Clayson, ex-Corinthians, é condenado a pagar indenização a Leandro Bizzio Marinho, árbitro que sofreu retaliação na carreira
O atacante Clayson, ex-Corinthians e atualmente no Cuiabá, foi condenado em primeira instância pela 27ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo a pagar indenização ao árbitro Leandro Bizzio Marinho, que apitou a primeira partida da final do Campeonato Paulista de 2018.
Na ocasião, o atleta foi expulso durante a partida na Neo Química Arena, após confusão com o volante Felipe Melo, do Palmeiras.
Conforme consta na sentença: "Após o término do jogo, alega o autor [Leandro Bizzio Marinho] haver sido surpreendido pelo réu sendo entrevistado pelas redes de televisão Rede TV! e Esporte Interativo, acusando o autor de estar mal intencionado, com desejo de prejudicar sua carreira. Aduz que ao conceder entrevista com afirmações falsas, o réu causou enormes dissabores ao autor e seus familiares, havendo inclusive ameaças contra a integridade física e saúde dos mesmos".
A sentença saiu no último dia 23 de março e o valor a ser pago é de R$ 30.000,00 por danos morais.
Clayson pode recorrer.
Retaliação
O árbitro, no Brasil, recebe seu pagamento por jogo. Desta forma, é interessante estar escalado na maior quantidade de jogos possíveis. Porém, como não existem regras que definam quantos jogos cada um fará por mês (e isso fica totalmente a cargo das comissões de arbitragem), a arbitragem, por mais que sofra danos morais e, às vezes, até físico, como agressões em campo, acaba na grande maioria não entrando com processo judicial por medo de retaliações e punições, ficando depois sem escalas.
Os árbitros muitas vezes têm receio até de discordar ou questionar seus dirigentes com receio de ficar longe das escalas. Tem quem acredita que isso cria até uma relação de subserviência com as Federações.
Após entrar com o processo por danos morais contra Clayson, em 2018, e apesar dos prêmios e grandes jogos, Leandro Bizzio começou a perder oportunidades nas escalas pela Federação Paulista de Futebol.
Em 2019, foi para sorteio em poucos jogos - e todos de baixa expressão.
Em 2020, com a mudanças no Departamento de Arbitragem (saiu Dionísio e entrou Ana Paula de Oliveira na diretoria) e com o fim do sorteio, Bizzio foi escalado apenas em dois jogos o ano todo pela FPF: um na Série A2 do Paulista e outro na A3.
Desta forma, para não se "aposentar" prematuramente nos gramados, Bizzio deixou a Federação Paulista em 2021 e migrou para a Federação Paraibana, que tem o comando de Arthur Alves Junior - um dos que lançaram o árbitro no cenário paulista e nacional, ao lado de Coronel Marinho.
Bizzio é um árbitro formado pela turma da 2004 da Federação Paulista, tem em seu currículo finais e clássicos (inclusive a cena épica de Rogério Ceni ajoelhando em seus pés para que não fosse marcada uma penalidade contra o São Paulo em 2013).
Em 2017, ele apitou a final do Paulistão entre Corinthians e Ponte Preta e foi considerado o melhor árbitro do campeonato. Já em 2018, apitou o primeiro jogo da final entre Corinthians x Palmeiras, uma partida difícil, com 10 cartões amarelos e as expulsões de Felipe Melo e o próprio Clayson. Sua atuação foi considerada excelente, e neste ano, ganhou o prêmio de 3º melhor árbitro do Paulistão. É importante frisar que, pela CBF, o árbitro segue tendo escalas e oportunidades.
Outros juízes que muitas vezes sofrem retaliações são os que se envolvem com os sindicatos e confrontam as Federações em busca de melhorias e direitos aos árbitros.
Em 2014, Raphael Claus recebeu um empurrão de Petros, também jogador do Corinthians na época, achou em campo que foi sem querer e não o expulsou. O jogador foi denunciado pelo STJD, mas Claus não entrou com processo cível.
Exemplos de agressões e declarações inapropriadas não faltam, mas raramente os árbitros vão além da súmula do jogo e atrás dos seus direitos perante a lei para não terem suas carreiras na arbitragem prejudicadas.
O respaldo para a arbitragem no Brasil ainda é muito pequeno. Quem deveria amparar muitas vezes é o primeiro a querer que o árbitro desista de um processo.
Logo no começo da minha carreira, escutei uma frase de um dirigente que nunca mais esqueci: "As Federações existem em função dos clubes. A arbitragem sempre será a corda mais fraca".
Se ainda for um árbitro de elite, principalmente do quadro Fifa, o respaldo pode ocorrer. Fora disso, é bem mais difícil...
Fonte: Renata Ruel
Clayson, ex-Corinthians, é condenado a pagar indenização a Leandro Bizzio Marinho, árbitro que sofreu retaliação na carreira
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