Carisma e simpatia são virtudes poderosas no esporte, Renato e Rogério que o digam
Renato Gaúcho e Rogério Ceni foram grandes
jogadores de futebol, considerados por muitos os maiores ídolos de dois dos
maiores clubes do país: Grêmio e São Paulo, respectivamente. Viraram
treinadores muito pela liderança que tinham em seus times e também pelo carisma
que ambos carregam. São pessoas admiradas, o sucesso esportivo ajuda a ser
ídolo e a inspirar outras pessoas. Mas carisma é algo diferente de simpatia, e
é justamente neste ponto que os dois se diferem bastante.
Renato é visto como um boa-praça, um paizão, um amigo para sair, tomar uma cerveja, curtir uma praia, levar uma vida mais relaxada; Rogério é um exemplo de workaholic, um profissional obstinado, metódico, sério, estudioso, 'caxias', como alguns costumam dizer de forma pejorativa. Na hora de avaliar uma pessoa para um cargo, como o de técnico, o normal é observar o currículo, os feitos, o histórico, o caráter e o carisma também. Tudo isso tem peso. Contratar um Hernán Crespo como treinador é diferente de acertar com um outro promissor profissional que não represente tanto no futebol. Mas onde entra a simpatia?
Zinho diz que 'linguajar de vestiário' e estilo de Renato Gaúcho ajudam com 'elenco bicudinho' do Flamengo; veja
Se Renato sempre enfrentou o preconceito de que não é aplicado ou muito interessado no trabalho e no estudo, ele sempre gozou da simpatia de quase todas as torcidas pelo seu jeito despojado. Isso se vê em boa parte da imprensa. Não é estranho ver gente contestando até hoje sua capacidade como técnico e ao mesmo tempo desfrutando de sua maneira de ser. Por isso ele foi e ainda é um ótimo contraponto para Tite, o treinador da seleção brasileira que se assemelha mais ao estilo de Rogério Ceni, um profissional muito dedicado, que tenta ser sempre correto e que tem certa dificuldade de ser agradável, de se comunicar mais informalmente.
Eu poderia dizer que Rogério e Tite são
técnicos demais. Há uma certa rejeição (de quem não curte tanto o futebol
moderno e seu cientificismo) a ambos por isso, assim como há o reconhecimento
de que os dois são trabalhadores que tentam melhorar e que têm méritos para chegar
aonde chegaram. Talvez Rogério e Tite sejam os mais europeus dos treinadores
brasileiros, e o que mais se tem feito no país nos últimos anos,
compreensivelmente, é admirar o futebol do Velho Continente, inclusive os técnicos.
Renato, na linha contrária, seria o mais brasileiro de todos, o gaúcho mais carioca
que temos. Apesar da origem no Rio Grande do Sul (os técnicos gaúchos dominam
nosso cenário há tempos), o 'Rei do Rio' não tem quase nada de Dunga, Felipão,
Mano Menezes, etc.
Renato tem empatia com a torcida do Flamengo
e do Fluminense, uma coisa rara. Ele tem até o respeito e a admiração de alguns
colorados, o que é praticamente impossível por ser uma estátua gremista. Ele
não chega a ser um São Marcos, que é amado por palmeirenses e querido por
muitos corintianos e são-paulinos por ser um cara legal e divertido. Mas Renato
é o cara que fica de boa na praia por dois anos e depois, meio do nada, retoma
a carreira de técnico em grande estilo, brincando com a imprensa como brincou tantas
vezes no Campeonato Brasileiro como treinador.
O sucesso de Renato poderia ser maior como
jogador e como técnico se ele se esforçasse mais, essa é a impressão que eu e
que alguns outros têm dele. No entanto, se ele fosse o profissional que muitos
esperam e cobram talvez ele não tivesse tanta simpatia assim, não fosse esse
personagem tão marcante do nosso futebol. Que outra pessoa faria uma disputa de
Mundial contra o Real Madrid e diria ser melhor do que o Cristiano Ronaldo? Perto
disso, dizer no Flamengo que é melhor do que o Gabigol é fichinha. Eu sempre
fui fã dos egocêntricos e mascarados, sobretudo no esporte. Renato tenta de vez
em quando sair desse personagem, mas ele não consegue, ainda mais no Rio.
Renato Gaúcho tira onda com Gabigol: 'Ele não está pronto para o meu DVD'; assista
Renato é folclórico mesmo, e isso não é algo ruim muitas vezes. Pode ter prejudicado a carreira de um Joel Santana ou um Lisca Doido em algumas oportunidades, mas a simpatia tem muito valor, ainda mais no Flamengo. Rogério sempre foi admirado no Rio, percebi isso vivendo nove anos na Cidade Maravilhosa, só que ele não conseguiu nunca ter uma empatia com a maior torcida do Brasil. Nem vitórias e títulos deram jeito nisso. Não houve a tal química que, com Renato, é muito mais fácil de alcançar.
Pelos títulos, números e regularidade,
Rogério Ceni é superior a Marcos, mas é difícil achar alguém que considera o
ídolo são-paulino mais legal do que a lenda palmeirense. E isso pesa sim na avaliação
das pessoas. Marcos muitas vezes é apontado como melhor do que Rogério,
imagino, por causa da rejeição a Ceni. Maradona tem mais carisma do que Messi,
que é mais simpático. Se levarmos para outros esportes, Piquet e Senna são
igualmente tricampeões mundiais, mas o primeiro leva a fama de antipático e o outro
de semideus. Eu tento não me influenciar pelos rótulos, muitas vezes errados e
injustos, só que essas imagens construídas ao longo dos tempos interferem, sim,
na vida das pessoas.
O futebol, assim como a sociedade, está
repleto de estereótipos. Isso é bonito, aquilo é gordo, esse é legal, aquele é
ultrapassado etc. Não sei o quanto incomoda ao Rogério ser visto como
arrogante, prepotente, chato ou até como “pessoa ruim”, como disse um analista
de desempenho do Flamengo. Mas é fato que isso joga contra ele em muitos
momentos, em avaliações, em julgamentos, em sua vida profissional. Da mesma
forma, a leveza de Renato o ajuda a driblar certas situações, a melhorar
algumas relações pessoais, a blindar um time, a comandar um grupo.
Não entendo nada de recursos humanos nem sou fã de coaching, mas já ouvi falar muito de inteligência emocional. Essa é uma competência cada vez mais exigida e valorizada no mercado, pois responderia por boa parte do sucesso e da capacidade de liderança de um ser humano. Imagino que Rogério Ceni já deva ter lido algo sobre esse tema e estou achando que Renato tenha, juntamente com a simpatia, essa tal inteligência emocional.
Seguir @rodrigobuenotv
No Instagram @rodrigobuenobubu
No Facebook /RodrigoBuenoJornalista
Carisma e simpatia são virtudes poderosas no esporte, Renato e Rogério que o digam
COMENTÁRIOS
Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.