Uma fossa mais suave
A derrota sempre tem um gosto amargo, mas sua intensidade varia, como no agridoce da vida. Esta eliminação brasileira precisa ser curtida como uma fossa suave. Vinho, pão com azeite, talvez até um sorriso de Monalisa. Nada comparável com 2006, por exemplo, ou 2014. Naquelas, havia motivos para carrancas. Foram revoltantes o descompromisso das estrelas e o comando frouxo, na primeira, e a falta de preparo e conhecimento da superioridade do adversário na última. Aliás, existe alguém que não temeu uma nova goleada quando saiu o segundo gol da Bélgica? Duvido... A história vai registrar que em 2014 o Brasil foi semifinalista, mas quem viu sabe que aquele quarto lugar é bem pior que este quinto (ou oitavo, depende da sua boa vontade).
O Brasil poderia tranquilamente ter empatado ou vencido essas quartas de final. Jogou para isso, nos primeiros minutos e em todo o segundo tempo. Mas encontrou um ótimo time, que corrigiu seus problemas defensivos e teve seus três craques principais, Lukaku, Hazard e De Bruyne, em uma noite maravilhosa, para não falar de Courtois. O Brasil não contou com seus quatro homens de criação, Neymar, Coutinho, Willian e Gabriel Jesus, em seu melhor. E mesmo assim, poderia ter levado o confronto à prorrogação se Renato Augusto não perdesse um gol claro.
A seleção deixa a Copa da Rússia entre as oito melhores, eliminada pela Bélgica, um país que tem tradição em revelar jogadores e conta com a melhor safra de sua história. Eu dizia antes do confronto que uma vitória belga seria um resultado normal, embora o Brasil fosse favorito. E cravei o resultado no bolão da família, contra minha vontade, mas de olho no pragmatismo de quem está atrás na disputa pelos caraminguás. Eu gostaria que a seleção tivesse passado, tinha bola para ir além. Não deu, ganhou o outro, que é excelente e foi, ao longo do jogo, mais eficiente.
Não endeuso Tite, para mim ele não está acima de críticas. É um técnico competente e tem valores sólidos, mas comete seu erros. Demonstra saber que não basta apenas ganhar, mas que há um compromisso da seleção brasileira em jogar bem. Porém, há que se discutir alguns escorregões que, somados, podem ter contribuído para a derrota. A demora em trocar algumas peças que não rendiam seu melhor, como Gabriel Jesus e Paulinho; a falta de um líder incontestável evidenciada pelo rodízio de capitães; a manutenção de jogadores lesionados; a convocação de um ou outro jogador, a exclusão de um ou outro nome que pudesse substituir Casemiro melhor que Fernandinho; uma leitura melhor do jogo do adversário durante a partida. É preciso aponta-los e não eximir os autores de tal responsabilidade. Mas nem de longe esses equívocos desqualificam o trabalho feito até aqui por Adenor e sua comissão técnica. Na balança, há muito mais acertos que erros, e por isso espero que o trabalho se mantenha.
Vem uma nova safra muito boa por aí para iniciar o trabalho rumo a 2022. Vinícius Júnior, Paulinho, Paquetá, Rodrygo, David Neres. E mais Neymar, Coutinho, Marquinhos, Gabriel Jesus, Casemiro e outros que ficarão. Vamos aguardar. Agora, é curtir essa fossa suave.
Fonte: Maurício Barros
Uma fossa mais suave
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