Seleção brasileira está interina, no nível das melhores africanas, viúva de Neymar e na pior fase do século
O Brasil perdeu de 4 a 2 de Senegal. Normal! O Brasil perdeu de 2 a 1 de Marrocos. Normal! Na Copa do Mundo, o Brasil perdeu de 1 a 0 de Camarões. Parecia anormal, mas estou mudando de opinião. Nas últimas seis partidas da seleção brasileira, três derrotas para equipes africanas. E não foram duelos de seleções de base, não eram também confrontos de Olimpíada (Nigéria e Camarões já eliminaram a equipe amarelinha em 1996 e 2000). Além do jogo derradeiro na fase de grupos da Copa, vimos dois amistosos oficiais em Data Fifa com as equipes principais dos países. Em tese, era o que os times tinham de melhor. Mas o melhor do Brasil ainda é Neymar, e ele não esteve em campo em nenhum desses três tropeços da seleção contra rivais africanos.
O Brasil goleou Guiné por 4 a 1 no amistoso
anterior, porém o adversário ocupa apenas a 79ª posição no ranking da Fifa. Já
sabíamos antes da Copa que os europeus eram a grande pedra no sapato
brasileiro. E a Croácia repetiu no Qatar o que Bélgica, Alemanha, Holanda e
França fizeram nos Mundiais anteriores, eliminando a equipe pentacampeã mundial.
A sensação antes da Copa era que o Brasil estaria no nível das principais
europeias, mas os resultados estão mostrando que o Brasil está no mesmo patamar
das melhores seleções africanas, especialmente quando atua sem o seu único
verdadeiro craque dos últimos 12 anos. Vinícius Júnior hoje está entre os
melhores do mundo, porém ainda não faz a diferença na seleção que Neymar
costuma fazer.
Agora, Senegal entrou para o seleto clube das
seleções que levam vantagem no retrospecto contra o Brasil na história. Antes,
apenas Holanda, Hungria e Noruega, todas europeias, podiam dizer que a seleção
brasileira é freguesa. A boa seleção senegalesa fez quatro gols no Brasil,
sendo o time que mais balançou as redes da equipe amarelinha em uma partida desde
aquele fatídico 7 a 1 diante da Alemanha na semifinal da Copa de 2014.
Especialmente com Tite, a equipe brasileira vinha sendo pouco vazada, com
goleiros, zagueiros e volantes sendo destaques (o Brasil levou 7 gols neste ano,
marca que Tite levou 26 partidas para alcançar após assumir o comando técnico
do time em 2016). Ontem, Ederson teve chance como titular e foi vazado quatro
vezes, inclusive cometeu um pênalti. Marquinhos até fez um gol meio sem querer,
mas anotou um gol contra antes. Casemiro ficou de fora, o que nos faz pensar
que tem Casemirodependência na volância. O Brasil levou gol nos últimos seis
jogos que disputou. Foram 10 tentos sofridos nessa sequência negativa que
inclui a eliminação para a Croácia.
Vários jogadores que vivem bom momento no futebol brasileiro foram chamados para os dois amistosos contra africanos pelo técnico interino Ramon Menezes: Weverton, Ayrton Lucas, André, Raphael Veiga, Pedro e Rony. Há quem acredite que os jogadores locais jogam com mais vontade na seleção. De fato, houve vontade, mas faltou organização e um pouco de talento (Pedro é quem parece sentir menos a camisa amarelinha). O time do Brasil que perdeu de Senegal foi uma equipe comum. Alex Telles, Joelinton, Malcom e Richarlison são todos bons jogadores, mas, cada um na sua função, estão pouco acima da média apenas. Dentre os mais renomados do time que entrou em campo ontem (exceção feita a Vini Jr), estão Danilo, Militão, Bruno Guimarães e Lucas Paquetá. São alguns dos jogadores que devem atuar nas eliminatórias da Copa, que já estão perto de começar. O Brasil não tem nem de longe uma de suas melhores gerações. Muitos bons jogadores, poucos excelentes, capazes de mudar um jogo.
Considerando que a CBF vai esperar um ano por
Carlo Ancelotti, o qualificatório sul-americano para o Mundial de 2026, que seria
ainda mais acessível devido ao aumento de seleções, começa a ficar animador
para os nossos vizinhos. A Argentina é a atual campeã do mundo, o Uruguai se
renova com Marcelo Bielsa e acaba de ser campeão mundial sub-20, a Colômbia
derrotou a Alemanha por 2 a 0 ontem. Aliás como a seleção colombiana conseguiu
marcar um amistoso contra os alemães? A federação da Colômbia arranjou um duelo
de peso, algo que a CBF não está encaixando na agenda. A política de amistosos
contra seleções de segunda linha pode ser explicada bastante pela criação da
Nations League, mas parece que interesses comerciais ainda impactam demais na
escolha dos adversários e dos locais das partidas. A parte técnica não parece
estar em primeiro plano faz tempo na seleção brasileira. Hoje, parece que
qualquer jogador em boa fase pode aspirar uma convocação, qualquer treinador do
país pode servir como interino até a chegada de um técnico europeu, e qualquer
cartola do país pode ocupar a presidência da CBF.
A seleção brasileira deixou de ser temida já
tem algum tempo. A fila de 24 anos sem título mundial (será assim em 2026)
corre um sério de risco de ser ampliada se continuar essa aura de várzea em
torno da equipe nacional. Não tem treinador há muitos meses e ainda não existe
nada oficial com o esperado italiano que dirige o Real Madrid, clube que hoje é
maior do que a seleção brasileira. Logo na primeira Copa do século, o Brasil
conquistou seu penta. Depois, parou sempre nas quartas de final, exceção feita
ao 7 a 1 de 2014. Tite, apontado como o melhor treinador brasileiro dos últimos
anos, foi mal nas duas Copas em que trabalhou. Aliás o futebol brasileiro
ganhou o seu último Mundial de Clubes com Tite em 2012, isso já tem mais de uma
década. Pensando em termos mundiais, o Brasil está se acostumando a ficar fora
do topo (já saiu dessa posição no ranking da Fifa). Algumas das alegrias do futebol
brasileiro são vistas nos torneios de clubes da Conmebol, mas essa hegemonia
recente se deve muito pelo abismo financeiro dos times nacionais em relação aos
vizinhos.
A seleção brasileira vive seu pior momento
neste século. Perdida, sem muitas referências dentro e fora de campo, o melhor
que faz é ampliar as campanhas na luta contra o racismo, atuar com o seu bacana
uniforme negro. Ancelotti, se é ele mesmo que será o cara, vai ter trabalho.
Acima e abaixo do treinador no Brasil, faltam craques, faltam boas ideias,
falta talento. Já temos duas gerações de torcedores que não viram a seleção
brasileira reinar no mundo. Pior que isso, os mais jovens estão se acostumando
com um time comum. Rony, até outro dia, era muito criticado pelos próprios
torcedores palmeirenses, ganhou o apelido meio pejorativo de “rústico”, mas
passou a render bem em seu vitorioso clube e agora é jogador de seleção. Em
outros tempos, não teria chance. Nada contra o esforçado atacante do Verdão, assim
como nada contra o Ramonismo, mas o Brasil hoje é uma seleção interina.
Seleção brasileira está interina, no nível das melhores africanas, viúva de Neymar e na pior fase do século
COMENTÁRIOS
Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.