Renato Gaúcho é outra prova da supervalorização dos técnicos num cenário onde eles (ainda e infelizmente) fazem pouca diferença
É questionável que um técnico de futebol não demonstre a menor capacidade de explicar, numa entrevista, suas decisões, mudanças e preferências táticas após uma partida. E é por isso que sempre me pareceu no mínimo estranho tanta gente atribuir às mudanças e escolhas estratégicas de um treinador como Renato Gaúcho os melhores momentos do Flamengo sob seu comando.
Renato pode ter – e provavelmente tem - suas qualidades como técnico, sobretudo para aquilo que os jogadores exigem de um treinador no Brasil. Entretanto, sua capacidade de leitura de jogo, de escolher, montar e alterar a equipe baseando-se em conceitos táticos elaborados nunca foi e, diante do seu desinteresse pelo tema, provavelmente nunca será seu forte.
Há tempos vivemos no Brasil uma supervalorização do trabalho dos treinadores do ponto de vista tático, atribuindo primordialmente a essas escolhas os méritos ou deméritos pelos resultados dentro de campo, como se os aspectos técnicos, psicológicos, físicos e até metafísicos tivessem uma parcela menos significativa nos números que o placar mostrará após o apito final – o que não é verdade.
Não deixa de ser ainda mais curioso que isso ocorra justamente num país onde a capacidade dos treinadores não é nem de longe um diferencial na relação com outras praças importantes do futebol mundial.
Nossa escola de técnicos, é preciso admitir, ainda não faz cócegas em escolas como a italiana, portuguesa, argentina ou alemã. Mesmo assim, é por aqui que impera uma espécie de tecnicocentrismo: sob argumentações vagas como “falta padrão”, “não faz um bom trabalho” ou “não vemos evolução”, tudo é quase sempre responsabilidade das escolhas táticas dos treinadores, o que explica suas constantes e infinitas demissões.
Não se trata de refutar a importância do treinador em pleno século 21. Não faria sentido algum, por exemplo, negar que trabalho tático de um técnico como Pep Guardiola (é só um exemplo) faz toda diferença nos resultados finais de um time por ele dirigido. Assim como não fazia sentido algum atribuir grandes méritos táticos a Renato Gaúcho ou esperar dele, para o futuro, grande brilho nesse aspecto.
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A recente prevalência das análises e da leitura do futebol no Brasil sob o aspecto tático talvez tenha surgido, compreensivelmente, como contraposição à pobreza que por anos imperou nessas mesmas análises. Mas não se pode forçar a barrar: ao exaltar (ou depreciar) trabalhos de técnicos com tanta facilidade o que se constata é uma completa aleatoriedade no que é classificado como “sucesso” ou “fracasso” desses mesmos técnicos por aqui.
O gênio de hoje é o burro de amanhã (Valentim?), o burro de hoje é o gênio de amanhã (Renato, se campeão da Libertadores?). Tudo dependerá dos resultados: méritos ou deméritos táticos em seus trabalhos sempre serão encontrados, ainda que não sejam eles a decidir os jogos. E dessa forma os principais responsáveis pelos sucessos ou insucessos serão quase sempre os técnicos, mesmo num país em que eles, ainda e infelizmente, fazem pouca diferença.
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