Futebol e Política
A edição do jornal espanhol Marca de terça-feira 17 de agosto, é uma daquelas que merece figurar com destaque na galeria onde são exibidos feitos que dignificam o jornalismo.
Na capa da publicação, especializada em esporte, a foto de uma menina jogando futebol ilustra a pergunta em forma de manchete: “O que será delas?” Esta foi a forma plasticamente sensível e inspirada que o jornal encontrou para lembrar ao mundo que num passado recente o Talibã, que novamente assumiu o poder no Afeganistão, impôs uma série de restrições de comportamento às mulheres, entre as quais a proibição de jogar futebol.
O fantasma da intolerância volta a rondar principalmente as mulheres afegãs. O episódio traz à tona uma discussão antiga sobre as implicações entre futebol e política.
Em recente curso que fiz com o amigo e jornalista Jamil Chade, com domínio total sobre o tema proposto, ele questionava – “a quem interessa despolitizar o futebol?”
Há quem entenda que as duas atividades não devem imiscuir-se. Porém, a mistura acontece ao longo da história.
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Alguns exemplos:
- Em 1934 quando foi fundada a liga de futebol profissional da União Soviética todas as equipes tinham algum vínculo com o Estado. O Dínamo, por exemplo, era o time da NKVD, a polícia secreta do regime. A única exceção era o Spartak de Moscou, formado por trabalhadores do comércio. Na época, torcer para o Spartak era um modo enviesado de fazer oposição ao ditador Josef Stalin.
- Em 1958 os argelinos Mustapha Zitouni, Rachid Mekloufi e Abdelaziz Ben Tifour abandonaram o sonho maior de qualquer jogador de futebol, disputar uma Copa do Mundo, para lutar pela independência de seu país. A Argélia, então, era uma colônia que lutava contra França para conseguir independência. Os três atletas, convocados para defender a seleção francesa na Copa de 1958, fugiram da concentração e se juntaram aos rebeldes da Frente Nacional de Libertação para formar uma seleção clandestina como forma de dar visibilidade a sua causa. Sem argelinos, a França foi derrotada na fase semifinal pelo Brasil do estreante Pelé. O placar foi 5 x 2. A Argélia conquistou a independência em 1962.
Nos anos 70 ficou conhecido no Brasil o bordão que fazia a união da política com o futebol: “ onde a ARENA vai mal mais um time no Nacional. “ ARENA era o partido do governo militar, a Aliança Renovadora Nacional. O Campeonato Nacional criado em 1971. A CBF se chamava CBD (Confederação Brasileira de Desporto) e era comandada por militares, o presidente era o Almirante Heleno Nunes. Uma de suas funções era incluir na competição uma equipe daquelas localidades onde o partido do governo tivesse ameaçado de mal desempenho eleitoral O campeonato chegou a ter 94 participantes. A artimanha para manter em alta a imagem do governo deu certo por um tempo – A ARENA levou a maioria eleições para governador em 1974 e 1978.
Como se vê, o uso político do futebol tem sido recorrente e universal.
Reportagens como a do jornal Marca denunciam a intolerância inconcebível nos dias de hoje. As mulheres devem estar onde elas assim o quiserem.
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