Usar a riqueza do City para diminuir Guardiola é ignorar os fatos (e o campo)
Não defendo e jamais defenderei os clubes de futebol que, tocados pelas mãos abençoadas de um controverso bilionário ou de um Estado tentando limpar sua imagem, passam a desfrutar de infindáveis fortunas para montar seus times com a conivência do Fair-Play Financeiro da Uefa, aparentemente mais rígido com clubes menos abastados.
É o caso do Manchester City nos últimos 15 anos? Tudo indica que sim, como demonstrou a revista alemã Der Spiegel em 2020.
Dito isso, e apesar disso, é incômodo para quem gosta de futebol perceber que a cada título que o time azul de Manchester conquista sob o comando de Pep Guardiola não falta quem busque minimizar o feito do treinador porque ele, afinal, “tem grana pra comprar quem bem entende”.
Quem faz essa crítica precisaria ser apresentado ao sempre decepcionante PSG e seu elenco mais caro do mundo, com uma folha salarial de 4 bilhões de reais por ano (!); ou ao Chelsea que, apesar dos mais de 600 milhões de euros (!) gastos em reforços na temporada, amarga a 12ª colocação da Premier League; ou mesmo ao rival de Manchester, outro time com folha salarial superior ao City (a exemplo de Real Madrid, Barcelona e Liverpool) e cujo desempenho esportivo não reflete o dinheiro gasto nos últimos anos.
São inúmeros, na história futebol, na Europa e até mesmo no Brasil, exemplos que desfazem essa correlação obrigatória entre o dinheiro e a qualidade do futebol jogado.
Pep Guardiola, desde que chegou ao Manchester City, de fato pediu a contratação de reforços caríssimos com a fortuna que lhe foi disponibilizada. Mas, apesar da recente chegada do badaladíssimo norueguês Haaland, jamais adotou o padrão parisiense de buscar os jogadores mais renomados do planeta para montar uma constelação inoperante de craques e egos.
Buscar Gündogan no Borussia Dortmund, Bernardo Silva no Monaco ou mesmo De Bruyne no Wolfsburg (esse chegou antes de Pep...), para ficar apenas em três exemplos, não se assemelha em nada às contratações de nomes como Neymar, Messi e Mbappè. Gastar muito dinheiro, no City de Guardiola, nunca significou buscar os craques mais badalados, mas, sim, buscar quem melhor se encaixaria na sua ideia de time.
E que time! Foi assim que, nas últimas seis temporadas (contando a atual), Guardiola conquistou nada menos que 10 dos 17 títulos disputados na Inglaterra: 5 das 6 edições da Premier League; 4 das 6 da Copa da Liga; além de 1 das 5 edições da FA Cup – número que pode subir para 2 sobre 6 em caso de vitória na final do dia 6 de junho, contra o United.
É um desempenho absurdo considerando-se que todas as competições acima mencionadas foram disputadas no altíssimo padrão do futebol inglês, contra equipes também muito abastadas como Manchester United, Liverpool, Arsenal, Chelsea e Tottenham, para não falar do mais novo novo-rico que chegou para brincar, o Newcastle dos árabes.
O Manchester City gasta mesmo muita grana, e isso ocorre também porque, ao negociar qualquer atleta como “o time dos Emirados Árabes”, é normal que um vendedor perspicaz faça tudo que pode e peça o improvável para arrancar o máximo de dinheiro possível de um clube cujos recursos são quase ilimitados e onde a fiscalização interna e externa é comprovadamente frouxa. Esta é, acima de tudo, uma questão financeira.
Do ponto de vista esportivo, desde que chegou ao City, Guardiola faz um trabalho praticamente impecável – constatação que independe da confirmação do favoritismo na final da próxima Liga dos Campeões, contra a Inter. Seus resultados, inclusive na competição continental, mesmo sem título até aqui, são mais que suficientes para credenciá-lo como o maior técnico do planeta há muitos anos.
Se uma crítica pode ser feita a Pep Guardiola em sua trajetória no Manchester City é o fato de ele ter defendido seus chefes no episódio de 2020, quando não precisava fazê-lo, seja pelas evidências do caso como pelo tamanho que tem o treinador (mas sobre isso já escrevi à época, quem quiser pode ler aqui).
Em 2023, tentar minimizar seu espetacular trabalho dentro de campo é ignorar os fatos e, sobretudo, ignorar o espetáculo que assistimos, semanalmente, nos gramados europeus.
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Fonte: Gian Oddi
Usar a riqueza do City para diminuir Guardiola é ignorar os fatos (e o campo)
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