Marlins Park MLB 26/09/2015
Rob Foldy/Getty Images
Um campeonato disputado sempre pelos mesmos times, todos com muita força econômica e apelo de público. Não há promoção ou rebaixamento, tampouco critérios esportivos para a entrada de novos integrantes nesse clube fechado, mas há a garantia de que o torneio sempre terá os times com maior potencial de retorno financeiro. É a base da Superliga anunciada por alguns dos maiores clubes da Europa neste domingo. E também é o modelo no qual se desenharam as principais ligas dos Estados Unidos. Por isso, muitos já fizeram a comparação imediata.
A relação não é despropositada, até porque os investidores norte-americanos de clubes como Manchester United, Liverpool e Arsenal também trabalham com esporte nos Estados Unidos e conhecem bem os benefícios de “ligas fechadas”. No entanto, é preciso entender contextos, e esses dois universos -- futebol europeu e esportes americanos -- divergem bastante nesse aspecto.
A primeira liga profissional a surgir nos Estados Unidos foi a NAPBBP (National Association of Professional Base Ball Players), em 1871. Era uma bagunça. O modelo econômico do esporte ainda não estava consolidado e o campeonato reunia clubes com comprometimento muito diferente com a competição. Alguns, os mais fortes, conseguiam atrair torcedores, vender ingressos e, com isso, bancar os salários dos atletas. Os que pertenciam a empresários engajados na ideia de criar uma indústria em torno do esporte também se bancavam esperando o retorno lá na frente. Mas havia muitos aventureiros no meio, que preferiam abandonar o torneio no meio da temporada para ganhar dinheiro em cachês para disputar amistosos pelo interior.
Era impossível uma liga esportiva vingar como negócio dessa forma. Ainda mais em um país com distâncias enormes como os Estados Unidos (o que não ocorre nos países europeus). Ficou evidente que um campeonato forte precisaria que todos os times fossem minimamente sustentáveis para ficar em pé.
Desse modo, o dono do Chicago chamou os colegas de outros clubes para criar uma nova liga, com novo modelo. Quem quisesse participar teria de garantir o respeito ao regulamento e a permanência por toda a temporada. Por isso, priorizaram equipes de grandes cidades, com mais potencial de mercado, mas evitando times da mesma cidade para que não houvesse concorrência interna.
Foi desse modo que surgiu a Liga Nacional (hoje uma das metades da MLB) em 1876. Sim, século 19, da época em que o Brasil era um império com Dom Pedro II no comando. De seus integrantes originais, sobreviveram o Chicago Cubs e o Atlanta Braves.
As demais ligas norte-americanas que surgiram depois seguiram esse modelo. Lista fechada de integrantes, com controle de finanças forte para que todas as equipes tenham capacidade de competir e de prosperar economicamente. Quando há expansão, procura-se buscar regiões ainda pouco atendidas pela liga, justamente para levar as partidas para o máximo possível de regiões dos Estados Unidos -- e, eventualmente, do Canadá. As cidades menores ficam fora desse sistema, mas quase todas acabam tendo um time universitário por perto, lembrando que as competições universitárias de futebol americano e basquete são mais antigas e enraizadas que as profissionais.
Barcelona e Real Madrid estão entre os fundadores da Superliga europeia
Getty Images
É aí que o modelo norte-americano se distancia brutalmente da Superliga europeia de futebol. O modelo de liga fechada surgiu para garantir a própria existência da competição, mas veio casado com mecanismos que assegurem distribuição de recursos, equilíbrio técnico e até uma certa “democracia geográfica” (na falta de um termo melhor).
Das ligas americanas, a Superliga europeia tem apenas o fato de buscar um formato de membros fechados. A democracia geográfica é nula, com 12 times fundadores representando apenas três países (Espanha, Inglaterra e Itália) e sete cidades (Barcelona, Liverpool, Londres, Madri, Manchester, Milão e Turim). A busca por equilíbrio técnico também não parece ser a tônica, ou alguém acha que alguns dos fundadores se sujeitarão a um teto salarial que limite sua capacidade de contratar craques? Ou que os oito times não-fundadores que entrassem no torneio teriam a mesma cota de TV e ainda a preferência na contratação de jovens (equivalente ao draft)?
Da forma como ela se propõe, a Superliga não apenas dá a seus integrantes o monopólio da possibilidade de se dizer “campeão europeu”, como ainda seria completamente predatória com “o resto”, uma vez que seus clubes querem continuar jogando suas ligas nacionais. Ultrabombados com os bilhões que receberiam pela Superliga, obviamente teriam elencos muito mais poderosos do que qualquer outro em seus países e relegariam ainda mais seus vizinhos. Clubes centenários, muitos com enorme torcida.
Mal comparando, seria como se algumas universidades, que já são dominantes nas competições da NCAA, se fundissem com times da NFL ou da NBA para criar equipes aproveitassem ao máximo os dólares movimentados nesses dois níveis de basquete ou futebol americano (impossível acontecer, só hipótese). Usariam os bilhões do profissional e teriam equipes surreais para o padrão universitário, dominando os torneios da NCAA e destruindo as equipes das demais universidades.
Isso já acontece hoje devido à força econômica da atual Champions League, mas se tornaria ainda mais radical. Até porque o Leicester, o Sevilla ou a Atalanta até podem fazer uma boa temporada, arrecadar alguns milhões de euros a mais jogando um torneio continental e ir gradualmente ganhando terreno. Não conquistarão a Champions, mas podem se meter entre os grandões por um tempo e até levantar um campeonato ou copa nacional pelo caminho. Pela proposta da maioria dos gigantes europeus, nem essa possibilidade haveria mais.
O sistema americano tem problemas e muitos deles merecem ser contestados. Mas a adoção de liga fechada se deu dentro de um contexto muito particular, com vários mecanismos para garantir não apenas a sustentabilidade econômica de todos, mas também para criar equilíbrio e levar a competição para todas as regiões do país. Tudo o que a Superliga europeia não propõe.
Fonte: Ubiratan Leal
A temporada 2021/2022 é a maior vergonha da história do Los Angeles Lakers
COMENTÁRIOS
Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.