São Paulo é líder. E agora?

Mauricio Barros
Mauricio Barros

Jogador por jogador, nome por nome, era para o São Paulo estar brigando pela quinta posição do Campeonato Brasileiro. Isso mesmo, alimentando o sonho de voltar à Libertadores no ano que vem. Em virtude do que passou em 2017, convivendo por alguns meses com a chance real de um devastador rebaixamento, seria uma boa situação.

É um fato que, se Flamengo, Palmeiras, Cruzeiro e Grêmio jogarem tudo o que podem, vencem o São Paulo, e mesmo se este também jogar tudo o que pode. Por isso, é surpreendente que o são-paulino alcance, na 17ª rodada do torneio, a liderança do torneio, apenas um ponto a mais que o rubro-negro carioca.

O clube alcança o topo com uma subida gradual. O primeiro fato positivo foi o afastamento do presidente Leco das decisões do futebol profissional. Raí e Lugano, cada um na sua, são gente do meio e referências de postura e sãopaulinidade. Ricardo Rocha também está lá, mas confesso ter dificuldades para entender o que, de fato, ele faz. Já deu pra ver que, pelo menos, não atrapalha.

A vinda de Diego Aguirre foi a segunda aposta acertada. Há uma passagem secreta no Morumbi que dá direto em Montevidéu. Uruguaios têm história farta no clube paulista. E Aguirre é discreto, tem liderança e pragmatismo. Arrumou a defesa, demonstra que impôs uma isonomia no elenco, evitando privilégios, e faz o time jogar conhecendo seus limites. Uma linha de quatro atrás que é forte, laterais que não vão “na louca”, dois volantes, um meia criativo, um centroavante de presença e dois caras rápidos nos lados. E dá-lhe contra-ataque. A chegada de reforços pontuais, como Éverton, Rojas e Bruno Peres, qualificou o elenco, que agora vai ter que se virar sem Militão, um de seus melhores.

Éverton durante vitória do São Paulo sobre o Vasco
Éverton durante vitória do São Paulo sobre o Vasco Gazeta Press

Ainda vivo na Copa Sul-americana, embora em situação difícil, o São Paulo se beneficia também da divisão de seus principais rivais entre Copa do Brasil e Libertadores. Se for eliminado pelo Colón, terá atenção exclusiva ao Brasileiro, que vale muito mais que o torneio continental.

Não haver jogo do Brasileiro esta semana dá ao são-paulino um prazer que há três anos não sentia: ver o time no topo da classificação. Ele olha várias vezes para ver se é verdade. Às vezes, não acredita. E volta a olhar.

É apenas um ponto, quase uma ilusão de ótica. Mas Aguirre deveria imprimir duas tabelas e colar na porta do vestiário do CT. Uma pequena, meio sulfite A4, de um ano atrás, quando o time se posicionou na vice-lanterna na 22ª rodada do Brasileirão do ano passado, após perder para o Palmeiras por 4 x 2. A outra tabela, a atual, em papel A3, com o clube em primeiro.

O time e seus torcedores precisam usar a semana de treinos para acreditar nessa liderança. Há elencos melhores, mas as circunstâncias permitiram que, depois da sequência pós-Copa, o São Paulo se colocasse como candidato ao título. Há várias coisas para aprimorar, o time tem problemas quando está com a posse, conta com jogadores que não conseguem manter a pressão na bola adversária o tempo todo, não consegue garantir partidas tranquilas quando sai na frente. Isso tudo é treino de campo. Outro trabalho é fazer o time acreditar que é possível. Isso é treino de cabeça.

Fonte: Maurício Barros, blogueiro do ESPN.com.br

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E Diego Souza, rapidamente, virou um problema

Mauricio Barros
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Diego Souza chegou como solução para o São Paulo. Houve um componente forte de desespero em sua contratação, ocorrida em meio a uma enxurrada de críticas à diretoria, que perdia de uma só vez Hernanes e Lucas Pratto e ainda tinha a permanência de Cueva como incógnita. Só isso pode explicar por que o clube gastou 10 milhões de reais em um jogador de 32 anos.

Pois Diego começa a se tornar um abacaxi para Dorival Júnior descascar no elenco. O treinador gosta de times leves e velozes. Diego Souza é pesado e lento. Com a bola nos pés, é bom jogador. Tem categoria, usa o corpo com inteligência, é bom de passe e conclusão, domina os tais “atalhos da experiência”. Mas é a negação do futebol veloz com que sonha o treinador tricolor. Aliás, como alguém pode considerar Diego Souza como candidato a ir à Copa do Mundo?

Seu caso é mais grave que o de Nenê. Mesmo sendo quatro anos mais velho, o ex-vascaíno tem muito mais mobilidade e é capaz de imprimir velocidade com seus passes e lançamentos. Diego Souza, com essa história de ter virado centroavante na cabeça de Tite, acabou confundindo todo mundo, inclusive ele próprio. Ele  funciona bem atrás do camisa 9. É mais meia que atacante. No Sport, era melhor quando tinha André à sua frente. No São Paulo, pode render mais se jogar na faixa atrás de Brenner ou Trellez. Mas é justamente por onde circula Cueva, o melhor do time, o jogador que desequilibra... Não há muito espaço para Diego Souza no time titular de Dorival, e isso ficou claro na vitória sobre o CRB.

Em que pese a fragilidade do time alagoano, o São Paulo mostrou vitalidade, mobilidade, movimento, a partir da escalação de Brenner, Valdívia e Marcos Guilherme. Com o ótimo Militão e Reinaldo passando nas laterais, Cueva pôde exercitar toda sua visão de jogo, escolhendo, dentre as opções, o melhor alvo para seus passes precisos. Diego Souza, por ser forte e matuto, busca o contato com o zagueiro. Cueva gosta de tocar em profundidade, fazendo o time avançar a partir de seus passes. Precisa justamente do oposto: atacantes que escapem dos beques.

Outro problema que se avizinha é Jucilei. O volante é ótimo jogador, prende bem a bola e tem boa leitura de jogo. Mas, como Diego Souza, é pesado e lento. Hudson e Petros são jogadores mais velozes e agudos. Petros penetra na área com frequência. Hudson também, foi ele quem sofreu o pênalti perdido pelo peruano. Aliás, o ex-cruzeirense parece outro jogador depois da temporada nas mãos de Mano Menezes. Aliou inteligência e técnica àquela vontade bruta que apresentou em sua primeira passagem pelo Morumbi.

Dorival ganha uns dias de respiro e, suas crenças, força no clube. Resta saber como lidará com a provável insatisfação dos dois reforços badalados, Diego Souza e Nenê, que, por justiça, deverão frequentar mais o banco de reservas nas próximas partidas. 

Fonte: Maurício Barros

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Nassar, o médico abusador das ginastas, tem seus “seguidores” no futebol. Vamos denunciá-los!

Mauricio Barros
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Larry Nassar foi preso pelo abuso sexual de mulheres
Larry Nassar foi preso pelo abuso sexual de mulheres []

Larry Nassar tem 54 anos e deve apodrecer em uma cadeia dos Estados Unidos. E lá dentro vai sofrer o diabo. Eu não a celebro, mas a ética particular dos presídios não costuma perdoar certos crimes. Ele foi condenado por pornografia infantil a 60 anos de prisão. O FBI encontrou em seu poder centenas de imagens de menores em atos sexuais, algumas feitas em sua casa.

Nassar foi também médico da Confederação de Ginástica dos Estados Unidos de 1998 a 2015. E aguarda julgamento por outra denúncia: abuso sexual de ao menos 140 mulheres, muitas atletas menores de idade. O estopim foi uma investigação do jornal Indianapolis Star, que trazia indícios dos crimes de Nassar. Na série de reportagens, uma vítima relatava ter sofrido abuso por parte do médico em seu consultório quando tinha 15 anos.

Tem sido assim, demorado, porque não é fácil ser o primeiro a denunciar. Mas quando alguém toma coragem, outros quebram o silêncio. E uma onda de denúncias contra o médico começou a aparecer de dois anos para cá. Quando os rumores atingiram decibéis minimamente audíveis, não tardou para as primeiras atletas se sentirem encorajadas a contar os crimes e constrangimentos de que foram vítimas. Entre elas, estrelas como McKayla Maroney, Aly Raisman, Gabby Douglas e, mais recentemente, Simone Biles, o maior nome da ginástica feminina na Rio-2016, quando ganhou quatro medalhas de ouro e uma de bronze. “Não tenho mais medo de contar minha história”, escreveu Simone.

O comentarista Lucas Mendes, apresentador do programa Manhattan Connection, do GNT, está sendo avacalhado nas redes sociais porque reproduziu, em seu programa, o discurso ignorante que sugere oportunismo de quem costuma fazer esse tipo de denúncia. “Por que demoraram tanto? Não contaram para seus pais na época? Olha que tem muita grana envolvida nesse tipo de ação!” e coisas do tipo. Felizmente, seu companheiro de bancada Caio Blinder o colocou em seu devido lugar. Oxalá Mendes daqui para frente se informe sobre a questão e elabore melhor seus comentários quando esse tema voltar à mesa.

Há muitos fatores que inibem a denúncia. Medo, culpa, receio de perder a oportunidade na carreira (em geral, o abusador está em posição hierárquica superior), dificuldade em provar (é sempre a palavra de alguém mais velho contra uma criança/adolescente) e mesmo a complexidade em reconhecer o assédio como tal, tamanha sua banalização. Mas, felizmente, as coisas estão mudando. Casos como o de Nassar, que resultam em prisão do abusador, são decisivos para inibir tais crimes.

Nas empresas, os departamentos de Compliance, quando sérios (muitos não são), levam adiante investigações a partir de denúncias anônimas. E já há muitos casos de demissões por assédio sexual e moral no mundo corporativo. Bancos, construtoras, empresas de comunicação. Eu conheço alguns casos. Chega. Basta. Assediadores não passarão.

Nesse cenário, é louvável a iniciativa do Sindicato dos Atletas Profissionais de São Paulo (tão justamente criticado pela histórica inanição) de lançar uma campanha contra o abuso e o assédio sexual nas categorias de base do futebol. Um vídeo com o alerta “Eu sou contra o assédio sexual no futebol”, dito por atletas do peso de Rodrigo Caio e Moisés, entre outros, mais a hashtag #chegadeabuso é o primeiro passo da campanha, que promete se desdobrar em ações preventivas.

Em 2012, quando eu dirigia a revista Placar, o repórter Breiller Pires, hoje meu colega na ESPN e também editor de esportes do El País, propôs fazermos um mapa do abuso sexual na base dos times brasileiros. Dei a ele o estímulo e o tempo que precisasse para produzir a investigação. Em março de 2013, publicamos não um mapa, mas um dossiê dissecando o problema nas páginas da revista. Breiller segue sempre atento à evolução dessa temática.  

Ainda é um assunto tabu, mas basta falar com qualquer atleta minimamente rodado no futebol para ouvir histórias sobre assédio a meninos por parte de treinadores, auxiliares, etc. Mas ainda falta um caso Nassar da bola. Ele existe. E não é um só. Só não veio ainda à tona. É preciso encontra-lo.

Fonte: Maurício Barros

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Muito craque junto pode ser um pesadelo

Mauricio Barros
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Muito craque atrapalha, não tem jeito. Porque não cabem todos no time. Uma boa equipe se forma quando há equilíbrio entre tarefas “de base” e missões mais criativas. Osso e filé. E mesmo os jogadores mais criativos, que são os que mais aparecem e, consequentemente, os mais badalados e ricos, devem saber que é preciso estar disposto a dar uma bicadinha no osso.

Pensando nas megaestrelas do futebol, entra no rolo uma mistura explosiva de vaidade, personalidades mimadas e altamente influenciáveis, reclamações de empresários, parentes dizendo que eles são o máximo e perguntando quem é o treinador para botá-lo no banco, clubes tentando aproveitar o descontentamento para arrancá-los dali... E, claro, tem o desejo do cara de jogar sempre.

As redes sociais pioraram tudo. Muitos atletas não estão preparados para lidar com elas e desabafam ou mandam recados em posts e tuitadas. Parentes próximos fazem o mesmo. Tudo vira pauta para debates na imprensa e na padaria. Um treinador não consegue administrar tais questões apenas internamente. Viram assunto público.

Depois da derrota por 3 x 1 do PSG para o Real Madrid, as esposas entraram em campo. Isabelle, mulher de Thiago Silva, que foi preterido em prol de Kimpembe, mandou uma indireta mais que direta ao técnico Unai Emery. “Tática, tática? O que é tática? Aff...”, escreveu a moça. Jorgelina, esposa de Di María, que também não entrou no jogo, foi mais dura. “Seu esforço + seu trabalho extra + seus gols + suas assistências + seu melhor momento = banco. Mas quem não entende de futebol são as mulheres”, escreveu. Em segundos, suas declarações repercutiram no mundo todo.

 Unai Emery mexeu mal e foi um dos grandes responsáveis pela derrota do PSG, mais uma prova de que não está à altura dos investimentos e objetivos do clube francês, hoje controlado pelos milionários do Qatar. Liderar um elenco com tantas estrelas como Neymar, Cavani, Daniel Alves, Thiago Silva, Di Maria, Pastore, Mbappé, Verratti, Draxler é tarefa das mais difíceis. Você precisa ter muita história e capacidade de comando, muita qualidade técnica e carisma pessoal para fazer esse grupo funcionar coletivamente. Isso significa fazer os craques cumprirem funções e também aceitarem quando são preteridos.

Creio que há um número mágico de estrelas que se pode ter em um time de futebol. O equilíbrio com outros jogadores menos expostos às armadilhas da vaidade, cumpridores de funções, mais “operários”, é a chave para o sucesso. Há na história do futebol vários exemplos de constelações que naufragaram, tipo o Flamengo de Romário, Sávio e Edmundo e a Seleção Brasileira de Ronaldo, Ronaldinho, Adriano, Roberto Carlos e Kaká na Copa de 2006.

O PSG pode, claro, vencer o Real no jogo de volta e avançar na luta pelo título europeu, a grande obsessão dos seus donos. Mas parece certo que Emery está com os dias contados. Seja quem vier para o seu lugar (fala-se até em Tite), o melhor a fazer é escolher as estrelas com quem quer trabalhar, um número reduzido e administrável, e dispensar as demais. Pegar o dinheiro e ir atrás de figuras menos midiáticas e mais “tarefeiras”. Busquets é um exemplo de jogador gigante e que dificilmente vai criar problemas por conta de vaidade. Há vários outros.

Nisso cruzo o Atlântico e aterrisso no CT do Palmeiras. Guardadas as devidas proporções, Roger Machado tem um problema de ordem semelhante: muita gente boa, cara, badalada e com bastante mercado. Para o gol, Jaílson deixa Prass e Weverton no banco. No meio, Lucas Lima não dá espaço para Guerra e Scarpa. Há disputas de “cachorro-grande” também nas laterais e no ataque. Uma situação privilegiada que seria o sonho de qualquer técnico, mas que, se o cara não tiver cuidado, pode se virar contra ele. Roger parece muito capaz do ponto de vista técnico e também comportamental. Gosta de conhecer o jogador nos aspectos boleiros e psicológicos. Mas não pode descuidar um minuto, senão o caldo entorna. 

Fonte: Maurício Barros

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O VAR é um túnel escuro. Mas não há saída senão ver aonde vai dar

Mauricio Barros
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A CBF pode tapear que está sem grana, os clubes podem dizer o mesmo de seus cofres, neguinho pode discordar, jogar a culpa um para o outro, o escambau. Mas o VAR, o árbitro de vídeo, é uma realidade sem volta. Seja neste ano, no ano que vem, no outro... Em curto ou no máximo médio prazo, todas as partidas dos principais torneios de futebol profissional no Brasil terão os elementos da tecnologia auxiliando a arbitragem. Vai ficar cada vez mais barato, como tudo no mundo, exceto as cervejas IPA. Trata-se da maior transformação no esporte mais querido da humanidade desde que os inventores ingleses padronizaram as regras básicas, no final do século XIX. E vai doer pra caramba.

Até que se chegue a uma utilização razoável, baseada no mínimo de bom senso, e que todos os atores ­– jogadores, técnicos, árbitros, imprensa, torcida, eu e você ­– aceitem que a mudança vem para conferir um pouco mais justiça aos resultados, muito vai se errar, atrapalhar, confundir.

Entendo perfeitamente quem malha a adoção do árbitro de vídeo. O futebol só chegou onde está, imbatível em popularidade, porque extrapola o campo. Sua natureza fluída, a posse transitória, a bola conduzida sem as mãos, e por isso sempre à mercê de ser tomada, o campo grande, o número excessivo de jogadores, abre um leque inigualável de eventos possíveis naquele retângulo verde. A conexão com o sobrenatural, a predestinação, a trapaça esperta, os heróis e vilões, a cultura enfim, faz a humanidade estar ali exposta como em nenhum outro jogo.

No último domingo, depois do clássico entre Liverpool e Tottenham pela Premier League, Mauricio Pochettino, técnico dos Spurs, confessou ser um dos que torcem o nariz para o uso da tecnologia na arbitragem. Embora o Campeonato Inglês não tenha ainda adotado o VAR, ele aproveitou um cartão amarelo dado para seu meia Dele Alli por simulação para externar sua preocupação.  "Foi claro. O árbitro estava certo. O problema é que agora estamos muito sensíveis sobre essa situação. É até demais, algumas vezes. Penso que seja um problema pequeno", disse. "Estou preocupado que vamos mudar o jogo que conhecemos, como conhecemos o futebol. É um esporte criativo, no qual você necessita de talento e perspicácia", continuou o treinador.

Perspicácia, aí, podemos tranquilamente entender como esperteza, prima da malandragem, amante da trapaça. Pochettino, um dos expoentes da nova geração de treinadores mundiais, é argentino. Para nós, sul-americanos em particular, a malandragem tem componentes charmosos irresistíveis. A caminhada de Nilton Santos para fora da área após ter feito o pênalti em 1962 e a mão de Maradona em 1986 são a quintessência da trapaça heroica, genial, “do bem”, justificada. Os europeus também têm as suas, claro, mas lidam de modo diferente com a simulação, são mais críticos e menos românticos. "Estou preocupado que o esporte que tanto amamos terá uma estrutura muito rígida com o VAR. Para o jogo, punir a pessoa... Há 30 anos, nós todos parabenizávamos os jogadores quando eles enganavam os árbitros assim! Não só na Argentina, mas na Inglaterra também", comentou. “Isto é o futebol, este é o esporte pelo qual me apaixonei quando era criança", completou Pochettino.

Eu há alguns anos até escrevi que algumas sujeiras dentro do campo eram, na verdade, alecrim, tomilho, coentro, temperos que davam ao futebol seu sabor único. Não penso mais assim. Creio que o futebol tenha elementos suficientes para seguir apaixonante se auxiliarmos sua mediação por parte dos árbitros. A exposição do jogo em multicâmeras tornou desleal a avaliação do trabalho desses pobres diabos. Aquela bola do gol do Santos contra o Palmeiras, saiu ou não? Ninguém pode ter certeza. Era impossível para o bandeirinha apontar. Mesmo com alguém colado à linha, pela velocidade da bola, pela regra dizer que a circunferência tem que sair toda, seria possível a este cravar. Fez bem o juiz de seguir o jogo. Enfim, só para citar um exemplo recente...

O VAR vem aí, e repleto de incertezas. É um buraco escuro, mas a gente precisa mergulhar nele. E eu espero, sinceramente, que o futebol que esteja do outro lado seja ainda melhor.        

 

Fonte: Maurício Barros

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O fim da comissão técnica 'generalista'

Mauricio Barros
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Os sexagenários Buião e Zé são barbeiros no meu bairro, na zona oeste paulistana, já tem mais de 30 anos. Há quatro, esses irmãos tentam em vão deixar meu cabelo apresentável, aparando tufos aqui e ali, chumaços cada vez menos arruivados e mais brancos. Migrantes nordestinos, adotaram o São Paulo como time do coração. São doentes por bola e pelo tricolor paulista. Sabem todas as notícias, veem programas esportivos de TV aberta e fechada. São impagáveis seus comentários. Coisas como “esse Cueva é gordinho porque quando vai pro Peru come muita batata. Lá tem muita batata”. Futebol, geografia e gastronomia em uma frase só.

Não falo de tática com eles, nem de estatísticas e ferramentas tecnológicas, porque futebol, para Buião e Zé, tem a ver com drible, pegada, malandragem. Engraçado demais. Um jeito de ver o esporte que, creio, ainda seja majoritário no Brasil. Mas, claro, é algo datado.

Lembrei deles porque, vira e mexe nos pegamos no Bate-Bola na Veia discutindo esforço x talento, ciência x dom. Meu querido amigo João Canalha sempre nos cutuca: será que a preocupação com a disciplina tática está tolhendo o talento e deixando o futebol mais feio e chato? Entendo e compartilho de sua preocupação. Essa discussão é, para nós, brasileiros, particularmente sensível, pois somos o país do futebol bonito – digo isso historicamente, porque já há um bom tempo que grandes craques surgem nos quatro cantos do planeta, do Egito à Bélgica, do Chile à Croácia.

O que pontuo sempre é que essa oposição é, por princípio, equivocada. O futebol feio e chato se deve às dificuldades que temos para manter nossos melhores jogadores e à baixa qualidade dos treinadores, desde a base. O esforço e a ciência, quando aplicados com inteligência, só tendem a iluminar o dom e o talento. Quanto mais conhecimento houver, maior a possibilidade de se aproveitar as qualidades individuais e tornar o jogo mais eficiente e bonito. A evolução do esporte nos aspectos estratégicos e físicos tornou-o muito mais disputado, complexo e difícil. Confiar apenas no talento é abrir um atalho para a derrota.

Outro dia analisávamos com o Data ESPN uma imagem de linha de impedimento mal ensaiada. Bastou um zagueiro não sair na hora certa e lá estava o atacante em condição legal para receber a bola. Fico pensando se o próximo passo nas comissões técnicas é a especialização radical dos assistentes por funções, terços do campo, fases distintas. No futebol americano, por exemplo, há treinadores de defesa e estrategistas de ataque. Não vi isso tão compartimentado ainda por aqui.

São esportes bem diferentes, claro, no soccer a posse se alterna a todo instante, modo ataque e modo defesa se sucedem a intervalos curtíssimos de tempo. Mas creio que o futebol chegou a um nível competitivo tamanho que já pede uma especialização ainda maior nas comissões técnicas.

Se há tempos existem os treinadores de goleiros, onde estão os treinadores de defesa, de meio-campo, de ataque?  Alguém que foque em um setor ou função. Na defesa, por exemplo, um treinador bem formado que esmiúce as tarefas, disseque os fundamentos, os números, estude os melhores “ferrolhos” da história, crie novos treinamentos para quando a bola estiver perto de sua área, ajude a selecionar os garotos nas peneiras. E que, claro, seja capaz de conectar os movimentos dos zagueiros (e volantes) com os outros setores do time, armação e ataque. Porque, mais do que defesa, hoje precisamos falar de sistema defensivo, e isso inclui até mesmo o centroavante.

Mas coisas como linha de impedimento, posicionamento em escanteios e faltas, bote e sobra, por exemplo, são questões que afetam mais diretamente a primeira linha. Cabe reservar um tempo na agenda de treinamentos para separar a turma e treinar especificamente tais quesitos. O mesmo serve para meio-campo e ataque. Mas não comente isso com o Buião nem com o Zé que é capaz de eles darem um talho na sua orelha.            

Fonte: Maurício Barros

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E Raí tendo que lidar com sujeitos como Cueva?

Mauricio Barros
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Conversei longamente com Raí em meados do ano passado. Trocamos ideias sobre reputação, credibilidade, ética, essas coisas que andam tão na moda hoje quanto a pochete, a kaiser bock e a lambada. Falamos bastante sobre seus interesses diversos, da Fundação Gol de Letra ao cinema em Pinheiros, dos estudos em Londres ao perfil das empresas que o procuram para campanhas publicitárias. Estava junto seu sócio de longa data, Paulo Velasco. Àquela altura, Raí já fazia parte da equipe do presidente Leco no São Paulo, como membro do Conselho de Administração. Mas, em nosso papo, ele não dava pinta de que entraria ainda mais a fundo na gestão do clube, como viria a fazer em dezembro no cargo de diretor de futebol.

Fico imaginando como deve ser difícil para Raí lidar com indivíduos como o peruano Cueva, que, já não bastasse o atraso de uma semana em sua reapresentação para a temporada 2018, pediu agora para não viajar com o clube para Mirassol, onde o São Paulo busca sua primeira vitória no Campeonato Paulista. Ele tem propostas para sair, entre elas a do Al-Ahli, dos Emirados Árabes Unidos, mas o São Paulo tem dito que não quer negociá-lo neste momento.

Via site oficial do clube, Raí fez um comunicado com teor inadmissível para alguém que, como ele, pautou sua carreira pelo profissionalismo inquestionável. Dá pra sentir o sangue fervendo em cada palavra. “O Cueva nos pediu para não participar do jogo e nós avaliamos que ele não está plenamente comprometido com a agenda do clube neste momento. Assim, decidimos não levá-lo com a delegação para Mirassol. Nós lamentamos essa situação e estamos trabalhando para tê-lo apto física e mentalmente e à disposição para voltar a contribuir com o São Paulo o mais rápido possível. O São Paulo não abre mão do jogador neste momento”.

Para um profissional de qualquer área, ver-se exposto dessa maneira pelo chefe deveria ser uma enorme humilhação. Ser acusado de não estar comprometido com a agenda do clube faria qualquer um repensar seus modos. Mas não sei se Cueva se tocará disso. Duvido. Como declarou Orlando Lavalle, treinador do peruano na base do Universidad San Martín, em recente reportagem do Uol, ele sempre, desde garoto, foi muito mimado. E pela postura de Leco, para quem não adianta querer manter jogador insatisfeito e o melhor é negociar (vide Lucas Pratto), suspeito que o peruano, principal homem de criação do São Paulo após a saída de Hernanes, não vestirá mais a camisa tricolor.

Gerir jogadores de futebol é um inferno. Em geral, salvo exceções, são mal formados culturalmente, têm repertório estreito, sofrem uma influência enorme de familiares e empresários. E, no caso dos melhores, e Cueva está entre eles, são muito ricos, o que complica ainda mais, pois não toleram ser contrariados e ameaçam sair. Raí foi o oposto disso tudo. Imagine o que não lhe dói no fígado, mesmo ganhando bem para tanto, ter que lidar com um sujeito de postura tão abjeta como Christian Cueva.

Fonte: Maurício Barros

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Carta de amor aos canhotos

Mauricio Barros
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Quando o Palmeiras reúne dois dos melhores canhotos do futebol brasileiro, Lucas Lima e Gustavo Scarpa, me lembrei deste texto que publiquei em minha coluna na revista VIP, em junho do ano passado. Lá vai:

Assimetria hemisférica é o nome científico para as diferenças entre os lados do nosso corpo. Tenho uma das pernas milímetros mais curta que a outra e acredito que esteja aí a causa da minha lombalgia, hoje controlada pelo legado de Joseph Hubertus Pilates. Ao menos esse bug me rende um gingado de mestre-sala esloveno. Assimetria hemisférica também contempla o fato de sermos destros ou canhotos. E faz pouco mais de três meses que pesquisadores da Ruhr-Universität Bochum, na Alemanha de Pilates, jogaram água no chope de quem creditava ao cérebro a responsabilidade por nascermos Pelés ou Maradonas nos pés, Borgs ou McEnroes nas mãos.

Dizem os germânicos que a causa está determinada desde muito cedo. O estudo defende que na 13a semana de gestação os fetos já fazem movimentos preferencialmente com um dos lados do corpo. E o uso prioritário de uma das mãos já se nota na oitava semana. Nesse período, ainda não foi completada a ligação do córtex motor com a medula espinhal. Portanto, segundo o estudo, é na medula que acontece a preferência por direita ou esquerda – e aqui, por favor, não falo de política, embora nessa seara há muito eu me encontre em posição fetal.

Daí caímos como um tijolo em Messi e Cristiano Ronaldo. O FutLAB, grupo que fundei com amigos feras em estatísticas para analisar o futebol sob o prisma exclusivo dos números, publicou recentemente no site da ESPN uma comparação entre os dois mais Neymar. O brasileiro ficou bem atrás. Messi venceu CR7 pelas características relacionadas à maior participação no jogo. Os números se restringiram às quatro temporadas em que os três atuaram juntos na Espanha.

Confesso que minha preferência por Messi já existia muito antes de ver os números. E mesmo que o argentino perdesse, eu mandaria às favas minhas próprias convicções estatísticas. Tudo porque o pequeno Lionel, na barriga da mamãe Celia Cuccittini, já usava a canhota. E eu amo os canhotos. Sua biomecânica é diferente, improvável, estilosa. Minha medula me fez destro, mas desde pequeno não me conformei. Treinei a esquerda à exaustão, a ponto de poder bater tranquilamente um escanteio com esta perna que não é a minha boa. Mas meu movimento sempre será forçado, robótico, porque na barriga da minha mãe eu mexia a destra. Frustrante.

O Capiroto, o Indivíduo, o Sujo, o Cramulhão, o Das Trevas… Guimarães Rosa nos deixou dezenas de nomes para o Demônio. Até nisso eu renego o legado da minha assimetria hemisférica. Prefiro, de longe, “o Canhoto”.

Fonte: Maurício Barros, blogueiro do ESPN.com.br

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Quem vai ficar com Robinho?

Mauricio Barros
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E Robinho surge nas redes sociais curtindo o verão de jet ski e soltando grunhidos ininteligíveis sobre as águas. Seu staff diz que, após a rescisão contratual com o Galo, o jogador não tem pressa em fechar com um clube para o ano que se inicia.

Depois de uma boa temporada em 2016, o atacante viveu um 2017 de altos e baixos ­– mais baixos que altos, diga-se, embora tenha tido um brilhareco na reta final. No dia 23 de novembro, a má fase em campo ganhou contornos sombrios: a Justiça da Itália anunciou a condenação de Robinho a nove anos de prisão porque teria participado, ao lado de outros cinco homens, de um estupro coletivo de uma jovem de origem albanesa em uma boate de Milão. O episódio aconteceu, segundo a Justiça, em 22 de janeiro de 2013, quando Robinho jogava no Milan.

A condenação acontece em primeira instância e cabe recurso. Robinho, por meio de seus advogados, nega enfaticamente a participação no episódio e disse que vai recorrer. Vale lembrar que, em 2009, uma jovem também o acusou de violência sexual em uma boate de Leeds, Inglaterra, quando Robinho jogava no Manchester City. Após investigação da polícia, ficou comprovado que a mulher estava mentindo, e foi aberto contra ela um processo por falsa acusação.

Fato é que, enquanto cabem recursos, Robinho está livre para tocar sua vida. É fato também que o peso moral dessa condenação em primeira instância é enorme e, quem o contratar, deverá ter consciência disso. Ainda no Atlético, um grupo que se identificou como “Feministas do Galo” pendurou uma faixa na frente da sede do clube em Belo Horizonte contra a presença do atleta: “Um condenado por estupro jogando no Galo é uma violência contra todas as mulheres”.

Robinho tem uma carreira brilhante dentro de campo, principalmente no Santos e na Seleção Brasileira. Na Europa, onde atuou no Real Madrid, no Manchester City e no Milan, não conseguiu confirmar tudo o que se esperava de seu potencial, tendo sido um ator secundário. A meu ver, faltou seriedade ao craque no período europeu. Robinho sempre me pareceu criança demais, fanfarrão demais. E ainda parece, quando o vejo publicar vídeos curtindo a vida adoidado quando uma condenação tão séria quanto essa assombra seu futuro.

Robinho logo completará 34 anos e a vida continuará depois que pendurar as chuteiras. Já está milionário e dinheiro não será problema. Se está tão certo de sua inocência, como tem declarado desde que o episódio veio à tona, deveria focar em sua defesa, concentrar esforços em provar que não tem culpa. É hora de recolhimento, de calcular melhor suas aparições públicas. Isso não implica renunciar à vida nem ao trabalho enquanto os recursos rolam nos tribunais da Itália, mas ter consciência do tamanho da encrenca em que está metido.

Dentro de campo, propostas não faltarão para Robinho jogar nesta temporada. Mas, antes de escrever o contrato para o jogador assinar, o clube interessado deve responder a uma pergunta crucial: vale a pena investir tanto em um jogador decadente dentro de campo e que, fora dele, tem uma situação tão grave e delicada por resolver?                

 

Fonte: Maurício Barros

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Quem vai ficar com Robinho?

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O Chile é uma carga muito mais leve para Rueda

Mauricio Barros
Mauricio Barros

Flamenguista, é questão de tempo que você peça a demissão de Reinaldo Rueda do comando do time. Talvez já esteja pedindo. Não porque seja o Rueda, mas porque no futebol é assim, as coisas duram pouco. Mesmo que ele fique e vá bem, uma hora o caldo entorna. Questão de meses. A carne mais perecível do mercado é a de treinador. E a do colombiano encerrou o ano na frigideira, após a melancólica derrota no Maracanã para o Independiente na final da Copa Sul-Americana.

É uma pena que seja assim. Acredito que uma avaliação justa do trabalho de um técnico só possa ser feita após uma temporada completa, que tenha se iniciado com a participação dele na escolha de reforços e dispensas, antes mesmo da pré-temporada. É o que está acontecendo, por exemplo, com Roger Machado no Palmeiras – que talvez não dure até o meio do ano, a depender dos desígnios de Resultado, o deus pagão do futebol.

Qualquer veredicto em um prazo menor que uma temporada completa contamina a justiça da análise. Rueda chegou com o ano loucamente maduro, o Flamengo envolto em mata-matas da Copa do Brasil e da Sula, tudo isso em meio ao Campeonato Brasileiro. Foram quatro meses não só de trabalho, mas de vida do treinador colombiano no Brasil. Se colocarmos no pacote toda a complexidade de mudar de país, com outra língua e cultura, e as particularidades que o gigantismo do Flamengo traz, fica ainda mais clara a percepção de que não há elementos para dizer se Rueda é um sucesso ou uma decepção. O que deu para sacar é que é um cara trabalhador, elegante e honesto no que diz e faz.

Mas Rueda está sendo muito assediado pela Federação Chilena para dirigir sua seleção. As notícias da imprensa do Chile mostram um cenário de acerto avançado, ao contrário do ceticismo com que o assunto tem sido tratado por aqui.

O Flamengo não tem muito a fazer, não vai dar aumento pra Rueda ficar. Há uma multa, e se ela for paga sob autorização do treinador, nada resta aos cartolas rubro-negros. Mas o clube tampouco pode ficar exposto a essa incerteza para além dos próximos dias. Há um planejamento para o ano a ser desenvolvido, decisões sobre contratações e dispensas, o Estadual começa logo ali, em 17 de Janeiro.

Na balança das propostas, a única coisa que pesa para que Rueda opte por ficar no Flamengo é a ambição esportiva. No âmbito sul-americano de clubes, o Fla é muito maior do que a Seleção Chilena é entre as seleções do continente. Ter sucesso dirigindo um gigante brasileiro elevaria a carreira e o patamar do colombiano. De resto, o convite chileno parece ser mais conveniente.

Quanto a salário, os chilenos certamente oferecem mais. A ideia é que o prazo de contrato seja longo, de quatro anos, visando a classificação e a disputa da Copa de 2022. No Fla, a demissão pode vir a qualquer momento... Há uma necessidade dos chilenos por alguém que comande a transição entre a geração brilhante de Alexis Sanches e Arturo Vidal e os novos nomes que estão surgindo no país. Santiago é uma cidade linda e muito mais segura que o Rio de Janeiro. E o trabalho em uma seleção é sazonal. Rueda não precisa dar expediente, ir todos os dias. Pode morar na Colômbia e viajar para passar períodos de Data Fifa no Chile. De resto, a rotina de treinador de seleção é fazer reuniões esporádicas, assistir a jogos, às vezes uma viagem pontual para observar jogadores. Um trabalho de responsabilidade e pressão razoáveis, mas nada perto do frenético cotidiano que é dirigir um clube como o Flamengo.

Essas questões de rotina são particularmente importantes para Rueda, que tem sua mãe gravemente doente na Colômbia.

Adoraria que Rueda ficasse, mas, por tudo isso, não será nenhuma surpresa se o treinador rescindir seu contrato com o Flamengo para virar treinador do Chile. Será mais um técnico estrangeiro a fracassar no Brasil nos últimos anos. Uma pena. Se fosse você, como decidiria?

Fonte: Maurício Barros

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E se Tifanny, a trans do vôlei, jogasse futebol?

Mauricio Barros
Mauricio Barros
Tiffany, jogadora de vôlei de Bauru
Tiffany, jogadora de vôlei de Bauru Divulgação

Jogos de Londres-2012. O verão inglês, tórrido, subsaariano, me fazia usar um moletom na tribuna de imprensa. Eu estava no Estádio Olímpico quando Oscar Pistorius disputou a eliminatória dos 400 metros rasos pela equipe da África do Sul. Havia um transe no ar, todos ali cientes de que éramos testemunhas in loco da História. Pistorius, com suas próteses conhecidas como “cheetas”, imponentes hastes de metal em forma de ponto de interrogação invertido, se tornava o primeiro atleta paraolímpico (para mim é difícil tirar esse “o” do meio) a disputar uma Olimpíada. À época, nem o mais perturbado humanoide imaginaria que, seis meses depois, Pistorius mataria a tiros sua namorada, Reeva Steenkamp, o que para sempre jogará sombras àquele momento sublime do esporte (e da humanidade) que tive o privilégio de presenciar. Atletas são humanos e, como humanos, guardam monstros dentro de si.

Havia enorme encantamento pelo que representava alguém com as duas pernas amputadas, dos joelhos para baixo, conseguir se colocar em igualdade de condições com os melhores atletas do planeta e seus corpos perfeitos.

E havia também questionamentos justamente em relação a essa igualdade: para muitos, as próteses eram capazes de impulsionar Pistorius com uma eficiência que as pernas humanas jamais conseguiriam fazer. Discussão importante, delicada e necessária, porque sensível a várias “contaminações” de análise por preconceito, ignorância e, mesmo, má fé.

É essa última discussão que me vêm à memória quando vi que Tifanny Abreu estreou na Superliga na derrota do Vôlei Bauru para o São Caetano por 3 sets a 2, no último dia 10 de dezembro. Apesar de serem questões completamente diferentes, de proporções absolutamente distintas, há um ponto em comum sobre o qual a gente deve refletir: como Pistorius, Tifanny ficou bandeira em dois mundos outrora separados: ela jogou a Superliga B masculina por Juiz de Fora e Foz do Iguaçu como Rodrigo Abreu. Agora disputa, com o nome que escolheu, a Superliga feminina pelo time do interior de São Paulo.

Robbie Rogers foi o primeiro a assumir homossexualidade na MLS
Robbie Rogers foi o primeiro a assumir homossexualidade na MLS MLS

Tifanny é uma mulher trans. Nasceu e foi registrada como homem, mas se reconhece como mulher. O vôlei foi o caminho que encontrou para se viabilizar financeiramente e realizar seu sonho. Depois de atuar em ligas masculinas da Indonésia, Portugal, Espanha, França e Holanda, foi na Bélgica, em 2012, ainda como Rodrigo, que ela fez a cirurgia de mudança de sexo (ou gênero, ou redesignação genital, os termos mudam conforme avança o debate). Tudo dentro da lei. E ao voltar ao Brasil, não imaginava seguir como atleta. Mas em 2016 uma decisão do COI, o Comitê Olímpico Internacional, permitiu a homens que participem de competições femininas, desde que com os níveis de testosterona controlados. Nem mesmo é necessário ter feito, como Tifanny, a cirurgia. Bastar a concentração do hormônio “masculino” estar abaixo de 10 nanogramas por mililitro de sangue – a de Tifanny estaria com folgas abaixo disso.

O esporte está entre as mais belas invenções humanas, é impossível que não reflita os movimentos comportamentais de seu tempo. Na moda dos cabelos, nas vestimentas, na tecnologia, nas tatuagens. Era questão de tempo que a discussão de gênero ganhasse quadras, águas, campos.

Falando em campos, o futebol é um dos mais conservadores ambientes do mundo esportivo. Na história, são raridades sequer casos como o de Robbie Rogers, que acaba de encerrar a carreira no Los Angeles Galaxy. Ele já havia se aposentado em 2013, logo após declarar ser homossexual. Mas foi convencido a voltar e virou ícone na luta contra a homofobia.

Não sei o quanto vai demorar, mas uma coisa é certa: Tifannys boleiras vão aparecer. Porque já existem. E quanto pintarem, vai se abrir também uma ponte entre as modalidades masculina e feminina? Como o futebol lidará com isso? E você?

Fonte: Maurício Barros

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Guerrero não vai à Copa no país do doping

Mauricio Barros
Mauricio Barros

Foram 72 nanogramas por mililitro encontradas na urina de Guerrero. A benzoilecgonina é uma substância que compõe a cocaína. Ela apareceu em seu xixi porque o atacante peruano, segundo o próprio, teria tomado chá de anis e chá de coca como tratamento de uma gripe, quando servia à sua seleção nas Eliminatórias. Deslize coletivo: dele, de médicos e de nutricionistas peruanos. Defesa feita, a Fifa entendeu que o atacante não quis mesmo se dopar e aliviou a pena. Passou de dois para um ano de gancho. A tolerância aos testes positivos é baixa, mesmo quando a tese de contaminação, ou seja, sem intenção de obter vantagem esportiva, é aceita. 

O astro peruano viu desmoronar o sonho de todo garoto que joga futebol: disputar uma Copa do Mundo. O Flamengo ficou sem seu centroavante titular quando mais precisava. Os advogados ainda vão recorrer, mas uma mudança na condenação é improvável.

Corta para a sala da minha casa. Acabo de assistir, sob ordens do meu chefe, o jornalista e músico Eduardo Tironi, ao espetacular documentário “Icaro”. A Netflix comprou seus direitos após vê-lo premiado no último “Sundance”, um dos mais importantes festivais de cinema (de verdade) do mundo, criado por Robert Redford.

A história começa de um jeito e termina de outro absolutamente imprevisível. Em 2014, o americano Bryan Fogel, um documentarista e ciclista amador da pesada, em nível quase profissional, decide ser cobaia e filmar a experiência de se dopar. Ele queria tentar vencer uma prova mítica entre os amadores, também na França, a Haute Route, sete dias pedalando nos alpes, onde seu melhor resultado fora um 14º lugar. Fogel sentia que faltava um degrau para se igualar àqueles 13 caras que chegaram à sua frente, coisa que só mais treinamento duro, ele acreditava, não seria capaz de oferecer.

E Fogel não queria uma injeçãozinha qualquer. Seu projeto foi replicar e documentar o caminho de Lance Armstrong, sete vezes campeão da Volta da França, mito do esporte que superou um câncer. Um sujeito que, em 2012, teve sua história desmascarada: Lance construíra sua vitoriosa carreira à base de estimulantes proibidos, programando meticulosamente os dribles para testar negativo nos exames. Virou sinônimo de trapaça.

Fogel reforçava sua convicção de que o sistema de detecção antidoping era falho, pois Lance havia testado negativo em cerca de 500 exames, e só foi descoberto porque seus colegas de equipe o deduraram em uma investigação federal. Fogel desejava provar sua tese. Decidiu então que também queria um “protocolo” de uso de doping que tornasse impossível aos exames apontar um resultado positivo.

Procurou Don Catlin, chefe do Laboratório Olímpico da UCLA, que havia avaliado 50 vezes a urina de Lance Armstrong, todas elas com resultado negativo. “A verdade é que é muito fácil burlar os exames”, declarou Catlin, visivelmente desapontado por não ter detectado tamanha fraude. O cientista se interessou pelo projeto de Fogel e prometeu ajuda-lo pessoalmente, mas declinou. Não sem antes apresentar Fogel a um velho conhecido: Grigory Rodchenkov, químico-chefe do Laboratório de Antidopagem da Rússia. Poucos contatos via Skype e Fogel e Grigory, um ex-atleta fanfarrão de corridas de fundo, simpatizaram um com o outro. Ficaram amigos e confidentes. Grigory orientou todos os passos do americano, emulando o protocolo de Lance.

A história dá uma guinada quando a rede de TV alemã ARD, no final de 2014, leva ao ar um documentário (The Doping Secret: How Russia Makes its Winners, dirigido por Hajo Seppelt) denunciando o esquema de doping de atletas russos patrocinado pelo governo de Vladimir Putin. Um dos personagens centrais é o próprio Grigory Rodchenkov, que se vê acuado e pede ajuda a Fogel. O russo passa a colaborar com a justiça dos EUA e abre para o New York Times, com detalhes, como montou um esquema de trapaça para manipular as amostras dos atletas russos e livrá-los de serem pegos no sistema antidoping, que ele próprio chefiava, durante os Jogos Olímpicos de Inverno, em Sochi, na Rússia. O escândalo levou o COI a proibir a participação de vários atletas russos na Olimpíada do Rio de Janeiro. O governo Putin nega até hoje que patrocinasse o esquema.

Para encurtar a história, Rodchenkov deixou a família na Rússia e hoje vive nos Estados Unidos, em local sigiloso, sob o Programa de Proteção a Testemunhas. Teme ser morto. Um dos principais acusados de comandar o esquema é Vitaly Mutko, então ministro dos Esportes da Rússia. Homem de confiança de Putin, ele hoje é, simplesmente, presidente da Federação Russa de Futebol e vice-primeiro ministro do país. Mutko acaba de ser banido pelo COI do Movimento Olímpico, e a Rússia proibida de participar dos próximos Jogos Olímpicos de Inverno, em PyeongChang, na Coreia do Sul. 

Ah, e Mutko é também o presidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2018. Essa mesma que Paolo Guerrero não vai poder jogar por conta dos chás que andou tomando para tapear a gripe. Tem coisa pra gente pensar aí ou não?

Fonte: Maurício Barros

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Guerrero não vai à Copa no país do doping

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A Independente planta a semente

Mauricio Barros
Mauricio Barros

Torcida Organizada nasceu como Torcida Uniformizada e com um objetivo nobre: tornar mais bonita a festa em um estádio de futebol. Um grupo de amigos que compartilha a paixão pelo clube indo torcer nas arquibancadas com camisas, bandeiras, batuque. Lindo.

Mas a gente sabe que a coisa desvirtuou. Questões sociais, regionais, econômicas, políticas – humanas, enfim – tornaram esses grupos entes complexos, com alas violentas vivendo sob a lógica das  facções, empreendendo brigas e até crimes. Uma imagem negativa que levará tempo para ser mudada, se é que há interesse de seus líderes em muda-la.

Como muitos de nós, jornalistas, estamos sempre atentos e criticamos duramente o lado perverso desses grupos quando ele vem à tona, é justo que reconheçamos quando há coisas boas. E uma organizada que foi notícia muito mais pelas coisas positivas que pelas ruins este ano foi a Independente, maior torcida do São Paulo.

Em que pesem todas as decisões equivocadas de uma direção que claramente não é do ramo, a torcida entendeu que precisava ajudar o clube a evitar o rebaixamento. Sacou que o São Paulo é maior que as pessoas que por ele passam. Usou seu poder de influenciar os demais torcedores para criar no Morumbi e no Pacaembu uma atmosfera de apoio, mesmo quando o time viveu seus piores momentos, na segunda metade do primeiro turno, ficando 13 rodadas seguidas na zona de rebaixamento. Os jogadores corresponderam primeiro com vontade, depois com um futebol melhor. E o time se livrou matematicamente da queda com três rodadas ainda por jogar. Não houve sufoco.

Olhando de fora, a impressão é que se criou algo novo na relação da torcida com o clube. Vale sempre pensar nos momentos de crise, porque na bonança é tudo muito fácil. Pichações, invasões de treino, lançamento de pipoca, perseguição a atletas na noite e vandalismo sempre são o modus operandi preferido das organizadas em épocas de draga.

A Independente apoiou incondicionalmente. Os torcedores “comuns” endossaram a postura. O Tricolor bateu recorde atrás de recorde de público no Brasileiro. Quanto mais sofria em campo, mais os são-paulinos enchiam o estádio. “Não vamos deixar o time cair”. Deu resultado.

Passado o sufoco, a organizada pediu uma reunião com a diretoria e soltou uma nota bastante razoável. Acontece nesta quarta-feira, dia 29/11, com o presidente Leco e o diretor Pinotti, os responsáveis pelo futebol. Tem reivindicações a fazer, quer ser ouvida. Mas não sozinha. Chamou também representantes de outras organizadas do São Paulo e abriu uma seleção via redes sociais para outros torcedores comuns também estarem presentes.

Existe uma pauta definida: a manutenção dos melhores jogadores e o estímulo aos garotos da base; a transparência financeira; o combate ao nepotismo e ao compadrio nos cargos diretivos do clube; um plano de sócio-torcedor mais eficiente; ingressos a preços acessíveis para a temporada 2018.

Todas as empresas e instituições modernas buscam abrir canais de diálogo com seus clientes e a sociedade em geral. Torcedores são parte fundamental do futebol, a razão de ser de um clube. É natural e desejável que exista um diálogo entre o clube e grupos de destaque desses torcedores. Mas a face sinistra que as organizadas assumiram ao longo do tempo tornou inviável essa relação. Quem descumpre as regras e tem a violência como ferramenta não deve nem merece ter direito a voz.

Mas quando uma torcida usa a razão, a coisa muda. Depois de tudo o que fez, é impossível para os dirigentes negarem aos torcedores um pedido de reunião. A torcida legitimou seu direito a voz.

Pode estar nascendo no São Paulo um perfil mais civilizado de torcida organizada, com uma relação mais madura com o clube e os demais torcedores. Mesmo não tendo direito a eleger conselheiros ou presidente, é inegável que essa legitimidade traz a essa organizada uma força política dentro do clube. Para tanto, é fundamental que seus líderes fiquem atentos e controlem seus integrantes, reprimindo a violência, colaborando com as autoridades, detectando as “laranjas podres” e expulsando-as, deixando de lado a lógica de facção e resgatando um pouco da razão de ser de uma torcida organizada. A ver.

Fonte: Maurício Barros

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A Independente planta a semente

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Renato está certo

Mauricio Barros
Mauricio Barros
Veja a resposta de Renato Gaúcho sobre o uso de drone espião: 'O mundo é dos espertos'

Esperto foi Nilton Santos, que, na Copa de 1962, no Chile, derrubou o espanhol Enrique Collar e, malandramente, deu dois passos para fora da área, induzindo o árbitro Sergio Bustamante a marcar falta, e não pênalti, quando a Espanha já vencia por 1 x 0. O Brasil viraria o jogo, avançaria às quartas e terminaria bicampeão do mundo. O truque virou símbolo da genialidade da Enciclopédia.

Esperto também foi Rivaldo, na Copa de 2002, que levou uma bolada na coxa do turco Unsal e desmoronou simulando dores no rosto. O juiz coreano, que já havia dado para o Brasil um pênalti mandrake sobre Luizão (foi falta fora da área), embarcou no teatro e expulsou o turco. Ficou mais fácil para os futuros pentacampeões segurar aquele 2 x 1 da estreia.

Esperto foi Maradona, que fez um gol com a mão nas quartas de final da Copa de 1986, contra a Inglaterra, partida que acabaria em 2 x 1 para os hermanos. Esperto foi seu compatriota Miguel Di Lorenzo, massagista da Argentina na Copa de 1990, que, como Diego confessaria anos depois, deu água com sonífero para o lateral Branco, da Seleção Brasileira, que passaria mal em campo na sequência. O Brasil perdeu de 1 x 0, gol de Caniggia, e foi eliminado nas oitavas-de-final. Esperto também foi Thierry Henry, que ajeitou com a mão e cruzou para Gallas fazer o gol de empate contra a Irlanda que classificou a França para a Copa de 2010.

Espião contratado pelo Grêmio para levantar informações sigilosas de adversários é um produto argentino

Esperto foi Luis Suárez, que defendeu, também com a mão, um gol certo de Gana, trocando sua expulsão por um pênalti que Gyan acabaria perdendo. A partida foi para a decisão nos penais e o Uruguai avançou à semifinal.

Há muita gente esperta, e não só no futebol. Lance Armstrong construiu uma carreira vitoriosa no ciclismo à base de estimulantes. Dirigentes, atletas e treinadores russos também montaram há poucos anos um sofisticado esquema de doping para colecionar vitórias no atletismo.

Esperta foi a nadadora francesa Aurelie Muller, que, na Olimpíada do Rio, chegou cabeça-a-cabeça no final da Maratona Aquática e, para ganhar a prata, segurou a italiana Rachele Bruni antes da batida final de mão. Nesses últimos três casos, veja você, acabou dando ruim para Lance, os russos e a francesa. Coisa rara...

Drone espião: compare as respostas do diretor jurídico do Grêmio com as de Renato Gaúcho

Esperto é Ricardo Teixeira, que curte uma aposentadoria nababesca apesar de tanto escândalo de corrupção, exatamente como fez seu ex-sogro João Havelange. Esperto é José Maria Marin, que cumpre sentença em um apartamento de luxo em Nova York. Esperto é Carlos Arthur Nuzman, que está soltinho, aproveitando sua mansão no Rio, apesar de tantas suspeitas de enriquecimento ilícito.

Esperto é o Viana, que vendeu seu apartamento e acertou com o Palhares, o comprador, que fariam constar na escritura um valor menor que o real. Esperto é o Dirceu, que topou sediar formalmente sua empresa em um banheiro no interior, onde o contador tem um esquema bacana. Esperto é o doutor Maluf, que sonegou só na última declaração de IR uns 2 milhõezinhos, dinheiro de pinga. Esperta é a Lúcia, que pagou 3 mil reais ao Renê, o despachante, para sumirem umas multas no Detran que lhe renderiam a cassação da carteira.

“O mundo é dos espertos". Como discordar do Renatão? Aliás, te pergunto: e os otários, quem são?

Fonte: Maurício Barros, blogueiro do ESPN.com.br

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Que venha o Grupo da Morte!

Mauricio Barros
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O Peru venceu a Nova Zelândia com bela atuação de Cueva e Farfán, e os queridos vizinhos fizeram uma festa linda em Lima para celebrar o retorno de sua seleção à Copa do Mundo, coisa que não acontecia desde 1982. Assim, temos as 32 nações participantes definidas para o Mundial da Rússia no ano que vem. As atenções se voltam agora para o dia 1º de dezembro, uma sexta-feira. Em Moscou, acontecerá o sorteio dos grupos da Copa. Vai estar frio, avisa de lá o Cacique Cobra Coral.

A história começa a ser definida nesse bingo de bolinhas e papeletas. Torço para que a coisa fique russa para nós. Invoco a mão do Coiso tirando as bolinhas. Quero sangue. Quero o Brasil no Grupo da Morte.

Copa do Mundo é uma das grandes invenções humanas, e nós, brasileiros, somos privilegiados em acompanhar esse evento sempre como protagonistas, com chances de vencer. Apesar de vir do maior vexame da história em 2014, a Seleção Brasileira chega ao Mundial novamente na lista de favoritas, graças à troca de Dunga por Tite e o bom futebol que Casemiro, Neymar, Marcelo, Gabriel Jesus e companhia passaram a jogar. O time se recolocou no topo do continente, mostrando sua diferença em relação aos vizinhos. Mesmo longe de ser perfeito e com várias coisas a aprimorar.

Há uma boa dose de organização, talento e vontade. Isso fez com que o time conquistasse algo que é muito mais importante que qualquer taça: a conexão com os torcedores. Haverá, creio, mais simpatia e envolvimento dos brasileiros nesta Copa do que em Mundiais anteriores. Espero que isso se reflita em ruas pintadas, bandeirinhas estendidas, fitas nas antenas dos carros. Um pouco da cor do futebol nesse país acinzentado pela política, por favor (mas sem esquecer das mazelas – do futebol e da política!)...

Particularmente, não me interessa que o Brasil vença por vencer. Dane-se. Quero ver boas partidas, o máximo de competitividade nos possíveis sete jogos a fazer. Como amante e observador do futebol, não me incomodará a derrota brasileira. Chorei em 1982, fiquei triste até mesmo em 1990, quando a péssima seleção de Lazaroni perdeu para a Argentina de Diego no único jogo bom que fez naquela Copa. Mas eu era um torcedor. O tempo passou, o exercício da profissão e os fios grisalhos me fazem, já há um bom tempo, querer uma seleção defendendo sua identidade histórica, buscando a vitória com um jogo bonito, encantador na entrega, na tática e na técnica. Há talentos para isso, e há um técnico que compreende essa vocação.

Quero então o Brasil no grupo com Espanha, Islândia e Nigéria. Pronto, falei. Quero  Neymar encarando as bandeiras da Espanha e da Catalunha juntas, Gabriel Jesus tendo que furar a defesa de Fullannosson e Cicranosson. E quero Casemiro anulando todas as encarnações do perigoso Kanu. Nada de grupo molezinha, adversários opacos que gerem uma ilusão de potência. Nada de Suíça, Tunísia, Panamá. Que venha a Copa pra valer, desde o primeiro jogo. Mais valem três, quatro, cinco jogos excelentes do que quatro partidas meia-boca, uma mais ou menos, uma quase boa e uma final truncada. Mesmo que vitoriosa. 

Fonte: Maurício Barros

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Enquanto o filho treina com Tite, George Weah fareja golpe na Libéria

Mauricio Barros
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George Weah vota na eleição presidencial da Libéria
George Weah vota na eleição presidencial da Libéria Getty

No primeiro treino da Seleção Brasileira na França visando os dois amistosos contra Japão e Inglaterra, cinco jogadores da base do Paris Saint-Germain ajudaram a inteirar o quórum capenga. Entre eles, estava o lateral-esquerdo Timothy, de 17 anos, nascido nos Estados Unidos mas de sangue liberiano, como seu pai George Weah, ex-craque de PSG e Milan e eleito, em 1995, Melhor do Mundo da Fifa e Bola de Ouro da France Football.

Pense na ebulição na cabeça do moleque. Bater bola ao lado de craques como Neymar, Willian, Paulinho, Daniel Alves, fardado com a roupa de treino do Brasil, é honraria para poucos. Imagine então fazer isso enquanto, a milhares de quilômetros dali, seu pai vive a expectativa de, enfim, ser eleito presidente da Libéria, depois de mais de uma década tentando!

No último dia 16 de outubro, Weah (CDC, Congress for Democratic Change) foi anunciado vencedor do primeiro turno da eleição presidencial, obtendo 38,4% dos votos, dez pontos percentuais acima do segundo colocado, o vice-presidente Joseph Boakai (UP, Unity Party). Ambos conquistaram o direito de ir ao segundo turno, que estava marcado para esta terça-feira, dia 7 de Novembro, com Rei George, de 51 anos, como favorito. Seria o primeiro ex-jogador de futebol a virar presidente de um país! Só que entrou areia...

A NEC, Comissão para Eleições Nacionais, suspendeu o pleito, obedecendo ordem da Corte Suprema da Libéria, que acatou um pedido do LP, o Liberty Party, que alegou fraudes no primeiro turno. Charles Brumskine, o candidato do LP, havia ficado em terceiro no primeiro turno, com 9,6% dos votos. A suspensão é por tempo indeterminado, até que a NEC apresente o resultado de suas investigações sobre as denúncias de fraude. Mas se o LP não ficar satisfeito, pode recorrer novamente à Corte, que poderá ela mesma investigar. Ou seja, muita coisa ainda vai acontecer até que seja definido quem será o presidente da Libéria. Enquanto isso, as campanhas de Weah e Boakai estão suspensas. Vale lembrar que observadores internacionais, entre eles o Centro Carter, criado pelo ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, declararam não terem visto problemas relevantes que justificassem a suspensão do pleito.

O vencedor irá substituir Ellen Johnson Sirleaf, primeira mulher eleita chefe de Estado no continente africano, no que seria uma inédita sucessão pacífica de um presidente eleito por outro, também eleito, em 70 anos. O espírito da Guerra Civil ainda paira sobre o miserável país do noroeste da África, e os riscos para a frágil democracia liberiana seguem enormes. Há um cheiro estranho no ar, porque o UP, que vai ao segundo turno em uma condição aparentemente desfavorável, apoiou a contestação feita pelo LP.

George Weah, que é senador, está tiririca. Acusa que há uma conspiração contra ele, e disse, em sua conta no Twitter, que “nenhuma tática do medo irá interromper o desejo de mudança expresso pelo povo da Libéria”. O clima é tenso em Monrovia. Uma democracia frágil, a gente sabe bem disso, é o parque de diversões dos golpistas.    

Fonte: Maurício Barros

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Carille, Valentim e Elano: o Brasileirão caiu nas mãos dos novatos

Mauricio Barros
Mauricio Barros

Não foi nada planejado, mas chegamos à reta final do Campeonato Brasileiro com os três primeiros colocados e postulantes ao título sendo comandados por treinadores novatos. Fábio Carille no líder Corinthians, Alberto Valentim no Palmeiras e Elano no Santos. Este, último, aliás, deve em breve passar a ser chamado também pelo sobrenome, Blumer, porque no futebol o sujeito, quando vira técnico, sei lá por que raios tem que ter dois nomes, como Muricy Ramalho, Dorival Junior, Roger Machado. Será que é pra ficar mais importante, fazer jus à função de “professor”? Ainda bem que não fizemos isso com Adenor Tite nem Alexi Cuca...

 Carille entrou no Corinthians porque o clube fracassou em tentar Dorival e Roger. Valentim assumiu “até o fim do ano” porque Cuca foi um fiasco em seu retorno ao atual campeão brasileiro. E Elano virou interino até que o Santos defina um nome para 2018. Ok, mesmo que atabalhoadas, sem muito planejamento, o que importa é que as chances apareçam. Torço pelos três.

Por outro lado, vemos alguns treinadores medalhões perdendo relevância. Vanderlei Luxemburgo foi demitido do Sport, em mais um trabalho com resultados ruins. Idem para Levir Culpi, embora sua passagem pelo Peixe tenha sido um pouco melhor que a de Luxa no Leão. Oswaldo de Oliveira treina o Galo, mas quase ninguém aposta que seguirá para a temporada 2018. Soa mais como um tampão até o final do Brasileiro. Muricy Ramalho está aposentado por problemas de saúde. Marcelo Oliveira “caiu de produção” nos últimos anos. Felipão já não desperta o mesmo interesse de antes, e tenho dúvidas se um time de ponta do Brasil o acolheria se quisesse voltar da China. Celso Roth, Joel Santana, Leão e Nelsinho Baptista são outros nomes de quem nem se fala. Dos veteraníssimos, resistem sob holofotes Abel Braga e Paulo César Carpegiani.

Alguns caras um pouco mais novos, como Ney Franco, Péricles Chamusca, Andrade, Cristóvão Borges e Ricardo Gomes, perderam mercado. Mas seguem com prestígio Dorival Júnior, Cuca, Renato Gaúcho e Mano Menezes. Vágner Mancini, Eduardo Baptista e Fabiano Soares continuam em busca de maior relevância.

As trocas de gerações não acontecem com data marcada, mas ao longo de alguns anos. A mudança vem pelo desgaste das ideias dos antigos e a necessidade do futebol de buscar sempre algo novo. E isso não tem necessariamente a ver com a idade do treinador, mas com seu desejo de evoluir. Maurizio Sarri, por exemplo, está com 58 anos e montou um Napoli repleto de frescor. O futebol é orgânico, não estanque. Quem é responsável pela estratégia deve estar sempre pensando, refletindo, arriscando. Prender-se a um modelo que foi vencedor no passado é o primeiro passo para desbotar o futuro.

A reta final do Brasileirão, portanto, será instigante também nesse sentido: que soluções apresentarão Carille, Valentim e Elano para seus desafios? E Zé Ricardo e Jair Ventura, como encerrarão a temporada? Pensando no ano que vem, Rogério Ceni voltará a se arriscar? Fernando Diniz vai ter sua chance em um time grande? E Roger Machado, vai subir de patamar? Mais que caras novas, o futebol brasileiro precisa de novas ideias.           

Fonte: Maurício Barros

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Carille, Valentim e Elano: o Brasileirão caiu nas mãos dos novatos

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Pois Neymar segue com a minha simpatia

Mauricio Barros
Mauricio Barros
Existe uma antipatia em relação a Neymar? Bertozzi compara trajetória com a de CR7 e vê diferenças

Me conta a ESPN em seu site que o jornal Le Parisien publicou nesta quarta-feira um texto onde aponta os vários privilégios de Neymar no PSG. De poder usar mala de viagem do patrocinador pessoal a ter dois fisioterapeutas brasileiros exclusivamente para cuidar de seus músculos. E recomendações para ninguém chegar junto e pegar pesado com ele nos treinos.

Também leio que, um dia antes, o volante Anguissa, do Olympique de Marselha, admitiu que o técnico Rudi García orientou seus jogadores a provocar Neymar no clássico de domingo, que terminou com o placar de 2 x 2 e o brasileiro expulso. Num arroubo de sinceridade, Anguissa declarou ao L’Equipe: "Minha função era ficar 'cutucando' Neymar. O treinador me alertou que ele é um talento enorme, mas pode ficar louco. Essas foram as instruções e nós, definitivamente, pegamos mais pesado com ele do que com o resto dos jogadores.”

Antes de tomar o segundo cartão amarelo e, consequentemente, o vermelho, Neymar havia sido cutucado também pela selvagem torcida do Marselha, que ficou por alguns minutos atirando coisas sobre ele, impedindo-o de cobrar um escanteio. Menos mal que fossem copos de plástico e bolinhas de papel e ele não seja tão sensível como aquele patético candidato careca a presidente de miolo mole... Mas a violência do ato de ser alvejado persiste, independentemente de serem objetos de papel ou de chumbo. Como nos aeroportos brasileiros, há também torcedores selvagens nos estádios franceses, sabia?

E vamos ao lance da expulsão. Neymar havia tomado um amarelo por ter feito uma falta por trás. Não houve violência, mas o cartão pode ser considerado adequado. No segundo amarelo, finalzinho do jogo, ele avança com a bola, entre dois adversários, toma um rapa, levanta-se para continuar o lance e, quando o juiz soa o apito, negando-lhe a vantagem, vem Ocampos e lhe dá um covarde pontapé por trás. Neymar se levanta revoltado, dá uma peitada requenguela no argentino, que despenca teatralmente no chão. Junta o bolinho ao redor dos dois, que logo se acertam, cumprimentando-se. O árbitro chega, dá amarelo para Ocampos e Neymar, mostrando o vermelho ao brasileiro na sequência. Não precisava. O brasileiro dá um sorrisinho, umas três palminhas curtas e sai de campo tranquilamente.

Casão disse que Neymar está conquistando a antipatia mundo afora. E muito se discutiu que essa rejeição seria um pacote de coisas, que inclui as saídas nada pacíficas de Santos e Barcelona, o posto de jogador mais caro da história, os dribles às vezes desnecessários, o status de “dono” do PSG, a treta com Cavani pela função de batedor de pênaltis, a superexposição midiática, o desejo de ser o melhor do mundo, etc.

Essa rejeição é real, e basta você correr nos comentários aqui embaixo para sentir. Toda vez que escrevo sobre Neymar, sinto isso na tela. Muitos brasileiros torcem o nariz para o maior craque nacional. Pois essa antipatia, creio, é mais problema de quem tem, não de quem é alvo.

Neymar não pediu para ser o jogador mais caro da história. O PSG pagou porque quer, com o dinheiro do nada democrático Qatar, comprar o status de clube grande europeu que até hoje não conquistou. Perto de United, Milan, Liverpool, Bayern, Inter, Juventus, Real e Barcelona, o PSG é um nanico. Mas agora montou uma constelação e tem grandes chances de conquistar a Champions League, fincando pela primeira vez sua bandeira no Everest do futebol. E o brasileiro é o principal trunfo para isso. Quem confere status ao PSG é Neymar, não o contrário.

Idem para o Campeonato Francês. Você tem ideia do quanto aquele torneio mediano se valorizou aos olhos do mundo com a chegada de Neymar? Muito, horrores! Uma atratividade que Beckham, Ibrahimovic, Di Maria, Cavani, Pastore e tantos outros jamais conseguiriam juntos. Pois uma liga inteira ganhou corpo após o sim do brasileiro – despertando centenas de negócios mundo afora, de salto no valor dos direitos de TV a venda de camisas, patrocínios, o diabo!

Você se incomoda por Neymar ser um bilionário, andar de jatinho e iate, namorar modeletes, desfilar cabelos e tatuagens, usar roupas da moda, se achar dono do mundo? Ele está no topo do business, é protagonista de um mundo rico em coisas e pobre em essência, qual a novidade nisso? Ou você antipatiza porque ele dribla além da conta, é fominha, não produz nada em campo, atrapalha o time? Qual a sua crítica, pessoal ou profissional? Ou as duas?

Neymar não tem vocação para ser um exemplo de posicionamento político, erudição cultural, elegância nas atitudes, consistência nas declarações, sofisticação dos meios onde circula. Não há sequer uma preocupação de seu staff em construir uma reputação. É um direito dele e deles, embora eu desejasse que fosse diferente. Mas nem todo mundo é Zico ou Raí, paciência. Neymar é um jogador de futebol brilhante, genial, único herdeiro em ação da nobre linhagem de craques brasileiros, de Garrincha, Pelé, Zico, Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo. É um moleque que sorri fácil e que adora jogar futebol, corre do primeiro ao último minuto, no clube e na seleção.

Quer dizer que porque ele é tratado de maneira especial no clube, paparicado aos montes e acende churrasqueira com nota de euro, vou sair aplaudindo carniceiros que lhe descem a botina, treinador que manda bater e selvagens que jogam coisas nele no gramado? Prefiro apreciar sua arte e criticá-lo por coisas pertinentes, seja nos clubes onde jogar, seja na seleção brasileira, que, aliás, não irá a nenhum lugar se ele não estiver feliz e a fim de jogo.

Fonte: Maurício Barros

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Pois Neymar segue com a minha simpatia

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Islândia: o segredo do Bando de Loiros

Mauricio Barros
Mauricio Barros

Domingo passado foi Dia do Professor, e eu lembrei de um punhado de mestres que tive nessa vida afora. Dos tranqueiras (houve vários), tratei de esquecer. Ficaram os bons (e poucos) na memória. Entre uma azeitona e outra, comentei com um parça que um aluno pode ter acesso aos laboratórios mais modernos, às tecnologias mais avançadas de aprendizagem, mas se cair nas mãos de um professor ruim, lascou-se. Nada substitui um bom professor – alguém com formação sólida que passe o conhecimento com brilho nos olhos e paixão no coração. Só um bom professor é capaz de mostrar que o saber é uma aventura, não um enfado. Não consigo pensar em profissão com mais responsabilidade – com menos, é fácil: blogueiro de futebol.

A reflexão me levou a uma reportagem que havia lido na ótima revista espanhola Panenka. Durante a Eurocopa de 2016, a publicação mandou um repórter à Islândia para entender as razões do sucesso em terras francesas daquele bando de loiros com nomes impronunciáveis – chegou às quartas-de-final, eliminando a Inglaterra nas oitavas. Um ano depois, os islandeses avançariam ainda mais, conquistando a vaga direta para a Copa da Rússia, ficando em primeiro em um grupo das Eliminatórias que contou com Croácia, Turquia e Ucrânia, países de muito mais tradição no futebol. E a principal razão apontada pela Panenka era, veja você, bons treinadores. Ou seja, professores de futebol.

A revolução no futebol da ilha de 335.000 habitantes (pouco mais que o Jardim Ângela, bairro da zona sul de São Paulo) começou em 2002, com a chegada ao comando das categorias de base da Federação Islandesa de Futebol do ex-jogador Siggi Eyjólfsson. Além da construção pelo governo de diversos campos de futebol cobertos país adentro, permitindo jogos e treinos o ano inteiro mesmo com 40 graus negativos e tudo branco lá fora, houve um estímulo para que os candidatos a treinador se formassem adequadamente, tirando as licenças da UEFA. “A principal mudança é que, hoje, cada criança e adolescente na Islândia que joga futebol tem um treinador bem preparado à disposição, não um pai ou um voluntário. E não importa se é menino ou menina, se joga melhor ou pior. Todos recebem a mesma atenção. Todos podem jogar futebol na Islândia”, disse à Panenka Arnar Bill Gunnarsson, que hoje substitui Eyjólfsson na Federação Islandesa.

A Federação conseguiu junto à UEFA permissão para importar cursos de licenças A e B, facilitando aos locais que conciliassem os estudos às suas atividades normais. Eyjólfsson diz que quantidade de treinadores também era importante, pois o objetivo era ter bons professores de futebol também para crianças entre 6 e 12 anos, idades, segundo ele, “cruciais para a aprendizagem”. Hoje, dizia a reportagem, a Islândia promove cursos nível A da UEFA na mesma quantidade que a Noruega, país de 5,3 milhões de habitantes.

Quanto à licença de treinador no nível mais alto, o Pro, a Islândia organiza cursos em parceria com a Federação Inglesa. Aliás, em que pese a diferença de tamanho e população dos países, surpreende a constatação de que, na Islândia, um em cada 500 habitantes possui formação de treinador homologada pela UEFA. Na Inglaterra, que inventou o futebol, essa proporção é um em cada 10.000 habitantes. “Fiquei surpreso quando visitei o Manchester United. Havia treinadores na base que sequer tinham a licença nível B”, disse Eyjólfsson à Panenka. E aí eu penso no Brasil, onde basta ter sido jogador (há exceções, claro) para, chuteiras penduradas, arrumar uma boquinha de auxiliar-técnico na base do clube onde se jogou porque, afinal, "se aprende na prática"...

Sigurdsson, Halldorsson, Skulasson, Gunnarsson, Gudmundsson… Hoje herois nacionais, os jogadores que classificaram a Islândia para sua primeira Copa do Mundo são fruto dessa revolução que privilegiou, em essência, a educação e sua peça-chave: o professor. Isso é o beabá não só do futebol, mas da sociedade, do país, do planeta. Precisa desenhar?

Fonte: Maurício Barros

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Islândia: o segredo do Bando de Loiros

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E você, voltou a gostar de Seleção Brasileira?

Mauricio Barros
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Criança durante o jogo entre Brasil e Chile
Criança durante o jogo entre Brasil e Chile Getty

Foi um ótimo teste o jogo contra o Chile no Allianz Parque. E a Seleção Brasileira passou com sobras. Era a última oportunidade antes da Copa da Rússia para fazer uma partida à vera, mesmo com o país já classificado. Porque os chilenos jogavam a vida e têm um bom time, embora sem a mesma pegada dos tempos de Jorge Sampaoli, quando ganharam duas vezes a Copa América. Ataque rápido, defesa muitas vezes ríspida, jogadores manhosos, experientes e provocadores. Pena não estar em campo Arturo Vidal, que daria a pegada que faltou ao meio chileno.

Mas o Brasil jogou de forma segura e tranquila. Mesmo o risco-cartão foi controlado. Neymar e Coutinho levaram o amarelo, mas seguraram os nervos e se garantiram para a estreia. Foi uma vitória categórica por 3 x 0, fechando o torneio qualificatório de maneira exemplar, histórica.

Há basicamente dois desafios para a Seleção Brasileira nesses nove meses que restam até a estreia no Mundial da Rússia. Um deles é técnico e envolve os amistosos. A diferença na tabela de classificação das Eliminatórias mostra que o Brasil restabeleceu seu lugar de hegemonia entre os vizinhos sul-americanos. E isso em uma época em que os vizinhos não são mais pangarés. É hora então de medir forças com as potências europeias.

Tite agradece torcida do Palmeiras no Allianz: 'Passaram um carinho muito grande para nós'

Espanha, Inglaterra e Alemanha estão no radar. Será importante, mas sempre é preciso considerar que, em amistosos, o nível competitivo não é pleno, o risco de contusão pesa para aliviar divididas. Faz parte também da questão técnica não só treinar alternativas ao time titular como definir o restante do grupo de convocados. Duvido que Tite tenha 50 nomes de onde escolher, como se comentou. Esse número é menor. E as dúvidas são poucas. Uma vaga no gol, outra na lateral, uma na zaga, uma ou duas no meio, uma ou duas no ataque. De resto, salvo contusão, a turma está definida.

O outro desafio é manter o bom clima dentro e fora do vestiário. Fazia tempo que uma seleção não conquistava a simpatia do torcedor brasileiro nem tinha boa relação com a imprensa. Isso por conta de uma soma de anos que, em essência, subtraiu: os escândalos envolvendo cartolas (isso continua uma lama), o futebol pobre e figuras antipáticas em campo e no banco (e aí falo desde Parreira, Ronaldo, Ronaldinho e Roberto Carlos em 2006 até Dunga, Felipe Melo, Felipão 7 a 1 e Dunga de novo...).

Daniel Alves vê 'lição para vida' nas eliminatórias e desabafa após momento ruim: 'Não gostamos de passar vergonha'

Tite desperta admiração de norte a sul. E o grupo de jogadores demonstra saber que estar na seleção é um privilégio para pouquíssimos. Mesmo nos mais consagrados, como Daniel Alves e Marcelo, é impossível avistar uma nesga do desdém visto, por exemplo, na turma de 2006. E até Neymar, o mais badalado jogador brasileiro desde Pelé, midiático a ponto de gerar antipatia em muita gente, é um sujeito que quer estar em campo sempre e corre até o último minuto. Não consigo imaginar, ainda mais sob o comando de Tite, esses caras botando o pé no freio por soberba.

A menos de um ano da Copa, a Seleção Brasileira se recoloca como candidata a ir longe não apenas pela “força da camisa” – essa é a Argentina, essa é a Itália. Há futebol consistente. Está em condições de competir por uma final. Mas não é melhor que França, Alemanha e tampouco Espanha. E não será surpresa se, porventura, vier a ser derrotada por Bélgica e Portugal, por exemplo. Talvez o principal legado do 7 x 1 tenha sido acabar de vez com essa história de que somos melhores que todos por natureza e só perderemos para nós mesmos. O salto alto está enterrado sete palmos abaixo do gramado do Mineirão e lá deveria ficar para sempre.

Já a principal contribuição do trabalho de Tite talvez seja dar ao Brasil uma seleção por quem valha a pena torcer, pintar a cara, botar fitinha na antena do carro e colorir de novo as ruas. Ou seja, curtir a Copa do Mundo. Ganhar é outra história. 

Fonte: Maurício Barros

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Brasileirão tá ruim mas tá bão!

Mauricio Barros
Mauricio Barros

“Pobre de um campeonato cuja principal atração é a luta contra o rebaixamento”. Muita gente está dizendo isso. Colegas queridos da TV, amigos da pelada, companheiros e companheiras de boteco que sabem muito mais que eu sobre os mistérios da bola e da vida. Mas não acho que isso seja necessariamente uma desgraça futebolística.


Em primeiro lugar, é preciso considerar o balanço entre o prêmio no topo e o castigo na rabeira. Vamos à parte de cima. O título é para um só, apenas um clube é campeão. E se vice no Brasil nunca foi grande coisa, com o aumento do número de vagas na Libertadores o direito a disputar o principal torneio continental, segundo prêmio mais cobiçado, perdeu em desafio. O faisão virou carne de vaca. As vagas podem beneficiar até o 9º colocado do torneio ­– hoje seria o Galo, que está quatro pontos acima da zona do rebaixamento. Ir direto ou não para a fase de grupos ainda não é picanha nobre. Já o castigo fuzila quatro clubes. Não faz diferença ter sido 17º ou último. Todos levam a mesma condenação. Não é de se estranhar, portanto, que a esta altura haja mais times brigando intensamente para não cair do que para ser campeão.

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Sim, a luta pelo título este ano está insossa pela sobrenatural campanha do Corinthians no primeiro turno. Não fosse o Timão, no mínimo Santos, Grêmio, Palmeiras e Cruzeiro estariam com fé na disputa pelo caneco. Acontece em todos os campeonatos por pontos corridos. Há anos de disputa maior, outros de barbadas.


“Não é só a falta de disputa pelo título. É o nível técnico que está baixo”. Muita verdade. Não há um time cujo futebol encha os olhos. O Corinthians do primeiro turno foi de uma eficiência enorme, mas segue sendo um time com limites técnicos claros, embora Carille tenha conseguido elevar o desempenho a uma altura improvável nas análises de início de temporada. A aposta da vez é o Cruzeiro, que tem elenco forte e vai jogar o resto da temporada solto, com a tranquilidade de quem já ganhou o ano com a Copa do Brasil.

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O barato de um campeonato por pontos corridos é o caminho. A emoção é diluída entre as 38 rodadas. A emoção do Brasileiro já está acontecendo. Sim, do Atlético-PR pra baixo, todo mundo nesta pausa de Data Fifa está mais preocupado em não cair. Treze clubes. E a luta por migalhas tem lá sim sua graça. Muita.

É claro que a qualidade anda rasteira em nossos campos. Seria diferente se o Fluminense pudesse segurar Richarlison, o São Paulo Luiz Araújo, o Palmeiras Gabriel Jesus, o Vasco Douglas, o Santos Thiago Maia, o Grêmio Pedro Rocha, blá blá blá. Mas aí é outra questão. A realidade que temos é outra. Estou me contentando com pouco? Sei lá, talvez seja porque goste muito desse troço...

Fonte: Maurício Barros

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