Glúten free, a 'dieta mágica' de Djokovic, Venus Williams e Cristiano Ronaldo
Quase onze horas da noite, penso comigo mesma: "nossa, como eu preciso desesperadamente de um hambúrguer. Um pedaço de pizza. Um bolo de sobremesa também, por favor! Os três, vai, terminei um dia exaustivo de cobertura do Brasileirão, comer é celebrar! (assim funciona meu cérebro, muitas vezes)".
Florianópolis, Santa Catarina. 08h05 da manhã. Entrevista marcada com um técnico, duas entradas ao vivo e um boletim. E eu, imóvel na cama do hotel, com muita dor e a sensação de que a minha cabeça pesava dez toneladas. Enjoo, dor, idas frequentes ao banheiro, já são seis meses sentindo esporadicamente esses sintomas. "Preciso ir ao médico", pensei. Levantei da cama e achei que não conseguiria trabalhar.
Alguns dias depois, vários exames e o diagnóstico: "Bibiana, você tem doença celíaca". PAUSA. PAUSA DRAMÁTICA. Recomendações: "Você vai ter que viver com uma dieta rígida sem glúten, a proteína que se encontra em cereais como trigo e cevada".
* O glúten, ao entrar em contato com o organismo do celíaco, desencadeia uma resposta imunológica no intestino delgado. Essa resposta produzirá, com o tempo, inflamação, causando danos ao intestino e dificultando a absorção de diversos nutrientes.
Primeiro pensamento foi "OK, vou emagrecer, quem precisa comer pão?!". Pois não é SÓ pão. São massas, condimentos, até no pobre ketchup, na coitada da salsicha, no sorvete, no pastel, no chocolate... afinal, quem inventou o glúten?! E por que justo agora essa doença?! Cerca de 40% da população possui o marcador de risco genético para desenvolvimento da doença celíaca, apenas 1% dessas pessoas desenvolve a doença. Bem-vindos ao clube, aquele um porcento!!!!
Tenho certeza de que muitos vão se identificar com essa situação. Aqueles que descobrem de forma tardia uma doença que impacta diretamente na rotina. Imagine, então, quando os sintomas fazem parte do dia-a-dia de um atleta?!
Antes de se tornar o número 1 do mundo do tênis, posto que ocupou por diversas temporadas, o sérvio Novak Djokovic era um celíaco que ainda não havia descoberto a doença. Um episódio marcante nas quartas-de-final do Australian Open-2010 mudou radicalmente a vida de Djoko. Ele dominava a partida contra Tsonga, mas teve que sair às pressas para os vestiários. Com uma crise de vômito intensa, esgotado, retornou à quadra, mas foi derrotado. Uma derrota apenas no jogo, porque um novo capítulo (e muito vitorioso) estava reservado para o atleta.
Depois que Djoko foi diagnosticado com a doença e iniciou uma nova dieta, o rendimento do tenista passou por uma melhora incrível. As mudanças começaram pelo corpo: perdeu peso, mas com uma absorção adequada de nutrientes, o esforço na quadra também passou a ser diferente; menos fadiga, maior velocidade, potência nos golpes. Cinco sets não eram mais uma eternidade. No ano seguinte, o sérvio somava 10 títulos. Em 2012, levantou seis troféus. Nos anos seguintes, foram mais sete títulos por temporada, com direito há mais de 140 semanas no topo.
Sinto que talvez a doença celíaca exerça um impacto ainda maior nas mulheres. O inchaço do corpo provocado pelo desconforto abdominal, a sensação de mal estar frequente e as irregularidades menstruais mexem muito com a gente. Há de se dizer, também - e aí falo compartilhando minha impressão -, que em períodos de T.P.M não se pode consumir aquele bolo maravilhoso, aquele pão francês ou chocolate (queridas, sim, a maioria possui glúten). Torna tudo mais difícil.
Do universo feminino, muitas celebridades já falaram publicamente sobre a doença, mas destaco outro caso importante no esporte, uma ex-maratonista olímpica: Amy Begley. A hoje treinadora descobriu a doença em meio a um ciclo olímpico, enquanto se preparava para a Olimpíada de Pequim-2008, com dores de estômago, gases, inchaço e dores quando corria.
Os médicos, de início, acharam que era intolerância a lactose (um sintoma que acaba sendo complementar). Sem saber ao certo o que tinha, Amy não podia comer durante umas seis horas antes de correr. Surgiram outros problemas: hipotireoidismo, anemia, desidratação, fraturas.... não podia correr por mais do que 30 minutos sem ter que parar para ir ao banheiro.
Com a adoção da dieta sem glúten, após o diagnóstico, o inchaço e a dor desaparecem em três semanas, os níveis de ferro também começaram a melhorar. Pequim foi um grande desafio! Amy contatou os responsáveis pela alimentação na Vila Olímpica, levou comida pronta sem glúten, ligava para os chefs do acampamento americano cerca de uma hora antes de comer. Uma super estrutura foi montada para que não ocorresse contaminação cruzada dos alimentos (é, amigos, a vida de celíacos não é fácil!).
Venus Williams é outra atleta adepta do glúten free. Na verdade, não por doença celíaca, mas por ter a síndrome de Sjögren’s. Por conta da doença, até Serena Williams, enquanto dividia a casa com a irmã, passou por uma dieta rigorosa. Não queria que Venus sentisse vontade de comer o que não podia. O glúten fez parte dos itens excluídos, porque existem alguns estudos que mostram que a retirada da proteína derivada de cerais pode ser eficaz também no tratamento de doenças auto-imunes. O glúten causa uma espécie de inflamação.
Há muitos atletas que também seguem a dieta sem glúten por acreditarem nos benefícios de não consumir a proteína. Com recomendação de especialistas, alguns esportistas têm adotado um cardápio livre de glúten. Circulam notícias que contam que o genial craque do Real Madrid, Cristiano Ronaldo, virou adepto do glúten free para prolongar a carreira. Ainda neste ano, noticiou-se que o craque peruano, Paolo Guerrero, centroavante do Flamengo, também estaria seguindo a mesma linha. Bom para eles!
Não sou médica, nem nutricionista, mas como jornalista e celíaca (recém descoberta), tenho procurado me informar sobre o assunto. Leio constantemente artigos e possibilidades de tratamentos. Senti na pele a dificuldade de diagnosticar a doença e acho que quanto mais falarmos, mais vamos estimular as pessoas a buscarem ajuda de especialistas, até que encontrem o diagnóstico correto.
Durante muitos anos, os sintomas da intolerância ao glúten foram atrelados a outras doenças e problemas. A falta de precisão afetou a saúde de inúmeros celíacos. No supermercado, poucos produtos eram específicos para celíacos, afinal, mesmo aqueles que não podem consumir o glúten, às vezes, têm vontade de comer um pãozinho, né?!
Hoje, há uma crescente indústria do segmento focada no bem estar, e celíacos são lembrados. Me propus a falar do tema para que muitos celíacos não se sintam só, conforme a Acelbra (Associação dos Celíacos do Brasil), somos cerca de dois milhões no Brasil. Quanto mais expormos sobre o assunto, mais popular tornamos a nossa causa!
Um até breve, desejo uma sexta-feira deliciosa a todos!
Glúten free, a 'dieta mágica' de Djokovic, Venus Williams e Cristiano Ronaldo
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