Que a ótima entrevista do presidente da Fifa saia do papel. E vire exemplo no Brasil
.
Na edição desta segunda-feira do diário esportivo italiano La Gazzetta dello Sport, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, concedeu uma entrevista exemplar a respeito do impacto do coronavírus no futebol. Se o teor das palavras sairá do papel ainda é cedo para dizer – e desconfiar dos dirigentes da entidade é essencial.
Contudo, ainda que suas respostas contenham nas entrelinhas uma série de exaltações do próprio trabalho e da importância de sua entidade (modus operandi de todo político), do ponto de vista prático as palavras do dirigente são exemplares especialmente por três pontos, que reproduzo abaixo:
1) “Graças à nossa solida situação financeira podemos propor medidas de solidariedade. Doamos 10 milhões de dólares para a OMS (Organização Mundial da Saúde). Instituímos um fundo global de assistência ao futebol. Graças aos últimos quatro anos, a Fifa desfruta de uma ótima saúde e de bons recursos. As reservas são para situações de crises da Fifa, mas está é uma crise do futebol mundial. E me parece óbvio que deveremos fazer de tudo."
É evidente, neste ponto, que o exemplo precisa ser seguido, ainda que em proporções diferentes, pelas federações estaduais do futebol brasileiro e também pela CBF, cuja receita recorde em 2019 atingiu quase 1 bilhão de reais, segundo a própria entidade. O prejuízo para os já devedores clubes de futebol brasileiro com a crise atual será enorme, mas que o socorro venha do futebol, especialmente das federações que muito faturam e pouco oferecem. Porque o contribuinte brasileiro, mesmo aquele apaixonado por futebol, certamente está cansado de bancar a incompetência dos gestores de clubes.
2) “Primeiro, a saúde. Depois o resto. Para os dirigentes, significa esperar o melhor, mas também se preparar para o pior. Sem pânico, sejamos claro: só voltaremos a jogar quando isso puder ser feito sem colocar em risco a saúde de ninguém. Que as federações e ligas estejam prontas para seguir as recomendações dos governos e da OMS .”
Num país em que a relutância para interromper jogos de futebol seguiu até os 45 do 2º tempo, o recado é essencial. Os limites da irresponsabilidade já foram atingidos por nossos dirigentes e políticos. Entre tantos exemplos, tivemos um GreNal com portões abertos quando o tamanho da crise era evidente, tivemos o Palmeiras jogando com público no interior de São Paulo quando na capital a torcida já era vetada. Tivemos o Flamengo entrando em campo pelo estadual mesmo após seus jogadores e comissão técnica terem tido contato com um dirigente infectado. Os absurdos que (não) poderíamos cometer já foram cometidos. E se a possibilidade de voltar a jogar futebol no Brasil ocorrer apenas em agosto ou setembro? Que estejamos prontos para tudo. Inclusive, por mais duro que seja, para não jogar mais em 2020.
3) “Em breve decidiremos se vamos jogar a primeira edição [do novo Mundial de Clubes] em 2021, 2022 ou no máximo em 2023... Mas vamos olhar para a oportunidade. Poderemos talvez reformar o futebol dando um passo atrás, com outros formatos, menos campeonatos – mas mais interessantes. Menos jogos para proteger a saúde dos jogadores. Talvez menos times, mas com mais equilíbrio. Vamos quantificar os danos e veremos como cobri-los, fazendo sacrifícios.”
Aqui é preciso tomar cuidado: do ponto de vista teórico, utilizar essa pausa forçada para reflexão e para entender, entre tantas coisas, o quanto o calendário atual do futebol eventualmente prejudica a modalidade é uma atitude nobre e necessária. Se assim for, ótimo. Menos nobre seria aproveitar-se de uma crise mundial para impor mudanças baseadas em interesses existentes antes mesmo da interrupção do futebol. No Brasil, contudo, não há dúvidas que utilizar o momento atual para repensar o absurdo calendário com jogos em datas Fifa e estaduais tão longos acabaria por trazer um benefício imensurável ao nosso futebol. Que assim seja.
Siga @gianoddi
No instagram @gianoddi
No Facebook /gianoddi
Fonte: Gian Oddi
Que a ótima entrevista do presidente da Fifa saia do papel. E vire exemplo no Brasil
COMENTÁRIOS
Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.