Uma fossa mais suave

Mauricio Barros
Mauricio Barros

A derrota sempre tem um gosto amargo, mas sua intensidade varia, como no agridoce da vida. Esta eliminação brasileira precisa ser curtida como uma fossa suave. Vinho, pão com azeite, talvez até um sorriso de Monalisa. Nada comparável com 2006, por exemplo, ou 2014. Naquelas, havia motivos para carrancas. Foram revoltantes o descompromisso das estrelas e o comando frouxo, na primeira, e a falta de preparo e conhecimento da superioridade do adversário na última. Aliás, existe alguém que não temeu uma nova goleada quando saiu o segundo gol da Bélgica? Duvido... A história vai registrar que em 2014 o Brasil foi semifinalista, mas quem viu sabe que aquele quarto lugar é bem pior que este quinto (ou oitavo, depende da sua boa vontade).

O Brasil poderia tranquilamente ter empatado ou vencido essas quartas de final. Jogou para isso, nos primeiros minutos e em todo o segundo tempo. Mas encontrou um ótimo time, que corrigiu seus problemas defensivos e teve seus três craques principais, Lukaku, Hazard e De Bruyne, em uma noite maravilhosa, para não falar de Courtois. O Brasil não contou com seus quatro homens de criação, Neymar, Coutinho, Willian e Gabriel Jesus, em seu melhor. E mesmo assim, poderia ter levado o confronto à prorrogação se Renato Augusto não perdesse um gol claro.

Marcelo e Thiago Silva mostram frustração após a derrota brasileira contra a Bélgica
Marcelo e Thiago Silva mostram frustração após a derrota brasileira contra a Bélgica Getty

A seleção deixa a Copa da Rússia entre as oito melhores, eliminada pela Bélgica, um país que tem tradição em revelar jogadores e conta com a melhor safra de sua história. Eu dizia antes do confronto que uma vitória belga seria um resultado normal, embora o Brasil fosse favorito. E cravei o resultado no bolão da família, contra minha vontade, mas de olho no pragmatismo de quem está atrás na disputa pelos caraminguás. Eu gostaria que a seleção tivesse passado, tinha bola para ir além. Não deu, ganhou o outro, que é excelente e foi, ao longo do jogo, mais eficiente.

 Não endeuso Tite, para mim ele não está acima de críticas. É um técnico competente e tem valores sólidos, mas comete seu erros. Demonstra saber que não basta apenas ganhar, mas que há um compromisso da seleção brasileira em jogar bem. Porém, há que se discutir alguns escorregões que, somados, podem ter contribuído para a derrota. A demora em trocar algumas peças que não rendiam seu melhor, como Gabriel Jesus e Paulinho; a falta de um líder incontestável evidenciada pelo rodízio de capitães; a manutenção de jogadores lesionados; a convocação de um ou outro jogador, a exclusão de um ou outro nome que pudesse substituir Casemiro melhor que Fernandinho; uma leitura melhor do jogo do adversário durante a partida. É preciso aponta-los e não eximir os autores de tal responsabilidade. Mas nem de longe esses equívocos desqualificam o trabalho feito até aqui por Adenor e sua comissão técnica. Na balança, há muito mais acertos que erros, e por isso espero que o trabalho se mantenha.               

Vem uma nova safra muito boa por aí para iniciar o trabalho rumo a 2022. Vinícius Júnior, Paulinho, Paquetá, Rodrygo, David Neres. E mais Neymar, Coutinho, Marquinhos, Gabriel Jesus, Casemiro e outros que ficarão. Vamos aguardar. Agora, é curtir essa fossa suave.

Fonte: Maurício Barros

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Guerrero não vai à Copa no país do doping

Mauricio Barros
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Foram 72 nanogramas por mililitro encontradas na urina de Guerrero. A benzoilecgonina é uma substância que compõe a cocaína. Ela apareceu em seu xixi porque o atacante peruano, segundo o próprio, teria tomado chá de anis e chá de coca como tratamento de uma gripe, quando servia à sua seleção nas Eliminatórias. Deslize coletivo: dele, de médicos e de nutricionistas peruanos. Defesa feita, a Fifa entendeu que o atacante não quis mesmo se dopar e aliviou a pena. Passou de dois para um ano de gancho. A tolerância aos testes positivos é baixa, mesmo quando a tese de contaminação, ou seja, sem intenção de obter vantagem esportiva, é aceita. 

O astro peruano viu desmoronar o sonho de todo garoto que joga futebol: disputar uma Copa do Mundo. O Flamengo ficou sem seu centroavante titular quando mais precisava. Os advogados ainda vão recorrer, mas uma mudança na condenação é improvável.

Corta para a sala da minha casa. Acabo de assistir, sob ordens do meu chefe, o jornalista e músico Eduardo Tironi, ao espetacular documentário “Icaro”. A Netflix comprou seus direitos após vê-lo premiado no último “Sundance”, um dos mais importantes festivais de cinema (de verdade) do mundo, criado por Robert Redford.

A história começa de um jeito e termina de outro absolutamente imprevisível. Em 2014, o americano Bryan Fogel, um documentarista e ciclista amador da pesada, em nível quase profissional, decide ser cobaia e filmar a experiência de se dopar. Ele queria tentar vencer uma prova mítica entre os amadores, também na França, a Haute Route, sete dias pedalando nos alpes, onde seu melhor resultado fora um 14º lugar. Fogel sentia que faltava um degrau para se igualar àqueles 13 caras que chegaram à sua frente, coisa que só mais treinamento duro, ele acreditava, não seria capaz de oferecer.

E Fogel não queria uma injeçãozinha qualquer. Seu projeto foi replicar e documentar o caminho de Lance Armstrong, sete vezes campeão da Volta da França, mito do esporte que superou um câncer. Um sujeito que, em 2012, teve sua história desmascarada: Lance construíra sua vitoriosa carreira à base de estimulantes proibidos, programando meticulosamente os dribles para testar negativo nos exames. Virou sinônimo de trapaça.

Fogel reforçava sua convicção de que o sistema de detecção antidoping era falho, pois Lance havia testado negativo em cerca de 500 exames, e só foi descoberto porque seus colegas de equipe o deduraram em uma investigação federal. Fogel desejava provar sua tese. Decidiu então que também queria um “protocolo” de uso de doping que tornasse impossível aos exames apontar um resultado positivo.

Procurou Don Catlin, chefe do Laboratório Olímpico da UCLA, que havia avaliado 50 vezes a urina de Lance Armstrong, todas elas com resultado negativo. “A verdade é que é muito fácil burlar os exames”, declarou Catlin, visivelmente desapontado por não ter detectado tamanha fraude. O cientista se interessou pelo projeto de Fogel e prometeu ajuda-lo pessoalmente, mas declinou. Não sem antes apresentar Fogel a um velho conhecido: Grigory Rodchenkov, químico-chefe do Laboratório de Antidopagem da Rússia. Poucos contatos via Skype e Fogel e Grigory, um ex-atleta fanfarrão de corridas de fundo, simpatizaram um com o outro. Ficaram amigos e confidentes. Grigory orientou todos os passos do americano, emulando o protocolo de Lance.

A história dá uma guinada quando a rede de TV alemã ARD, no final de 2014, leva ao ar um documentário (The Doping Secret: How Russia Makes its Winners, dirigido por Hajo Seppelt) denunciando o esquema de doping de atletas russos patrocinado pelo governo de Vladimir Putin. Um dos personagens centrais é o próprio Grigory Rodchenkov, que se vê acuado e pede ajuda a Fogel. O russo passa a colaborar com a justiça dos EUA e abre para o New York Times, com detalhes, como montou um esquema de trapaça para manipular as amostras dos atletas russos e livrá-los de serem pegos no sistema antidoping, que ele próprio chefiava, durante os Jogos Olímpicos de Inverno, em Sochi, na Rússia. O escândalo levou o COI a proibir a participação de vários atletas russos na Olimpíada do Rio de Janeiro. O governo Putin nega até hoje que patrocinasse o esquema.

Para encurtar a história, Rodchenkov deixou a família na Rússia e hoje vive nos Estados Unidos, em local sigiloso, sob o Programa de Proteção a Testemunhas. Teme ser morto. Um dos principais acusados de comandar o esquema é Vitaly Mutko, então ministro dos Esportes da Rússia. Homem de confiança de Putin, ele hoje é, simplesmente, presidente da Federação Russa de Futebol e vice-primeiro ministro do país. Mutko acaba de ser banido pelo COI do Movimento Olímpico, e a Rússia proibida de participar dos próximos Jogos Olímpicos de Inverno, em PyeongChang, na Coreia do Sul. 

Ah, e Mutko é também o presidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2018. Essa mesma que Paolo Guerrero não vai poder jogar por conta dos chás que andou tomando para tapear a gripe. Tem coisa pra gente pensar aí ou não?

Fonte: Maurício Barros

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A Independente planta a semente

Mauricio Barros
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Torcida Organizada nasceu como Torcida Uniformizada e com um objetivo nobre: tornar mais bonita a festa em um estádio de futebol. Um grupo de amigos que compartilha a paixão pelo clube indo torcer nas arquibancadas com camisas, bandeiras, batuque. Lindo.

Mas a gente sabe que a coisa desvirtuou. Questões sociais, regionais, econômicas, políticas – humanas, enfim – tornaram esses grupos entes complexos, com alas violentas vivendo sob a lógica das  facções, empreendendo brigas e até crimes. Uma imagem negativa que levará tempo para ser mudada, se é que há interesse de seus líderes em muda-la.

Como muitos de nós, jornalistas, estamos sempre atentos e criticamos duramente o lado perverso desses grupos quando ele vem à tona, é justo que reconheçamos quando há coisas boas. E uma organizada que foi notícia muito mais pelas coisas positivas que pelas ruins este ano foi a Independente, maior torcida do São Paulo.

Em que pesem todas as decisões equivocadas de uma direção que claramente não é do ramo, a torcida entendeu que precisava ajudar o clube a evitar o rebaixamento. Sacou que o São Paulo é maior que as pessoas que por ele passam. Usou seu poder de influenciar os demais torcedores para criar no Morumbi e no Pacaembu uma atmosfera de apoio, mesmo quando o time viveu seus piores momentos, na segunda metade do primeiro turno, ficando 13 rodadas seguidas na zona de rebaixamento. Os jogadores corresponderam primeiro com vontade, depois com um futebol melhor. E o time se livrou matematicamente da queda com três rodadas ainda por jogar. Não houve sufoco.

Olhando de fora, a impressão é que se criou algo novo na relação da torcida com o clube. Vale sempre pensar nos momentos de crise, porque na bonança é tudo muito fácil. Pichações, invasões de treino, lançamento de pipoca, perseguição a atletas na noite e vandalismo sempre são o modus operandi preferido das organizadas em épocas de draga.

A Independente apoiou incondicionalmente. Os torcedores “comuns” endossaram a postura. O Tricolor bateu recorde atrás de recorde de público no Brasileiro. Quanto mais sofria em campo, mais os são-paulinos enchiam o estádio. “Não vamos deixar o time cair”. Deu resultado.

Passado o sufoco, a organizada pediu uma reunião com a diretoria e soltou uma nota bastante razoável. Acontece nesta quarta-feira, dia 29/11, com o presidente Leco e o diretor Pinotti, os responsáveis pelo futebol. Tem reivindicações a fazer, quer ser ouvida. Mas não sozinha. Chamou também representantes de outras organizadas do São Paulo e abriu uma seleção via redes sociais para outros torcedores comuns também estarem presentes.

Existe uma pauta definida: a manutenção dos melhores jogadores e o estímulo aos garotos da base; a transparência financeira; o combate ao nepotismo e ao compadrio nos cargos diretivos do clube; um plano de sócio-torcedor mais eficiente; ingressos a preços acessíveis para a temporada 2018.

Todas as empresas e instituições modernas buscam abrir canais de diálogo com seus clientes e a sociedade em geral. Torcedores são parte fundamental do futebol, a razão de ser de um clube. É natural e desejável que exista um diálogo entre o clube e grupos de destaque desses torcedores. Mas a face sinistra que as organizadas assumiram ao longo do tempo tornou inviável essa relação. Quem descumpre as regras e tem a violência como ferramenta não deve nem merece ter direito a voz.

Mas quando uma torcida usa a razão, a coisa muda. Depois de tudo o que fez, é impossível para os dirigentes negarem aos torcedores um pedido de reunião. A torcida legitimou seu direito a voz.

Pode estar nascendo no São Paulo um perfil mais civilizado de torcida organizada, com uma relação mais madura com o clube e os demais torcedores. Mesmo não tendo direito a eleger conselheiros ou presidente, é inegável que essa legitimidade traz a essa organizada uma força política dentro do clube. Para tanto, é fundamental que seus líderes fiquem atentos e controlem seus integrantes, reprimindo a violência, colaborando com as autoridades, detectando as “laranjas podres” e expulsando-as, deixando de lado a lógica de facção e resgatando um pouco da razão de ser de uma torcida organizada. A ver.

Fonte: Maurício Barros

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Renato está certo

Mauricio Barros
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Veja a resposta de Renato Gaúcho sobre o uso de drone espião: 'O mundo é dos espertos'

Esperto foi Nilton Santos, que, na Copa de 1962, no Chile, derrubou o espanhol Enrique Collar e, malandramente, deu dois passos para fora da área, induzindo o árbitro Sergio Bustamante a marcar falta, e não pênalti, quando a Espanha já vencia por 1 x 0. O Brasil viraria o jogo, avançaria às quartas e terminaria bicampeão do mundo. O truque virou símbolo da genialidade da Enciclopédia.

Esperto também foi Rivaldo, na Copa de 2002, que levou uma bolada na coxa do turco Unsal e desmoronou simulando dores no rosto. O juiz coreano, que já havia dado para o Brasil um pênalti mandrake sobre Luizão (foi falta fora da área), embarcou no teatro e expulsou o turco. Ficou mais fácil para os futuros pentacampeões segurar aquele 2 x 1 da estreia.

Esperto foi Maradona, que fez um gol com a mão nas quartas de final da Copa de 1986, contra a Inglaterra, partida que acabaria em 2 x 1 para os hermanos. Esperto foi seu compatriota Miguel Di Lorenzo, massagista da Argentina na Copa de 1990, que, como Diego confessaria anos depois, deu água com sonífero para o lateral Branco, da Seleção Brasileira, que passaria mal em campo na sequência. O Brasil perdeu de 1 x 0, gol de Caniggia, e foi eliminado nas oitavas-de-final. Esperto também foi Thierry Henry, que ajeitou com a mão e cruzou para Gallas fazer o gol de empate contra a Irlanda que classificou a França para a Copa de 2010.

Espião contratado pelo Grêmio para levantar informações sigilosas de adversários é um produto argentino

Esperto foi Luis Suárez, que defendeu, também com a mão, um gol certo de Gana, trocando sua expulsão por um pênalti que Gyan acabaria perdendo. A partida foi para a decisão nos penais e o Uruguai avançou à semifinal.

Há muita gente esperta, e não só no futebol. Lance Armstrong construiu uma carreira vitoriosa no ciclismo à base de estimulantes. Dirigentes, atletas e treinadores russos também montaram há poucos anos um sofisticado esquema de doping para colecionar vitórias no atletismo.

Esperta foi a nadadora francesa Aurelie Muller, que, na Olimpíada do Rio, chegou cabeça-a-cabeça no final da Maratona Aquática e, para ganhar a prata, segurou a italiana Rachele Bruni antes da batida final de mão. Nesses últimos três casos, veja você, acabou dando ruim para Lance, os russos e a francesa. Coisa rara...

Drone espião: compare as respostas do diretor jurídico do Grêmio com as de Renato Gaúcho

Esperto é Ricardo Teixeira, que curte uma aposentadoria nababesca apesar de tanto escândalo de corrupção, exatamente como fez seu ex-sogro João Havelange. Esperto é José Maria Marin, que cumpre sentença em um apartamento de luxo em Nova York. Esperto é Carlos Arthur Nuzman, que está soltinho, aproveitando sua mansão no Rio, apesar de tantas suspeitas de enriquecimento ilícito.

Esperto é o Viana, que vendeu seu apartamento e acertou com o Palhares, o comprador, que fariam constar na escritura um valor menor que o real. Esperto é o Dirceu, que topou sediar formalmente sua empresa em um banheiro no interior, onde o contador tem um esquema bacana. Esperto é o doutor Maluf, que sonegou só na última declaração de IR uns 2 milhõezinhos, dinheiro de pinga. Esperta é a Lúcia, que pagou 3 mil reais ao Renê, o despachante, para sumirem umas multas no Detran que lhe renderiam a cassação da carteira.

“O mundo é dos espertos". Como discordar do Renatão? Aliás, te pergunto: e os otários, quem são?

Fonte: Maurício Barros, blogueiro do ESPN.com.br

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Que venha o Grupo da Morte!

Mauricio Barros
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O Peru venceu a Nova Zelândia com bela atuação de Cueva e Farfán, e os queridos vizinhos fizeram uma festa linda em Lima para celebrar o retorno de sua seleção à Copa do Mundo, coisa que não acontecia desde 1982. Assim, temos as 32 nações participantes definidas para o Mundial da Rússia no ano que vem. As atenções se voltam agora para o dia 1º de dezembro, uma sexta-feira. Em Moscou, acontecerá o sorteio dos grupos da Copa. Vai estar frio, avisa de lá o Cacique Cobra Coral.

A história começa a ser definida nesse bingo de bolinhas e papeletas. Torço para que a coisa fique russa para nós. Invoco a mão do Coiso tirando as bolinhas. Quero sangue. Quero o Brasil no Grupo da Morte.

Copa do Mundo é uma das grandes invenções humanas, e nós, brasileiros, somos privilegiados em acompanhar esse evento sempre como protagonistas, com chances de vencer. Apesar de vir do maior vexame da história em 2014, a Seleção Brasileira chega ao Mundial novamente na lista de favoritas, graças à troca de Dunga por Tite e o bom futebol que Casemiro, Neymar, Marcelo, Gabriel Jesus e companhia passaram a jogar. O time se recolocou no topo do continente, mostrando sua diferença em relação aos vizinhos. Mesmo longe de ser perfeito e com várias coisas a aprimorar.

Há uma boa dose de organização, talento e vontade. Isso fez com que o time conquistasse algo que é muito mais importante que qualquer taça: a conexão com os torcedores. Haverá, creio, mais simpatia e envolvimento dos brasileiros nesta Copa do que em Mundiais anteriores. Espero que isso se reflita em ruas pintadas, bandeirinhas estendidas, fitas nas antenas dos carros. Um pouco da cor do futebol nesse país acinzentado pela política, por favor (mas sem esquecer das mazelas – do futebol e da política!)...

Particularmente, não me interessa que o Brasil vença por vencer. Dane-se. Quero ver boas partidas, o máximo de competitividade nos possíveis sete jogos a fazer. Como amante e observador do futebol, não me incomodará a derrota brasileira. Chorei em 1982, fiquei triste até mesmo em 1990, quando a péssima seleção de Lazaroni perdeu para a Argentina de Diego no único jogo bom que fez naquela Copa. Mas eu era um torcedor. O tempo passou, o exercício da profissão e os fios grisalhos me fazem, já há um bom tempo, querer uma seleção defendendo sua identidade histórica, buscando a vitória com um jogo bonito, encantador na entrega, na tática e na técnica. Há talentos para isso, e há um técnico que compreende essa vocação.

Quero então o Brasil no grupo com Espanha, Islândia e Nigéria. Pronto, falei. Quero  Neymar encarando as bandeiras da Espanha e da Catalunha juntas, Gabriel Jesus tendo que furar a defesa de Fullannosson e Cicranosson. E quero Casemiro anulando todas as encarnações do perigoso Kanu. Nada de grupo molezinha, adversários opacos que gerem uma ilusão de potência. Nada de Suíça, Tunísia, Panamá. Que venha a Copa pra valer, desde o primeiro jogo. Mais valem três, quatro, cinco jogos excelentes do que quatro partidas meia-boca, uma mais ou menos, uma quase boa e uma final truncada. Mesmo que vitoriosa. 

Fonte: Maurício Barros

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Enquanto o filho treina com Tite, George Weah fareja golpe na Libéria

Mauricio Barros
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George Weah vota na eleição presidencial da Libéria
George Weah vota na eleição presidencial da Libéria Getty

No primeiro treino da Seleção Brasileira na França visando os dois amistosos contra Japão e Inglaterra, cinco jogadores da base do Paris Saint-Germain ajudaram a inteirar o quórum capenga. Entre eles, estava o lateral-esquerdo Timothy, de 17 anos, nascido nos Estados Unidos mas de sangue liberiano, como seu pai George Weah, ex-craque de PSG e Milan e eleito, em 1995, Melhor do Mundo da Fifa e Bola de Ouro da France Football.

Pense na ebulição na cabeça do moleque. Bater bola ao lado de craques como Neymar, Willian, Paulinho, Daniel Alves, fardado com a roupa de treino do Brasil, é honraria para poucos. Imagine então fazer isso enquanto, a milhares de quilômetros dali, seu pai vive a expectativa de, enfim, ser eleito presidente da Libéria, depois de mais de uma década tentando!

No último dia 16 de outubro, Weah (CDC, Congress for Democratic Change) foi anunciado vencedor do primeiro turno da eleição presidencial, obtendo 38,4% dos votos, dez pontos percentuais acima do segundo colocado, o vice-presidente Joseph Boakai (UP, Unity Party). Ambos conquistaram o direito de ir ao segundo turno, que estava marcado para esta terça-feira, dia 7 de Novembro, com Rei George, de 51 anos, como favorito. Seria o primeiro ex-jogador de futebol a virar presidente de um país! Só que entrou areia...

A NEC, Comissão para Eleições Nacionais, suspendeu o pleito, obedecendo ordem da Corte Suprema da Libéria, que acatou um pedido do LP, o Liberty Party, que alegou fraudes no primeiro turno. Charles Brumskine, o candidato do LP, havia ficado em terceiro no primeiro turno, com 9,6% dos votos. A suspensão é por tempo indeterminado, até que a NEC apresente o resultado de suas investigações sobre as denúncias de fraude. Mas se o LP não ficar satisfeito, pode recorrer novamente à Corte, que poderá ela mesma investigar. Ou seja, muita coisa ainda vai acontecer até que seja definido quem será o presidente da Libéria. Enquanto isso, as campanhas de Weah e Boakai estão suspensas. Vale lembrar que observadores internacionais, entre eles o Centro Carter, criado pelo ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, declararam não terem visto problemas relevantes que justificassem a suspensão do pleito.

O vencedor irá substituir Ellen Johnson Sirleaf, primeira mulher eleita chefe de Estado no continente africano, no que seria uma inédita sucessão pacífica de um presidente eleito por outro, também eleito, em 70 anos. O espírito da Guerra Civil ainda paira sobre o miserável país do noroeste da África, e os riscos para a frágil democracia liberiana seguem enormes. Há um cheiro estranho no ar, porque o UP, que vai ao segundo turno em uma condição aparentemente desfavorável, apoiou a contestação feita pelo LP.

George Weah, que é senador, está tiririca. Acusa que há uma conspiração contra ele, e disse, em sua conta no Twitter, que “nenhuma tática do medo irá interromper o desejo de mudança expresso pelo povo da Libéria”. O clima é tenso em Monrovia. Uma democracia frágil, a gente sabe bem disso, é o parque de diversões dos golpistas.    

Fonte: Maurício Barros

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Enquanto o filho treina com Tite, George Weah fareja golpe na Libéria

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Carille, Valentim e Elano: o Brasileirão caiu nas mãos dos novatos

Mauricio Barros
Mauricio Barros

Não foi nada planejado, mas chegamos à reta final do Campeonato Brasileiro com os três primeiros colocados e postulantes ao título sendo comandados por treinadores novatos. Fábio Carille no líder Corinthians, Alberto Valentim no Palmeiras e Elano no Santos. Este, último, aliás, deve em breve passar a ser chamado também pelo sobrenome, Blumer, porque no futebol o sujeito, quando vira técnico, sei lá por que raios tem que ter dois nomes, como Muricy Ramalho, Dorival Junior, Roger Machado. Será que é pra ficar mais importante, fazer jus à função de “professor”? Ainda bem que não fizemos isso com Adenor Tite nem Alexi Cuca...

 Carille entrou no Corinthians porque o clube fracassou em tentar Dorival e Roger. Valentim assumiu “até o fim do ano” porque Cuca foi um fiasco em seu retorno ao atual campeão brasileiro. E Elano virou interino até que o Santos defina um nome para 2018. Ok, mesmo que atabalhoadas, sem muito planejamento, o que importa é que as chances apareçam. Torço pelos três.

Por outro lado, vemos alguns treinadores medalhões perdendo relevância. Vanderlei Luxemburgo foi demitido do Sport, em mais um trabalho com resultados ruins. Idem para Levir Culpi, embora sua passagem pelo Peixe tenha sido um pouco melhor que a de Luxa no Leão. Oswaldo de Oliveira treina o Galo, mas quase ninguém aposta que seguirá para a temporada 2018. Soa mais como um tampão até o final do Brasileiro. Muricy Ramalho está aposentado por problemas de saúde. Marcelo Oliveira “caiu de produção” nos últimos anos. Felipão já não desperta o mesmo interesse de antes, e tenho dúvidas se um time de ponta do Brasil o acolheria se quisesse voltar da China. Celso Roth, Joel Santana, Leão e Nelsinho Baptista são outros nomes de quem nem se fala. Dos veteraníssimos, resistem sob holofotes Abel Braga e Paulo César Carpegiani.

Alguns caras um pouco mais novos, como Ney Franco, Péricles Chamusca, Andrade, Cristóvão Borges e Ricardo Gomes, perderam mercado. Mas seguem com prestígio Dorival Júnior, Cuca, Renato Gaúcho e Mano Menezes. Vágner Mancini, Eduardo Baptista e Fabiano Soares continuam em busca de maior relevância.

As trocas de gerações não acontecem com data marcada, mas ao longo de alguns anos. A mudança vem pelo desgaste das ideias dos antigos e a necessidade do futebol de buscar sempre algo novo. E isso não tem necessariamente a ver com a idade do treinador, mas com seu desejo de evoluir. Maurizio Sarri, por exemplo, está com 58 anos e montou um Napoli repleto de frescor. O futebol é orgânico, não estanque. Quem é responsável pela estratégia deve estar sempre pensando, refletindo, arriscando. Prender-se a um modelo que foi vencedor no passado é o primeiro passo para desbotar o futuro.

A reta final do Brasileirão, portanto, será instigante também nesse sentido: que soluções apresentarão Carille, Valentim e Elano para seus desafios? E Zé Ricardo e Jair Ventura, como encerrarão a temporada? Pensando no ano que vem, Rogério Ceni voltará a se arriscar? Fernando Diniz vai ter sua chance em um time grande? E Roger Machado, vai subir de patamar? Mais que caras novas, o futebol brasileiro precisa de novas ideias.           

Fonte: Maurício Barros

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Pois Neymar segue com a minha simpatia

Mauricio Barros
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Existe uma antipatia em relação a Neymar? Bertozzi compara trajetória com a de CR7 e vê diferenças

Me conta a ESPN em seu site que o jornal Le Parisien publicou nesta quarta-feira um texto onde aponta os vários privilégios de Neymar no PSG. De poder usar mala de viagem do patrocinador pessoal a ter dois fisioterapeutas brasileiros exclusivamente para cuidar de seus músculos. E recomendações para ninguém chegar junto e pegar pesado com ele nos treinos.

Também leio que, um dia antes, o volante Anguissa, do Olympique de Marselha, admitiu que o técnico Rudi García orientou seus jogadores a provocar Neymar no clássico de domingo, que terminou com o placar de 2 x 2 e o brasileiro expulso. Num arroubo de sinceridade, Anguissa declarou ao L’Equipe: "Minha função era ficar 'cutucando' Neymar. O treinador me alertou que ele é um talento enorme, mas pode ficar louco. Essas foram as instruções e nós, definitivamente, pegamos mais pesado com ele do que com o resto dos jogadores.”

Antes de tomar o segundo cartão amarelo e, consequentemente, o vermelho, Neymar havia sido cutucado também pela selvagem torcida do Marselha, que ficou por alguns minutos atirando coisas sobre ele, impedindo-o de cobrar um escanteio. Menos mal que fossem copos de plástico e bolinhas de papel e ele não seja tão sensível como aquele patético candidato careca a presidente de miolo mole... Mas a violência do ato de ser alvejado persiste, independentemente de serem objetos de papel ou de chumbo. Como nos aeroportos brasileiros, há também torcedores selvagens nos estádios franceses, sabia?

E vamos ao lance da expulsão. Neymar havia tomado um amarelo por ter feito uma falta por trás. Não houve violência, mas o cartão pode ser considerado adequado. No segundo amarelo, finalzinho do jogo, ele avança com a bola, entre dois adversários, toma um rapa, levanta-se para continuar o lance e, quando o juiz soa o apito, negando-lhe a vantagem, vem Ocampos e lhe dá um covarde pontapé por trás. Neymar se levanta revoltado, dá uma peitada requenguela no argentino, que despenca teatralmente no chão. Junta o bolinho ao redor dos dois, que logo se acertam, cumprimentando-se. O árbitro chega, dá amarelo para Ocampos e Neymar, mostrando o vermelho ao brasileiro na sequência. Não precisava. O brasileiro dá um sorrisinho, umas três palminhas curtas e sai de campo tranquilamente.

Casão disse que Neymar está conquistando a antipatia mundo afora. E muito se discutiu que essa rejeição seria um pacote de coisas, que inclui as saídas nada pacíficas de Santos e Barcelona, o posto de jogador mais caro da história, os dribles às vezes desnecessários, o status de “dono” do PSG, a treta com Cavani pela função de batedor de pênaltis, a superexposição midiática, o desejo de ser o melhor do mundo, etc.

Essa rejeição é real, e basta você correr nos comentários aqui embaixo para sentir. Toda vez que escrevo sobre Neymar, sinto isso na tela. Muitos brasileiros torcem o nariz para o maior craque nacional. Pois essa antipatia, creio, é mais problema de quem tem, não de quem é alvo.

Neymar não pediu para ser o jogador mais caro da história. O PSG pagou porque quer, com o dinheiro do nada democrático Qatar, comprar o status de clube grande europeu que até hoje não conquistou. Perto de United, Milan, Liverpool, Bayern, Inter, Juventus, Real e Barcelona, o PSG é um nanico. Mas agora montou uma constelação e tem grandes chances de conquistar a Champions League, fincando pela primeira vez sua bandeira no Everest do futebol. E o brasileiro é o principal trunfo para isso. Quem confere status ao PSG é Neymar, não o contrário.

Idem para o Campeonato Francês. Você tem ideia do quanto aquele torneio mediano se valorizou aos olhos do mundo com a chegada de Neymar? Muito, horrores! Uma atratividade que Beckham, Ibrahimovic, Di Maria, Cavani, Pastore e tantos outros jamais conseguiriam juntos. Pois uma liga inteira ganhou corpo após o sim do brasileiro – despertando centenas de negócios mundo afora, de salto no valor dos direitos de TV a venda de camisas, patrocínios, o diabo!

Você se incomoda por Neymar ser um bilionário, andar de jatinho e iate, namorar modeletes, desfilar cabelos e tatuagens, usar roupas da moda, se achar dono do mundo? Ele está no topo do business, é protagonista de um mundo rico em coisas e pobre em essência, qual a novidade nisso? Ou você antipatiza porque ele dribla além da conta, é fominha, não produz nada em campo, atrapalha o time? Qual a sua crítica, pessoal ou profissional? Ou as duas?

Neymar não tem vocação para ser um exemplo de posicionamento político, erudição cultural, elegância nas atitudes, consistência nas declarações, sofisticação dos meios onde circula. Não há sequer uma preocupação de seu staff em construir uma reputação. É um direito dele e deles, embora eu desejasse que fosse diferente. Mas nem todo mundo é Zico ou Raí, paciência. Neymar é um jogador de futebol brilhante, genial, único herdeiro em ação da nobre linhagem de craques brasileiros, de Garrincha, Pelé, Zico, Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo. É um moleque que sorri fácil e que adora jogar futebol, corre do primeiro ao último minuto, no clube e na seleção.

Quer dizer que porque ele é tratado de maneira especial no clube, paparicado aos montes e acende churrasqueira com nota de euro, vou sair aplaudindo carniceiros que lhe descem a botina, treinador que manda bater e selvagens que jogam coisas nele no gramado? Prefiro apreciar sua arte e criticá-lo por coisas pertinentes, seja nos clubes onde jogar, seja na seleção brasileira, que, aliás, não irá a nenhum lugar se ele não estiver feliz e a fim de jogo.

Fonte: Maurício Barros

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Pois Neymar segue com a minha simpatia

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Islândia: o segredo do Bando de Loiros

Mauricio Barros
Mauricio Barros

Domingo passado foi Dia do Professor, e eu lembrei de um punhado de mestres que tive nessa vida afora. Dos tranqueiras (houve vários), tratei de esquecer. Ficaram os bons (e poucos) na memória. Entre uma azeitona e outra, comentei com um parça que um aluno pode ter acesso aos laboratórios mais modernos, às tecnologias mais avançadas de aprendizagem, mas se cair nas mãos de um professor ruim, lascou-se. Nada substitui um bom professor – alguém com formação sólida que passe o conhecimento com brilho nos olhos e paixão no coração. Só um bom professor é capaz de mostrar que o saber é uma aventura, não um enfado. Não consigo pensar em profissão com mais responsabilidade – com menos, é fácil: blogueiro de futebol.

A reflexão me levou a uma reportagem que havia lido na ótima revista espanhola Panenka. Durante a Eurocopa de 2016, a publicação mandou um repórter à Islândia para entender as razões do sucesso em terras francesas daquele bando de loiros com nomes impronunciáveis – chegou às quartas-de-final, eliminando a Inglaterra nas oitavas. Um ano depois, os islandeses avançariam ainda mais, conquistando a vaga direta para a Copa da Rússia, ficando em primeiro em um grupo das Eliminatórias que contou com Croácia, Turquia e Ucrânia, países de muito mais tradição no futebol. E a principal razão apontada pela Panenka era, veja você, bons treinadores. Ou seja, professores de futebol.

A revolução no futebol da ilha de 335.000 habitantes (pouco mais que o Jardim Ângela, bairro da zona sul de São Paulo) começou em 2002, com a chegada ao comando das categorias de base da Federação Islandesa de Futebol do ex-jogador Siggi Eyjólfsson. Além da construção pelo governo de diversos campos de futebol cobertos país adentro, permitindo jogos e treinos o ano inteiro mesmo com 40 graus negativos e tudo branco lá fora, houve um estímulo para que os candidatos a treinador se formassem adequadamente, tirando as licenças da UEFA. “A principal mudança é que, hoje, cada criança e adolescente na Islândia que joga futebol tem um treinador bem preparado à disposição, não um pai ou um voluntário. E não importa se é menino ou menina, se joga melhor ou pior. Todos recebem a mesma atenção. Todos podem jogar futebol na Islândia”, disse à Panenka Arnar Bill Gunnarsson, que hoje substitui Eyjólfsson na Federação Islandesa.

A Federação conseguiu junto à UEFA permissão para importar cursos de licenças A e B, facilitando aos locais que conciliassem os estudos às suas atividades normais. Eyjólfsson diz que quantidade de treinadores também era importante, pois o objetivo era ter bons professores de futebol também para crianças entre 6 e 12 anos, idades, segundo ele, “cruciais para a aprendizagem”. Hoje, dizia a reportagem, a Islândia promove cursos nível A da UEFA na mesma quantidade que a Noruega, país de 5,3 milhões de habitantes.

Quanto à licença de treinador no nível mais alto, o Pro, a Islândia organiza cursos em parceria com a Federação Inglesa. Aliás, em que pese a diferença de tamanho e população dos países, surpreende a constatação de que, na Islândia, um em cada 500 habitantes possui formação de treinador homologada pela UEFA. Na Inglaterra, que inventou o futebol, essa proporção é um em cada 10.000 habitantes. “Fiquei surpreso quando visitei o Manchester United. Havia treinadores na base que sequer tinham a licença nível B”, disse Eyjólfsson à Panenka. E aí eu penso no Brasil, onde basta ter sido jogador (há exceções, claro) para, chuteiras penduradas, arrumar uma boquinha de auxiliar-técnico na base do clube onde se jogou porque, afinal, "se aprende na prática"...

Sigurdsson, Halldorsson, Skulasson, Gunnarsson, Gudmundsson… Hoje herois nacionais, os jogadores que classificaram a Islândia para sua primeira Copa do Mundo são fruto dessa revolução que privilegiou, em essência, a educação e sua peça-chave: o professor. Isso é o beabá não só do futebol, mas da sociedade, do país, do planeta. Precisa desenhar?

Fonte: Maurício Barros

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E você, voltou a gostar de Seleção Brasileira?

Mauricio Barros
Mauricio Barros
Criança durante o jogo entre Brasil e Chile
Criança durante o jogo entre Brasil e Chile Getty

Foi um ótimo teste o jogo contra o Chile no Allianz Parque. E a Seleção Brasileira passou com sobras. Era a última oportunidade antes da Copa da Rússia para fazer uma partida à vera, mesmo com o país já classificado. Porque os chilenos jogavam a vida e têm um bom time, embora sem a mesma pegada dos tempos de Jorge Sampaoli, quando ganharam duas vezes a Copa América. Ataque rápido, defesa muitas vezes ríspida, jogadores manhosos, experientes e provocadores. Pena não estar em campo Arturo Vidal, que daria a pegada que faltou ao meio chileno.

Mas o Brasil jogou de forma segura e tranquila. Mesmo o risco-cartão foi controlado. Neymar e Coutinho levaram o amarelo, mas seguraram os nervos e se garantiram para a estreia. Foi uma vitória categórica por 3 x 0, fechando o torneio qualificatório de maneira exemplar, histórica.

Há basicamente dois desafios para a Seleção Brasileira nesses nove meses que restam até a estreia no Mundial da Rússia. Um deles é técnico e envolve os amistosos. A diferença na tabela de classificação das Eliminatórias mostra que o Brasil restabeleceu seu lugar de hegemonia entre os vizinhos sul-americanos. E isso em uma época em que os vizinhos não são mais pangarés. É hora então de medir forças com as potências europeias.

Tite agradece torcida do Palmeiras no Allianz: 'Passaram um carinho muito grande para nós'

Espanha, Inglaterra e Alemanha estão no radar. Será importante, mas sempre é preciso considerar que, em amistosos, o nível competitivo não é pleno, o risco de contusão pesa para aliviar divididas. Faz parte também da questão técnica não só treinar alternativas ao time titular como definir o restante do grupo de convocados. Duvido que Tite tenha 50 nomes de onde escolher, como se comentou. Esse número é menor. E as dúvidas são poucas. Uma vaga no gol, outra na lateral, uma na zaga, uma ou duas no meio, uma ou duas no ataque. De resto, salvo contusão, a turma está definida.

O outro desafio é manter o bom clima dentro e fora do vestiário. Fazia tempo que uma seleção não conquistava a simpatia do torcedor brasileiro nem tinha boa relação com a imprensa. Isso por conta de uma soma de anos que, em essência, subtraiu: os escândalos envolvendo cartolas (isso continua uma lama), o futebol pobre e figuras antipáticas em campo e no banco (e aí falo desde Parreira, Ronaldo, Ronaldinho e Roberto Carlos em 2006 até Dunga, Felipe Melo, Felipão 7 a 1 e Dunga de novo...).

Daniel Alves vê 'lição para vida' nas eliminatórias e desabafa após momento ruim: 'Não gostamos de passar vergonha'

Tite desperta admiração de norte a sul. E o grupo de jogadores demonstra saber que estar na seleção é um privilégio para pouquíssimos. Mesmo nos mais consagrados, como Daniel Alves e Marcelo, é impossível avistar uma nesga do desdém visto, por exemplo, na turma de 2006. E até Neymar, o mais badalado jogador brasileiro desde Pelé, midiático a ponto de gerar antipatia em muita gente, é um sujeito que quer estar em campo sempre e corre até o último minuto. Não consigo imaginar, ainda mais sob o comando de Tite, esses caras botando o pé no freio por soberba.

A menos de um ano da Copa, a Seleção Brasileira se recoloca como candidata a ir longe não apenas pela “força da camisa” – essa é a Argentina, essa é a Itália. Há futebol consistente. Está em condições de competir por uma final. Mas não é melhor que França, Alemanha e tampouco Espanha. E não será surpresa se, porventura, vier a ser derrotada por Bélgica e Portugal, por exemplo. Talvez o principal legado do 7 x 1 tenha sido acabar de vez com essa história de que somos melhores que todos por natureza e só perderemos para nós mesmos. O salto alto está enterrado sete palmos abaixo do gramado do Mineirão e lá deveria ficar para sempre.

Já a principal contribuição do trabalho de Tite talvez seja dar ao Brasil uma seleção por quem valha a pena torcer, pintar a cara, botar fitinha na antena do carro e colorir de novo as ruas. Ou seja, curtir a Copa do Mundo. Ganhar é outra história. 

Fonte: Maurício Barros

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Brasileirão tá ruim mas tá bão!

Mauricio Barros
Mauricio Barros

“Pobre de um campeonato cuja principal atração é a luta contra o rebaixamento”. Muita gente está dizendo isso. Colegas queridos da TV, amigos da pelada, companheiros e companheiras de boteco que sabem muito mais que eu sobre os mistérios da bola e da vida. Mas não acho que isso seja necessariamente uma desgraça futebolística.


Em primeiro lugar, é preciso considerar o balanço entre o prêmio no topo e o castigo na rabeira. Vamos à parte de cima. O título é para um só, apenas um clube é campeão. E se vice no Brasil nunca foi grande coisa, com o aumento do número de vagas na Libertadores o direito a disputar o principal torneio continental, segundo prêmio mais cobiçado, perdeu em desafio. O faisão virou carne de vaca. As vagas podem beneficiar até o 9º colocado do torneio ­– hoje seria o Galo, que está quatro pontos acima da zona do rebaixamento. Ir direto ou não para a fase de grupos ainda não é picanha nobre. Já o castigo fuzila quatro clubes. Não faz diferença ter sido 17º ou último. Todos levam a mesma condenação. Não é de se estranhar, portanto, que a esta altura haja mais times brigando intensamente para não cair do que para ser campeão.

Golaços de Reinaldo e Walter, milagres de goleiros e mais; veja o Top10 da rodada

Sim, a luta pelo título este ano está insossa pela sobrenatural campanha do Corinthians no primeiro turno. Não fosse o Timão, no mínimo Santos, Grêmio, Palmeiras e Cruzeiro estariam com fé na disputa pelo caneco. Acontece em todos os campeonatos por pontos corridos. Há anos de disputa maior, outros de barbadas.


“Não é só a falta de disputa pelo título. É o nível técnico que está baixo”. Muita verdade. Não há um time cujo futebol encha os olhos. O Corinthians do primeiro turno foi de uma eficiência enorme, mas segue sendo um time com limites técnicos claros, embora Carille tenha conseguido elevar o desempenho a uma altura improvável nas análises de início de temporada. A aposta da vez é o Cruzeiro, que tem elenco forte e vai jogar o resto da temporada solto, com a tranquilidade de quem já ganhou o ano com a Copa do Brasil.

Pixotada de Martín Silva, queda de Neílton, gol perdido e mais; veja as bizarrices da rodada

O barato de um campeonato por pontos corridos é o caminho. A emoção é diluída entre as 38 rodadas. A emoção do Brasileiro já está acontecendo. Sim, do Atlético-PR pra baixo, todo mundo nesta pausa de Data Fifa está mais preocupado em não cair. Treze clubes. E a luta por migalhas tem lá sim sua graça. Muita.

É claro que a qualidade anda rasteira em nossos campos. Seria diferente se o Fluminense pudesse segurar Richarlison, o São Paulo Luiz Araújo, o Palmeiras Gabriel Jesus, o Vasco Douglas, o Santos Thiago Maia, o Grêmio Pedro Rocha, blá blá blá. Mas aí é outra questão. A realidade que temos é outra. Estou me contentando com pouco? Sei lá, talvez seja porque goste muito desse troço...

Fonte: Maurício Barros

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Brasileirão tá ruim mas tá bão!

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As mudanças recentes na maneira de jogar dos cinco principais campeonatos da Europa

Mauricio Barros
Mauricio Barros
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A manipulação e análise dos dados do futebol na Europa vem levantando algumas questões no grupo que compõe o FutLAB (Maurício Barros, blogueiro e comentarista dos canais ESPN, e os economistas Celso Toledo, Fábio Moraes e Marco Laes, especialistas em estatísticas). Uma delas é detectar as principais mudanças no jeito de se jogar futebol no Velho Continente ao longo dos últimos anos.

Para aqueles que acompanham a história do nosso esporte favorito, a evolução não é nenhuma novidade: avanços no preparo físico e em esquemas táticos fazem com que, ao compararmos um jogo da década de 1970 com uma partida da atualidade, tenhamos a sensação de estar assistindo hoje quase que a um outro esporte, muito mais veloz, talvez menos “artístico”, certamente com maior ênfase na defesa.

Infelizmente, a coleta sistemática de estatísticas é um fenômeno recente, e não conseguimos retroagir para décadas anteriores. A nossa ideia foi, então, analisar numericamente a evolução ocorrida entre 2010 e os dias atuais. Felizmente, porém, no período em que temos os bancos de dados completos, observamos o auge de uma das maiores revoluções táticas do futebol, que vamos chamar aqui de o “estilo Barcelona” de se jogar – ou, alternativamente, “futebol total”.

Obviamente, o conceito do “futebol total” não é novo: ao longo da história teve aparições, porém quase sempre efêmeras, como na Hungria de 1954, e no Ajax e na Seleção Holandesa do início da década de 1970. No Barcelona, este conceito surgiu na década de 1990, com a chegada de Cruyff (trazendo, obviamente, suas experiências como jogador do Ajax e da Holanda), espalhou-se pela sua academia, La Masia, e alcançou seu auge com o assombroso sucesso no período em que Pep Guardiola assumiu a posição de treinador.

Será que o sucesso do Barcelona imprimiu uma marca no futebol, e espalhou seus conceitos de posse de bola, passes curtos, e paciência ao manter a bola circulando até surgir a opção de passe vertical, para o resto do continente europeu? Bem, como sempre acontece nas análises da FutLAB, vamos aos números. A análise é dividida em dois pontos básicos: a evolução dos passes, e das finalizações, analisando as cinco grandes ligas da Europa: Itália, Espanha, Alemanha, Inglaterra e França. Os dados são da Opta, parceira da ESPN.

  • Passes

Quando se trata de posse de bola, (de uma maneira bastante simplificada) podemos observar nos técnicos duas visões antagônicas: aqueles que acreditam num futebol proativo, baseado na posse de bola (pensem em Guardiola), e aqueles que acreditam que o jogo é vencido por quem comete menos erros, e que a melhor maneira de atacar é se aproveitar de um erro do adversário e sair no contra-ataque (pensem em José Mourinho). Será que o sucesso do Barcelona inspirou os demais times da Europa a dar maior importância à posse de bola? Será que os ex-jogadores do Barcelona que se tornaram técnicos de grandes clubes, como Guardiola, Lopetegui, Blanc e Luis Enrique, exportaram a filosofia azul-grená?

Primeiramente, vamos olhar a evolução do número de passes por jogos nas cinco grandes ligas, ao longo das últimas sete temporadas:

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Estes números, por si só, são notáveis. Enquanto, na média dos cinco campeonatos, eram dados na temporada 2010/11 917 passes por jogo, este valor subiu para 979 passes por jogo em 2016/17, um aumento de 6,8% em apenas 7 anos, uma importante transformação no jeito de jogar em um período tão curto. As maiores mudanças foram observadas nos campeonatos Alemão e Francês, com um aumento de quase 10% no número de passes por jogo (e, curiosamente, a menor mudança ocorreu na Espanha, berço da “revolução”).

Como os times conseguiram aumentar tanto a quantidade de passes dados por jogo? Basicamente, os passes se tornaram mais curtos:

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E passes mais curtos geram uma maior precisão:

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Estes passes não são apenas mais curtos: hoje são dados mais passes para trás (uma das marcas registradas do Barcelona), e são feitos menos cruzamentos, em especial cruzamentos longos (definidos por nós como aqueles em que a bola viaja mais de 35 metros no ar – o chuveirinho clássico).

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Em resumo, os times passaram a valorizar muito mais a posse da bola, procurando reduzir o número de erros ao reduzir a distância dos passes, não ter vergonha ao passar para trás, e chuveirar cada vez menos (não reportamos aqui, mas o número de lançamentos também vem caindo ano a ano). A escola do Barcelona parece, assim, ter se espalhado pela Europa: todos querem ter a bola no pé cada vez mais, e vêm adaptando o estilo de jogo para tanto.

  • Finalizações

Esta mudança na maneira de ter a posse de bola, e avançar no campo, obviamente gerou mudanças na maneira de se finalizar. Um número interessante, que não esperávamos, é que o número de finalizações por jogo vem diminuindo – ou seja, os times chutam cada vez menos:

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Os times estão chutando menos, porém de uma maneira cada vez mais certeira; abaixo, temos que em todas as ligas os chutes estão acertando cada vez mais o gol:

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Como os times vêm ganhando eficiência em suas finalizações? Ao se aproximar cada vez mais do gol: enquanto a distância média das finalizações na temporada 2010/11 era de 20,4 metros, na última temporada este valor caiu em quase 8%, para 18,8 metros.

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Os times estão, desta maneira, finalizando menos, porém de muito mais perto, levando a um aumento na precisão. E como nascem estas finalizações? Este aumento no número de passes levou a um maior número de finalizações geradas por uma assistência de um companheiro, diminuindo, assim, o número de finalizações fruto de jogadas individuais:

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Com exceção da Espanha (que já contava com um alto número de finalizações assistidas), todos os demais campeonatos viram um aumento no número de finalizações criadas de uma maneira mais coletiva. Com exceção da Alemanha, estas finalizações são cada vez mais fruto de jogadas trabalhadas, e menos de contra-ataques:

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Esta mudança (radical para um período tão curto) em como os times finalizam mudou a quantidade de gols marcados? Em média sim, e para cima:

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Podemos observar que Alemanha e Inglaterra, que já apresentavam um elevado número de gols por jogo, mantiveram-se razoavelmente constantes ao longo do tempo (até com uma leve queda na Alemanha). Já os outros três campeonatos apresentaram uma explosão na quantidade de gols marcados, e no continente como um todo o valor passou de 2,66 gols por jogo para 2,83.

  • A última revolução tática?

Ao observarmos os números, é inegável que o futebol europeu vem passando por uma profunda transformação em sua maneira de jogar ao longo da última década, e há a marca do Barcelona nesta mudança: os times cada vez mais estão valorizando a eficiência, procurando aumentar a posse de bola com passes curtos, muitas vezes para trás, a fim de manter consigo a bola, e finalizando menos porém melhor, com finalizações cada vez mais perto do gol, fruto cada vez mais de jogadas trabalhadas. O novo lema do futebol parece ser “vamos manter a bola conosco, envolvendo cada vez mais o time todo, finalizando menos porém melhor”.

Seria este, então, o futebol total, o estilo Barcelona de jogar, o último estágio das táticas do futebol? Não. Seja na natureza, seja nas relações humanas, a evolução é inexorável, e existe sempre a pressão constante para superar o que é considerado melhor em um determinado momento. O futebol já viu diversos esquemas táticos serem tidos como ideais – a “pirâmide” 2-3-5, o W-M, o 4-2-4, o 4-3-3, o 4-4-2, o 3-5-2, e agora o futebol total, “sem-posição”, está em voga. Um novo esquema surge para derrotar uma tática já estabelecida, e apostamos com vocês que, daqui a alguns anos, surgirá uma resposta ao estilo Barcelona de jogar. Se é que já não surgiu, não é, Real Madrid de Zidane?

Fonte: Maurício Barros, blogueiro do ESPN.com.br

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Qual o melhor campeonato nacional do mundo? Vejamos o que dizem os números

Mauricio Barros
Mauricio Barros
Os números respondem: qual é o melhor campeonato nacional do mundo?
Os números respondem: qual é o melhor campeonato nacional do mundo? ESPN.com

O FutLAB, grupo formado pelo jornalista Maurício Barros, blogueiro e comentarista dos canais ESPN, e os economistas Celso Toledo, Fábio Moraes e Marco Laes, especialistas em Estatísticas, retorna à ativa para abordar uma questão importante nos bares da vida: qual é hoje a melhor liga nacional de futebol do planeta? Definir o que é o melhor campeonato não é uma tarefa fácil: alguém pode dizer que é aquele em que se faz mais gols, ou aquele mais equilibrado e com mais times com chances de título, ou o que possui um maior número de estrelas. O que faremos aqui é tentar cobrir um grande número de quesitos, colocando ao final nossa opinião. Cabe a você, caro leitor, concordar (ou não!) se os números traduzem o que você assiste.

Utilizamos para esta matéria os dados da Opta/ESPN para os campeonatos da primeira divisão da Alemanha, França, Espanha, Inglaterra e Itália. Vamos lá!

 

  • 1º critério: campeonato mais estrelado

Um critério (bastante) justo é dizer que o melhor campeonato é aquele em que estão os melhores jogadores. Precisamos, então, definir um critério para o que são “os melhores jogadores”.

A solução que adotamos aqui é olhar o número de jogadores de um campeonato que participaram da última Copa do Mundo. Entendemos que, com isso, claro, podemos deixar de fora grandes jogadores que não foram para a última Copa por conta de sua seleção não ter se classificado, ou por estarem machucados, ou por não terem sido convocados por serem muito jovens à época, por exemplo. Mas entendemos que esta pode ser uma boa maneira de se medir a quantidade de estrelas de uma liga. Vamos aos números para a temporada 2016/17:

Temos aqui, claramente, que a Premier League é a liga dominante. Surpreendentemente, o Campeonato Espanhol conta com apenas 56 jogadores que atuaram na Copa de 2014, atrás de Itália e Alemanha, e à frente apenas da França, a Liga menos “estrelada” das cinco (pelo menos até a chegada de Neymar...).

 

  • 2º critério: times mais equilibrados

Muitos consideram Real Madrid e Barcelona como os dois melhores times do mundo – mas ter dois times muito fortes, cercado de times pequenos, faz disso um bom campeonato? Em nossa opinião, não; queremos ver não apenas bons jogadores, mas também jogos equilibrados entre bons times.

Para avaliar isso utilizamos uma medida de concentração: temos, na tabela abaixo, a porcentagem de jogadores que disputaram a última Copa e que estão no time mais “estrelado” de uma liga, e a porcentagem daqueles que estão nos três times mais “estrelados”. Com isso, podemos medir se estes craques estão em apenas um, ou em poucos times, ou se espalham por diversos times.

Temos aqui que o Campeonato Francês é aquele que concentra mais craques em um único time (no caso, o PSG, que contou com 10 dos 36 jogadores do Francês que jogaram a Copa de 2014), enquanto o Campeonato Espanhol é aquele que mais concentra estrelas em poucos times (no caso, Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid tinham em seus elencos 33 dos 56 jogadores da última Liga e que atuaram na Copa de 2014).

Podemos ver que o Campeonato Inglês, além de contar com mais estrelas, é aquele em que elas melhor se dividem entre os times. Sob este critério, que tem a ver com equilíbrio, mais um ponto para a Premier League.

 

  • 3º critério: futebol é bola na rede!

Podemos pensar também que o melhor campeonato seja aquele em que se faz mais gols. Dado que esse é o objetivo máximo do futebol, nada mais justo! Na tabela abaixo temos a média de gols por jogo para as cinco ligas, ao longo dos três últimos campeonatos:

Sob este critério, temos que na Alemanha o maior momento do futebol acontece mais frequentemente, enquanto na França os gols são mais minguados. Ponto aqui para a Bundesliga (curiosamente, o número de finalizações no Campeonato Italiano é o maior, mas aparentemente os italianos não estão com o pé tão calibrado quanto os alemães).

 

  • 4º critério: o jogo jogado

Para muitos (e, particularmente, também, para a equipe do FutLAB), o melhor futebol é aquele solto, com poucas faltas, muitos passes, e poucos chuveirinhos (cruzamentos da intermediária). Abaixo, temos a quantidade de passes por jogo (os dados são sempre a média dos três últimos campeonatos):

Temos mais passes por jogo no Campeonato Italiano, seguido de perto por Alemanha e Inglaterra. Surpreendentemente, o Campeonato Espanhol é aquele em que se toca menos a bola (aparentemente, o tiki-taka do Barcelona não fez escola entre seus pares).

Entendemos que um ponto que não gerará discórdia é que ninguém gosta de ver faltas (quer dizer, alguns técnicos, cujos nomes não serão aqui mencionados, talvez gostem sim de faltas...). Abaixo temos a quantidade de faltas por jogo para as cinco ligas:

Aqui, a Premier League é disparada a liga com menos faltas. O maior número de faltas ocorre no Campeonato Italiano.

Por fim, o famigerado chuveirinho. Jogar a bola dentro da grande área pode ser uma maneira efetiva de se atacar (não é, mas este será o tópico de uma futura análise nossa – aguardem!), mas é muito feio para os olhos dos telespectadores. Abaixo temos a quantidade de cruzamentos longos por jogo (definimos aqui um cruzamento longo como aquele em que a bola viaja mais que 30 metros):

Temos aqui que, na Alemanha, o cruzamento saiu de moda (os cruzamentos longos caíram pela metade entre as temporadas 2010/11 e 2016/17), sendo os valores razoavelmente parecidos nos demais campeonatos.

Apesar de não termos um vencedor claro pelos três critérios aqui utilizados, há uma sugestão nos números de que na Alemanha o jogo, em geral, seja mais “bonito” (mais toques, menos faltas, menos chuveirinhos), seguido de perto por Inglaterra, e um pouco mais atrás por Itália, França e Espanha.

 

  • 5º critério: mano a mano

Uma maneira direta de responder qual o melhor campeonato é analisar os confrontos entre os times de cada país. Para tanto, olhamos os embates diretos ocorridos na Liga dos Campeões desde 2010 (ano que em os dados começaram a ser compilados); temos cinco tabelas, cada uma mostrando a quantidade de jogos do time daquele país contra os demais, e o número de vitórias, empates e derrotas:

Os resultados aqui são... um pouco confusos. Os times alemães e espanhóis têm um pequeno saldo positivo (mais vitórias que derrotas) nos confrontos diretos com times das outras ligas analisadas, os times ingleses e italianos têm exatamente o mesmo número de vitórias e derrotas, e os times da França apresentam mais derrotas.

Olhando o confronto direto entre times alemães e espanhóis, os primeiros levam vantagens, então podemos dizer que, sob este critério, os times da Alemanha são os melhores. Vale notar que aqui examinamos apenas os times de ponta (que vão para a Liga dos Campeões).

 

  • Então, qual o melhor campeonato do mundo?

Bem, apresentamos aqui alguns critérios numéricos para nos ajudar a definir qual a melhor liga do mundo. Em matéria de bons jogadores e paridade entre clubes, a Premier League é imbatível. Em relação ao estilo de jogo, a Bundesliga e a Premier League são aqueles que mais (nos) agradam. Por fim, no mano a mano, os times da Alemanha têm uma pequena vantagem. A análise sugere, pois, que essas sejam as duas melhores ligas do mundo. Mas, dada a diferença no número de craques, a vitoriosa em nosso comparativo é a Premier League. Mas por uma diferença menor do que poderíamos imaginar. E você, o que acha?

Fonte: Maurício Barros, blogueiro do ESPN.com.br

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Ao reter Coutinho, o Liverpool deu uma bela lição

Mauricio Barros
Mauricio Barros
Philippe Coutinho em ação pelo Liverpool
Philippe Coutinho em ação pelo Liverpool Boris Streubel/Getty Images

Phillippe Coutinho ficou no Liverpool, apesar da proposta monstruosa do Barcelona para contratá-lo. Na Inglaterra, não há multa rescisória. Para interromper um contrato, as partes devem negociar e se entender. A propósito, se fosse assim na Espanha, o Barcelona não teria vendido Neymar nem se o PSG oferecesse a Torre Eiffel e todas as vinícolas de Bordeaux como pagamento. Mas como havia uma multa rescisória, 222 milhões de euros, os franceses depositaram a grana e levaram para Paris o craque brasileiro. Um valor que parece absurdo para o futebol, mas é dinheiro de pinga na lógica geopolítica em que o PSG está inserido depois que foi comprado pelos donos do Qatar.

Louco para jogar no Barça, Coutinho fez um pedido formal para a diretoria do clube negociá-lo. Mas o Liverpool não quis vender. Simplesmente porque é um clube de futebol, quer voltar a conquistar títulos (já são 27 anos sem vencer o Inglês e doze desde a última Liga dos Campeões) e não está precisando dessa grana no momento. O clube e seu treinador Jürgen Klopp acreditam que, se perdessem seu principal jogador, seria mais difícil atingir seus objetivos. Competir para vencer, e não fazer bons negócios, é a razão de ser do clube. Por isso, recusou 90 milhões de libras por quem pagou apenas 8,5 milhões quatro anos atrás. Seria um lucro extraordinário. Mas isso é um clube de futebol, não um banco! Básico ou precisa desenhar?

O futebol é paternalista e olha sempre com mais ternura o jogador do que o clube. “Coutinho quer ser feliz”. Ok, nós e toda a torcida do Liverpool também queremos. Frente ao silêncio do amigo, foi Neymar quem externou como andaria seu estado emocional. “Ao invés de ser um momento de felicidade para ele e para a família, está sendo um momento de angústia, decepção e tristeza”. Pobres Coutinhos... Sentimentos, aliás, que irradiaram para uma dor nas costas.

Phillippe tem contrato e recebe absurdamente bem por isso. Está em um clube enorme da Europa, que não deve nada em história e tradição ao Barcelona e a nenhum outro do planeta. Claro que é absolutamente legítimo querer mudar de ares e solicitar que isso aconteça. Mas é legítimo também da outra parte exigir o cumprimento do contrato.

Nas últimas semanas, Coutinho chamuscou sua relação com o Liverpool e seus  torcedores. Nada que gols e boas atuações não recuperem rapidamente. Honrando o clube como tem honrado, quem sabe seu sonho não possa se realizar para a próxima temporada.

Vamos então dar mais uns dias para essa mescla de angústia, decepção e tristeza passar. Porque já tem clássico contra o Manchester City no próximo sábado, quando o time precisará dele com foco, talento e profissionalismo. E sem corpo mole.

Fonte: Maurício Barros

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Ao reter Coutinho, o Liverpool deu uma bela lição

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O que você busca em um estádio de futebol?

Mauricio Barros
Mauricio Barros

O Sporting Kansas City, que joga na MLS, a Major League Soccer, principal liga de futebol dos Estados Unidos, tem um estádio, o Sporting Park, inaugurado em 2011, que está entre as melhores arenas de entretenimento do mundo. La atrás, uma das primeiras medidas dos executivos do clube foi fechar parceria com a Cisco, empresa de tecnologia, para oferecer um serviço de Wi-Fi gratuito e ultraveloz. Porque um torcedor que não vá ao estádio com smartphone em punho, para o clube, interessa menos. Em todo canto, há uma estação de tomadas para recarregar as baterias.

Aliás, o conceito de torcedor lá é outro. Eles dizem abertamente que “o fã do Sporting KC se recusa a ser um mero espectador”. O clube faz de tudo para estimular o torcedor a acionar o aplicativo assim que entrar no estádio, tendo acesso não apenas às informações sobre o jogo e o campeonato, mas abrindo o leque de interações via smartphone: de ver replays de lances importantes em câmeras exclusivas a tirar fotos com fundos alusivos ao confronto do dia; de fazer o pedido na lanchonete a disparar posts para serem vistos no telão; de concorrer a upgrades de assentos a buscar uma vaga entre as crianças que entram em campo de mãos dadas com os jogadores.

Do lado de fora, há campos de futebol infláveis para distrair a molecada, bem como estandes que desafiam a habilidade com a bola nos pés. Dentro do estádio, existem telões em todo canto, até no banheiro, para não se perder nada. Via app, o sujeito se habilita a participar de gincanas como uma corrida de 50 metros até a bola para chutá-la dentro do gol, mas tudo com um hot dog na boca.

Há muito mais por vir. Quem sabe a possibilidade de apostar no placar, no autor do primeiro gol, no número de escanteios do jogo, no que mais aparecer. Comprar um assento no ônibus que leva o time do hotel para o estádio no próximo jogo. Participar da reza no vestiário. Ajudar o craque do time a calçar as chuteiras. Sei lá...

Oferecer entretenimento ao torcedor está ligado à busca por maior “engajamento”. Permitir que ele se relacione com o clube de diversas formas visa,  obviamente, fazê-lo também gastar mais em sua “jornada esportiva”. Não há, em princípio, problema nenhum nisso, e os americanos são mestres em criar necessidades.

Conversando dia desses com João Paulo Albuquerque, executivo da Cisco, ele me dizia que o Allianz Parque, do Palmeiras, dá seus primeiros passos nessa direção, com uma oferta de Wi-Fi gratuito. Por enquanto, há possibilidade de você emplacar uma foto no telão, mas não mais que isso.

Os clubes precisam buscar novas receitas. E oferecer ao torcedor maneiras criativas e inovadoras de alimentar essa enorme paixão da humanidade é, certamente, um caminho necessário. O problema é que tudo (ou quase tudo) envolve grana, cada vez mais. E nós, brasileiros, vivemos em um país extremamente desigual. Quantos de nós, pais ou mães, podem gastar 250 reais para levar o filho a um estádio? O preço dos ingressos já realiza um filtro socioeconômico enorme nos estádios, alijando do espetáculo os mais pobres, o que não parece nem justo nem positivo para o futebol, que só é o que é porque se popularizou como nenhum outro no planeta. A elitização já é real, mas não deve ser total. Vale lembrar que os clubes gozam de incentivos fiscais porque têm, no seu nascedouro, uma finalidade educativa através do esporte.

É obrigatório, portanto, que se reserve um número significativo de cadeiras a preços populares. Que se ofereça pacotes facilitando o acesso do torcedor que tem menos recursos. Que se pense em novas formas de engajamento que não arranquem necessariamente mais dinheiro do pobre bolso do torcedor. Há partidas que são claramente menos atrativas, por que não baratear os ingressos pontualmente? É sempre devastador para um clube de futebol (e seus cofres) ter arquibancadas vazias. Pior ainda é ver uma parcela significativa de seus torcedores concluir que aquela paixão não é mais para ela.  

Fonte: Maurício Barros

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Palmeiras: não é hora de mudar nada

Mauricio Barros
Mauricio Barros

É nas crises que a gente conhece os bons dirigentes esportivos. Há poucos. No topo, tudo é lindo e fácil. Mas superar perrengues, mantendo-se fiel a princípios, é para os fortes. Escolher soluções populistas, navegando ao sabor da grita, algo típico dos fracos. Os caminhos que o Palmeiras tomará nos próximos dias mostrarão de que lado da força estão seus comandantes – o presidente Maurício Galiotte, o diretor Alexandre Mattos e a principal “acionista” dessa gestão, a conselheira e patrocinadora Leila Pereira.

Há uma grande decepção nos resultados do time em 2017. Estamos em agosto e o ano acabou para conquistas. Depois do título brasileiro do ano passado, o clube multiplicou os investimentos para ganhar a Libertadores. O Palmeiras virou a equipe em alta. E sucumbiu ao primeiro mata-mata, nos pênaltis. Com a eliminação também precoce da Copa do Brasil e a distância para o líder Corinthians no Brasileirão, resta agora tocar o barco dignamente pensando no ano que vem. E por digno, entenda-se terminar o Nacional exatamente onde está, entre os quatro primeiros. 


Quando não se alcança um objetivo, as críticas, pertinentes ou não, são coisa natural, bem como a sanha por culpados. Quem está com a caneta não pode cair nessa. O Palmeiras acertou bem mais do que errou no planejamento. Trouxe destaques do Brasileiro como Keno, Raphael Veiga e Luan. Contratou estrelas da América como Guerra e Borja. Quando Cuca, após o título do ano passado, decidiu estranhamente não ficar, o clube procurou nomes promissores no mercado de treinadores, com perfil mais técnico e menos personalista. Roger já havia fechado com o Galo, optou-se então por Eduardo Baptista, que vinha de um ótimo trabalho na Ponte Preta.

Ok, pode-se discutir a contratação de Felipe Melo. Muito bom jogador, mas de trato difícil. O trio de gestores (sim, Leila é quem abre o caixa, tem influência óbvia) deu claramente um sinal de que, para conquistas maiores, acreditava ser importante temperar com pimenta as lideranças suaves de tipos como Prass, Zé Roberto, Dracena e Moisés. Foi uma aposta que se provou equivocada. Melo trouxe mais problemas que soluções. Deu errado, acontece.

Outra decisão questionável foi a troca de Baptista por Cuca, cuja volta ao mercado foi tão estranha quanto a saída. Ele pode ter se reaproximado da família, mas a história do tempo para “aprimorar conhecimentos” foi pura falácia. Por que diabos Cuca quis sair? Para voltar quatro meses depois? Particularmente, achei precipitada a demissão de Eduardo e disse isso à época. Mas muitos colegas acharam correta, Eduardo não fazia um grande trabalho, o time não rendia o que prometia. Com Cuca no mercado e disposto a voltar, a diretoria foi pelo mais fácil: trazê-lo de volta. E ele chegou com auras de salvador. Não me lembro de um palmeirense que não tenha aplaudido o retorno da calça vinho. Compreensível.

Mas agora, a principal torcida pede a saída de Cuca, alguns covardes ameaçam Mattos de morte (ele não pode deixar isso barato, tem que ir à polícia!), detonam o presidente por ser “omisso”. Como se, de fato, o time estivesse em um buraco. Não está.

É hora de ser forte. De Cuca ficar, de Mattos ficar. De Galiotte garantir ambos publicamente. Leila já se pronunciou dando apoio. O presidente tem demonstrado o mesmo. Repito: o Palmeiras mais acertou que errou. Que use o restante do ano para corrigir os equívocos e preparar-se para conquistar em 2018 o que 2017 não trouxe.

Fonte: Maurício Barros, blogueiro do ESPN.com.br

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Quem é o “maior homem do futebol” da História?

Mauricio Barros
Mauricio Barros

Zidane com o troféu da Supercopa da Europa
Zidane com o troféu da Supercopa da Europa Getty

O sucesso de Zidane como treinador no Real Madrid me fez pensar esses dias nos “super-homens” do futebol. Caras que contribuíram com esse esporte somando três esferas possíveis: como atletas, treinadores e dirigentes. Qual seria o ranking do “maior homem do futebol de todos os tempos”? Vou fazer uma lista minha, sem critérios científicos, algoritmo ou coisa que o valha. Por isso, pode discordar à vontade lá embaixo, mas sem perder a ternura.


De cara, o Rei está fora do páreo. Pelé foi o melhor como jogador, disso não tenho dúvida. Mas não quis ser treinador, tampouco dirigente. Ocupou, verdade, um cargo político: ministro dos Esportes. Mas como este blog é, ainda, mais ou menos meu, decidi tirar a política da jogada ­– até porque ela anda em baixa. Então, se Pelé leva 10 como jogador, fica sem nota nos outros dois critérios. Vale lembrar que o fato de se arriscar ou não em outras funções é uma decisão difícil para grandes lendas. O que para muitos pode soar como “falta de coragem ou ambição”, para outros tantos é simplesmente sabedoria (desconfio que este seja o caso do Rei...).

Diego Maradona, quando era técnico da Argentina
Diego Maradona, quando era técnico da Argentina Getty

Vamos a Diego Maradona. Jogador nota 9,5. Mas técnico ruim. Seu currículo como treinador inclui Racing, Al Wasl e Al-Fujairah. O trabalho de maior impacto foi na Seleção Argentina, nas Eliminatórias e no Mundial de 2010. No Qualificatório, tomou de 6 x 1 da Bolívia. E foi eliminado da Copa da África nas quartas após um 4 x 0 para a Alemanha. Como treinador, nota 2 para o Diego. Zero como dirigente esportivo, cargo que ainda não ocupou. Total: 11,5.

E o Zico? Como jogador, nota 8,5. Um craque absoluto, dos que emocionam com dribles, passes, gols e caráter. Como técnico, o clube mais forte que treinou foi o Fenerbahçe, da Turquia. Não é primeiro nível da Europa. Seu trabalho de maior destaque foi no Japão, onde conquistou títulos com clubes e comandou a seleção no ciclo que culminou na Copa de 2006, onde caiu eliminado na primeira fase. Leva 5. Como dirigente, Zico foi coordenador-técnico do Brasil na Copa de 1998, na França, chegando, ao lado de Zagallo, ao vice-campeonato mundial. Sua atuação como diretor executivo do Flamengo, na gestão de Patrícia Amorim, em 2010, durou apenas 5 meses e não deixou legado. Nota 2. Total do Galinho: 15,5.

Telê Santana, no São Paulo'
Telê Santana, no São Paulo' Reprodução TV

Chegamos a Telê Santana. O Fio de Esperança foi um jogador brilhante nos anos 50, com lugar na história do Fluminense. Ganhou, entre outros títulos, dois Cariocas e dois Rio-SP, títulos de prestígio máximo na época. Nota 6. Foi como treinador, entretanto, que Telê ganhou fama planetária. Adepto de um futebol ofensivo, conhecedor profundo da identidade do futebol brasileiro, montou um dos maiores esquadrões da história: a Seleção Brasileira de 1982. Dirigiu ainda o escrete em 1986. Não precisou ganhar para ser eternizado como um dos melhores comandantes que a Seleção já teve. Em clubes, dirigiu o Atlético-MG no título do primeiro Campeonato Brasileiro, em 1971. Mas foi no São Paulo que atingiu o ápice, vencendo um Brasileiro, duas Libertadores e dois Mundiais nos anos 90. Mestre Telê é 9. Total: 15.

Vamos a Zagallo. Como jogador, inovador, taticamente brilhante, o primeiro grande “falso ponta” do futebol. Campeão por América-RJ, Flamengo e Botafogo. Com a Seleção, venceu as Copas do Mundo em 1958 e 1962. Titularíssimo. Nota 8 pro Lobo. Como treinador, outra coleção de títulos: A Copa de 70, no México, e o vice de 1998, na França. Como assistente de Parreira, foi campeão em 1994 e naufragou em 2006. E mais títulos pelos quatro grandes do Rio. Até a Seleção da Arábia Zagallo treinou. Nota 8,5 pro Lobo. Sem nota como cartola. Total: 16,5.

BB Bom Dia analisa méritos no trabalho de Zidane no Real Madrid

Agora, a vez do sujeito que motivou a lista: Zinedine Zidane. O francês, em campo, é nota 9. Multicampeão com Juventus e Real Madrid, comandante do único título de Copa do Mundo da França, três vezes Melhor do Mundo. Como técnico, inicia de forma arrasadora a carreira no Real Madrid, ganhando, entre outros títulos, duas vezes a Liga dos Campeões, o mais importante torneio de clubes do planeta. Nota 8. Como dirigente, zero, pois ainda não exerceu a função. Zizou fica com 17.

Guardiola, no Manchester City
Guardiola, no Manchester City Lindsey Parnaby/Getty Images

Chegamos a Pep Guardiola. Como jogador, um meio-campista muito técnico, de passes precisos e leitura de jogo invejável. Ídolo do Barcelona e da Seleção Espanhola. Venceu duas vezes a Liga dos Campeões, seis vezes o Campeonato Espanhol. Capitão no ouro olímpico da Espanha em 1992, o maior feito da Fúria até então. Nota 6. Como treinador, Pep subiria degraus. É o artífice da última grande transformação no jeito de se jogar futebol. E como novato! À frente do Barcelona, montou um time imbatível e venceu tudo: duas vezes a Liga do Campeões e o Mundial de Clubes, três vezes o Espanhol. No Bayern, ganhou três vezes o Alemão e mais uma vez o Mundial de Clubes. Guardiola é 10. Sem nota como dirigente. Total: 16

Agora, o mentor de Guardiola: Johan Cruijff. Protagonista da maior revolução da história do esporte: o Futebol Total, o Carrossel Holandês, o Ajax e a Holanda dos anos 70. Sua influência transcendia os gramados: era um ícone da cultura jovem do país. Questionador, quebrou tabus dentro e fora do campo. Entre outros títulos, ganhou oito vezes o Holandês e três vezes a Liga dos Campeões da Europa. Do Ajax, transferiu-se ao Barcelona no que foi então a maior transação da história. Foi três vezes Bola de Ouro da Europa. Nota 9.

No Barça, Cruijff mostraria sua genialidade como treinador. Ganhou quatro vezes o Espanhol e levou o clube à conquista de sua primeira Liga dos Campeões. Sua concepção de jogo desenvolvida junto com o mago Rinus Michels imprimiria a identidade que o clube catalão ostenta até hoje: um futebol belo, competitivo, moderno e vencedor. Nota 8. Total: 17.

Por fim, Franz Beckenbauer. O alemão é o ícone da afirmação do Bayern Munique como potência alemã e europeia. Levou o gigante da Baviera ao título alemão que não conquistava desde 1932. Zagueiro, volante e líbero elegante, técnico e com grande visão de jogo, chegou rapidamente à Seleção. Aos 21 anos, foi destaque da campanha que levou os germânicos ao vice-campeonato na Copa da Inglaterra, em 1966. Com o Bayern, ganhou quatro vezes o Alemão e três vezes consecutivas a Liga dos Campeões da Europa. Com a Seleção, venceu a Eurocopa em 1972 e a Copa do Mundo de 1974, em casa, que ele ergueu como capitão. Ainda ganharia mais um título alemão com o Hamburgo e jogaria com Pelé na fase áurea do Cosmos, de Nova York. Nota 9.

Franz Beckenbauer Bayern de Munique Real Madrid Amistoso 13/08/2010
Franz Beckenbauer Bayern de Munique Real Madrid Amistoso 13/08/2010 EFE/Marc Mueller

Como treinador, Beckenbauer seguiu sua trajetória de sucesso. Em sua primeira experiência no comando, foi vice-campeão com a Seleção Alemã na Copa de 1986, perdendo a final para a Argentina de Maradona. Mas quatro anos depois, o Kaiser se vingaria derrotando os argentinos na final da Copa da Itália e vencendo pela terceira vez na história o Mundial. No comando do Bayern, ganhou uma vez o Alemão e a Copa da UEFA (hoje, Liga Europa). Nota 7,5 pro Kaiser treinador.

E como cartola? Em sua segunda passagem como treinador do Bayern, Beckenbauer acumula a função simplesmente com o cargo de presidente do clube. Mas seu maior feito como dirigente foi ter sido presidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo da Alemanha em 2006 – para muitos (e este colunista, em especial, esteve lá e comprova a excelência...), a Copa mais bem organizada da história. Foi também o evento que marcou o reencontro dos jovens alemães com seus valores, cores, bandeira, de um modo harmônico com os outros povos. A seleção, comandada por Klinsmann, obteve o terceiro lugar, iniciando um trabalho de renovação que culminaria com o título da Copa de 2014. Beckenbauer permanece até hoje como presidente honorário do Bayern, um dos clubes mais bem administrados do planeta. Nota 6. Total: 22,5.

Franz Beckenbauer conseguiu construir uma história de sucesso como jogador, treinador e dirigente. É imbatível, portanto, como “maior homem do futebol” da história. Você pode lembrar de outros que estariam na lista. Simeone, Ancellotti, Evaristo de Macedo, Platini... O meu ranking ficou assim:

Fonte: Maurício Barros

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O rebaixamento não é uma posição na tabela. É um estado de espírito

Mauricio Barros
Mauricio Barros
Dorival Jr no jogo do Sao Paulo contra a Chapecoense pelo Brasileiro
Dorival Jr no jogo do Sao Paulo contra a Chapecoense pelo Brasileiro MARCELO D. SANTS/FramePhoto/Gazeta Press

 O gênio Cartola, torcedor do Fluminense, cantou que o mundo é um moinho e reduz a pó as ilusões. Se eu não tivesse essa voz de galinha, entoaria que o rebaixamento é um redemoinho que, quando pega um clube grande, prende feito carcará. O time pode até botar a cabeça para fora e se agarrar num galho do barranco, mas será pura ilusão. Um simples vacilo, o graveto se quebra e lá se está novamente, girando rumo ao fundo. Ou se segura num tronco rígido, livrando cinco ou seis pontos de vantagem para o primeiro da zona, ou vai ficar na gangorra até a última rodada, quando o monstrengo da Série B subirá para o bote final. Já vimos esse roteiro com Palmeiras, Corinthians, Botafogo, Galo, Grêmio, Inter. Agora é a vez do São Paulo.

Para o grande, o rebaixamento não é uma posição, mas um estado de espírito. O São Paulo “contraiu rebaixamento” desde que seus comandantes, Leco e Vinícius Pinotti, que não parecem ser do ramo da bola, decidiram botar uma placa “Família Vende Tudo” no Morumbi. Rogério Ceni perdeu jogadores fundamentais, foi sabotado pelos chefes, e isso inviabiliza qualquer análise de seu trabalho. O clube não teve autoestima para peitar senão todos, pelo menos alguns dos jogadores que tinham propostas para sair. O suposto saneamento financeiro falou mais alto que o propósito esportivo, razão de ser do clube. Baixou a febre nos cofres, mas o time gangrenou e está na UTI. Com a “baixaestima” em alta.

A dupla de cartolas demitiu Rogério, causando uma comoção na torcida, e contratou Dorival Júnior. Saiu no desespero trazendo reforços questionáveis. A Maicossuel (o que diabos ele tem?), juntaram-se Jonatan Gómez (Messi do Mundo Bizarro), Arboleda (é bom ou não é? Confesso que não sei), um Denílson genérico. Entre os acertos, Petros, Hernanes e, acho, Marcos Guilherme. Tudo com o campeonato em andamento e o time despencando na tabela. A canoa sendo remendada em plena correnteza, reforço indo direto do aeroporto paro vestiário. Chegou? Bota pra jogar imediatamente!

As partidas em casa são uma tomografia dessa verdadeira doença coletiva em 3D. Fica tudo muito claro desde o apito inicial. A torcida mostra todo o seu amor, incondicional, enorme. Hoje vai. Não são 90 minutos, mas sim 90 últimos minutos, jogados como acréscimos, no desespero. O adversário naquela retranca louca. O tricolor trocando passes, vai de um lado, volta pro outro, sem conseguir penetrar. Os jogadores dando a vida em cada dividida. Quando o gol finalmente sai, é como se fosse final de Libertadores. Dois minutos depois, o time toma o empate. E a aflição  recomeça. Bola na trave, canelada. E gol do adversário. Uma festa fantasma onde estão todos lá: o legislador Murphy, a Dona Inhaca, o Sobrenatural de Almeida, o Boitatá. 

A Dorivalgina 40 gotas não tem funcionado, e olha que a tabela do fim do turno era mais fácil. O São Paulo segue girando na água, porque perdeu dois jogos-chave contra Coritiba e Bahia justamente depois de ensaiar a reação com as vitórias sobre Vasco e Botafogo (foram dois gravetos). O clube voltou à boca do sumidouro. O alento é que há um turno todo pela frente e alguns troncos espalhados pela margem, que precisam ser agarrados. O primeiro é o escorregadio Cruzeiro, no domingo. 

Fonte: Maurício Barros

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O rebaixamento não é uma posição na tabela. É um estado de espírito

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Como Neymar ousa dizer não ao Barcelona?

Mauricio Barros
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Neymar durante treino do Barcelona nos Estados Unidos
Neymar durante treino do Barcelona nos Estados Unidos EFE/Edu Bayer

Há uma certa consternação pelo fato de Neymar ter decidido, ao que tudo indica, deixar o Barcelona. Uma parte disso tem a ver com a imagem que o clube catalão conseguiu projetar no planeta: uma entidade “limpa”, que ficou por muito tempo propositalmente sem patrocínio na camisa (e quando decidiu abrir seu manto, não foi para receber, mas sim pagar ao Unicef) e que tem o jogo bonito e artístico como pilar, da base ao profissional. Essa aura de clube “queridinho” se acentuou com a Era Guardiola, a última grande revolução tática da história do futebol. O mundo viveu um sonho com Xavi, Iniesta, Messi e cia. Que time, que jeito mágico de se jogar.

Neymar chegou depois, foi um dos protagonistas de mais um período ganhador do clube (com Luis Enrique) e formou um ataque com Messi e Luis Suárez que também ninguém jamais vai esquecer.

Mas, convenhamos, de “100% limpinho” o Barça não tem nada. Dos escândalos recentes, contam as finanças mentirosas na transferência do próprio Neymar, a punição por contratação ilegal de menores estrangeiros e a prisão de seu ex-presidente Sandro Rosell por corrupção, em denúncia que envolve sua notória intimidade com Ricardo Teixeira. É só fuçar que tem mais sujeira, assim como em todo grande clube da Europa. Cartolas e agremiações enlameadas não são privilégio brasileiro.

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O Unicef saiu do patrocínio principal para um pequeno espaço na camisa, a Qatar Airways passou por ali e hoje quem aluga o espaço são os japoneses da Rakuten, de comércio eletrônico. O que não mudou foi a soberba dos catalães. Um jogador deixar de usar o manto culé por vontade própria é uma inversão da ordem natural, atitude tomada na Espanha como absurdo, acinte, ofensa.

Concordemos ou não, Neymar e seu staff têm seus motivos para rumar ao PSG. O dinheiro, suspeito, seja o mais forte deles. Mas deve haver outros, como ambições e marcas individuais (ser a única estrela do time, ser o melhor do mundo), jogar ao lado dos amigos brasileiros (Daniel Alves, Lucas Moura, Marquinhos, Thiago Silva). Pelo jeitão de Neymar, a cultura francesa e Paris não seriam motivadores fortes como foram, por exemplo, para Raí.

Em história, tradição, títulos e glamour, o PSG é um nanico perto do Barcelona. São clubes incomparáveis. Mas o fato é que Neymar já está em um patamar em que ele é uma vitrine por si só. O brasileiro vai levar prestígio e visibilidade ao clube francês e seus patrocinadores do Qatar, para quem 222 milhões de euros são peanuts. A contratação terá um peso único, muito maior do que a ida de Pastore, Cavani, Ibrahimovic e Di Maria. Neymar é maior que eles.

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O brasileiro chega ao clube para dar-lhe o peso que falta e atingir o topo da Europa, conquistando a Liga dos Campeões e carregando consigo toda a Liga Francesa, sedenta por mais status. 

O custo esportivo para Neymar é desvincular-se de um clube do primeiro patamar global. O futuro na Catalunha projetava ao brasileiro tornar-se facilmente uma legenda imortal do Barça, herdando o cetro de Messi quando este parar. Saindo prematuramente, esse vínculo se desbota e, pelo arrastar da novela, também se arranha. Mas essa condição parece abstrata e poética demais para Neymar, seu pai e seus empresários. Eles, hoje, se acham maiores que qualquer clube.

Fonte: Maurício Barros

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Brasileirão mistura Ironman com Olimpíada do Faustão

Mauricio Barros
Mauricio Barros

Para um treinador de futebol, nossa Série A equivale a um Ironman - a prova extrema do triatlo, onde o sujeito nada 3,8 km em mar aberto, depois pedala 180 km e, para fechar, corre uma maratona (42,195 km). Só que tudo isso, no Brasileirão, misturado àquelas sacanagens da Olimpíada do Faustão: tubarões e águas vivas despejados no oceano, um playboy paulista bêbado cruzando o caminho em jet-ski, o Eri Johnson jogando prego e óleo na pista de bike, Sérgio Mallandro atirando chumbinho, botando casca de banana, trocando água por chá de boldo nas garrafinhas de hidratação, a imprensa borrifando gás de pimenta. Para se dar bem, ficar na ponta de cima da tabela, o sujeito tem que ser bom, ter jogadores cascudos e contar também com sorte.

Quem me lê aqui de vez em quando sabe que olho com lentes esperançosas todo novo treinador que chega a um clube grande brasileiro. O futebol precisa de oxigênio. Esta temporada 2017 começou fértil nesse quesito. Roger Machado no Galo, Rogério Ceni no São Paulo, Fábio Carille no Corinthians, Eduardo Baptista no Palmeiras, Zago no Internacional, Jair Ventura no Botafogo, Zé Ricardo no Flamengo. Já estamos na metade e muitos ficaram pelo caminho.

Baptista mal passou da arrebentação, fritado que foi pela cartolagem e pela torcida alviverde mas, sobretudo, pela simples presença do tubarão Cuca, que espreitava logo ali no outside. No Atlético-PR, tentaria uma prova de recuperação, mas foi engolido por um Furacão sem rumo nem direção. Na Série B, Zago sucumbiu cedo, simulando de tudo, menos o ofício de treinador. Rogério Ceni até que chegou a subir na bicicleta, mas a diretoria foi tirando-lhe as peças. Primeiro, perdeu um pedal. Depois, os freios. Mais à frente, o guidão. E o banco, as rodas... A postura um tanto arrogante sobre a bike também não ajudou. Caiu com dores nas costas antes dos 10 km.

Roger Machado é o mais recente a abandonar a prova. Começou nadando de braçada, ganhando o Mineiro e fazendo bonito na Libertadores. Virou favorito ao Brasileirão. Subiu para a pedalada com os mais badalados equipamentos, tudo caro, mesclando as melhores peças do mercado local e mesmo internacional. Mas sua bicicleta rendeu como patinete. O Galo virou retardatário e Roger caiu em uma encruzilhada.

Seguem para concluir a bike e iniciar a maratona Carille, Ventura e Zé Ricardo. O primeiro tem a vantagem de estar focado nesta prova, com o conjunto azeitado que segue seguro mesmo com algumas peças no conserto. Jair vai tirando o máximo de um equipamento de segunda mão, trabalhando de condutor e mecânico ao mesmo tempo. Quem mais balança é o rubro-negro. Zé Ricardo ainda não conseguiu fazer suas ótimas peças funcionarem em harmonia para render o que o manual de instruções garante. Há tanta contestação sobre seu trabalho que ele ainda não sabe se conseguirá chegar à largada da maratona - a virada do turno.

Definitivamente, o Brasileirão não é prova para novatos. O que só aumenta o já imenso mérito de Fábio Carille.

 

Fonte: Maurício Barros

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Procura-se técnico-mecânico

Mauricio Barros
Mauricio Barros

Fazer uma equipe funcionar bem não é tarefa simples em nenhuma área. Você lida com gente, e gente passa o tempo todo sentindo alguma coisa. Sente ânimo, disposição, garra, alegria, o que é ótimo. O diabo é que gente também sente inveja, insatisfação, raiva, vontade de sair. Dores do corpo e da alma. Gente adora se sentir injustiçada, dizer que ganha menos do que deveria, que não encontra condições necessárias para render o que pode. Gente é louca para chamar a vida de madrasta. 

Pegue essa lama toda, multiplique por 100 e pronto, você está no mundo do futebol profissional. Por isso, tanto quanto as questões do jogo em si, um técnico precisa dominar as manhas do relacionamento humano. Se for um carrasco, não dura. Se for do tipo amigão, perece. Achar esse meio termo ótimo, a distância perfeita entre a cobrança e o companheirismo, é para poucos. Quando se encontra esse sujeito, é pregá-lo na cadeira para não sair nunca mais.

Grandes líderes conseguem tirar o máximo de suas equipes, fazer com que produzam por eles. Admiro especialmente aqueles que fazem render os menos talentosos, valorizando a viela de virtudes e protegendo a avenida de defeitos.

Me lembro de Fábio Carille dizendo, logo quando assumiu o comando do Corinthians, que "não desistiria de nenhum jogador". Se referia ao "Trio Tiriça", como ficou conhecida a trinca Guilherme-Giovanni Augusto-Marquinhos Gabriel. Hoje, Marquinhos é ótima opção de banco, Giovanni ainda busca seu lugar e só Guilherme saiu.

Penso em Borja no Palmeiras. O que tem de corneta para cima do colombiano, que custou os olhos da cara, é uma grandeza. "Baita engodo", "enganação" e outras pedradas. Cuca tem tido paciência, mas nem ele, tampouco a diretoria, colaboram quando querem Richarlyson e Diego Souza para a posição. Precisa? Não sei, o clube tem ótimos homens de frente, como Willian, Roger Guedes, Keno, Dudu, Erick... Estão desistindo do Borja ou quanto mais, melhor? A ver.

Recuperar atletas que estão no elenco é tarefa das mais importantes no trabalho de um treinador. É preciso consertar jogadores com defeito e botá-los para jogar. O descarte é muito comum no futebol. O sujeito faz uma temporada ruim e já está escanteado. Isso é prejuízo nos cofres. O São Paulo tem Wesley, Bruno, Cícero, Wellington Nem. Imagine se Dorival Júnior resgata a bola desses caras, o quanto não livrará a barra de quem os contratou... Ou eles viraram grossos de uma hora para outra?

Todos os times têm seu "grupinho da depressão", caras que encabeçam as listas de decepções da temporada. Jogadores que, se bem liderados, podem voltar a atuar em alto rendimento, mas que são descartados no primeiro desmanche. E sabe quando isso mais dói? Quando eles, na primeira oportunidade, metem um gol no nosso time.

Fonte: Maurício Barros

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