A linda emoção do título do Colón não é acessível para todos nós
Talvez não tenha o sido o mais relevante do futebol nos últimos dias, mas em meio a tanta discussão sobre cartolas, denúncia de assédio e todos os necessários debates extracampo que têm assolado o futebol mundial nos últimos 18 meses, soaram como alento as imagens vindas da Argentina que tomaram conta das redes sociais desde a última sexta-feira à noite.
A conquista da Copa da Liga Argentina pelo Colón, um clube de 116 anos de história que até sexta só tinha em sua galeria de troféus uma taça da segunda divisão vencida em 1965, provocou em seus torcedores, sobretudo os mais velhos, reações que nos lembraram para que serve (ou deveria servir) o futebol e por que ele é, com boa margem, o esporte mais popular do planeta.
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São muitas as cenas que rodaram o mundo e fizeram boa parte dele chorar por tabela com o título do Colón – um clube sem dúvida modesto, mas não nanico, pertencente à cidade de Santa Fé, uma das 10 mais populosas da Argentina.
O emocionado senhor de 91 anos rodeado por parentes tão emocionadas quanto; um outro senhor que chora copiosamente enquanto desabafa com um palavrão após a espera de uma vida; o comediante famoso que, ao lado do filho pequeno, tenta em vão conter o choro na hora do apito final; o rapaz que resolve “brindar” com o avô já morto, abrindo para isso não apenas a garrafa de vinho que havia comprado há anos, mas também a urna de cinzas do parente querido. (É improvável, mas se você ainda não viu, pode acessar os vídeos por este fio do Twitter)
As imagens, todas elas, não soam falsas como costuma ocorrer (também no futebol) em tempos nos quais o prazer de desfrutar da repercussão em redes sociais parece por vezes maior que a capacidade de apreciar o momento em si. São vídeos verdadeiros, captando sentimentos intensos, que aliás devem soar como puro desequilíbrio para quem não gosta ou não entende o que o futebol pode causar.
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Já quem é apaixonado por futebol certamente compreende.
Compreender, contudo, não significa ter a chance de um dia viver emoção equivalente à que viveram alguns dos torcedores do Colón na última sexta-feira. Jejuns de títulos até podem, eventualmente, aproximar torcedores dos grandes clubes de algo parecido, e não faltam exemplos disso no próprio futebol brasileiro. Exemplos de torcedores para os quais um mero título estadual, pelo contexto, pela espera, pelo sofrimento, tem valor bem maior que uma Libertadores.
É justo que seja assim.
Porque a hierarquia da alegria no futebol não é ou não deveria ser matemática, não se dá por chancelas, graduações, pontos de rankings ou hegemonias. Ela é baseada na emoção. E, nesse quesito, dificilmente alguma coisa será capaz de superar a espera de uma vida toda, ainda que estejamos falando de espera por um mero título da Copa da Liga Argentina.
Um modesto campeonato que, na última sexta, ficou maior que qualquer final de Champions League.
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