Atrapalhado pelo goleiro Bruno, Haylander ofuscou Gabiru e luta para ser 'imortal' no futebol

Rafael Belattini e Vladimir Bianchini, do ESPN.com.br
Arquivo Pessoal
Haylander joga para garantir que tenha calendário por todo o ano
Haylander joga para garantir que tenha calendário por todo o ano

Nos cinemas, Highlander contava a história de um guerreiro que tentava ser o último dos imortais e, para isso, precisava cortar a cabeça de seus adversários. Para conquistar um espaço de destaque do futebol brasileiro, cabeças não precisam literalmente rolar, mas a disputa é tão intensa quanto.

Com o nome inspirado na série de filmes dos anos 80 e 90, o zagueiro Higo Haylander é um dos milhares de jogadores que buscam seguir a carreira de jogador de futebol e, principalmente, garantir que tenha emprego por toda uma temporada.

Nascido em Ipatinga, ele começou cedo, como tantos, mas não suportou a saudade quando, aos 16 anos, teve que deixar a família para tentar uma chance no América Mineiro. Voltou para casa e foi trabalhar como moldador, fabricando peças de vagão de trem, mas nunca deixou o futebol.

"Na verdade, quando eles me ficharam lá foi até para jogar bola pela empresa", disse o zagueiro. "Fui jogar bola com eles lá, até o gerente me conhecia e me fichou lá para eu jogar um campeonatinho", contou, em entrevista ao ESPN.com.br.

Como "funcionário/atleta", ele garante que não tinha a vida mais fácil que os companheiros de trabalho, mas ainda aguardava uma chance de ser apenas jogador.

"Teve uma peneira do Itaúnas e o pessoal mandou eu ir lá. Era um sábado, eu estava trabalhando, mas falei com um chefe que eu precisava dar uma saída e fui para o campo jogar. Aí o pessoal gostou de mim, fizeram o convite e eu pedi para sair do emprego e fui", lembrou.

A chance, porém, não era a tão esperada. "Fiquei cerca de um mês lá, porque a situação não era a que eles me falaram. Aí voltei para casa de novo. O tiro saiu pela culatra", afirmou. "Arrisquei, perdi meu emprego e fiquei parado!", lamentou.

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Com Adriano Gabirú, no Panambi
Com Adriano Gabiru, no Panambi

Ainda não tinham "cortado a cabeça" de Haylander. Muito menos haviam tirado o sonho dela. Ele seguiu disputando campeonatos amadores na cidade até que surgiu uma nova oportunidade. Foi criado o Novo Esporte, que disputaria a terceira divisão, e veio o convite para o zagueiro, que teria que voltar a fazer outra função fora dos gramados.

"Era janeiro e o campeonato só começava em agosto. Como eu não estava fazendo nada eu disse que ia, mas então pediram para eu trabalhar na empresa dele até o campeonato começar. Fiquei trabalhando até começarem os treinos", contou, lembrando que foi trabalhar como ajudante de mecânico montador.

Após uma tentativa frustrada de subir a equipe, era hora de procurar um outro clube para jogar. Surgiu então uma oportunidade no Montes Claros, mas uma fracassada negociação do time com o goleiro Bruno, que já estava preso, atrapalhou Higo Haylander.

"O pessoal conseguiu toda a papelada para me emprestar para lá. Tinha arrumado as malas para ir, e ligaram para lá para saber se tinha dado tudo certo. Tinham esquecido de mim. E era o último dia de inscrever na federação", relembrou com ar de frustração.

Veio então o convite do futebol gaúcho, para defender o Panambi que recebia um outro conhecido jogador: o responsável pelo título mundial do Internacional, Adriano Gabiru.

Era a chance de aproveitar os holofotes. "Na estreia dele eu fiz o gol da vitória do time. Eu estava no banco de reservas, empatamos e eu entrei aos 30 do segundo tempo e eu fiz o gol da vitória", contou, lembrando que foi o destaque de diversas matérias que falavam da estreia do astro.

O brilho não impulsionou sua carreira como desejava, mas ele voltou para sua cidade natal, agora para defender o Ipatinga, que faz sua estreia no Módulo II do Campeonato Mineiro neste domingo, fora de casa, contra o América de Teófilo Otoni, e não há espaço para erros.

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Haylander agora defende o Ipatinga
Haylander agora defende o Ipatinga

"Time do interior é complicado. O campeonato tem duas fase e temos que nos classificar, senão em março já está todo mundo desempregado. A expectativa é de fazer um bom campeonato, tentar subir o Ipatinga para conseguir um contrato para a primeira do ano que vem, ou conseguir coisas melhores para o ano, para preencher o calendário, porque caso a gente não consiga já em março, aí não tem como se destacar, aí fica desempregado o ano todo", analisou.

Como todo espaço é uma chance de "vender seu currículo", Higo Haylander aproveita para fazer seu marketing. "Eu me assemelho com o Leonardo Silva. O porte físico é parecido. O pessoal diz que sou parecido com ele, e brinco que só a conta bancária é um pouco diferente. É um jogador que chega bem na grande área, faz gols de cabeça e eu também faço alguns golzinhos", disse com muito bom humor.

Se o lema de Highlander no cinema era "só pode haver um", Higo Haylander mantém a cabeça no lugar e sonha em deixar de ser apenas mais um na multidão.

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