O que o beisebol precisa fazer se quiser voltar (mais uma vez) aos Jogos Olímpicos
A comunidade do beisebol nem pôde sentir o gosto de estar de volta aos Jogos Olímpicos que já tem de lamentar sua saída. Nesta semana, o Comitê Olímpico Internacional oficializou o programa para Paris-2024. E o beisebol foi retirado da lista de modalidades. O pior é que, com o adiamento de Tóquio-2020 por causa da pandemia de covid-19, o anúncio da saída ocorreu antes mesmo de ele retornar efetivamente, o que ocorrerá só em julho de 2021.
A notícia não surpreendeu quem acompanha o noticiário em torno dos Jogos. O COI criou uma nova categoria de modalidade olímpica, que podem entrar em uma edição do evento, mas não é permanente. O beisebol - que foi modalidade olímpica de 1992 a 2008 - conseguiu retornar em Tóquio nesse sistema, aproveitando a popularidade que tem no Japão. Não haveria muitos motivos para mantê-lo em Paris.
Em teoria, dá para acreditar que o beisebol volte nos Jogos de Los Angeles em 2028. No entanto, está longe de ser uma garantia. Até porque o beisebol tem enorme popularidade nos Estados Unidos, mas o beisebol de seleções, principalmente o beisebol olímpico, não é visto como algo especialmente atraente ao público. Considerando a cultura de rua da cidade californiana, é provável que o COI aproveite a oportunidade para colocar mais esportes de ação no programa e recuperar mais terreno entre o público jovem.
Seria péssimo para o beisebol se isso ocorresse, mas seria justo. A modalidade fez um grande lobby para voltar aos Jogos Olímpicos, a ponto de fundir as federações internacionais de beisebol e a de softbol em uma única entidade (a World Baseball Softball Confederation) para articular melhor a campanha. No entanto, no que ganhou a disputa para Tóquio-2020, fez tudo errado e deu argumentos para o COI achar que o beisebol -- e o softbol -- não merecem um lugar nas Olimpíadas. E estar no maior evento poliestportivo do planeta é importante ao beisebol, sim. Para as grandes ligas profissionais do mundo não faz tanta diferença, mas a persença nos Jogos ajuda a destinar mais recursos às federações nacionais de vários países de segundo e terceiro escalão do cenário internacional.
Então, o que o beisebol precisa fazer se quiser retornar aos Jogos em 2028?
1) Criar um torneio realmente atraente
Os torneios de beisebol e softbol em Tóquio-2020 são quase uma ofensa ao torcedor. São apenas seis equipes em cada um, muito pouco para representar a força internacional das duas modalidades, deixando várias potências sem vaga. Para piorar, o sistema de disputa que exige formação em matemática avançada para entender, com dois grupos de três em que todos os times se classificam para o mata-mata.
Como os japoneses e sul-coreanos são fanáticos por beisebol e vão disputar o torneio, é até possível que os públicos nas partidas das duas seleções -- caso tenhamos público sem restrição nos estádios, claro -- sejam bons. Mas o nível de interesse da competição será muito baixo tanto na venda de ingressos quanto na atenção da mídia.
2) Disponibilizar bons jogadores
Um torneio com camisas pesadas e regulamento que promove emoção é importante, mas ter bons jogadores em campo é fundamental para chamar a atenção da mídia e do público. Isso não é uma questão para o torneio olímpico de softbol, mas é grave no beisebol.
Os Jogos Olímpicos são disputados sempre durante a temporada da MLB, da NPB (liga japonesa) e da KBO (liga sul-coreana). Essas duas últimas ligas abrem uma janela no calendário para o evento poliesportivo devido à importância que Japão e Coreia do Sul dão a suas seleções, mas a liga norte-americana não faz o mesmo.
Claro que seria lindo ver os grandes astros da MLB nos Jogos Olímpicos, mas isso não vai acontecer. E nem precisaria para o torneio despertar interesse. Bastaria a MLB e a associação de jogadores se comprometerem em criar um modelo em que bons jogadores fiquem à disposição de suas seleções. Por exemplo, qualquer jogador de liga menor que não esteja no elenco de 40 de uma franquia da MLB. Isso tiraria todas as estrelas da MLB e alguns dos jovens prontos para estrear, mas ainda abriria espaço para a participação de dezenas de jogadores muito promissores, capazes de integrar um time competitivo e que ainda despertaria o interesse do público que quer ver o futuro craque do seu time em ação.
3) Aumentar o comprometimento com o beisebol internacional
A MLB merece muitos elogios pela criação do World Baseball Classic, a Copa do Mundo do beisebol. É um torneio atrativo, com participação de grandes estrelas das grandes ligas. Mas fica só nisso. O beisebol como modalidade não encontrou um modelo para as competições de seleções.
O motivo histórico disso é fácil de entender: antes da cooperação da MLB e da NPB na criação de um novo Mundial, a federação internacional simplesmente tocava a sua vida com “o resto” da modalidade. O antigo Mundial era basicamente amador e não se criou uma cultura de torneios de seleções relevantes.
Pois agora é momento de mudar. As estrelas da MLB são para o WBC, mas dá para criar um calendário que movimente seleções nacionais girando em torno do desenvolvimento de promessas em ligas menores ou descoberta de talentos estrangeiros. Tendo um calendário com lógica, continuidade e promoção bem feita para mobilizar o público, dá para aumentar o interesse por esse tipo de torneio.
O Premier12 é um torneio interessante, disputado a cada dois anos. Mas ele sempre gira em torno das mesmas seleções e soa distante do público das Américas. Talvez a criação de uma Liga das Nações, com divisões, ajudaria a reforçar rivalidades nacionais e a fomentar o beisebol em países de segundo escalão, como Colômbia, Panamá, Itália, Nicarágua e até o Brasil.
4) Ajudar no desenvolvimento do softbol ou do beisebol feminino
É uma medida importante por três caminhos: social, econômico e político. O social se refere à inclusão de centenas de mulheres e garotas que têm talento beisebol e softbol e não têm oportunidade de transformar isso em uma profissão. Até existe uma liga profissional de softbol nos Estados Unidos, a National Pro Fastpitch, mas ela é completamente desconhecida de boa parte do público. No beisebol feminino, não há nada. Do ponto de vista humano, esse é o motivo mais importante para abraçar essa ideia, mas claramente não será esse o motor de uma decisão.
Então vamos às razões mais pragmáticas. Economicamente, ajudar o desenvolvimento do softbol profissional feminino e estabelecer o beisebol feminino é fundamental para aumentar a popularidade da modalidade entre as mulheres. Só ver como o basquete cresceu entre as mulheres americanas a partir da criação da WNBA. É um público potencial de centenas de milhões de pessoas que ajudariam a reforçar o mercado da MLB.
O impacto político, porém, é o que teria mais influência nos Jogos Olímpicos. O COI claramente tenta tornar o evento o mais igualitário entre gêneros. Ainda que o softbol feminino faça espelho ao beisebol masculino, claramente há uma distância muito grande no desenvolvimento econômico e de apelo de público entre as duas modalidades. Ter uma imagem de modalidade “para todos os gêneros” daria força na disputa por uma vaga no programa olímpico de 2028 ou além disso.
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