminina na Rio-2016, quando ganhou quatro medalhas de ouro e uma de bronze. “Não tenho mais medo de contar minha história”, escreveu Simone.
O comentarista Lucas Mendes, apresentador do programa Manhattan Connection, do GNT, está sendo avacalhado nas redes sociais porque reproduziu, em seu programa, o discurso ignorante que sugere oportunismo de quem costuma fazer esse tipo de denúncia. “Por que demoraram tanto? Não contaram para seus pais na época? Olha que tem muita grana envolvida nesse tipo de ação!” e coisas do tipo. Felizmente, seu companheiro de bancada Caio Blinder o colocou em seu devido lugar. Oxalá Mendes daqui para frente se informe sobre a questão e elabore melhor seus comentários quando esse tema voltar à mesa.
Há muitos fatores que inibem a denúncia. Medo, culpa, receio de perder a oportunidade na carreira (em geral, o abusador está em posição hierárquica superior), dificuldade em provar (é sempre a palavra de alguém mais velho contra uma criança/adolescente) e mesmo a complexidade em reconhecer o assédio como tal, tamanha sua banalização. Mas, felizmente, as coisas estão mudando. Casos como o de Nassar, que resultam em prisão do abusador, são decisivos para inibir tais crimes.
Nas empresas, os departamentos de Compliance, quando sérios (muitos não são), levam adiante investigações a partir de denúncias anônimas. E já há muitos casos de demissões por assédio sexual e moral no mundo corporativo. Bancos, construtoras, empresas de comunicação. Eu conheço alguns casos. Chega. Basta. Assediadores não passarão.
Nesse cenário, é louvável a iniciativa do Sindicato dos Atletas Profissionais de São Paulo (tão justamente criticado pela histórica inanição) de lançar uma campanha contra o abuso e o assédio sexual nas categorias de base do futebol. Um vídeo com o alerta “Eu sou contra o assédio sexual no futebol”, dito por atletas do peso de Rodrigo Caio e Moisés, entre outros, mais a hashtag #chegadeabuso é o primeiro passo da campanha, que promete se desdobrar em ações preventivas.
Em 2012, quando eu dirigia a revista Placar, o repórter Breiller Pires, hoje meu colega na ESPN e também editor de esportes do El País, propôs fazermos um mapa do abuso sexual na base dos times brasileiros. Dei a ele o estímulo e o tempo que precisasse para produzir a investigação. Em março de 2013, publicamos não um mapa, mas um dossiê dissecando o problema nas páginas da revista. Breiller segue sempre atento à evolução dessa temática.
Ainda é um assunto tabu, mas basta falar com qualquer atleta minimamente rodado no futebol para ouvir histórias sobre assédio a meninos por parte de treinadores, auxiliares, etc. Mas ainda falta um caso Nassar da bola. Ele existe. E não é um só. Só não veio ainda à tona. É preciso encontra-lo.
Fonte: Maurício Barros
Nassar, o médico abusador das ginastas, tem seus “seguidores” no futebol. Vamos denunciá-los!
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