Dados como aposentados por alguns, Ancelotti, Mourinho e Van Gaal dão resposta ao resultadismo seletivo que celebra Bielsa

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Não sei se você é dos que davam Carlo Ancelotti (62 anos), José Mourinho (58 anos) e Van Gaal (70 anos) como aposentados, mas, de forma bem resultadista, quero dizer que o primeiro lidera LaLiga (com o Real Madrid), o segundo está na ponta do Campeonato Italiano (com a Roma) e o terceiro tirou a Holanda do buraco e a deixou bem perto da Copa do Mundo de 2022, no Catar. Os três têm currículos invejáveis e estão entre os maiores treinadores das últimas três décadas, mas não ganham títulos há alguns anos e foram colocados em segundo plano recentemente por muita gente.

Quando os nomes de Ancelotti, Mourinho e Van Gaal surgem, logo aparece alguém para dizer que estão ultrapassados ou que já não fazem um grande trabalho há muito tempo. O italiano e o português não levantam uma taça desde 2017, ano em que Ancelotti faturou a Bundesliga e a Supercopa da Alemanha com o Bayern de Munique e que o português conquistou a Europa League e a Copa da Liga Inglesa com o Manchester United. O holandês estava de fato aposentado após vencer 'apenas' a Copa da Inglaterra com o Manchester United em 2016. Considerando que nos últimos anos Ancelotti trabalhou no Napoli e no Everton, que Mourinho dirigiu o Tottenham e que Van Gaal saiu mesmo de cena por conta própria, é natural que eles não tivessem títulos.

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Rotulado como egocêntrico, problemático e retranqueiro, o 'Malvadão' Mourinho até levou o Tottenham à final da Copa da Liga Inglesa, mas não pôde tirar os Spurs da fila (não ganham nada desde 2008) porque o demitiram de forma cruel e injusta uma semana antes da decisão, na esteira do anúncio da Superliga de clubes europeus (a que pouco depois naufragou).

O City de Guardiola era favorito na final contra o Tottenham? Era, mas Mourinho
bateu duas vezes o time do espanhol na Inglaterra. E em jogos de mata-mata,
sabemos bem pela Champions League, muitas vezes Guardiola inventa e se dá mal.
Os Spurs deixaram um interino perder a final e até uma possível vaga na
Champions League (após a saída de Mourinho, o time perdeu do Aston Villa em
casa e do Leeds fora, ficando em 7º lugar, jogando assim nesta temporada a
Conference League, não pegou nem Europa League).

José Mourinho, líder do Italiano com a Roma, completou mil jogos como técnico e tem mais de 70% de aproveitamento
José Mourinho, líder do Italiano com a Roma, completou mil jogos como técnico e tem mais de 70% de aproveitamento reprodução Roma Channel

 

O Special One teve um fim de semana histórico ao completar mil jogos como profissional. A Roma bateu por 2 a 1 o emergente e badalado Sassuolo no final, e o português saiu correndo para celebrar com a torcida, que o idolatra desde a sua chegada mesmo com seu passado interista. José Mourinho tem mais de 70% de aproveitamento na carreira de técnico. No Tottenham, seu último trabalho, ele teve 'só' 58,53% de aproveitamento, um número que Marcelo Bielsa não conseguiu em nenhum clube que dirigiu.

E por que eu citei Bielsa aqui e no título? Nada contra o louco argentino, eu o adoro e já encomendei meu livro sobre ele, mas é engraçado ver como alguns profissionais podem ter números ruins, derrotas desastrosas e poucos títulos que logo alguém vai passar aquele pano para essas figuras. Bielsa não tem título de elite no futebol europeu, foi ganhar a 2ª divisão do Campeonato Inglês. Além disso, tem uma medalha de ouro olímpica e três títulos nacionais na Argentina, entre Newell’s e Vélez. Nesta temporada, o Leeds já tomou 5 a 1 do Manchester United e 3 a 0 do Liverpool, a defesa do time está quase sempre exposta pelo jeito mais despojado e ofensivo de Marcelo Bielsa. Até o cruyffista Guardiola o trata como uma lenda e referência.

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O pecado de Ancelotti, Mourinho e Van Gaal seria adotar táticas mais conservadoras, proteger mais as suas defesas? O italiano é discípulo de Arrigo Sacchi, o homem que montou o espetacular Milan que dominou a Europa no final da década de 80. Gosta de um 4-4-2, muitas vezes usando um diamante no meio (não me refiro a um craque, mas sim ao sistema de jogo). Mourinho ficou nove anos sem perder como mandante em campeonatos nacionais e quebrou recordes defensivos na Premier League (apenas 15 gols sofridos em uma edição do Inglês), é verdade, mas o Real Madrid dele tem o recorde de gols (121) em uma edição do Espanhol. Van Gaal, que é visto de forma torta por alguns como um general que odeia brasileiros (foi campeão holandês com o AZ de Ari), venceu a Champions League e campeonatos nacionais em três países diferentes, apenas um a menos do que Ancelotti e Mourinho.

É bom ressaltar que Van Gaal, diferentemente do italiano e do português, teve experiência como técnico de seleção também. Foi mal nas eliminatórias da Copa de 2002 e saiu invicto do Mundial de 2014, ficando em terceiro lugar no Brasil. Voltou agora para salvar a sua Holanda, que estava em situação desconfortável em seu grupo no qualificatório por ter perdido de 4 a 2 da Turquia. Meteu 6 a 1 nessa mesma Turquia e bateu boca em coletiva de imprensa com um jornalista que insistia que a linha de cinco usada por Van Gaal era defensiva (na Holanda, o tradicional 4-3-3 é quase sempre pedido pelos mais românticos e ofensivos).

“Um 5-3-2 ou um 5-2-3 pode ser ofensivo. O Chelsea mostrou isso todo o tempo com diferentes jogadores, e tiro meu chapéu para Tuchel por isso”, respondeu Van Gaal após ser 'acusado' de aplaudir o futebol defensivo querendo jogar como o Chelsea. Thomas Tuchel bateu Guardiola na final da Champions League após superar o espanhol em jogos pela Premier League e pela Copa da Inglaterra. A linha de cinco do técnico alemão amarra a equipe de Guardiola, que tentou sem sucesso até agora uma forma de dobrar o Chelsea de Tuchel, que agora foi colocado na primeira prateleira dos treinadores de futebol da atualidade.

Van Gaal, que voltou à seleção da Holanda e a colocou na liderança nas eliminatórias, bateu boca com jornalista que o chamou de defensivo
Van Gaal, que voltou à seleção da Holanda e a colocou na liderança nas eliminatórias, bateu boca com jornalista que o chamou de defensivo Matthew Ashton - AMA/Getty Images

 

Aí preciso voltar para a questão do resultadismo. Tuchel chegou a ser ridicularizado por só vencer campeonatos nacionais com o Paris Saint-Germain durante duas temporadas. Bastou se mudar neste mesmo ano de 2021 e ganhar a Europa para ser rotulado como técnico top, rival de Guardiola. Coisa parecida já tinha acontecido anteriormente com Jürgen Klopp. Alguns grandes treinadores parecem só ter espaço na primeira prateleira quando vencem nobres torneios. Já Bielsa pode ir mal no México, na Espanha e na França (na Itália, acertou com a Lazio, mas pulou fora quando não teve os reforços pedidos) que está tudo certo. E Guardiola pode completar uma década sem ganhar a Champions League mesmo com fortes e endinheirados clubes que não há problema. Mas ai de Ancelotti, Mourinho e Van Gaal se não conquistam títulos de ponta, estão condenados a ficar no passado.     

Sinceramente, acho que Ancelotti tem grande chance de ser campeão espanhol, o que o tornaria vencedor das cinco principais ligas nacionais da Europa. Ele ganhou a Champions com o Real, mas faltou o principal título nacional. Tem um bom elenco para brigar com o Atlético, detentor do título, e o Barcelona, em fase maior de reconstrução. Mourinho mal pode hoje sonhar com o scudetto, mas pode muito bem brigar pelas copas (incluindo a nova Conference League), além de travar bons duelos táticos com outros estrategistas do calcio. Van Gaal já terá méritos por recuperar a Holanda e levá-la de volta à Copa, mas não estará entre os favoritos ao título mundial. Possivelmente, retornará à aposentadoria após o Mundial de 2022, mas sem se sentir um técnico pior do que a imensa maioria dos que estão no topo hoje.

Confesso que estou na torcida por Ancelotti, Mourinho e Van Gaal, seja por clubismo, seja por 'selecionismo', seja por egocentrismo, seja porque admiro mesmo esses três grandes estrategistas, dos maiores que eu vi como jornalista e amante do futebol. Eles fazem bem ao esporte e ainda têm muito valor, podem sim realizar grandes trabalhos, ganhando ou não troféus.

Carlo Ancelotti, que lidera o Espanhol com o Real Madrid, pode ser campeão das cinco principais ligas nacionais da Europa
Carlo Ancelotti, que lidera o Espanhol com o Real Madrid, pode ser campeão das cinco principais ligas nacionais da Europa Bryn Lennon/Getty Images

 

 

  

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Temporada europeia pode ser a mais rica em 'campeões surpresas' neste século

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

 Muita gente imaginava que, depois de Maradona, nunca mais o Napoli seria campeão italiano. E o time do Sul da Itália vai faturar agora seu primeiro scudetto sem o maior ídolo de sua história. O Napoli está tão bem que já encaminhou sua classificação para as quartas de final da Champions League ao fazer 2 a 0 no Eintracht Frankfurt na partida de ida. Com 15 pontos de vantagem sobre a Inter de Milão na Serie A, não dá mais para duvidar da força dessa equipe de Luciano Spalletti. Mas o Napoli não é um fenômeno isolado em termos de surpresa nesta diferenciada temporada europeia.

Na badalada Premier League, o título do Arsenal pinta cada vez como algo real. Não que os Gunners não tenham camisa e torcida de sobra, sobretudo em termos nacionais, mas é que pouca gente acreditava no início que o troféu não ficaria com Manchester City ou Liverpool (só o primeiro briga de verdade hoje com o time de Arteta, que já foi pupilo de Guardiola). Apesar de ter perdido o confronto direto em Londres contra o City, a equipe dos Gabriéis (Jesus, Magalhães e Martinelli) tem dois pontos de vantagem na liderança e um jogo a menos. É uma vantagem interessante que faz dele o único time que depende apenas de si para ser campeão. Os Gunners não erguem a principal taça do futebol inglês desde a temporada 2003/2004, quando foram campeões invictos com um time épico que ajudou a popularizar a Premier League no Brasil com as primeiras transmissões regulares do Inglês na ESPN. O Arsenal ainda pode brilhar na Liga Europa, torneio acessível no qual é um dos principais favoritos. Pode ser uma temporada mesmo de sonhos para o popular esquadrão do norte londrino.

Arsenal e Napoli lideram Premier League e Série A e podem quebrar o jejum de títulos em suas ligas nacionais contra todos os prognósticos
Arsenal e Napoli lideram Premier League e Série A e podem quebrar o jejum de títulos em suas ligas nacionais contra todos os prognósticos Getty Images - Montagem ESPN

Na Alemanha, o império do Bayern de Munique está correndo risco. Tanto o tradicional Borussia Dortmund quanto o emergente Union Berlin estão mirando o título da Bundesliga, ambos acompanhando o gigante de Munique na pontuação. O Bayern tem a vantagem de receber em casa o postulante da capital e depois o rival aurinegro. Mas o Union Berlin acaba de eliminar com autoridade o Ajax da Europa League, tendo feito já uma grande partida como visitante em Amsterdã. Não dá para desacreditar do time tão bem treinado por Urs Fischer. O Dortmund está mais concentrado no campeonato nacional, enquanto a equipe que venceu as últimas dez edições da Bundesliga precisa se dividir ainda com a Champions League. Há uma chance concreta de o Bayern perder sua colossal hegemonia.   

Na França, a tendência ainda é de título para o Paris Saint-Germain estrelado, porém o Olympique de Marselha tem apenas cinco pontos a menos que o endinheirado time da capital e recebe o rival no Sul do país neste fim de semana podendo colocar fogo na reta final da Ligue 1. Com alguns problemas internos crônicos e com as lesões de jogadores importantes, como Neymar, o PSG não tem a tranquilidade de que vai abocanhar mais um troféu do Francês. A motivação do Olympique de Marselha para ganhar o segundo título do campeonato neste século é enorme (não vence a principal disputa na França desde 2010 e tenta a 10ª taça agora).

Na Holanda, o líder é o Feyenoord, que mais uma vez faz uma temporada de sucesso em termos continentais. Finalista da primeira Conference League, está agora na disputa da Liga Europa com força. O time de Arne Slot tem três pontos de vantagem na Eredivisie e vai pegar o Shakhtar Donetsk na Liga Europa com todas as dificuldades que estão sendo enfrentadas pelo adversário ucraniano em meio à guerra com a Rússia. A equipe de Roterdã acaba de vencer um confronto direto contra o AZ para se manter na ponta da tabela de forma isolada. Tem um duelo em Amsterdã contra o Ajax, mas esse está instável e ainda tem uma tabela dura até o final do Holandês. Dessa forma, o Feyenoord pode muito bem conquistar seu segundo título da Eredivisie neste século (faturou o título apenas em 2016/2017).

Em Portugal, não haverá surpresa, mas é bom destacar a grande campanha do Sporting Braga, terceiro colocado à frente do xará mais famoso. Na Espanha, tudo indica que dará Barcelona, mas será o primeiro título relevante de Xavi como técnico, o que traz uma certa aura de novidade, ainda mais com o Real Madrid sendo tão dominante na Europa nos últimos anos. Podemos ter surpresas na Champions League, sobretudo com Benfica  e Leipzig, talvez pinte alguma sensação nesta Liga Europa cheia de gigantes como Arsenal, Juventus e Manchester United (talvez o valoroso Union Berlin, talvez a Roma do vitorioso José Mourinho, talvez o Fenerbahçe de Jorge Jesus). Na Conference League, o título pode continuar em mãos italianas, com a Lazio ou a Fiorentina, mas tem o West Ham representando a forte Premier League e o copero Villarreal. Algo fora disso será uma grande surpresa no terceiro interclubes europeu em importância. Eu já não duvido de nada.  


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Futebol brasileiro precisa mudar várias regras, inclusive as do número de rebaixados e gringos

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

A discussão do momento no futebol brasileiro passa pelo número de clubes rebaixados no campeonato da Série A e, possivelmente, no da Série B também. Antes de tudo, não dá para chamar de virada de mesa esse movimento para rebaixar 'apenas' três times desde que a mudança seja aprovada e definida antes de o torneio começar. É só uma mudança no regulamento, que aliás vai ao encontro do que acontece nas principais ligas europeias, sobretudo na Premier League, o campeonato nacional mais badalado do planeta e que acho, faz tempo, que deve ser mesmo o modelo para o Campeonato Brasileiro em praticamente tudo.  

Sendo justo com Vanderlei Luxemburgo (técnico que merece críticas por vários temas, mas que fez muita coisa boa e inovadora no futebol brasileiro), rebaixamos muito historicamente aqui no Brasileiro. Fechamos há muitos anos em 20 clubes e 4 clubes rebaixados, o que significa dizer que 20% dos times vão para a segunda divisão. Me parece um pequeno exagero. Poderia até ser feito um playoff entre o 17º colocado e o 4º da Série B, algo que também vemos em liga europeia, mas pior, para mim, é rebaixar além da conta. Essa cultura nossa talvez tenha a ver com o número elevado de clubes grandes e tradicionais do país. E esse assunto talvez tenha voltado à pauta agora porque de novo temos na Série A os chamados 12 grandes, alguns apoiados por empresas estrangeiras e SAFs e alguns temerosos com a possível ida para a segunda divisão (os 'incaíveis' Santos e São Paulo estão bem mais preocupados com a queda agora do que no passado).

O fato é que eu sempre defendi aqui a Premier League como exemplo, seja para o número de rebaixados, seja para o limite de estrangeiros (tem mais é que liberar aqui no Brasil para fortalecer ainda mais o campeonato), seja para a divisão bem mais justa do dinheiro entre os clubes, seja para a profissionalização dos árbitros, para o uso de tecnologia, para um tribunal de penas ágil e confiável, para o número de cartões amarelos para suspender (três é pouco, a liga não deve ser tão desfalcada), para as torcidas (sou contra a torcida única e sou a favor de punições pesadas para quem for culpado por violência e desordem nos estádios), etc.

O Campeonato Brasileiro, infelizmente ainda nas mãos da CBF, é um excelente produto que vem melhorando vagarosamente. A adoção do sistema de pontos corridos a partir de 2003 já foi um importante passo para aproximar a nossa liga dos torneios europeus. Por mais que a previsibilidade dos campeões seja uma realidade (o que acontece também na Europa), houve uma forçosa melhora na estrutura e na administração de vários clubes. Quem se preparou bem e se modernizou, como o Athletico-PR e times do Nordeste, teve sua recompensa e mais espaço. Quem pecou na organização e manteve velhos hábitos ruins, caiu ou perdeu seu protagonismo, caso de muitos dos 12 grandes clubes do país. 

Ainda acredito que surgirá em algum momento uma liga mais forte independente da CBF, mas é preciso haver união dos clubes,  o que no Brasil não é nada fácil. Mas quando há interesses comuns, como normalmente acontece na hora de pedir ajuda aos governos no alongamento das dívidas, a coisa costuma andar. Parece que é o caso agora, com muitos clubes relevantes querendo o rebaixamento de apenas três times e lutando para aumentar para sete o número de jogadores estrangeiros em uma partida no país.

O Santos, que não tem rebaixamento em sua história, vem lutando para não cair até no Paulista e pode lucrar com a redução do número de rebaixados no Brasileiro
O Santos, que não tem rebaixamento em sua história, vem lutando para não cair até no Paulista e pode lucrar com a redução do número de rebaixados no Brasileiro Ivan Storti/Santos FC

 

O calendário é outro ponto que pode e deve ser melhorado, claro. Ainda seguindo o modelo europeu, o Campeonato Brasileiro precisa ocupar a temporada toda, com os estaduais sendo enxugados e colocados em algumas datas nos meios de semana, como acontece com a Copa da Liga da Inglaterra. Defendo que os estaduais continuem, mas nesse formato curto, com no máximo sete jogos para o campeão. Eu também desejo que todos os times pequenos participem de campeonatos em turno e returno, seja em Séries E, F, G, H... Assim, estarão dentro da pirâmide do futebol brasileiro podendo crescer e escalar divisões. 

Todos os times do país também deveriam jogar a Copa do Brasil. Em mata-mata, em um único dia, você pode eliminar umas 400 equipes (imagino a Copa do Brasil com 800 times). Mais inclusão e mais democracia no futebol brasileiro. E se em 2011 eu já lancei uma candidatura para a presidência da CBF (não tive nenhum apoio de clube ou federação e por isso não concorri), agora me coloco à disposição para ser o 'manda-chuva' da liga nacional independente, que já deveria existir desde 1987, antes mesmo da Premier League.

 

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A cada fracasso do futebol brasileiro, título mundial passa a ter um valor ainda maior

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Uma das maiores surpresas da história do Mundial de Clubes aconteceu nesta semana. E a eliminação do Flamengo diante do Al Hilal, incrivelmente, já está sendo vista e analisada como algo normal. Muito fácil mesmo comparar essa queda do campeão da Conmebol Libertadores ainda na semifinal com os tropeços precoces de Internacional (2010), Atlético-MG (2013), Atlético Nacional (2016), River Plate (2018) e Palmeiras (2020). Só que, lembro, o Rubro-Negro fatura R$ 1 bilhão por ano aproximadamente, monta o melhor elenco da América do Sul com certa folga, possui uma diretoria ambiciosa que quer mesmo colocar o clube carioca no patamar dos grandes da Europa. Cair diante de um time saudita, que tem inclusive ex-jogadores do Flamengo (casos de Cuéllar e Michael), é um tiro no pé nesse projeto planetário rubro-negro.

O tombo é gigantesco como a torcida do Flamengo, que canta desde 2019 que "quer o mundo de novo". Quanto maior é a expectativa, maior é a frustração. Desde a criação deste formato de Mundial da Fifa, em 2005, foram apenas três títulos sul-americanos, sempre conquistados no sufoco, com sofrimento, de forma mais reativa diante da superioridade financeira e técnica do campeão daChampions League. O São Paulo contra o Liverpool (2005), o Inter diante do Barcelona (2006) e o Corinthians em cima do Chelsea (2012) foram mais cirúrgicos do que brilhantes. Os clubes brasileiros que fracassaram na semifinal de forma surpreendente ou não se prepararam da forma mais adequada (caso do Flamengo neste ano e talvez do Galo de 2013 com a saída anunciada de Cuca) ou tinham adversário de nível similar (Tigres de 2020 não era muito diferente do Palmeiras) ou acharam que a semifinal seria algo protocolar e sucumbiram com certa soberba (creio ter sido o caso do Inter contra o Mazembe).     

Como o Brasil acaba de perder mais uma Copa do Mundo, caindo nas quartas de final diante da Croácia (que não é uma potência), de novo estamos refletindo sobre o momento preocupante do futebol brasileiro em termos mundiais. Nossos clubes dominam o cenário sul-americano por uma questão basicamente econômica hoje em dia, a Libertadores virou quase uma Copa do Brasil nos últimos anos. Mas nos embates contra os melhores de outros continentes essa vantagem financeira e técnica não está prevalecendo em muitas oportunidades. Se é por causa da grana que estamos bem atrás dos europeus, por que não conseguimos nos impor diante de rivais da Arábia Saudita, do Congo, do Marrocos e do México? Para a sorte dos times brasileiros, aliás, os endinheirados clubes mexicanos não disputam mais os torneios da Conmebol. Nosso nível é similar com o deles. O provável aumento do limite de estrangeiros no futebol brasileiro tende a fortalecer ainda mais os elencos dos times do nosso país, desfalcando ainda mais os nossos vizinhos. Mas será que isso basta para ganhar Mundial?  


         
     

A Argentina tirou a América do Sul da fila de títulos mundiais ao ganhar a Copa no Qatar. Os brasileiros vinham gozando a rival pelo jejum de taças e por estar pouco competitiva em termos de clubes. Após uma Copa América conquistada em pleno Maracanã e com o tricampeonato mundial que vai coroar Lionel Messi de novo como Melhor do Mundo, os argentinos ganharam muita confiança e resgataram sua autoestima. Os brasileiros, no caminho contrário, questionam cada vez mais se ainda são os reis do futebol (e olha que o Rei agora se foi mesmo). A seleção brasileira, ainda sem técnico e com Neymar chegando aos 31 anos, está um tanto quanto perdida no momento. Ela vai completar 24 anos sem título mundial em 2026, o que significa muita pressão em cima dos jovens bons jogadores que surgiram nos últimos anos. A grita por um técnico estrangeiro aumentou ainda mais após o trabalho mediano de Tite, muito parecido com o de Dunga em resultados e desempenho.    

O Campeonato Brasileiro continua sendo uma grande disputa, embora restrita (em termos de título) a poucos clubes mais bem estruturados. Temos um certo orgulho de um equilíbrio histórico do nosso futebol local, algo que vem se perdendo bastante com o domínio recente de Flamengo e Palmeiras ( que voltaram de mãos vazias de dois Mundiais cada um nos últimos anos). Na cabeça de alguns, o Mundial nem deve ser visto hoje mais como objetivo principal, mais importante seria triunfar e reinar nos torneios nacionais e continentais. Entendo esse ponto de vista, afinal os grandes clubes europeus pensam dessa forma, mas nossa cultura de "país do futebol" (precisa mesmo de aspas agora) exige que nossa seleção e nossos clubes não passem vergonha mundo afora. E é justamente o que o "Malvadão" Flamengo passou diante do Al Hilal, que foi superior e podia ter feito placar maior.   

Pedro lamenta gol do Al Hilal na semifinal do Mundial de Clubes, que mais uma vez vê um fracasso precoce do futebol brasileiro
Pedro lamenta gol do Al Hilal na semifinal do Mundial de Clubes, que mais uma vez vê um fracasso precoce do futebol brasileiro Alex Grimm - FIFA/FIFA via Getty Images

Estamos cada vez mais saudosistas, lembrando de quando o Brasil era temido no futebol. Pelé é eterno, mas o reinado brasileiro no mais popular dos esportes não é. Quem teve a sorte de ganhar um Mundial vai dar cada vez mais valor a essa conquista. Temos duas gerações já de brasileiros que não viram a seleção ganhar uma Copa. E uma geração já de amantes do futebol que nunca viram um clube brasileiro conquistar um Mundial. O último jogador brasileiro eleito melhor do mundo foi o Kaká em 2007. Haja carência (em termos mundiais) para o futebol brasileiro. E um torcedor carente, sabemos, adora se apegar ao passado, às boas lembranças e histórias que viu ou que ouviu dos pais e avós. Preparem-se para mais músicas como “em dezembro de 81, botou os ingleses na roda”, mais bustos como o de Telê no Morumbi, mais homenagens para Pelé, mais estátuas como a de Renato...   



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Mesmo com VAR só em jogos grandes, FA Cup é mais democrática do que a Copa do Brasil

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Se tem uma coisa que as terríveis ações golpistas em Brasília deixaram de positivo, foi uma consciência ainda maior (de quase todas as pessoas, inclusive muitas de direita), de que a democracia é algo valioso demais. No futebol, nada é mais democrático do que as copas nacionais, que abrem a possibilidade de clubes humildes duelarem contra os gigantes e conseguirem assim os seus 15 minutos de fama. Na Europa, isso acontece de verdade, com equipes das mais diversas divisões, algumas até amadoras, ganhando a chance de escalar, em uma temporada, a grande pirâmide do futebol. No Brasil, apesar de a grande copa nacional ter nascido em 1989, ainda há inúmeras restrições para entrar na disputa. Quem joga a Copa do Brasil é sim uma minoria, a elite.

Há muitos anos eu defendo que todos os clubes do país disputem o nobre torneio de mata-mata. Se são 800 times brasileiros, em um dia apenas, com um simples mata-mata, 400 equipes já seriam eliminadas. Não seria tão complicado para a rica CBF permitir a todos do país jogar a sua endinheirada copa. Claro que com um aumento de fases eliminatórias, possivelmente com as primeiras promovendo duelos regionais para evitar custos e problemas de logística. Na França, clubes até de antigas e longínquas colônias jogam sem maiores problemas. Aqui tudo seria resolvido mais facilmente dentro do território nacional. Os altos valores que a CBF paga aos primeiros colocados da Copa do Brasil poderiam e deveriam ser distribuídos para os mais humildes, seria uma forma mais justa de a entidade que rege o futebol nacional diminuir um pouco a concentração de renda em pouquíssimos clubes do país.   

A FA Cup, torneio mais antigo do planeta, começou nesta temporada com 732 times, sendo que 640 jogaram as fases prévias. Ainda temos alguns jogos de replay para fechar a terceira rodada (aquela onde entram os clubes da Premier League) e já foram realizadas 100 partidas. Mais de 800 mil pessoas foram assistir aos jogos da FA Cup 2022/2023. Quem tem sucesso na primeira rodada abocanha, fazendo a conversão, mais de R$ 250 mil. O torneio, que tem uma média de praticamente três gols por partida, é um sucesso dos pés (dos times menores) à cabeça (dos clubes mais endinheirados). Mas houve um ponto que despertou críticas dentro e fora da Inglaterra: o uso do VAR em alguns jogos apenas, notadamente os que têm times da Premier League como mandantes, além das partidas de semifinal e final.

Troféu da FA Cup no Estádio de Wembley, em Londres
Troféu da FA Cup no Estádio de Wembley, em Londres Marc Atkins/Getty Images

Eu tenho uma visão um pouco diferente da maioria das pessoas, como falei no ESPN FC de futebol internacional nesta semana. Para poder contar com todo tipo de time (grandes, médios, pequenos e nanicos) e permitir a chance de todos jogarem em suas casas (de acordo com sorteio), não dá para usar a tecnologia do VAR sempre. Os estádios da maioria das equipes não estão prontos para receber algumas modernidades. Impedir partidas em campos mais humildes porque não é possível ter VAR neles seria quase o mesmo que proibir jogos nesses locais porque eles não possuem iluminação de ponta, vestiários grandiosos, telão de última geração, gramados no padrão Fifa etc. Bom, então não deveria ter VAR em partida nenhuma da competição, como defendem alguns? Eu acho isso errado. Se é possível usufruir do árbitro de vídeo (assim como de outros avanços e modernidades recentes) em algumas partidas, que isso seja utilizado sim.  

Mas e a isonomia na competição? Não é injusto um jogo ter VAR e outro ficar sem essa ferramenta? Creio que não.  A explicação é simples. Os dois times em campo têm as mesmas condições: jogam no mesmo gramado, atuam com o mesmo clima e possuem a mesma arbitragem. Durante mais que um século o futebol viveu muito bem sem VAR. Então não é o fim do mundo ter jogos ainda sem árbitro de vídeo. O futebol virou o esporte mais popular do mundo exatamente porque é simples e democrático. Não temos VAR em muitos lugares mundo afora, nem todos os campeonatos são a Copa do Mundo, que estreou no Qatar uma tecnologia de impedimento semiautomático. Tinha para todas as 32 seleções, perfeito, porque assim foi possível. Em um torneio com mais de 700 times, muitos desses nanicos, não dá para exigir muita coisa. Isonomia deve sim ser exigida, mas meu ponto é que ela existe sim na atual FA Cup. Assim como no sorteio um time pode pegar um adversário forte ou fraco, pode jogar em casa ou decidir fora, ele pode também cair diante de um adversário com estádio raiz. Não há só arenas modernas e milionárias em uma copa nacional verdadeiramente democrática. As vantagens continuam sendo muitas para os clubes mais poderosos com ou sem VAR. Como regras e condições são iguais para ambos em um jogo, tudo certo.

Eu entro de férias agora e assim estarei até o fim do mês, assim não irei trabalhar na quarta rodada da FA Cup, que terá, entre outros grandes jogos, um Manchester City x Arsenal, duelo de líder e vice-líder da Premier League (pena que sem Gabriel Jesus, lesionado). São apenas dois duelos entre times da primeira divisão nesta fase. Os outros 14 jogos terão equipes das mais diversas divisões. Temos ao menos um clube da quinta divisão garantido: o Wrexham, que vai receber o Sheffield United. Outras duas equipes da quinta divisão ainda estão vivas: o Boreham Wood e o Chesterfield. Creio que eles estão pouco preocupados com o VAR na FA Cup. Eles estão desfrutando do torneio como sempre.

O Wolverhampton tem todo o direito de reclamar da arbitragem contra o Liverpool (coisa que está fazendo), pois entende que foi prejudicado mesmo com uso do VAR. A ferramenta estava lá para os dois, assim como estará no jogo da volta, agora com os Wolves como mandantes. Quem passar para a quarta fase entre Liverpool e Wolverhampton vai pegar fora de casa o Brighton, também da primeira divisão. Mas quem sabe em uma quinta fase eles não tenham que visitar o pequenino Wrexham. Espero que não tenha mimimi nem chororô nesse hipotético confronto porque não vai ter o glamour da Premier League em um estádio raiz ou porque simplesmente não terá árbitro de vídeo. Come on! Segue o jogo!          

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Mesmo com VAR só em jogos grandes, FA Cup é mais democrática do que a Copa do Brasil

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Minha maior honra foi estar com Pelé quando ele recebeu o troféu de Melhor Jogador do Século

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

A morte de Pelé, por mais que já fosse esperada há algum tempo por conta de sua saúde debilitada, fez com que muita gente refletisse sobre a figura do maior jogador de futebol de todos os tempos. Recebi mensagens de jovens perguntando se ele era mesmo tudo isso, vi gente embasbacada conferindo vídeos dele pela internet agora e percebi gente próxima, pessoas que amo, envolvidas de diferentes formas com a notícia mais temida pelos jornalistas esportivos desde que eu comecei na área há 27 anos.  

Desde pequenino, eu sempre tive como premissa que Pelé era inalcançável, um ser único e especial. Meu pai, são-paulino e pelezista doente, me ensinou assim. Ele me contava como ia com alguns amigos ao Pacaembu para ver o Rei. A história que meu pai (Seu Nestor) mais repete é de quando ouviu falar de um garoto bom de bola que apareceu no Santos e que, por causa dele, foi ao jogo e escalou então o muro do Pacaembu só para poder acompanhar o menino. Seu Nestor, humilde até hoje, sofreu um bocado com Pelé nos anos 60, quando o São Paulo ficou na fila. Mas, como amante do futebol e da seleção brasileira, curtiu Pelé do início ao fim, como ele diz com orgulho: “Eu o vi começar”.   

Nunca pensei na vida que eu poderia um dia estar perto de Pelé. Meu pai também não imaginava isso. Mas a vida é surpreendente e, após eu virar jornalista, tive a chance de encontrar o Rei em algumas oportunidades. Em todas elas bateu uma enorme emoção, um orgulho que vai além do profissionalismo. Não costumo ser amigo de boleiros, não me relaciono pessoalmente com atletas e técnicos, me dou bem mais com ex-jogadores e ex-treinadores (muitos deles colegas na imprensa). Como não vi Pelé como jogador na ativa, me senti ainda mais à vontade para pedir a ele um autógrafo para meu pai. Precisava daquele registro histórico e daquele presente para meu velho. Pensava no orgulho que meu pai teria de mim por eu ter chegado a entrevistar o maior de todos.

Pelé celebra o título da Copa do Mundo de 1970, no Estádio Azteca, no México, após a vitória do Brasil por 4 a 1 sobre a Itália na final
Pelé celebra o título da Copa do Mundo de 1970, no Estádio Azteca, no México, após a vitória do Brasil por 4 a 1 sobre a Itália na final Alessandro Sabattini/Getty Images

Especialmente no meu primeiro contato com Pelé, tive a sensação de estar diante de uma entidade, não parecia mesmo humano, era algo quase sobrenatural que estava ali na minha frente. Você sabe que está diante de uma lenda, de um mito, de um ícone, de um símbolo, de uma figura reconhecida no mundo todo mesmo após dezenas de anos de sua aposentadoria. Demora um tempo para cair na ficha e se comportar de forma normal. Eu tinha a ideia exata do privilégio que estava recebendo. E desfrutei bastante desse primeiro encontro breve com o Rei. Mas haveria outros dois encontros bem mais importantes, tanto para ele como para mim.

Um desses encontros mais relevantes vou tratar aqui rapidamente. Foi uma entrega de troféu da IFFHS (Federação Internacional de História e Estatística do Futebol), que reconheceu Pelé como o maior artilheiro do planeta. Eu e o amigo André Fontenelle, dois dos brasileiros colaboradores da entidade com sede na Europa, lutamos com outros companheiros para que os números e dados dos Campeonatos Paulista e Carioca fossem levados em conta pela IFFHS. Quando esse nosso pedido foi acatado, a entidade enviou para o Brasil o troféu referente ao recorde de gols do Rei. Ele nos recebeu gentilmente (sempre ao lado de seu simpático assessor Pepito) em seu escritório e fizemos até uma foto oficial juntos para registrar a entrega de mais um troféu para Pelé.

O momento mais inesquecível que tive com o Rei aconteceu no final do ano 2000, em Roma, que vivia então o Grande Jubileu da Igreja Católica. A Fifa criou uma disputa para definir os melhores do século. A categoria mais falada e a que gerou mais polêmica foi, claro, a de Melhor Jogador do Século 20, isso muito por conta da rivalidade entre Pelé e Maradona. Em votação na internet, que começava ainda a engatinhar, Maradona venceu a disputa com 53,70% dos votos, recebi o resultado em primeira mão de Julio Grondona, dirigente argentino que era um dos vices da Fifa. A obtenção desses números talvez tenha sido mesmo o maior furo jornalístico da minha carreira. Uma enorme repercussão tomou conta do planeta. Seria justo dar o troféu de melhor do século para Maradona por uma enquete feita na internet que reuniu poucos milhares de pessoas, muitas dessas jovens que não viram Pelé? Houve até corrente para Maradona, que deixou Pelé com apenas 15,98% dos votos nessa eleição pela internet. A Fifa ficou então em uma saia justa, pois ela criou uma disputa e, mesmo que essa tenha tido um desfecho torto, precisava premiar Maradona, que tinha relação bastante ruim com a máxima entidade do futebol.  

Só que a “Família da Fifa”, então presidida pelo suíço Joseph Blatter, não abriu mão de dar o prêmio de melhor do século para Pelé, que sempre esteve muito próximo e alinhado com a entidade que rege o futebol no planeta. Em uma votação mais reservada que ouviu membros da Fifa, treinadores e jornalistas do mundo todo, o Rei ganhou com 72,8% dos votos (Maradona ficou com só 6% dos votos, atrás até de seu conterrâneo Di Stéfano, que teve 9,8%). Pelé chegou mais cedo para a cerimônia em Roma, em uma espécie de teatro e estúdio da RAI. Vários dos maiores nomes do esporte estavam ali na primeira fila e todos faziam questão de saudar o Rei, reverenciá-lo mesmo que de forma não oficial. Maradona cogitou não ir ao saber que haveria uma divisão do prêmio de melhor do século, mas chegou quase em cima da hora causando um grande rebuliço entre os jornalistas e os demais presentes. Ele mal cumprimentou as pessoas, subiu ao palco para pegar o troféu de melhor do século pela internet, disse que tinha sido eleito o melhor pelo povo e deixou logo depois o recinto.  

Eu estava ao lado de Pelé na entrada do local da premiação quando Joseph Blatter tentou convencê-lo a receber o troféu de melhor do século junto com Maradona para mostrar a união da “Família do Futebol”. Hélio Viana, então sócio do Rei, disse a Blatter que não seria dessa forma de jeito nenhum, que Pelé receberia o troféu sozinho no palco. Blatter deu então um sorriso amarelo (parecia se sentir culpado pela votação na internet), não insistiu e fez o que vimos: consagrou Pelé no final da cerimônia em uma bela homenagem. Oficialmente, a Fifa proclamou dois jogadores como melhor do século, mas de forma escancarada colocou Pelé no momento máximo do evento e acima de todos. O Rei, como de costume, esbanjou carisma e sorriso no fim de tudo.

A cobertura jornalística que fiz nesses dias em Roma rendeu meu nome na primeira página da Folha de S. Paulo algumas vezes. Eu dizia que meu maior orgulho profissional era ter feito a cobertura in loco de todas as Copas do Mundo deste século, mas essa série foi quebrada neste ano porque não fui ao Qatar. Pouco depois do Mundial, no entanto, veio a triste notícia do falecimento de Pelé e quase todo mundo que teve algum contato com ele passou a lembrar com carinho desses momentos mágicos, desses 15 minutos de fama com o cara que foi eleito o “Atleta do Século”. Logo me veio à mente esses dias de trabalho e tensão em torno da cobertura do Melhor do Século. O final foi muito feliz para o Rei e para mim. Profissionalmente e pessoalmente, posso dizer agora que esse é mesmo o momento máximo da minha carreira, muito por conta do personagem envolvido. Pelé é o maior de todos!

Minha matéria na capa da Folha de S. Paulo
Minha matéria na capa da Folha de S. Paulo Arquivo pessoal Rodrigo Bueno

Meu pai, que me levou nos anos 80 para ver a Copa Pelé (um torneio de masters para exaltar o Rei),  estava certo desde sempre, e eu pude dar um orgulho para ele, que investiu até com o que não tinha para eu poder me formar jornalista. Eu não pulei o muro do Pacaembu para ver o Pelé jogar, mas eu estive em duas entregas de troféu para o ilustre homem de Três Corações. Seu Nestor está com 85 anos (nasceu três anos antes de Pelé) e viu o fim do reinado com tristeza, assim como grande parte do mundo. Quem ama futebol de verdade ama o Pelé, independentemente de idade, de nacionalidade, de sexo, de política, de religião, de tudo. Que o Edson Arantes do Nascimento descanse em paz em Santos. Já o Pelé, o Melhor do Século 20, continuará jogando por mais algumas centenas e milhares de anos, pois ele é, de fato, eterno.

 

   

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Minha maior honra foi estar com Pelé quando ele recebeu o troféu de Melhor Jogador do Século

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Ranking de melhores técnicos da Copa do Mundo tem Tite só no meio da tabela e consagra semifinalistas

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Muitos treinadores brilharam na Copa do Mundo do Qatar, não apenas o campeão Lionel Scaloni, que era visto como um auxiliar ou mesmo um estagiário quando assumiu o comando da Argentina. Boa parte dos técnicos do Mundial saiu maior do nobre torneio da Fifa, independentemente da posição de suas seleções. Os quatro semifinalistas puxam a fila dos melhores trabalhos desta Copa no Oriente Médio disputada no fim do ano, no meio da temporada europeia. Mas tem 'professor' que foi eliminado ainda na fase de grupos deixando uma impressão positiva. Fiz um ranking dos treinadores do Mundial, tentando resumir os motivos pelos quais eles ocupam suas posições nesta lista. Tite, com quem sonhei de verdade na véspera do Natal (eu o entrevistava e ele dizia estar “mais leve”), está no meio da tabela

1º LIONEL SCALONI (ARGENTINA)

Seu time chegou à Copa com uma invencibilidade de 36 partidas. Perdeu na estreia e mexeu profundamente na equipe. Passou a jogar todas as partidas como mata-mata mesmo, alterando a escalação de acordo como adversário. Vale lembrar que perdeu Lo Celso, um grande parceiro de Messi, pouco antes da Copa.

2º DIDIER DESCHAMPS (FRANÇA)

Perdeu oito atletas para o Mundial, alguns de grande peso, como Benzema, Pogba e Kanté. Mesmo assim, levou o time à final e só caiu na disputa de pênaltis. Seu trabalho foi até melhor do que o de 2018, quando saiu com o título. A França atuou de forma mais ofensiva. Perdeu um jogo para a Tunísia, mas atuou com reservas.

3º WALID REGRAGUI (MARROCOS)

Liderou a sensação da Copa e fez história ao colocar pela primeira vez uma seleção africana nas semifinais. Despachou Espanha e Portugal, além de ter ficado em 1º no grupo que tinha Bélgica e Croácia. Nos dois últimos jogos, o time de Regragui foi batido, mas estava com sérios desfalques, sobretudo em sua forte defesa.

4º ZLATKO DALIC (CROÁCIA)

Depois do vice em 2018, Dalic voltou a surpreender ao levar sua equipe à terceira posição na Copa. Mesclou bem a experiência de jogadores como Modric e Perisic com a juventude de Gvardiol. Controlou o começo do jogo contra o Brasil com seu forte meio-campo. Acabou eliminando um dos grandes favoritos ao título.

5º HAJIME MORIYASU (JAPÃO)

A seleção japonesa bateu Alemanha e Espanha e terminou em 1º lugar em seu grupo. Depois, jogou melhor do que a Croácia nas oitavas, empatou e caiu nos pênaltis. Pouca gente acreditava nesta nova geração japonesa, mas Moriyasu, técnico local, surpreendeu. Outro caso de assistente técnico da Copa-18 que vinga em 2022.

6º HERVÉ RENARD (ARÁBIA SAUDITA)

A vitória contra a Argentina na estreia talvez seja a maior zebra da história das Copas, afinal o rival não perdia há 36 partidas e iria alcançar o recorde de jogos sem perder de seleções. O forte discurso de Renard no intervalo viralizou. E, depois do jogo, o vidente Renard disse que a Argentina seria a campeã do mundo.

7º LOUIS VAN GAAL (HOLANDA)

O veterano, que venceu um câncer enquanto salvava a Holanda na luta para ir à Copa, saiu do Mundial invicto, como em 2014 (são 12 jogos de Copa sem perder, caindo nas duas vezes diante da Argentina nos pênaltis). O futebol não foi vistoso, mas terminou em 5º lugar. E deixou um gol de jogada ensaiada para a história.  

8º GARETH SOUTHGATE (INGLATERRA)

Exceção feita à partida contra os EUA, um empate sem gols, a seleção inglesa foi a mais ofensiva da Copa até as quartas de final, quando foi superior à França em boa parte do jogo mas perdeu por 2 a 1 (com Kane desperdiçando um pênalti). Southgate ousou ao confiar em Maguire e deu vez a Bellingham. Fez bom papel.

9º GRAHAM ARNOLD (AUSTRÁLIA)

Muitos diziam que era a Austrália mais fraca que já foi para uma Copa, mas ela surpreendeu, passando para as oitavas batendo a bem cotada Dinamarca e a Tunísia, que tinha grande torcida no Qatar. No mata-mata, realizou um jogo duro com a Argentina, com Martínez fazendo defesaça que impediu uma prorrogação.  

10º GREGG BERHALTER (ESTADOS UNIDOS)

O jovem time norte-americano foi para o Mundial mais para se preparar para a Copa de 2026 em casa, mas praticou um bom futebol, sendo superior à Inglaterra no 0 a 0 entre eles (mantido o tabu de não perder dos ingleses em Copas). Venceu o explosivo duelo com o Irã e teve bons momentos até contra a Holanda.   

11º ALIOU CISSÉ (SENEGAL)

O bom time africano sofreu um grande baque ao perder por contusão seu craque Mané, mas, apesar da ausência pesada, Senegal avançou ao mata-mata, sendo que não merecia ter perdido da Holanda pelo futebol que apresentou. Cissé não conseguiu fazer muita coisa contra a Inglaterra nas oitavas.

12º GUSTAVO ALFARO (EQUADOR)

A classificação para as oitavas não veio, mas os sul-americanos deixaram boa impressão na Copa. Após bater os anfitriões no jogo de abertura, o Equador jogou melhor do que a Holanda e sufocou a seleção europeia no final. Gustavo Alfaro aproveitou bem Enner Valencia mesmo quando ele não estava 100%.

13º LUIS ENRIQUE (ESPANHA)

A campanha espanhola não foi boa, mas o estilo de toque de bola e controle de jogo pela posse esteve presente. A Espanha iniciou arrasando a Costa Rica (7 a 0), depois segurou a Alemanha e perdeu do Japão quando podia. Diante de Marrocos, o time de Luis Enrique dominou, mas pecou na conclusão até nos pênaltis.    

14º FERNANDO SANTOS (PORTUGAL)

O treinador português, muito criticado antes da Copa por ser conservador e incapaz de mudar situações, foi bem ao barrar Cristiano Ronaldo por conta da fase ruim do badalado atacante e pelo desrespeito público dele com seu técnico. Portugal goleou nas oitavas com um show de Gonçalo Ramos, o reserva de CR7.

15º TITE (BRASIL)

Na sua 2ª Copa, com muito mais opções, o técnico decepcionou. Seu time fez 3 gols na fase de grupos (pior campanha ofensiva desde 1978) e perdeu de Camarões (1ª queda em Copas do Brasil para um país que não é de Europa e América do Sul). Demorou para entender a Croácia e saiu nos pênaltis sem Neymar cobrar.  

Tite comandando a seleção brasileira
Tite comandando a seleção brasileira Lucas Figueiredo/CBF

16º MURAT YAKIN (SUÍÇA)

Quase conseguiu terminar na 1ª posição no grupo do Brasil (faltou um gol no saldo). Conseguiu mais uma vez travar o time de Tite e superar a rival Sérvia e seus talentos individuais. O problema foi a goleada sofrida para Portugal nas oitavas (6 a 1), placar histórico e vergonhoso para a tradição defensiva suíça.

17º RIGOBERT SONG (CAMARÕES)

Fez história ao vencer o Brasil por 1 a 0, pois Camarões virou o 1º país de fora da Europa e da América do Sul a derrotar os pentacampeões. Terminou na frente da Sérvia em grupo difícil, no qual fez eletrizante 3 a 3 contra o time do leste europeu, com direito a um dos golaços da Copa (Aboubakar, por cobertura).

18º CZESLAW MICHNIEWICZ (POLÔNIA)

Não fez seu time jogar um bom futebol, mas conseguiu levar a equipe até as oitavas, sendo eliminado pela favorita França. Um pouco menos dependente de Lewandowski, o time polonês festejou os primeiros gols de seu famoso centroavante em Copas.  Problema é que dependeu muito de milagres do goleiro Szczesny.

19º PAULO BENTO (COREIA DO SUL)

Avançou com dramaticidade às oitavas em um grupo dos mais embolados. A vitória no fim contra Portugal fez os uruguaios chorarem. Por não ser uma das gerações mais talentosas da Coreia, embora tenha Son no time, o trabalho de Paulo Bento foi satisfatório. Ele foi mal nas oitavas, sendo goleado pelo Brasil.

20º HANSI FLICK (ALEMANHA)

Claro que foi uma vergonha a seleção alemã não passar da fase de grupos pela segunda vez seguida, mas o desempenho do time foi bom na maior parte do Mundial. Pecou em especial no 2º tempo contra o Japão (poderia ter feito boa vantagem na etapa inicial). Fez jogo igual contra a Espanha, mas ficou sem a vaga no saldo.

21º CARLOS QUEIROZ (IRÃ)

Chegou ao Mundial sem muita condição de avançar às oitavas, mas esteve perto de conseguir isso ao pressionar os Estados Unidos no fim. O Irã reclamou sem razão de pelo menos um pênalti no jogo decisivo contra os americanos. Queiroz mandou bem contra País de Gales, mas foi muito mal contra a Inglaterra.

22º JALEL KADRI (TUNÍSIA)

Mais um caso de técnico local que fez uma Copa interessante. Venceu a poderosa França, um triunfo bastante significativo para os torcedores tunisianos, e segurou a bem cotada Dinamarca, a quem superou em pontuação. O pecado foi ter perdido um jogo para a Austrália, mas a performance da equipe foi bem aceitável.

23º DIEGO ALONSO (URUGUAI)

Verdade que o técnico da Celeste demorou a usar Arrascaeta como titular, mas seu time só não avançou de fase por conta de erros de arbitragem. Acabou fora no saldo de gol, e alguns lances de pênalti mudariam o cenário. Administrou os veteranos Cavani e Suárez e não explorou bem novos valores, como Valverde.

24º OTTO ADDO (GANA)

Ele se transformou no 1º técnico de Gana a vencer uma partida de Copa. Dividido entre a função de treinador e a de caçador de talentos, conseguir fazer boas partidas contra Portugal (2 a 3) e Coreia do Sul (3 a 2). No nervoso duelo diante dos uruguaios, seu time começou bem, mas falhou de novo em um pênalti decisivo.

25º JOHN HERDMAN (CANADÁ)

Como o Canadá não jogava a Copa desde 1986 e o foco maior está no Mundial de 2026, quando será sede, a participação dos canadenses até que não foi de todo ruim. Na estreia, mostrou um desempenho surpreendente, jogando melhor do qu a Bélgica. Depois, caiu diante de Croácia e Marrocos, duas seleções que foram à semifinal. Davies fez o 1º gol do Canadá em Copas.

26º GERARDO 'TATA' MARTINO (MÉXICO)

Pela primeira vez desde 1978 a seleção mexicana ficou fora na fase de grupos da Copa, mas isso aconteceu por causa do saldo de gols. A vitória de 2 a 1 contra a Arábia Saudita foi curta. Empatou com a Polônia em campo e perdeu de 2 a 0 da campeã Argentina. Muito criticado pela imprensa, Tata Martino já deixou a seleção.

27º LUIS FERNANDO SUÁREZ (COSTA RICA)

O início foi tenebroso (7 a 0 para a Espanha), mas o time mostrou poder de reação e venceu na sequência o Japão por 1 a 0. Chegou a virar incrivelmente contra a Alemanha na partida que terminou com vitória de 4 a 2 dos europeus. Não passou pelo Grupo da Morte agora, mas fez 1 ponto a menos que 2 campeãs mundiais.

28º DRAGAN STOJKOVIC (SÉRVIA)

Seleção bem cotada por conta de boas individualidades, a seleção da Sérvia colocou o Brasil em dificuldade, sobretudo no 1º tempo. Fez jogo eletrizante com Camarões (3 a 3) e decidiu tudo contra a rival Suíça. Virou o placar ainda no 1º tempo, mas sucumbiu na etapa final e saiu de forma precoce e na lanterninha do grupo.

29º ROBERT PAGE (PAÍS DE GALES)

Uma seleção com pouca alma na Copa, talvez um reflexo do que virou Bale, astro da equipe. Aliás Bale fez de pênalti o único gol do time galês no Mundial, na estreia contra os EUA (1 a 1). Caiu diante do Irã (0 a 2) e da rival Inglaterra (0 a 3) sem competir muito. Giggs seria o técnico, mas ele teve problemas pessoais.

30º KASPER HJULMAND (DINAMARCA)

Para uma seleção que chegou tão bem cotada, dando pinta de que poderia ir à semifinal pela sua organização e pelo ânimo por contar com seu craque Eriksen, a decepção foi enorme. O time ficou na lanterna de seu grupo e marcou um mísero gol, esse contra a França, talvez no único jogo aceitável da equipe na Copa.

31º ROBERTO MARTÍNEZ (BÉLGICA)

Um treinador que brilhou na Copa-18 não foi capaz de controlar um vestiário em chamas. Os jogadores belgas entraram em conflito e fizeram um papelão no Mundial. Nem mesmo quando ganharam do Canadá convenceram. Lukaku começou fora de forma e terminou perdendo gols. Fim da dourada geração belga.

32º FÉLIX SÁNCHEZ BAS (QATAR)

A pior campanha de um anfitrião nas Copas é um fiasco que passa também pelo treinador espanhol, que se construiu na base do Barcelona e tinha a missão, desde 2006, de desenvolver o futebol no Qatar. Passou pelas seleções de base do país e conhecia bem seus jogadores, que protagonizaram lances de churrasco na Copa.

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Apanhado de marcas da Copa consagra Messi, CR7, Mbappé, Livakovic, Van Gaal, Giroud...

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno
Messi, CR7, Mbappé, Livakovic e Giroud fizeram história na Copa do Qatar
Messi, CR7, Mbappé, Livakovic e Giroud fizeram história na Copa do Qatar Getty Images | ESPN Brasil

Terminou a Copa do Qatar, que nasceu cheia de problemas e críticas merecidas (por uma série de razões) e acabou com a melhor final de Mundiais de futebol da história. Todo torneio desse porte deixa marcas nas pessoas e deixa também recordes para as próximas gerações. Neste post, vou elencar algumas dessas estatísticas e curiosidades desta diferenciada Copa no Oriente Médio. Vale como um grande arquivo do Mundial.       

Messi se tornou o jogador argentino com mais gols em Copas (13), deixando Batistuta e Maradona para trás.

Cristiano Ronaldo se transformou no único atleta que fez gol em cinco Copas do Mundo diferentes (2006-2022).  

A Argentina superou a Itália na tabela histórica de pontos (158 a 156), de jogos (88 a 83) e de vitórias (47 a 45), assumindo a terceira posição da lista, atrás só de Brasil e Alemanha.

Messi passou a ser o jogador com mais partidas em Copas (26), superando o alemão Lothar Matthäus (25).

Mbappé se tornou o segundo jogador na história a marcar um hat-trick em final de Copa, igualando o feito de Hurst em 1966.

Mbappé se tornou o jogador com mais gols em finais de Copa (4).

O chute de Mbappé que resultou no segundo gol da França na final atingiu a velocidade de 123,34 km/h, sendo assim a finalização mais poderosa do torneio.

Lloris se transformou no jogador com mais partidas com a seleção francesa (145), deixando Thuram para trás (142).

Giroud passou a ser o atleta com mais gols pela seleção francesa (53), superando Thierry Henry (51).

A Copa do Qatar é a que teve mais gols na história (172), superando os Mundiais de 1998 e 2014 (171).

Messi se tornou o primeiro jogador a dar assistência em cinco Copas do Mundo seguidas (2006-2022).

Messi virou o primeiro jogador a fazer gol em todas as etapas da Copa após a fase de grupos (oitavas, quartas, semi e final).

Messi é o primeiro jogador a fazer gol e dar assistência em três jogos diferentes de Copa desde 1966.

Cristiano Ronaldo se transformou no jogador mais velho a fazer gol em Copa por Portugal (37 anos e 292 dias).  

Gavi se transformou no jogador espanhol mais jovem a atuar e a fazer gol pela seleção espanhola (18 anos e 110 dias).

Ivan Perisic se tornou o maior goleador croata em torneios de grande porte (Copa e Eurocopa), com dez gols.

Dumfries, da Holanda, tornou-se o jogador expulso de forma mais tardia em um jogo de Copa. Ele recebeu o cartão vermelho após a disputa de pênaltis contra a Argentina, igualando o que Cufré, da Argentina, havia feito contra a Alemanha em 2006.

Wahbi Khazri, da Tunísia, é o primeiro jogador africano a fazer gol em três jogos seguidos de Copa como titular.

Vincent Aboubakar fez um gol contra o Brasil e foi expulso logo depois após tirar a camisa. O último atleta que tinha feito gol e sido expulso na mesma partida foi Zidane na final de 2006.

Szczesny, da Polônia, entrou para a galeria dos goleiros que pegaram dois pênaltis em Copa sem contar as disputas de penalidades máximas, igualando Tomaszewski (Polônia, 1974), Friedel (EUA, 2002) e Casillas (Espanha, 2002 e 2010).

Livakovic, da Croácia, entrou para a galeria dos goleiros que pegaram três pênaltis em uma disputa de pênaltis em Copa, igualando Ricardo (Portugal, 2006) e Subasic (Croácia, 2018).

Livakovic também entrou para a galeria dos goleiros que pegaram quatro pênaltis em disputas de pênaltis em Copas, igualando Schumacher (Alemanha, 1982-1986), Goycochea (Argentina, 1990) e Subasic (Croácia, 2018).

O Canadá virou o país com mais jogos de Copa sem somar um único ponto (6), igualando assim El Salvador.

A Arábia Saudita quebrou uma invencibilidade de 36 partidas da Argentina (2 a 1) quando faltava apenas um jogo para a seleção sul-americana bater o recorde de 36 jogos sem perder da Itália.

O Qatar foi o primeiro time anfitrião a perder seu primeiro jogo em Copas e também o pior anfitrião, saindo sem nenhum ponto.

O Japão teve 17,7% de posse de bola no jogo em que venceu a Espanha, sendo esse o menor índice de posse de bola de uma equipe na história da Copa do Mundo.

O Canadá fez seu primeiro gol em Copa, tornando-se o 76º país diferente a balançar as redes em Mundial.

A Holanda virou o país com mais jogos seguidos de Copa sem perder no tempo normal (19), com a série começando no 2 a 0 na Dinamarca em 2010 e terminando com o 2 a 2 contra Argentina neste ano.

O Brasil estabeleceu um recorde de 17 jogos sem perder em fase de grupos da Copa até cair diante de Camarões (0 a 1).

A Alemanha não venceu seus dois primeiros jogos em uma edição de Copa, algo que não acontecia desde 1938.

O México não passou da fase de grupos da Copa do Mundo pela primeira vez desde 1978.

A Holanda manteve o tabu de sempre avançar nas fases de grupos da Copa. São 9 nove classificações na primeira fase de grupos e 11 se contarmos os grupos da segunda fase de 1974 e 1978.

A Argentina manteve o tabu de nunca ter perdido na semifinal, tendo passado por esta fase cinco vezes em Copas.

Messi manteve o tabu de nunca ser eliminado em fase de grupos contando tanto a carreira na seleção como em clubes.

Louis van Gaal passou a ser o técnico com a maior série invicta em Copas do Mundo (12 jogos, sete em 2014 e cinco em 2018), igualando Luiz Felipe Scolari (sete em 2002 e cinco em 2006)  

Rigobert Song, de Camarões, é agora um dos recordistas em participação em Copas como atleta e jogador (5 edições, 1994-2002 e 2010, como jogador, e 2022, como técnico). Os outros recordistas são Zagallo (1958-1962, como jogador, e 1970-1974 e 1998, como treinador), Beckenbauer (1966-1974, como jogador, e 1986-1990, como técnico), Berti Vogts (1970-1978, como atleta, e 1994-1998, como treinador) e Maradona (1982-1994, como jogador, e 2010, como técnico).

Stephanie Frappart tornou-se a primeira mulher a apitar um jogo de Copa do Mundo masculina (México x Polônia).

Alireza Faghani, do Irã, e Bakary Gassama, de Gâmbia, são agora também recordistas em participações em Copas como árbitros (3 edições, 2014-2022). Os outros recordistas são John Langenus (Bélgica,1930-1938), Ivan Eklind (Suécia, 1934-1950), Benjamin Griffiths (País de Gales 1950-1958), Arthur Ellis (Inglaterra, 1950-1958), Juan Gardeazábal (Espanha, 1958-1966), Erik Fredriksson (Suécia, 1982-1990), Jamal Al Sharif (Síria, 1986-1994), Joël Quiniou (França, 1986-1994), Ali Mohamed Bujsaim (Emirados Árabes Unidos, 1994-2002), Óscar Ruiz (Colômbia, 2002-2010), Carlos Eugênio Simon (Brasil, 2002-2010), Marco Rodríguez (México, 2006-2014), Joel Aguilar (El Salvador, 2010-2018) e Rayshan Irmatov (Uzbequistão, 2010-2018).

 

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Holanda deixa a Copa com 20 jogos de invencibilidade, uma jogada histórica e pouca bola

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Eu vinha dizendo que a Holanda atual não tinha muito como ir longe nesta Copa, que sofria com algumas limitações, que não era bastante ofensiva e que Van Gaal fez até alguns pequenos milagres com o material humano que possuía. A eliminação diante da Argentina nas quartas de final não chega a chocar ou surpreender ninguém nem mesmo na Holanda. Mas o roteiro da queda é dos mais doloridos para os torcedores da Laranja.       

Quando saiu o sorteio dos grupos da Copa, ficou claro que a seleção holandesa passaria em primeiro lugar na chave, o que de fato aconteceu. Depois, também era esperada uma “moleza” nas oitavas de final, e apareceram os Estados Unidos, com um time muito jovem, pela frente. A Holanda passou em seu melhor jogo neste Mundial, usando bem seus alas como não havia feito no torneio do Qatar. Até por isso, Lionel Scaloni, o treinador da Argentina, espelhou o adversário laranja e atuou com três zagueiro, deixando Di María, que não estava 100%, no banco. Essa mudança do rival surtiu muito feito, tanto que o ala direito argentino Molina fez um gol e o ala esquerdo Acuña sofreu o tolo pênalti cometido por Dumfries. A Holanda pouco incomodou no ataque até os minutos finais do tempo regulamentar, quando usou os postes Luuk de Jong e Weghorst. O último fez os dois gols holandeses após substituir o “craque enganação” Memphis.     

Argentina leva empate aos 100 minutos, mas vence a Holanda nos pênaltis e está na semifinal da Copa; VEJA como foi          

     


Memphis Depay começou a Copa tentando se recuperar de lesão e foi entrando aos poucos no time. Mas mesmo quando está em seu auge físico e técnico, ele não inspira muita confiança. Contra a Argentina, ele teve uma atuação pobre. No seu melhor jogo, contra os Estados Unidos, também mostrou sua displicência. Ele declarou gostar mais de jogar com Bergwijn no ataque e ganhou esse presente de Van Gaal. Só que a fase de Bergwijn é ruim e ele fez mais uma partida bem discreta, sendo substituído no segundo tempo. Os gols “salvadores” da Holanda saíram no final da partida de jogada aérea e de jogada ensaiada na bola parada. Weghorst, o melhor dos três centroavantes que Van Gaal levou para o Qatar, teve um grande impacto no jogo e definiu bem um cruzamento de Berghuis e, sobretudo, a jogada que ficará eternizada na história das Copas como mais uma inovação laranja.   

Koopmeiners, no último lance do jogo praticamente, rolou a bola na área para Weghorst fazer um gol emblemático que coroa a despedida de Van Gaal das Copas. Ele saiu invicto do Mundial do Brasil em 2014 inovando com a entrada do goleiro Krul na reta final para pegar pênaltis. E ele sai invicto da Copa do Qatar usando uma jogada ensaiada impensável para aquele momento crucial da partida, uma falta muito perto da área que, pela lógica, deveria ser cobrada de forma direta. Os dois jogadores que executaram com perfeição a jogada ensaiada saíram do banco de reservas para dar uma sobrevida na partida para a Laranja.   

O empate dramático nos segundos finais não esconde o fato de a Argentina ter jogado um pouco melhor nos 90 minutos. Aliás a Argentina continua sem vencer a Holanda em 90 minutos: apenas ganhou na prorrogação na final de 1978 (3 a 1). Em dez confrontos, agora são quatro vitórias da Holanda, cinco empates e uma vitória argentina. Só que em dois empates a Argentina venceu na disputa de pênaltis (o time de Van Gaal caiu dessa forma em 2014 e em 2022). O experiente treinador holandês disse que tinha contas a acertar com os argentinos por conta da eliminação na semifinal em Itaquera, mas agora deixa o futebol com uma conta ainda maior. Só que Van Gaal deixa a Copa sem perder (somando os dois últimos Mundiais que a Holanda jogou, são oito vitórias e quatro empates). Para quem estava aposentado e precisou superar  um câncer agressivo em meio às eliminatórias, a campanha pode ser considerada bem boa. Não viu a Holanda perder desde que assumiu o time em um momento de dificuldade.  

Blind teve uma atuação ruim contra a Argentina e aumentou o coro de quem queria Malacia na lateral esquerda. O filho do auxiliar de Van Gaal, que atua com um desfibrilador, deu lugar para um centroavante: Luuk de Jong. A Holanda melhorou e começou a sufocar a Argentina, que recuou após fazer 2 a 0 (pênalti convertido por Messi, que deu a assistência para o gol de Molina). Messi não havia feito gol na Holanda nos dois jogos anteriores em Copas (0 a 0 em 2006 e em 2014). A tática do chuveirinho ficou ainda mais escancarada na Holanda quando Weghorst entrou. De cabeça, ele fez o gol que manteve a Laranja viva. Faltavam apenas sete minutos para acabar o tempo normal.  Clima ficou bem tenso após uma bola ser chutada com força por Paredes no banco da Holanda. Na base da pressão, a equipe europeia conseguiu uma falta na entrada da área por volta dos 10 minutos de acréscimos. No minuto 90+11, veio o gol de Weghorst que chocou quem estava assistindo ao jogo. O estádio, lotado de argentinos que já celebravam a classificação para as semifinais, ficou quase mudo (havia poucos holandeses no Qatar).    

O primeiro tempo da prorrogação foi morno, com os times cansados e temendo serem vazads. Na segunda etapa no tempo extra, a Argentina bombardeou o gol de Noppert, goleiro que Van Gaal tirou da cartola nesta Copa e de quem se esperava muito na disputa de pênaltis. Mas, apesar dos seus 2,03 m, o arqueiro do Heerenveen que nunca tinha defendido a seleção até esta Copa não defendeu nenhuma penalidade máxima. Levou dois gols dessa forma de Messi, sendo sempre deslocado. A única cobrança errada da Argentina teve uma bola para fora. A Holanda já havia caído nos pênaltis em 1998 (semifinal contra o Brasil), em 2014 e 2018 (diante dos argentinos). Assim, dos últimos 19 jogos de Copa da Laranja, ela teve apenas uma derrota: 1 a 0 para a Espanha na decisão do Mundial de 2010. E foi um gol de Iniesta já no finalzinho da prorrogação. Mesmo com time limitados, a Holanda tem conseguido fazer boas campanhas em Copas.

A seleção holandesa manteve o tabu de sempre avançar na fase de grupos da Copa, chegou a 30 vitórias na história dos Mundiais (está à frente do Uruguai na tabela histórica de pontos do mais nobre torneio de seleções), mas o título tão sonhado ainda não veio. Há uma boa chance de conquista no meio do ano que vem, quando a Holanda vai sediar a fase final da Nations League. Vai medir forças contra Croácia, Espanha e Itália. Koeman voltará a comandar a Holanda, que estreia nas eliminatórias para a Eurocopa de 2024 simplesmente contra a França fora de casa. Algumas novidades positivas, como Gakpo, devem ganhar ainda mais espaço no time liderado por Van Dijk, capitão que bateu e perdeu o primeiro pênalti da Holanda contra a Argentina. Berghuis também parou no catimbeiro goleiro Martínez.

Resumindo tudo, mais uma campanha destacada da Laranja em Mundiais e mais uma eliminação dolorosa com requintes de crueldade. Não foi uma queda injusta, afinal a Argentina procurou atacar e vencer mais. Além de uma geração melhor de atletas, a Holanda precisa ter mais fome, competitividade e mais bola mesmo, honrar a escola holandesa e ser mais presente no ataque. Fica a lição desta Copa do Qatar, assim como fica o segundo gol da Holanda contra a Argentina na história dos Mundiais.   

“Há coisas que só acontecem com a Holanda.”

Time da Holanda antes da eliminação para a Argentina
Time da Holanda antes da eliminação para a Argentina Getty Images
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Holanda deixa a Copa com 20 jogos de invencibilidade, uma jogada histórica e pouca bola

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Holanda faz melhor jogo na Copa e ostenta maior série invicta de seleções: mas por que ainda não inspira confiança?

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

A Holanda fez o seu melhor jogo até aqui na Copa do Mundo do Qatar, mas, apesar dos 3 a 1 no jovem time dos Estados Unidos, ainda não desencantou totalmente e não inspira muita confiança para o duelo duro que terá pela frente contra a Argentina

Uma notícia boa é a subida de produção de jogadores importantes, como Dumfries e Memphis Depay. O ala direito foi o melhor em campo, com um gol e duas assistências. Memphis jogou quase o tempo todo, pois agora está melhor fisicamente, e fez seu primeiro gol na Copa, o de número 43 pela seleção holandesa (só está atrás na história de Van Persie, que tem 50).

HOLANDA 3 x 1 EUA: ASSISTA PELA ESPN NO STAR+ AO COMPACTO DO JOGO COM NARRAÇÃO DE HAMILTON RODRIGUES E COMENTÁRIOS DE RODRIGO BUENO

Desta vez, Gakpo não abriu o placar. Destaque da Holanda na fase de grupos, ele fez um jogo discreto, talvez porque Memphis declarou que prefere ter Bergwijn como parceiro de ataque. Mesmo assim, Gakpo participou do lance do primeiro gol. Dumfries avançou ao ataque e cruzou para trás para Memphis pegar de primeira e balançar as redes. 

Esse gol saiu após 20 toques na bola, um recorde para a Holanda na história das Copas (e olha que a seleção laranja tem fama de trocar muitos passes e fazer jogadas coletivas de grande refinamento e paciência). 

O gol cedo não mudou o panorama do jogo. Desde o início os Estados Unidos tiveram mais a posse de bola e também mais finalizações, poderia ter aberto o placar logo de cara com Pulisic, mas Noppert fez uma grande defesa.

Para quem é amante do futebol holandês, tão associado ao jogo ofensivo, é estranho deixar a bola com o adversário, ainda mais sendo pior tecnicamente do que a Laranja Mecânica. Sargent, contundido, ficou fora, mas a equipe estadunidense contou ao menos com seu melhor jogador, Pulisic, que sofreu pancada na região pélvica no gol que fez contra o Irã. 


         
     

Noppert fez ainda uma outra boa defesa no primeiro tempo antes de Blind anotar o segundo gol holandês, já no fim da etapa inicial. O gol foi a segunda assistência de Dumfries no jogo. Os dois lances foram bem parecidos. E detalhe: essa conexão de ala para ala na marcação do gol seria repetida na etapa final, só que com os personagens invertidos.

No segundo tempo, a Holanda pareceu continuar se poupando na Copa, algo que se viu muito na fase de grupos. Os Estados Unidos tiveram duas bolas para descontar, mas essas foram tiradas quase em cima da linha (uma por Gakpo e outra por Timber). 

Memphis, que já havia dado um recuo de bola desastrado que quase resultou em gol americano, tentou um passe de efeito no contragolpe e perdeu a bola na jogada que resultou no gol estadunidense. Pulisic cruzou da direita, e o grandalhão Wright desviou a bola sem querer para encobrir o goleirão de 2,03 m.

Pouco depois, quando a numerosa torcida americana empurrava o time da Concacaf para o empate, Blind serviu com estilo Dumfries para anotar seu gol. Gentileza gera gentileza. 

Blind, que joga com um desfibrilador, teve um dia especial com seu gol e sua assistência também. Deu um abraço emotivo no seu pai, o ex-zagueiro Blind, hoje auxiliar de Van Gaal. Blind havia feito um gol na Copa de 2014 contra o Brasil na disputa de terceiro lugar: 3 a 0 para a Holanda. Ele era um dos jogadores que vinham rendendo pouco na equipe laranja na fase de  grupos, mas que cresceu no mata-mata.

Van Gaal continua invicto em Copas. Agora, são oito vitórias e três empates. Um desses empates foi o 0 a 0 contra a Argentina na semifinal de 2014. A Holanda, para variar, foi eliminada nos pênaltis. O caminho da Holanda nesta Copa, aliás, lembra um pouco o do Mundial de 1998, quando a equipe passou pelos argentinos nas quartas de final e depois caiu nas penalidades máximas diante do Brasil.

Jogadores da Holanda comemoram classificação às quartas de final da Copa do Mundo
Jogadores da Holanda comemoram classificação às quartas de final da Copa do Mundo Getty Images

A Holanda deve manter a equipe das oitavas para o duelo contra a Argentina. Van Gaal já manteve o time que começou contra o Qatar por entender que os Estados Unidos possuem um meio-campo muito forte. A Argentina tem ainda mais força no setor, especialmente por contar com Messi. Possivelmente De Roon e De Jong farão a marcação no craque argentino, que brilhou muito nas oitavas contra a Austrália. Nesse jogo contra os EUA, Van Gaal pôde até poupar um pouco alguns jogadores, como o zagueiro Aké, que tem um cartão amarelo e saiu no fim para não ser suspenso.

Até Xavi Simons, jovem de 19 anos que foi uma surpresa na convocação para a Copa, entrou no final da partida contra a equipe norte-americana. Deu para ver seu talento, e ele vira mais uma opção ofensiva para a equipe. Trabalha bem na construção das jogadas, sendo destaque do atual Campeonato Holandês. Koopmeiners entrou e levou um cartão amarelo. De Ligt, que atuou na estreia, também teve seis minutos. A Holanda chegou a 19 jogos sem perder, ostenta hoje a maior invencibilidade dentre as seleções. Mas vai pegar a Argentina, que estava invicta há 36 partidas até cair para a Arábia Saudita neste Mundial.

A seleção laranja não perde em  Copas para um time de fora da Europa desde 1994, quando perdeu de 3 a 2 do Brasil nas quartas de final. Neste século, ainda não perdeu para adversários sul-americanos. Contra a Argentina, são nove confrontos, com apenas uma vitória dos hermanos (na final da Copa de 1978, que terminou 1 a 1 no tempo normal). 

São dados e estatísticas que dão ânimo para a Holanda, mas o futebol do time continua sendo criticado em seu país (Van Basten exaltou os belos gols, mas disse que no resto do jogo a Holanda foi de chorar). Que a Holanda possa fazer seus torcedores chorarem de alegria pela primeira vez após uma final de Copa.

Timber limpa o rosto durante partida da Holanda na Copa do Mundo
Timber limpa o rosto durante partida da Holanda na Copa do Mundo Getty Images

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Holanda faz melhor jogo na Copa e ostenta maior série invicta de seleções: mas por que ainda não inspira confiança?

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Holanda treina contra o Qatar, não apresenta sinal de melhora e festeja só tabu e gols de Gakpo

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

A Holanda, como era esperado, terminou em primeiro lugar no grupo A. E a seleção laranja, como não era esperado, não jogou absolutamente nada até aqui na Copa do Mundo do Qatar. Não mereceu vencer Senegal (que avançou às oitavas de final em segundo lugar), não mereceu empatar com o Equador (que foi tristemente eliminado) e não mereceu golear o Qatar, o pior anfitrião da história dos Mundiais. A festejar, apenas os gols e as marcas de Gakpo, ainda jovem estrela do PSV que merecidamente ganhou vaga de titular e anotou gol nas três partidas. Ele é o primeiro holandês a conseguir tal feito em Copas e igualou até o número de gols do lendário Cruyff no torneio (o melhor jogador do Mundial de 1974 atuou apenas naquela edição, na  Alemanha). E um detalhe: Gakpo fez gol de cabeça, com o pé esquerdo e com o pé direito. Só Sneijder, dentre os holandeses, alcançou tal proeza (em 2010, na África do Sul).      

Os 2 a 0 em cima da seleção da casa deram sono em uma Copa que teve vários empates sem gol. O Qatar não tinha qualidade nem coragem de atacar a Holanda, e a equipe de Van Gaal, muito preguiçosa, pareceu desde o início se poupar para as oitavas. O problema maior é que a sensação que os holandeses passam é de estarem se poupando na Copa desde o início. Além de problemas e limitações, o time de Memphis Depay mostra uma apatia, uma falta de atitude, o que pode tornar qualquer confronto decisivo (contra Estados Unidos, Irã ou País de Gales) em algo perigoso. Ao menos a Holanda manteve o tabu de sempre avançar nas fases de grupo nas Copas. Agora, são nove classificações nas primeiras fases e podemos colocar outras duas classificações nas segundas fases dos Mundiais de 1974 e 1978 (o regulamento tinha esse sistema). Nenhuma outra seleção com mais de uma participação em Copas possui 100% de classificações em fases de grupo.         

HOLANDA 2 x 0 QATAR: ASSISTA PELA ESPN NO STAR+ AO COMPACTO DO JOGO COM NARRAÇÃO DE FERNANDO NARDINI E COMENTÁRIOS DE FERNANDO CAMPOS

Memphis Depay começou como titular desta vez no ataque, uma prova de que ele está melhor de sua lesão. Foram 30 minutos na estreia e outros 45 minutos na segunda rodada para o atacante do Barcelona. Contra o frágil Qatar, no entanto, Memphis foi uma figura discreta e errou alguns lances de forma displicente. Eu ainda continuo com muitas dúvidas sobre o potencial de Memphis, um jogador de fato dotado de boa técnica, mas que carece de mais competitividade, mais contundência. Em defesa dele, posso dizer que ele também não tem um parceiro de elite. Gakpo tem sido uma melhor opção ofensiva do que Bergwijn, que vive uma fase ruim e nem atuou no duelo contra a seleção anfitriã.   

Gakpo aproveitou uma boa trama ofensiva, um passe de Klaassen e um buraco na defesa do Qatar para marcar com o pé direito aos 26 minutos do primeiro tempo o gol de abertura do placar. Essa vantagem não mudou em nada o panorama lento do jogo. O Qatar continuou tímido e com quase todo mundo atrás da linha da bola, e a Holanda ficou tocando a pelota sem pressa e sem muita objetividade. Nas duas primeira rodadas, a seleção laranja só criou mais chances claras de gol do que a Costa Rica, uma vergonha para uma equipe que historicamente é associada a um jogo ofensivo e vistoso. 

O gol de Gakpo foi o de número 90 da Holanda nas Copas. O gol 91 sairia só aos 4 minutos da segunda etapa. Frenkie de Jong aproveitou rebote do goleiro Barsham após chute de Memphis e só empurrou para as redes. O bom volante do Barcelona, que participou bem da estreia do time, marcou pela Holanda após 1.180 dias (ele fez apenas o seu segundo gol pela seleção, o outro foi contra a Alemanha em setembro de 2019). De Jong jogou um pouco mais adiantado na partida contra o Qatar.   

A defesa passou batida mais uma vez, levou apenas um gol do Equador nesta fase de grupos. O goleiro Noppert, uma aposta de Van Gaal para esta Copa, não comprometeu, mas deixou escapar de forma perigosa uma bola que encaixou contra o Qatar. Van Dijk, que foi criticado por Van Basten pelo gol sofrido contra o Equador (muita gente condena a estratégia de Van Dijk de não dar bote), ficou tranquilo quase o jogo todo na sobra. Aké, o seu parceiro pela esquerda, faz um bom Mundial, porém levou um tolo cartão amarelo entrando forte em lance no campo de ataque. Timber foi mais uma vez o zagueiro pela direita (De Ligt atuou apenas na estreia contra Senegal, muito pela estatura do rival). Na volância, De Roon atuou desta vez desde o início (ele também tinha um problema médico no começo da Copa), dando mais liberdade assim para De Jong avançar. Klaassen voltou a atuar entre o meio e o ataque, e ele tem se entendido bem com Gakpo, servindo mais uma vez o companheiro. Nas alas, Dumfries e Blind continuam devendo, oferecendo pouco apoio efetivo ao ataque do time.  

Van Gaal, que continua invicto em jogos de Copa (são sete vitórias e três empates, contando com o Mundial de 2014, no Brasil), deu sorte no sorteio, pois o grupo com o Qatar como cabeça de chave foi uma bênção, assim como também pode ser o jogo de sábado que abre as oitavas de final. Por mais que o experiente técnico continue otimista e defendendo sua equipe, não há muita animação e otimismo na torcida holandesa. Malacia deveria ter mais minutos na ala esquerda. Noa Lang e até Xavi Simons poderiam ter tido alguma chance nesta fase de grupos. Mas Van Gaal tirou do banco de reservas Koopmeiners (que não foi bem contra o Equador), Janssen (que não foi bem contra Senegal), Berghuis (que mandou uma bola no travessão contra o Qatar), Weghorst (o grandalhão da área que está à frente de Luuk de Jong) e Taylor (jovem meio-campista do Ajax).

Não sei se Gakpo (um dos artilheiros da Copa junto com Mbappé e Enner Valencia) anotará o gol de abertura do placar nas oitavas, como ele fez nos três primeiros jogos da Holanda no Qatar. Não sei como a equipe laranja vai reagir se estiver atrás no marcador, coisa que aconteceu nas oitavas da Eurocopa, quando veio a última derrota da equipe (diante da República Tcheca). O que eu posso dizer é que, se esta Holanda atual for campeã do mundo, será uma das grandes surpresas da história das Copas e um tapa na cara das tantas gerações bacanas e admiradas que a seleção laranja já teve e que já enviou para os Mundiais de futebol.

Gakpo em ação pela Holanda na Copa do Mundo do Qatar
Gakpo em ação pela Holanda na Copa do Mundo do Qatar Getty Images
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Holanda treina contra o Qatar, não apresenta sinal de melhora e festeja só tabu e gols de Gakpo

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Holanda faz a pior partida desde a volta de Van Gaal e confirma não estar mesmo entre as favoritas

Rodrigo Bueno
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A Holanda venceu o Equador por 1 a 1. Essa é a verdade. Se contra Senegal, na estreia, a seleção laranja não mereceu vencer, desta vez, contra o valoroso adversário sul-americano, seria bem justa uma derrota holandesa. Houve uma polêmica anulação de gol do Equador no primeiro tempo, mas nulo mesmo foi o futebol do time de Van Gaal. O técnico mexeu no time em relação à estreia, colocando o titular Timber na zaga pela direita no lugar de De Ligt. Também começou com Koopmeiners e Klaassen no meio, sendo que o autor do segundo gol contra Senegal se apresentava às vezes como um falso 9 e até participou assim do belo gol de Gakpo. A vantagem holandesa no placar veio logo no sexto minuto, o que deveria tranquilizar o time favorito do Grupo A. Mas o que se viu foi uma equipe que recuou, pouco funcionou e viu a seleção equatoriana dominar e finalizar seguidamente.    

Prova da fraqueza ofensiva da Holanda está no número de finalizações: apenas duas, a do gol de Gakpo e uma para fora de Koopmeiners no segundo tempo. Nunca antes uma seleção europeia havia finalizado tão pouco em jogo de Copa do Mundo (essa estatística começou a ser feita em 1966). A Holanda tomou o empate no começo do segundo tempo, com Enner Valencia aproveitando rebote do goleiro Noppert, enfim vazado. A Holanda não levava gol em Copas nos quatro jogos anteriores (0 a 0 contra a Costa Rica e a Argentina, 3 a 0 no Brasil e 2 a 0 em Senegal). Se tivesse vencido o Equador, a Holanda completaria oito vitórias seguidas em fase de grupos do Mundial, o que seria um recorde. Só que o empate acabou sendo um grande lucro para a seleção laranja, que continua em primeiro lugar na chave e pode até fazer saldo de gols na última rodada contra o eliminado Qatar.      

Memphis Depay, que jogou só meia hora na estreia e 45 minutos no segundo jogo da Holanda, não está 100%, assim como o time de Van Gaal
Memphis Depay, que jogou só meia hora na estreia e 45 minutos no segundo jogo da Holanda, não está 100%, assim como o time de Van Gaal Getty Images

Memphis Depay começou no banco de novo e desta vez jogou 45 minutos (foi meia hora apenas na estreia). Se contra Senegal ele ajudou a melhorar a parte ofensiva da Holanda, diante do Equador ele teve uma fraca atuação. Segundo maior artilheiro da Holanda na história, Memphis é o melhor jogador de ataque da equipe, mas vem se recuperando de lesão. Eu, particularmente, não confio muito em Memphis, ele fez uma Eurocopa fraca e parece ser bastante instável, oscila mais do que um craque deveria. Bergwijn, atacante do Ajax que é o principal parceiro de ataque de Memphis, está em uma fase ruim, como já admitiu Van Gaal. Janssen, que foi mal na estreia, Weghorst, que entrou e pouco fez diante do Equador, e Luuk de Jong, são centroavantes pesadões que não contribuem muito para a criação, para o jogo vistoso que muita gente espera da Holanda. Van Gaal levou para a Copa do Qatar o Noa Lang, de 23 anos, e o Xavi Simons, de apenas 19 anos. Talvez eles seriam a chance de a Holanda fazer fumaça.

Van Gaal não abre mão do sistema de três zagueiros, que não agrada muito a Van Dijk. O beque do Liverpool tem nesta Copa um grande parceiro que é Aké, um dos poucos que se salvaram na Holanda no 1 a 1 contra o Equador. Ele tem se saído bem na defesa e quando arranca pela esquerda para o ataque. Gakpo, com dois gols, é o grande nome da Holanda até aqui no Mundial. Um belo gol de cabeça, que não é sua especialidade, e um chutaço de canhota foram o começo dele no torneio no Qatar. Van Gaal apostou alto, literalmente, no goleiro Noppert (com 2,03 m é o jogador mais alto da Copa), mas mantém dúvidas na defesa, no meio e no ataque. O elenco não é dos melhores, embora o técnico tenha dito que este grupo é melhor, na média, do que aquele que ficou invicto e saiu em terceiro lugar da Copa do Brasil em 2014.

A Holanda deve passar em primeiro lugar em seu grupo e pegar nas oitavas de final os Estados Unidos ou o Irã. Creio que o time laranja entrará no mata-mata com favoritismo, mas não será uma grande surpresa para mim se cair logo nas oitavas, coisa que aconteceu na última Eurocopa diante da República Tcheca. Caso avance e pegue uma seleção mais forte, deverá sofrer ainda mais do que já sofreu diante de Senegal e Equador. Se no passado a força da Holanda estava no ataque, agora a única esperança é a defesa. Sinal dos tempos para o futebol que revolucionou o mundo com o futebol total. A Holanda não parece a Holanda nesta Copa nem mesmo em seu uniforme, meio amarelado.   

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Holanda, que muitas vezes encantou e não levou, estreia na Copa do Mundo vencendo sem convencer o forte Senegal

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Quantas e quantas vezes a Holanda merecia vencer e bateu na trave. Na estreia da Copa do Mundo do Qatar, o roteiro foi invertido: a sempre atraente seleção laranja venceu sem convencer. Senegal, mesmo sem Mané, cortado do Mundial por lesão, foi o time mais perigoso na maior parte da partida, que decepcionou bastante na parte técnica. A seleção campeã da África dividiu a posse de bola com a rival europeia (44% a 45% para o time laranja, com 11% de posse em disputa, novidade estatística da Fifa) e teve mais finalizações no jogo: foram 14 tiros a gol contra 9 dos vencedores. Na questão pontaria e eficiência, melhor para os três vezes vice-campeões mundiais. Os dois times acertaram a casinha três vezes, e em duas dessas oportunidades Gakpo e Klaassen balançaram as redes.     

Louis van Gaal completa agora 16 jogos no comando da Holanda desde sua volta à seleção. O 'General' está invicto nesta nova passagem, lembrando que ele saiu sem derrota da Copa do Mundo no Brasil (5 vitórias e 2 empates), quando caiu na semifinal. São quatro partidas seguidas de Mundial para a Holanda sem levar gol agora (0 a 0 Costa Rica, 0 a 0 Argentina, 3 a 0 Brasil e 2 a 0 Senegal). Defensivamente, a Holanda está firme, jogando com três zagueiros e se fechando com linha de cinco atrás. O técnico optou na estreia por De Ligt no lado direito da defesa. O titular seria originalmente Timber, que não está em grande fase com o Ajax, e a parte física e aérea de Senegal pesou também para a escalação de De Ligt, que levou um cartão amarelo e pode voltar para a reserva contra o Equador.

SENEGAL 0 x 2 HOLANDA: ASSISTA PELA ESPN NO STAR+ AO COMPACTO DO JOGO COM NARRAÇÃO DE RÔMULO MENDONÇA E COMENTÁRIOS DE RODRIGO BUENO

O capitão Van Dijk, que não pôde usar a faixa com a mensagem “One Love” em apoio à causa LGBTQIA+ (a Fifa disse que ele receberia cartão amarelo se fizesse isso), foi bem das disputas por cima tanto na parte defensiva quanto ofensiva. Foi a primeira partida do zagueirão do Liverpool pela Holanda em torneio de primeira grandeza (inclui Copa do Mundo e Eurocopa). Mas quem foi bem mesmo na defesa holandesa foi o goleiro Noppert, talvez a grande surpresa de Van Gaal, sempre corajoso. O experiente treinador permitiu ao goleiro do humilde Heerenveen (clube que nunca tinha cedido jogador para uma Copa) fazer sua estreia pela seleção justamente em um Mundial. Barrou Cillessen (por não ser bom de grupo), deixando assim o goleiro mais badalado do país de fora da Copa. Falou que o único arqueiro holandês em boa fase é o Noppert e o escalou sem medo. “Eu já escalei o Van der Sar com 19 anos”, disse Van Gaal, que também deixou Botman, Malen, Danjuma e Gravenberch de fora da delegação que foi a Qatar.      

Noppert fez pelo menos três boas defesas e parou perigosos ataques de Senegal no segundo tempo. Manteve a Holanda viva no jogo e saiu como o destaque do time, mais até do que os marcadores dos gols e que Frenkie de Jong, que participou bastante da partida (algumas vezes não tão bem, como no gol que perdeu na etapa inicial). Dumfries, que apoia o ataque muito mais do que Blind, foi bem marcado pela seleção de Senegal, o que complicou bem o sistema ofensivo laranja. Blind, bem experiente (estava na Copa de 2014 e fez gol no Brasil), é mais um lateral construtor hoje em dia. No comando do ataque, a Holanda foi com Janssen, que não esteve bem. Ele ocupou a vaga de Memphis Depay, que entrou aos 15 minutos do segundo tempo, como estava previsto. Essa mudança deixou o jogo mais aberto e mais criativo, os dois times passaram a ter mais chances claras de gol.    

Bergwijn é o parceiro natural de Memphis no ataque, mas ele não vive bom momento e não fez um bom jogo na estreia da Copa. Van Gaal tem noção desse momento ruim dele, mas o banca porque vê muita qualidade em seu futebol. Aliás Van Gaal diz que o time atual da Holanda é mais talentoso do que o de 2014, o que discordo. Klaassen, que é um meio-campista, entrou na vaga de Bergwijn e fez o gol que selou o placar do jogo. Antes disso, Gakpo abriu o placar ganhando de cabeça do goleirão Mendy após belo passe de Frenkie de Jong. O jovem craque do PSV é talvez a grande aposta da Holanda para esta Copa, ele participa de muitos gols e não foi diferente no seu debut em Mundial. Gakpo (pronuncia-se “Ráquipo”) não estava brilhando em campo, mas foi à frente e apareceu na área de surpresa para tirar o 0 do placar.

O resultado foi bom demais para um futebol apenas discreto da Holanda. Venceu o adversário mais duro da chave por dois gols de diferença, igualando assim o saldo do Equador. Os dois times lideram o grupo A com 3 pontos, mas a Laranja ainda vai ter o Qatar na última rodada para fazer saldo de gols, enquanto a equipe sul-americana vai ter que medir forças contra Senegal. 

As coisas caminham para uma classificação laranja em primeiro lugar e um duelo acessível nas oitavas contra o segundo colocado do grupo B. Mas para sonhar mais alto no torneio, a Holanda de Van Gaal vai ter que melhorar em todos os aspectos. Muitos torcedores holandeses não foram ao Qatar porque não confiam muito nesta geração. Talvez seja esta, inferior aos times dos anos 1970, 80, 90, 00 e 10, que vença uma Copa do Mundo. Haja torcida!

 

O técnico da Holanda, Louis van Gaal, no jogo contra Senegal na Copa do Mundo do Qatar
O técnico da Holanda, Louis van Gaal, no jogo contra Senegal na Copa do Mundo do Qatar Mike Hewitt/Getty Images

  

  

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Holanda, que muitas vezes encantou e não levou, estreia na Copa do Mundo vencendo sem convencer o forte Senegal

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Meus palpites para a Copa do Mundo estão à disposição para quem quiser competir comigo

Rodrigo Bueno
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Eu já pensava, claro, em dar meus palpites para a Copa do Mundo aqui no meu blog no site da ESPN, mas o Star+ me desafiou a desafiar você. Isso mesmo: meus palpites competem desde já com os fãs de esporte, assim como com muitos dos meus colegas do canal (não posso perder de jeito nenhum para o Ubiratan Leal, meu rival no ESPN FC e primeiro que me sacaneia quando a Holanda é eliminada).

Essa ação diferenciada do Star+ leva o nome de “Palpites Qatar”. Trata-se de um quiz que estará disponível para os assinantes fazerem o seu “palpitômetro” das partidas da Copa. O grande chamariz é a possibilidade de os fãs de esporte enfrentarem os chamados “talentos” da ESPN (narradores, comentaristas, apresentadores...), essa turma que acha que sabe tudo sobre o assunto. Os palpites poderão ser feitos até 5 minutos antes do início das partidas, mas eu já deixei todos os meus placares da fase de grupos prontos. Aliás, já tenho todo o chaveamento definido até o título da Inglaterra na final contra a Argentina.

Vou começar pelo começo, dando aqui meus palpites para os jogos dos 8 grupos, sem dar explicação para o resultado que escolhi. Tentei não ser clubista e acho que consegui, afinal não coloquei a Holanda como campeã nem como 100% na sua chave.


GRUPO A

QATAR 2 X 1 EQUADOR

SENEGAL 2 X 2 HOLANDA

QATAR 1 X 1 SENEGAL

HOLANDA 2 X 0 EQUADOR

EQUADOR 1 X 2 SENEGAL

HOLANDA 2 X 1 QATAR


GRUPO B

INGLATERRA 1 X 0 IRÃ

EUA 1 X 1 PAÍS DE GALES

PAÍS DE GALES 1 X 1 IRÃ

INGLATERRA 2 X 0 EUA

PAÍS DE GALES 1 X 3 INGLATERRA

IRÃ 2 X 1 EUA


GRUPO C

ARGENTINA 3 X 0 ARÁBIA SAUDITA

MÉXICO 1 X 1 POLÔNIA

POLÔNIA 2 X 1 ARÁBIA SAUDITA

ARGENTINA 2 X 1 MÉXICO

POLÔNIA 0 X 2 ARGENTINA

MÉXICO 2 X 1  ARÁBIA

 

GRUPO D

DINAMARCA 2 X 1 TUNÍSIA

FRANÇA 2 X 0 AUSTRÁLIA

TUNÍSIA 1 X 0 AUSTRÁLIA

FRANÇA 1 X 1 DINAMARCA

AUSTRÁLIA 0 X 2 DINAMARCA

TUNÍSIA 1 X 3 FRANÇA

 

GRUPO E

ALEMANHA 3 X 0 JAPÃO

ESPANHA 1 X 0 COSTA RICA

JAPÃO 0 X 0 COSTA RICA

ESPANHA 1 X 0 ALEMANHA

JAPÃO 1 X 2 ESPANHA

COSTA RICA 1 X 4 ALEMANHA

 

GRUPO F

MARROCOS 1 X 2 CROÁCIA

BÉLGICA 2 X 0 CANADÁ

BÉLGICA 2 X 1 MARROCOS

CROÁCIA 1 X 0 CANADÁ

CROÁCIA 1 X 2 BÉLGICA

CANADÁ 1 X 3 MARROCOS

 

GRUPO G

SUÍÇA 1 X 0 CAMARÕES

BRASIL 2 X 0 SÉRVIA

CAMARÕES 1 X 2 SÉRVIA

BRASIL 1 X 1 SUÍÇA

SÉRVIA 2 X 2 SUÍÇA

CAMARÕES 0 X 3 BRASIL


GRUPO H

URUGUAI 2 X 1 COREIA

PORTUGAL  2 X 0 GANA

COREIA 1 X 1 GANA

PORTUGAL 1 X 0 URUGUAI

GANA 1 X 1 URUGUAI

COREIA 1 X 2 PORTUGAL

 

Agora, os meus palpites para o mata-mata com base nos cruzamentos definidos pelos meus placares acima.

OITAVAS DE FINAL

HOLANDA 3 X 0 IRÃ

ARGENTINA 2  X 1 DINAMARCA

ESPANHA 1 X 0 CROÁCIA

BRASIL 2 X 0 URUGUAI

INGLATERRA 2 X 1 SENEGAL

FRANÇA 3 X 1 MÉXICO

BÉLGICA 1 X 2 ALEMANHA

PORTUGAL 0 X 1 SUÍÇA


QUARTAS DE FINAL

HOLANDA 1 X 1 ARGENTINA*

ESPANHA 1 X 2 BRASIL

INGLATERRA 1 X 0 FRANÇA

ALEMANHA 2 X 1 SUÍÇA

*Vence nos pênaltis

 

SEMIFINAIS

BRASIL 1 X 1 ARGENTINA*

INGLATERRA 2 X 1 ALEMANHA

*Vence nos pênaltis

 

DISPUTA DE TERCEIRO LUGAR

BRASIL 2 X 0 ALEMANHA

 

FINAL

ARGENTINA 1 X 2  INGLATERRA

A Inglaterra do artilheiro Kane conquistará seu bicampeonato em cima da Argentina, uma vingança por 1986 com a ajuda do VAR
A Inglaterra do artilheiro Kane conquistará seu bicampeonato em cima da Argentina, uma vingança por 1986 com a ajuda do VAR Twitter Oficial Eurocopa 2020

 

 

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Meus palpites para a Copa do Mundo estão à disposição para quem quiser competir comigo

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Com 26 jogadores, Tite renova o ataque, usa Premier League como base e teima com Daniel Alves

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

A seleção brasileira, uma das mais fortes do mundo por ter tantas opções de nomes, pôde renovar bem seu ataque para a Copa do Mundo no Qatar, mas um veterano em especial, Daniel Alves, mostra a teimosia de Tite e a carência técnica das laterais da equipe. Dos nove atacantes chamados por Tite nesta segunda-feira (7), sete são estreantes em Mundial (apenas Neymar e Gabriel Jesus são remanescentes do Mundial de 2018). 

Se há esse ar de juventude e frescor no ataque, tanto nas beiradas quanto na posição de centroavante (Pedro merecia, sim, estar no grupo mesmo tendo chegado agora há pouco ao time e pode brigar por titularidade), a figura de Daniel Alves parece uma forçada de barra neste momento em que ele está com 39 anos e se arrasta no Pumas, do México, sendo criticado (vai se tornar o jogador mais velho a defender o Brasil em uma Copa, superando os 37 anos de Djalma Santos no Mundial de 1966, quando não se pesou tanto a idade e o Brasil caiu cedo). Pela primeira vez na história, um jogador que atua no México defende o Brasil em uma Copa. Isso diz muito sobre a convocação de Daniel Alves e sobre a lateral brasileira.

Ter a Premier League como base da seleção é uma ótima pedida para os dias atuais. A principal liga nacional do planeta conta com 12 convocados, dentre eles Gabriel Martinelli, atacante do Arsenal que ganhou sua vaga no grupo na reta final deste ciclo de Copa d Mundo. A segunda liga com mais convocados é a da Espanha, com cinco chamados, três deles do vigente campeão europeu (Real Madrid). O futebol brasileiro está muito bem representado pelo exterior e por Flamengo (Éverton Ribeiro e Pedro) e Palmeiras (Weverton), pois são os dois clubes dominantes no país e no nosso continente nos últimos anos. Talvez mais gente desses dois times poderiam estar na lista final, casos de Danilo e Gabigol (não aproveitaram bem as oportunidades que tiveram na seleção) e de Dudu, que nunca foi muito querido e lembrado por Tite.

Não há dúvidas entre os goleiros. Há tempos sabemos os três escolhidos e que Alisson será o titular pela segunda Copa seguida. Na zaga, Bremer tomou o posto de Gabriel Magalhães na reta final, lembrando que Lucas Veríssimo, que agrada tanto a Tite, viu suas chances se complicarem por conta de grave lesão. Marquinhos e Thiago Silva possuem muita técnica e também entrosamento, essa dupla é um dos pontos altos (não tanto em estatura) da equipe, lembrando que o veterano zagueiro, tão cobrado por chorar em 2014, deverá ser o capitão do time.

O calcanhar de Aquiles do grupo está mesmo nas laterais. Danilo e Alex Sandro não estão no nível dos grandes alas que o Brasil já levou a Copas do Mundo. Neste momento mesmo, eles disputam Europa Legaue com a Juventus, que está bem longe de brigar pelo scudetto na Itália. Emerson Royal, que também não é um craque, teve uma falha servindo a seleção e ficou de fora. Tite deve cogitar, em uma eventualidade, talvez usar Militão ou Fabinho como lateral. Daniel Alves estaria na lista mais pela experiência e por ser bom de grupo. O veterano pode até construir jogadas por dentro e atuar como volante, porém, é fato que Tite demorou a testar ou desenvolver outros nomes na posição. Alex Telles, no Sevilla, não está muito atrás do xará Alex Sandro. Se Renan Lodi não aconteceu como se esperava na Europa e Guilherme Arana sofreu uma lesão grave, o Brasil vai com esses laterais mesmo.

Casemiro será o cabeça-de-área da equipe, tendo Fabinho como reserva imediato. Fred pena com o Manchester United, mas Tite tem o volante como um de seus 'queridinhos'. Bruno Guimarães, voando no Newcastle, merece ser usado mais vezes, talvez ganhar até vaga no time titular. Paquetá vinha em bom momento e lucrou muito com a boa parceria com Neymar, dentro e fora de campo. Não sei se a lesão recente dele e o crescimento de outros atletas mudou o seu status na equipe, até porque as preferências de Neymar ainda têm peso no grupo. 

Esse privilégio é um erro de Tite desde o Mundial da Rússia. A 'Neymardependência' acabou, mas a influência dele ainda é enorme no grupo. Ele pode jogar em mais de uma função do meio para a frente, mas talvez tenha que ceder protagonismo a outras figuras, como Vinícius Júnior.

Gabriel Martinelli, uma das caras novas do ataque de uma seleção brasileira que vai à Copa tendo a Premier League como base
Gabriel Martinelli, uma das caras novas do ataque de uma seleção brasileira que vai à Copa tendo a Premier League como base Instagram: @ituanofc

O camisa 9 desta vez será Richarlison, um menino de ouro que se posiciona em boas causas e que chora quando corre o risco de ficar fora da seleção. Merece vestir o uniforme que gera tanta cobrança por gols, algo que Gabriel Jesus não honrou na Copa passada. Pedro é uma boa sombra para a 'centroavância', mas a fase boa do Arsenal deve animar as esperanças de Jesus, agora mais protagonista. O ataque é de fato uma confiança nacional, pois os “meninos pelas beiradas” são capazes de fazer a diferença, foram eles que transformaram uma seleção quadrada demais em algo mais objetivo, vertical e vistoso. Após a Copa América perdida em casa para a Argentina, a seleção foi oxigenada pelos garotos, pelos seus dribles. O equilibrado Tite (às vezes em excesso) abriu mão de um quinto zagueiro para contar com mais um atacante. Esse é um bom sinal de que o Brasil pretende atacar mais, fazer o tipo de jogo que encanta mais o povo brasileiro.

Neste momento em que o Brasil respira novos ares após muita gente se recusar a vestir a camisa da seleção brasileira, o grupo que vai tentar o hexa no Qatar é forte o suficiente para ser campeão. Há talento, há renovação, há futebol intenso, há tempo de trabalho para o treinador, há resultados, há boa fase de Neymar e de muitos outros jovens atacantes. O caminho não será dos mais fáceis no Mundial, mas o Brasil pode fazer um futebol-moleque, vencendo a Copa e resgatando a auto-estima do futebol brasileiro.

 

 

 

 

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Tri da Libertadores do Flamengo parece com o tri do São Paulo e embola a luta pelo 1º tetra do país

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

O clube dos tricampeões brasileiros da Conmebol Libertadores aumentou com o título do Flamengo sobre o Athletico e agora já é bem maior do que o clube dos bicampeões e o dos campeões. O fato de o tricampeonato do rubro-negro carioca ter sido em cima do rubro-negro paranaense é apenas uma das coincidências com o tricampeonato continental do São Paulo. O Mengão ganhou títulos contra um argentino, um chileno e o Furacão, exatamente como o Tricolor do Morumbi, que espera pelo seu tetra desde que ganhou a América em 2005. O Athletico não pôde usar a Arena da Baixada como arma na final nem contra o São Paulo (não tinha a capacidade mínima de 40 mil lugares na época) nem contra o Flamengo (por conta da final em jogo único, algo que poderia ser repensado, como destaquei em post anterior). Detalhe: tanto o São Paulo quanto o Flamengo demoraram muito para vencer um jogo na Arena da Baixada, ambos têm retrospecto ruim nesse estádio.   

Os times argentinos batidos nas finais por Flamengo e São Paulo praticavam jogo bonito por conta de seus badalados treinadores: os xarás Marcelo Gallardo (River Plate de 2019) e Marcelo Bielsa (Newell’s de 1992). Os clubes chilenos superados por Fla e SP são equipes sem título internacional oficial de primeira grandeza até os dias de hoje (Cobreloa de 1981 e Universidad Católica de 1993). Zico e Rogério Ceni, os maiores ídolos da história de Flamengo e São Paulo, foram os capitães e melhores jogadores de uma das conquistas de Libertadores de seus amados clubes (o Galinho de Quintino em 1981 e o maior goleiro artilheiro da história em 2005). Os outros capitães campeões dos dois gigantes são armadores, meias-atacantes com passagem pela seleção (Éverton Ribeiro em 2019 e 2022, e Raí em 1992 e 1993).

Gabigol, autor dos gols do bi e do tri da Libertadores do Flamengo, pode se tornar em 2023 o terceiro maior goleador da história da disputa
Gabigol, autor dos gols do bi e do tri da Libertadores do Flamengo, pode se tornar em 2023 o terceiro maior goleador da história da disputa Flickr Flamengo

Em Mundiais, a história de Flamengo e São Paulo é bastante  diferente, mas ambos tiveram que enfrentar o Liverpool campeão europeu na decisão. O time carioca ganhou uma final e perdeu a outra. O São Paulo superou os Reds na partida que lhe deu o tricampeonato mundial. Na próxima edição do Mundial, que deve acontecer em fevereiro (China, Emirados Árabes e Estados Unidos podem ser a sede), o Mengão espera encontrar com um gigante espanhol: o Real Madrid. O São Paulo já enfrentou e venceu um gigante espanhol em Mundial: o Barcelona em 1992. Telê Santana é apontado como o maior técnico da história do São Paulo, não há dúvida sobre isso, mas Jorge Jesus para muitos é o maior treinador de todos os tempos no Flamengo, pelos títulos de 2019 e pelo futebol vistoso de sua equipe, uma marca de Telê.

O Flamengo completará em 2023 sete participações seguidas na Libertadores, igualando a sequência recorde do São Paulo, que ainda não sabe se estará na nobre competição continental no ano que vem. O Palmeiras vai para a sua oitava participação consecutiva na Libertadores em 2023, o novo recorde nacional. A briga para ver quem será o primeiro tetracampeão brasileiro da Libertadores pode ter no ano que vem apenas Flamengo e Palmeiras, pois o Grêmio está fora, o Santos possui remotas chances, e o São Paulo está ainda correndo grande perigo de não ir para a Libertadores pelo segundo ano seguido mesmo com uma das maiores folhas salariais do país e com tanta vaga em disputa.

Com a força econômica dos clubes brasileiros fazendo a diferença nos últimos anos, o país se aproximou bem da Argentina em número de títulos da Libertadores. Agora, está 25 a 22 para os “hermanos”, que só assistem a finais 100% brasileiras nos últimos três anos. Os times do Brasil estão estabelecendo recordes históricos de invencibilidades na competição. Se a situação não mudar nos próximos anos, os times brasileiros vão superar os maiores campeões do continente: Independiente (sete títulos), Boca Juniors (seis taças), Peñarol (cinco conquistas) e Estudiantes e River Plate (quatro troféus para cada um). Gabigol empatou cm 29 gols com Luizão, virando o maior artilheiro brasileiro do torneio e, caso fique mais alguns anos no Flamengo (ou mesmo vá para outro clube brasileiro), pode sonhar em alcançar Spencer, lendário atacante equatoriano que marcou época no Peñarol. Ele lidera a tabela geral de artilheiros da Libertadores com 54 gols. Com 8 gols na Libertadores de 2023, Gabigol já empataria com o uruguaio Pedro Rocha, ídolo do São Paulo, na terceira posição.

Flamengo, Palmeiras, Internacional, Fluminense e Corinthians já são “o Brasil na Libertadores” de 2023. Outros times tradicionais do país vão se juntar a essa turma. Os vizinhos que se cuidem!

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Diante do sofrimento de tantos torcedores, não dá mais para final única na América do Sul

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

A vida é feita de experiências. Algumas são boas e outra não dão certo. A Conmebol, que há alguns anos tenta ao máximo repetir o que a Uefa faz na Europa, deu uma cartada ao lançar a final única na Conmebol Libertadores e na Copa Sudamericana. E antes da decisão entre Athletico-PR e Flamengo em Guayaquil, está bastante nítido que algo de errado não está certo, como dizem atualmente.

A dificuldade e o sofrimento dos torcedores para chegar ao local do jogo são uma razão mais do que suficiente para acabar com essa partida única que tenta ser uma espécie de Super Bowl do nosso futebol.  O problema não é de Guayaquil ou do Equador. Vimos sofrimento igual ou maior dos torcedores são-paulinos para ir a Córdoba ver a decisão da Copa Sudamericana contra o Independiente del Valle (posso dizer isso com propriedade porque fui para o interior da Argentina ver o confronto). Um humilde e emergente clube equatoriano, com pequena torcida, não pôde jogar em seu país na final. E agora o Equador, sem time na final da Libertadores, se esforça sem muito sucesso para receber milhares de torcedores brasileiros. E olha que o estádio deve receber cerca de só 15 mil torcedores de fora, a Conmebol está tentando fazer uma distribuição de ingressos para o polo local para não deixar feia a imagem de arquibancada deveras vazia.         

Torcedores, especialmente os com menor poder aquisitivo, festejam mais nas ruas as viagens dos times do que nos estádios com final única
Torcedores, especialmente os com menor poder aquisitivo, festejam mais nas ruas as viagens dos times do que nos estádios com final única Alexandre Vidal / Flamengo

 

Na final da Sudamericana, esperava-se uma invasão são-paulina, algo que não aconteceu pelos problemas de logística, pelas limitações de voo e hotéis. Os poucos voos ficaram muito mais caros, nessas horas tem gente que tenta se aproveitar da situação e do fanatismo dos torcedores. Você espera a temporada inteira sonhando com seu time em uma decisão continental e, quando chega esse momento, você é obrigado a passar por uma verdadeira provação para conseguir chegar ao local da partida. Muitos desistem no caminho ou acabam sendo enganados, como vários torcedores do Flamengo que não embarcaram para Guayaquil mesmo lidando com uma agência parceira do clube. O Flamengo tem a maior torcida do Brasil e, muito possivelmente, da América do Sul. Se os flamenguistas (muitos com grana para ir em massa para Lima, Montevidéu ou para Guayaquil, coisa que poucos de nossos vizinhos têm condição de realizar) estão com dificuldade para viajar e encher um estádio, imagine então as outras torcidas. O Athletico mesmo, exemplo de clube que se modernizou e projetou estar na mais nobre decisão da América, chega pela segunda vez em sua história à final da Libertadores e de novo não poderá usar sua bela Arena da Baixada como arma para ser campeão (em 2005, o regulamento exigia capacidade para 40 mil pessoas na decisão e o estádio atleticano ainda não tinha sido concluído, fechado).  Furacão tem uma torcida muito apaixonada, mas bastante localizada no Paraná, Estado que ainda não pôde receber uma partida final de Libertadores. Uma pena.  

Quando a Conmebol, com esta administração atual, defendeu com pompa a final única como símbolo de modernidade, organização e dinheiro, ignorou logo de cara a tradição do nosso continente. Muito da magia da Libertadores e de outros torneios aqui da América do Sul estão na paixão dos torcedores, na festa das arquibancadas, no famoso “recibimiento” na chegada do time ao estádio e na entrada dele em campo. Isso fez muito da fama do futebol sul-americano. Aqui respiramos o futebol de forma bem diferente de muitos dos países europeus. Não somos a Europa, um continente muito mais velho, com distâncias bem menores, com mais estrutura, mais planejamento, mais grana etc. Não é questão de dizer que somos Terceiro Mundo e, por isso, não temos a capacidade de organizar um grande evento único. A questão é que não precisamos mesmo da final única e de copiar tudo o que a Europa faz. Somos felizes e amamos futebol do nosso jeito, com nossas adversidades, com nossas limitações, com nossa cultura.   

Torcedores do Flamengo tiveram problemas para irem à final da Libertadores          


Dizem que errar é humano e que persistir no erro é burrice. A Conmebol tem o dever de repensar a final única diante de tudo que aconteceu desde aquela final entre Palmeiras e Santos, dois times paulistas, no Maracanã nada lotado. Já tivemos mudanças de sede em cima da hora por quase todo tipo de motivo, de conflito social a eleições presidenciais aqui no Brasil. As escolhas das sedes, teoricamente, deveriam apontar para as maiores capitais para evitar o caos logístico, mas isso seria elitizar ainda mais um esporte tão popular que já está tão elitizado atualmente. Os torcedores sul-americanos merecem festejar em casa o sucesso de seus times, não deveriam ser obrigados a vencer um desafio quase tão grande quanto o de seu clube para chegar à final.

 

 

 

 

 

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Por que Flamengo e Palmeiras estão polarizando o futebol brasileiro, e não mais 'espanholizando'

Rodrigo Bueno
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Os técnicos Dorival Junior, do Flamengo, e Abel Ferreira, do Flamengo
Os técnicos Dorival Junior, do Flamengo, e Abel Ferreira, do Flamengo Paula Reis/Flamengo | Hedgard Moraes/UAI

Flamengo e Palmeiras são os clubes que mais possuem títulos nacionais. E já estão abrindo uma grande vantagem sobre a concorrência, cada vez menor e mais endividada. O rubro-negro ganhou a final da Copa do Brasil, passou a ser tetra do torneio assim como o Verdão, e computa 15 taças nacionais, incluindo o Módulo Verde da Copa União de 1987, duas Supercopas e uma Copa dos Campeões, torneio extinto que dava uma vaga na Libertadores. O Palmeiras deve confirmar neste ano seu 16º título nacional, sendo 11 Brasileiros (com a unificação), 4 Copas do Brasil e também uma Copa dos Campeões. Os dois gigantes vão se encontrar quase que certamente na Supercopa do ano que vem, assim o Flamengo poderá empatar com o Verdão com 16 troféus.

Esse domínio escancarado dos dois clubes foi consolidado nos últimos anos após mudanças significativas na administração de ambos. O Flamengo faturou cinco troféus nacionais desde 2019, e o Palmeiras está indo para a sua quarta taça nacional desde 2016. Das últimas sete edições do Brasileiro (contando a atual), só duas vezes o título escapou da poderosa dupla: o Corinthians de Fabio Carille surpreendeu em 2017, e o Galo de Cuca saiu da fila de 50 anos no Nacional. O Palmeiras deve ser campeão brasileiro neste ano com algumas rodadas de antecedência, mas não vai igualar os 90 pontos do Flamengo de Jorge Jesus em 2019 (16 pontos de vantagem sobre o Santos e o próprio Palmeiras). 

O Verdão foi vice do Brasileiro em 2017, e o Mengão ficou em segundo lugar nos Brasileiros de 2018 e 2021, além da Copa do Brasil de 2017. Não dá para ignorar a hegemonia que está sendo imposta por esses dois clubes no futebol brasileiro, que temeu por muito tempo sofrer uma “espanholização”. Muita gente entendia que Corinthians e Flamengo, por razões financeiras, seriam o “Real Madrid e o Barcelona” do Brasil, condenando todos os outros clubes do país a uma posição secundária. Só que quem tomou essa posição de destaque a lado do rubro-negro foi o Palmeiras.

O Flamengo fatura R$ 160 milhões de PPV (pay-per-view), R$ 50 milhões a mais do que o Corinthians. Os dois clubes mais populares do Brasil possuem contratos muito superiores aos da concorrência, contando com um valor mínimo alto garantido e bônus de vendas. O São Paulo, dono da terceira maior torcida do país, é o terceiro que mais lucra com PPV, mas o valor é só R$ 36 milhões, R$ 124 milhões a menos do que o Flamengo (um valor maior do que o Tricolor vai faturar com as vendas de Antony e Casemiro nesta temporada, algo em torno de R$ 115 milhões). 

O Palmeiras ganha um pouco menos do que o São Paulo: R$ 32 milhões. Não fosse seu patrocinador forte pagando valor acima do que o mercado sugere, o Verdão teria dificuldades para manter o alto nível de investimento dos últimos anos e competir para valer.  O Galo também lucra por ter poderosos parceiros, uma vez que ele recebe “apenas” R$ 20 milhões de PPV. Só que sabemos que a dívida do Atlético-MG é a maior dentre os clubes brasileiros. As boas campanhas recentes do Galo e sua arena (estará pronta em 2023) não são suficientes para garantir um faturamento anual de quase R$ 1 bilhão, algo que o Flamengo tem como algo possível.

Flamengo comemora o seu quarto título da Copa do Brasil, sua quinta taça nacional desde 2019 e seu 15º troféu do tipo na história
Flamengo comemora o seu quarto título da Copa do Brasil, sua quinta taça nacional desde 2019 e seu 15º troféu do tipo na história Gilvan de Souza/Flamengo

 

Outros grandes clubes do país, mesmo com boas administrações, não conseguem nem meio bilhão de faturamento. É o caso de Athletico, Grêmio e Internacional, no Sul, e também de camisas tradicionais do Sudeste, como Cruzeiro, Santos, São Paulo e Vasco. Apenas o Corinthians parece hoje em condições reais de se aproximar financeiramente de Flamengo e Palmeiras. Por essas e outras que houve um racha na formação da liga independente da CBF, com vários clubes reclamando do privilégio dado na divisão dos valores para as equipes de maior torcida. 

Tal problema vem praticamente desde 1987, ano em que nasceu a Copa União e o Clube dos 13, entidade que se abriu para outros clubes mais tarde mas que já foi extinta por vontade política e comercial de alguns.

Não sei se a transformação de alguns clubes do país em SAF vai mudar o cenário atual do futebol brasileiro. Creio que, a curto e médio prazo, tanto o Flamengo quanto o Palmeiras continuarão disputando os principais títulos do país e da América do Sul. Se o rubro-negro vencer a Libertadores neste ano (é bem favorito contra o Athletico, na minha opinião), serão quatro anos com a dupla Mengão/Verdão dominando o continente. O Palmeiras já bateu o recorde de participações seguidas na Libertadores entre os brasileiros, com oito edições consecutivas. 

Se antes era muito difícil para todos os clubes chegar à Libertadores (precisava ser campeão ou vice brasileiro ou ganhar a Copa do Brasil), hoje com tantas vagas é quase impossível uma edição do torneio sem o alviverde paulista. A mesma coisa serve para o Flamengo, que vai para a sua sétima Libertadores de forma seguida. Os nossos vizinhos passaram a respeitar e temer essa dupla endinheirada. São hoje quase “clubes europeus” disputando na América do Sul.

Abel Ferreira, técnico do Palmeiras que já ganhou duas Libertadores, uma Copa do Brasil e vai conquistar o Brasileiro
Abel Ferreira, técnico do Palmeiras que já ganhou duas Libertadores, uma Copa do Brasil e vai conquistar o Brasileiro GazetaPress

O Corinthians, com seus 11 títulos nacionais, é o terceiro com mais troféus do tipo. Vice da Copa do Brasil, não conquista um título nacional desde 2017. Na década passada, enquanto o Flamengo e o Palmeiras sofriam na parte administrativa, o Timão ganhou Mundial, Libertadores e três Brasileiros. Agora, está complicado acompanhar os principais adversários. O São Paulo, hexacampeão brasileiro, não ganha um título nacional desde 2008 e vem lutando em alguns anos para não cair. O Santos ainda não foi rebaixado também, porém não vence um título nacional desde 2010. 

O Cruzeiro e o Grêmio, os maiores vencedores da Copa do Brasil, experimentaram neste ano então a Série B, assim como o Vasco, quinta maior torcida do país. O Inter tem beliscado alguns vices do Brasileiro, campeonato que não vence desde 1979, mas também passou recentemente pela Série B e não vence nenhum troféu nacional desde 1992. O Nordeste venceu uma taça do tipo pela última vez em 2008, com o Sport, época em que os times que jogavam a Libertadores não podiam disputar a Copa do Brasil.  

O Athletico tem sido uma exceção no futebol brasileiro, conseguindo um título nacional recente (além de duas Copas Sudamericanas) mesmo sem ter um investimento tão alto como o de Flamengo e Palmeiras. Só que seu presidente, Mario Celso Petraglia, é quem mais combate publicamente e nos bastidores a vantagem financeira cavalar que o Flamengo, sobretudo, tem no futebol brasileiro. O Flamengo quase ganhou tudo em 2019 (coisa que o Galo esteve perto em 2021), e o Palmeiras na era Abel Ferreira faturou praticamente todos os títulos possíveis (faltou o Mundial). 

A Tríplice Coroa que parecia impossível até outro dia está na mira desses poucos clubes endinheirados do nosso país. Esse cenário desigual pode mudar em alguns anos se certos times mudarem administrativamente, mas o retrato do momento é da tal “espanholização” que tanto falavam. É importante aqui lembrar, no entanto, que o Atlético de Madri foi campeão espanhol na temporada retrasada e que o Betis, a Real Sociedad e o Valencia ganharam a Copa do Rei nos últimos quatro anos (e que o gigante Real Madrid não conquista a sua copa nacional desde 2014).

Talvez o termo “espanholização” esteja mesmo errado. Melhor falar em polarização, algo que está muito na moda no país..

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Temporada diferenciada deve ter a maior Europa League da história com vários 'tubarões' do continente

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno
EUROPA LEAGUE | UEL | LIGA EUROPA | 2022-2023
EUROPA LEAGUE | UEL | LIGA EUROPA | 2022-2023 ESPN

Na temporada europeia passada, vimos a estreia da Uefa Europa Conference League e, na reta final, essa competição pareceu ser tão forte e atrativa quanto a Europa League

Pelo jeito e pelos resultados até aqui, a edição desta temporada da Europa League será tão forte e atrativa quanto a Champions League. Devemos ter na disputa pelo título simplesmente os 'tubarões' Ajax, Atlético de Madri, Barcelona, Juventus, Milan, Sevilla, Shakhtar Donetsk e Sporting. Essa turma não vem bem na atual Champions e corre sério risco de ser “rebaixada” para a Europa League, torneio que já conta com Arsenal, Betis, Fenerbahce, Feyenoord, Lazio, PSV, Manchester United, Real Sociedad e a Roma de José Mourinho, que deu outra polêmica entrevista chamando os times que virão da Champions para a Europa League de “tubarões fracassados”.

De fato é um fracasso para o Milan (sete vezes campeão da Europa), para o Barcelona (cinco vezes dono do Velho Continente) e para a Juventus (duas vezes senhora da Copa dos Campeões/Champions) “cair” para a Europa League. O atual detentor do scudetto ainda tem razoável chance de avançar às oitavas da Champions, mas o retrato do momento mostra o Milan em terceiro lugar no Grupo E atrás do Red Bull Salzburg  após levar duas pauladas do Chelsea

A situação do Barça é bem mais desesperadora no Grupo C após levar desvantagem no confronto direto com a Inter (o Bayern já se garantiu nas oitavas). A Juventus então, após a derrota para o Maccabi Haifa, ficou bem atrás de Paris Saint-Germain e Benfica e pode terminar a fase de grupos em quarto lugar, o que não lhe daria nem Europa League.

Meu querido Ajax (quatro vezes o maioral da Europa) sucumbiu duas vezes diante do embalado Napoli e vai ser outro “tubarão” na Europa League, quase que seguramente. Lembro que os terceiros dos grupos da Champions fazem um playoff logo de cara com os segundos colocados dos grupos da Europa League. Então podemos ter um Barcelona x Manchester United, um Milan x PSV, um Ajax x Roma ou um Juventus x Feyenoord ainda antes das oitavas de final. 

São confrontos com cara de Champions. 

Por isso talvez Mourinho tenha reclamado do regulamento do torneio, que permite uma espécie de segunda chance continental na temporada para clubes que não foram bem nas competições originais. Só que Mourinho já disse que, se sua Roma não pegar uma vaga na próxima fase da Europa League, vai feliz da vida também em busca do bicampeonato da Conference League (os terceiros dos grupos da Europa League também desfrutam da possibilidade de sucesso na disputa continental que vem abaixo).  

Lewandowski deve jogar nesta temporada a Liga Europa, que namora com o Barcelona pelo segundo ano consecutivo
Lewandowski deve jogar nesta temporada a Liga Europa, que namora com o Barcelona pelo segundo ano consecutivo EFE/Román Ríos

 

Na temporada passada, quando o Barcelona ficou atrás do Benfica na Champions e “caiu” para a Liga Europa, foi logo apontado por muitos como o grande favorito ao título. Só que o time de Xavi foi engolido, dentro e fora de campo, pelo Eintracht Frankfurt, que viria a ser o campeão da Europa League. Desta vez, mesmo mais fortalecido, contando até com Lewandowski, o Barça chegaria mais bem acompanhado por clubes históricos e renomados para o segundo torneio continental da Uefa. 

Pelos vários clubes de peso que devem jogar a Europa League, fica difícil imaginar uma surpresa como o Rangers, que foi à final passada e só perdeu a decisão na disputa de pênaltis. Aliás quem conhece muito de final de Europa League é o Sevilla, o Mister Europa League que está praticamente condenado na Champions a ser terceiro colocado e ser “forçado” assim a lutar pelo que seria o seu sétimo título da Liga Europa.  

Alguém pode dizer que eu estou aqui supervalorizando a Liga Europa porque sou comentarista da ESPN, canal que transmite o torneio. Não vou ser louco de dizer nunca que a Liga Europa está maior do que a Champions League, apenas estou constatando uma mudança, mesmo que sazonal, do perfil do torneio. Alguma coisa parecida tem acontecido na América do Sul, com vários clubes de muita camisa disputando com bastante vontade a Copa Sul-Americana, casos neste ano de 2022 de São Paulo, Santos, Internacional, Fluminense, Independiente, Racing, Nacional, Olimpia, Colo Colo e LDU. Isso reflete em grande parte a fase não tão boa desses clubes históricos, que acabam ficando alijados do principal torneio internacional de seu continente, seja porque não fizeram um bom campeonato nacional seja porque foram mal na fase de grupos da mais nobre competição de sua região.

Ainda teremos duas rodadas da fase de grupos da Champions League e da Liga Europa pela frente. Embora muita coisa já esteja definida (Bayern, Brugge, Manchester City, Napoli e Real Madrid já estão classificados para as oitavas da Champions), uma ou outra surpresa ainda pode pintar, mas a tendência é que tenhamos mesmo o mais concorrido sorteio da história da Liga Europa em breve. Eu arrisco dizer que teremos ao menos um confronto do segundo torneio da Uefa atraindo mais atenção do do que alguns das oitavas da Champions. Afinal um Brugge x Napoli nunca vai ser mais notícia do que um Barcelona x Manchester United. A Europa League não é a “Liga das Estrelas”, mas ao menos nesta temporada é a Liga de Cristiano Ronaldo e de Lewa. Alto nível!   

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Temporada diferenciada deve ter a maior Europa League da história com vários 'tubarões' do continente

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História de superação de Endrick e sua família encanta até mais que seu talento e me faz lembrar de Henry

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

Talvez a grande notícia desta última semana no futebol brasileiro tenha sido a tão esperada estreia do atacante Endrick no time principal do Palmeiras, mas isso ficou pequeno para mim diante da linda história de luta de sua família, muito bem retratada no choro de seu pai na arquibancada. Torcedores de vários times, imprensa, empresários, clubes europeus, e amantes do futebol de todo tipo aguardavam curiosos pelo debut do garoto de 16 anos que dá show no sub-20. Muito se discutiu se o inteligente Abel Ferreira estava fazendo o certo ou se estava sendo injusto ao mostrar cautela desde o Mundial de Clubes com aquela que talvez seja mesmo a maior promessa já revelada pelo Verdão na história.   

Endrick já tinha ficado no banco em partidas anteriores deste Campeonato Brasileiro que já está encaminhado para o Palmeiras há mais de um mês, antes mesmo de eu sair de férias (volto só agora a escrever no blog por isso). Havia um clamor generalizado pela utilização do mais novo fenômeno do futebol nacional e a chance veio contra o Coritiba, no segundo tempo, quando a vitória do time da casa já estava consolidada. As imagens de Endrick entrando em campo, desperdiçando duas oportunidades (em uma delas não passando a bola para companheiros que estavam em melhor condição) tomaram conta dos programas esportivos. Talvez rodem o mundo quando ele completar 18 anos e for negociado com algum gigante do futebol europeu. Quem esteve no Allianz Parque nesse jogo jamais vai esquecer a euforia quando ele foi chamado para entrar na partida. Diria que é bem grande chance de no futuro milhares de palmeirenses dizerem com orgulho que estavam no estádio na goleada contra o Coritiba. Isso porque a história de Endrick é infinitamente maior do que essa partida que ampliou ainda mais a liderança alviverde no Brasileiro. Ninguém sabe aonde pode chegar no futebol esse talentoso jogador, mas todos já sabem do seu passado de fome.

Douglas, o pai de Endrick, estava emocionado demais com a estreia de seu filho no time principal do Palmeiras. Isso é normal para qualquer pai que vê a realização de sua cria. Mas imagina o filme todo que passou ali na cabeça de Douglas e de outros integrantes de sua família. O pai de Endrick jogou bola  e ganhou algum troco dessa forma para conseguir comprar cestas básicas, para pagar uma conta de água, para comprar um gás e para dar um sustento à sua família, como ele já declarou em entrevistas. O pai de Endrick é um guerreiro, como outros milhões neste país que tentam sair da linha da pobreza, que lutam para dar comida a seus filhos. Ele não teve o raro talento do filho para jogar bola e por isso não foi muito longe em sua carreira profissional. Mas ele ama futebol e foi dessa forma que que ele viu uma possibilidade de tirar sua família da miséria. Quantos não usam o futebol no Brasil para ascender socialmente, para conseguir independência financeira?

Em um certo dia, Endrick disse que estava com fome e pediu comida ao pai, mas infelizmente não tinha nada na geladeira nem no armário. O garoto falou então que iria ser jogador do futebol para mudar a situação da família. Basicamente, Endrick pensou exatamente como seu pai, só que sua qualidade absurda para jogar futebol o colocou ainda muito cedo em uma condição de estrela, coisa que Douglas passou longe de ser. 

Quantos Endricks temos no Brasil? Pensando em craques, eles são cada vez mais raros. Quantos Douglas nós revelamos neste país? Vários, infelizmente. São mais de 30 milhões de pessoas que vivem na pobreza no Brasil atualmente. E, infelizmente, não tem time de futebol para todo esse povo no mundo. Aliás poucos são os times de futebol no país que têm boa condição financeira. O pai de Endrick teve muitas dificuldades para ficar em São Paulo e contou com a ajuda de Jailson, ex-goleiro palmeirense, para segurar o filho no Verdão, um caso raro hoje de clube nacional endinheirado.

O talentoso atacante Endrick, hoje com 16 anos, tirou sua família da miséria antes de estrear no profissional do Palmeiras
O talentoso atacante Endrick, hoje com 16 anos, tirou sua família da miséria antes de estrear no profissional do Palmeiras Fabio Menotti / Palmeiras

Endrick já está dando ao seu irmão mais novo tudo o que ele não teve. Agora, ninguém passará mais fome e aperto na família. Por isso o choro também de Douglas enquanto filmava com seu celular a entrada em campo de Endrick contra o Coritiba. Não era apenas um pai ali festejando seu filho virando jogador de futebol. Aliás é nessas horas que a gente vê que “não é só futebol”. Desde já há uma torcida enorme para o sucesso de Endrick e de sua família. O garoto perdeu ainda recentemente o avô e lamentou emocionado que não conseguiu dar a ele a alegria de vê-lo jogar no time principal. Infelizmente, a vida é curta e é sofrida demais para tanta gente. Só quem passou fome sabe o que é isso.

Carrasco do Brasil na Copa de 2006, o elegante atacante francês Henry disse naquela época que “os jogadores não estudam” ao explicar por que apareciam tantos craques brasileiros. “No Brasil, nascem com uma bola nos pés. Na praia, na rua, na escola, onde se olha estão jogando futebol. Quando eu era criança, pedia à minha mãe se eu podia brincar, e ela muitas vezes negava. Eu estudava das 7h às 17h. No Brasil, as crianças jogam das 8h às 18h. Basta ver aquelas cinco estrelas na camisa deles para perceber que o futebol faz parte de sua identidade. Gostam de tal forma do jogo que só querem levar a bola para o ataque. Sempre foi assim e vai continuar sendo sempre”, afirmou Henry, que despertou algumas críticas com essa análise do futebol brasileiro.     

Impossível não pensar em Endrick ao resgatar as frases do Henry. Não sei exatamente como foi a vida escolar do jovem craque do Palmeiras, mas sei que ele precisava arrumar dinheiro e comida para sua família, mesmo sendo ainda uma criança. O futebol não é só parte da identidade do Brasil, ele é uma rara salvação para alguns saírem das classes mais baixas da sociedade. Em alguns casos, é quase a única esperança de sobrevivência. A humildade de Endrick e de sua família encantam quase tanto quanto o seu futebol, bastante ofensivo como também cantou a bola o Henry. Não vai dar para Endrick na Copa do Mundo deste ano no Qatar (há uma discussão agora se ele deve ou não servir a seleção sub-17, que parece pouca coisa para ele e todo o seu talento), mas muito possivelmente em 2026, no Mundial na América do Norte, ele deverá estar no radar da seleção principal. Muitas reportagens mundo afora vão lembrar desta estreia de Endrick contra o Coritiba e do sofrimento  da superação de sua família.

Isso é o puro suco do futebol brasileiro, o puro suco do Brasil.

 

 

 

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Domínio do Brasil na América do Sul é o maior de um país em seu continente na atualidade

Rodrigo Bueno
Rodrigo Bueno

 

Teremos mais uma final brasileira na Libertadores. O que muita gente imaginava foi confirmado após os 4 a 0 do Flamengo no Vélez Sarsfield na Argentina. Se o português Vítor Pereira, o técnico do Corinthians, disse que houve um choque de realidade após ser derrotado em casa pelo Flamengo, imagine o choque de realidade que os argentinos e os demais vizinhos sul-americanos estão encarando diante do poderio econômico atual do futebol brasileiro em termos continentais. Será o quarto campeão seguido de Libertadores com passaporte brasileiro: Flamengo (2019), Palmeiras (2020 e 2021) e Athletico-PR/Flamengo/Palmeiras (2022). É uma sequência recorde para o país, igualando a série de taças de Internacional (2010), Santos (2011), Corinthians (2012) e Atlético-MG (2013). E a tendência para os próximos anos é de um domínio ainda maior dos brasileiros, a série recorde deverá aumentar.

Veremos neste ano pela terceira vez consecutiva uma final brasileira. Foi Palmeiras x Santos em 2020 no Maracanã, Flamengo x Palmeiras em 2021 em Montevidéu e agora em Guayaquil talvez a repetição da decisão do ano passado, o que seria algo inédito (já tivemos mais de uma final Boca Juniors x Santos e Estudiantes x Nacional, mas não em anos seguidos). Talvez o Athletico Paranaense se torne neste ano o 11º clube brasileiro campeão da Libertadores, o que simbolizaria ainda mais o domínio nacional no continente (seria o primeiro título de um time que não está entre os chamados 12 grandes do Brasil no mais nobre torneio da Conmebol). A Argentina tem “apenas” oito clubes campeões da Libertadores, os cinco considerados grandes mais Argentinos Juniors, Estudiantes e Vélez Sarsfield. Na lista total de títulos da Libertadores, os argentinos estacionaram em 25 taças, e os brasileiros já computam agora 22 troféus. Essa troca de bastão no topo parece questão de pouco tempo. Se contarmos os títulos por país desde 1992, quando o São Paulo de Telê abriu uma nova era na Libertadores para o Brasil, que passou então a valorizar mais a competição continental, vemos 17 conquistas brasileiras e 14 de todos os outros países juntos. Os uruguaios, outrora competitivos, não conquistaram mais nenhum título.  

Na temporada passada, também houve final brasileira na Copa Sudamericana. O Athletico ganhou seu segundo título do torneio ao superar Bragantino, uma decisão com dois times que viraram símbolo de boas administrações nos últimos anos. Neste ano, o São Paulo pode conquistar seu bicampeonato da Sudamericana ou podemos ver ainda um título inédito do Atlético-GO. A final em Córdoba no dia 1 de outubro deve ser contra o Independiente del Valle, clube que fez 3 a 0 na semifinal de ida contra o Melgar e que jogará fora de casa na prática na final, especialmente se a decisão for contra o São Paulo, cuja torcida deve promover uma invasão à Argentina (mais uma vez o fator econômico pesa nisso). São nove times brasileiros, muito possivelmente, na próxima edição da Libertadores. Quase metade dos clubes da Série A do Brasil disputam o principal título da América. Outros seis clubes do país jogam a Sudamericana na condição de fortes candidatos. A melhor campanha da fase de grupos da atual Sudamericana foi do Ceará, que deixou o “Rey de CopasIndependiente fora do caminho. O Dragão eliminou dois tricampeões da Libertadores na sua jornada até a semifinal da Sudamericana: Olimpia e Nacional.

Nunca a América viu um Flamengo e um Palmeiras tão fortes. O rubro-negro, dono da maior torcida e do maior faturamento do país mais rico da América do Sul, está na sua terceira final de Libertadores em quatro anos. O Palmeiras, que vive talvez a sua era mais dourada e endinheirada, estabeleceu o recorde de partidas sem derrota na Libertadores (18 jogos, empatado com o Atlético-MG, que também lucra com seu momento de maior investimento) e também a maior série sem perder como visitante (completou 20 jogos e, agora, caiu enfim na Arena da Baixada). Flamengo e Palmeiras tinham apenas um título da Libertadores até poucos anos, mas agora ameaçam criar uma hegemonia no torneio que ameaça os maiores campeões da história (o Boca Juniors tem sido sistematicamente eliminado por brasileiros e já não ganha a Libertadores desde 2007). O River Plate de Marcelo Gallardo, o melhor clube da América na década passada, não consegue competir financeiramente com os times mais poderosos do Brasil. Na final de 2019, o então presidente do River Plate, Rodolfo D’Onofrio, destacou que o Flamengo faturava dez mais vezes de TV do que seu clube. O abismo no continente é real!

Pedro, artilheiro da atual Libertadores, comemora com Gabigol, que vai ser o brasileiro com mais gols na história da Libertadores em breve
Pedro, artilheiro da atual Libertadores, comemora com Gabigol, que vai ser o brasileiro com mais gols na história da Libertadores em breve Buda Mendes/Getty Images

 

Agora que está bem claro o domínio dos clubes brasileiros na América do Sul, vamos mudar o foco para outros continentes. No momento, nenhum outro país do mundo possui uma hegemonia como a brasileira em sua região. Na Concacaf, após 16 anos de domínio mexicano na Concachampions, o Seattle Sounders ficou com o título e vai jogar o Mundial de Clubes. Já na África, o Wydad, tradicional time marroquino de Casablanca, acabou com o império do Ah Ahly, popular clube egípcio que é o maior campeão africano. Na Ásia, os últimos três campeões são de três países diferentes: Japão, Coreia do Sul e Arábia Saudita. O Urawa Red Diamonds já está na final, onde talvez não esteja o campeão vigente da disputa: o saudita Al Hilal. Na Oceania, o detentor do título no momento é o de quase sempre, o Auckland City, da Nova Zelândia. Mas o campeão anterior era o Hienghène Sport, da Nova Caledônia. Nos dois últimos, a pandemia parou a bola lá.

Se formos para a Europa, onde o futebol tem seu maior nível e onde é mais díficil exercer um domínio por muito tempo, temos três países diferentes vencendo a principal taça nos últimos três anos. Alemanha (Bayern de Munique-2020), Inglaterra (Chelsea-2021) e Espanha (Real Madrid-2022) venceram a Champions League recentemente. Na Liga Europa, os espanhóis vinham doutrinando em termos de títulos, notadamente com o Sevilla, mas o Eintracht Frankfurt, da Alemanha, ganhou a última final em cima do Rangers, da Escócia. Ingleses endinheirados ficaram com os títulos do torneio em 2013 (Chelsea), 2017 (Manchester United) e 2019 (Chelsea). A primeira edição da Conference League foi vencida pela Roma de José Mourinho. Um clube italiano não vencia um torneio oficial da Uefa desde 2010, quando a Inter de Milão de Mourinho conquistou a Champions. Ou seja, estamos vendo na Europa muita disputa em todos os torneios, com clubes de vários países sonhando com o sucesso maior. Alguns times com muito investimento, casos de Manchester City e Paris Saint-Germain, ainda não conseguiram o troféu dos sonhos mesmo com toda a gastança recente. O dinheiro faz diferença em qualquer parte do mundo, mas é na América do Sul que o abismo econômico está levando cada vez mais a um “clubinho privê” de campeões.   

Eu sairei de férias neste setembro e vou dar uma parada nesse período com o blog. Já viajarei sabendo que o campeão da Libertadores será de novo brasileiro. Resta saber se o campeão da Copa Sudamericana também será do nosso país. E se o Brasil conseguirá estender esse domínio na América do Sul para a Copa do Mundo no final do ano e para o Mundial de Clubes em 2023.

 

 

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