Democracia faz bem para os torneios da Conmebol e também para o Mundial feminino de futebol
Estamos vendo um momento de democracia na América do Sul e na Oceania. Isso porque temos times de cinco países diferentes nas quartas de final da CONMEBOL Libertadores, o mais nobre torneio da América, e porque teremos um campeão mundial novo no Mundial feminino, disputado na Austrália e na Nova Zelândia. Se o Flamengo, clube mais rico e dono do melhor elenco aqui na nossa região, foi eliminado por um esforçado Olimpia cuja folha de pagamento bate apenas em R$ 4 milhões (Gabigol e Arrascaeta ganham isso juntos por mês, aproximadamente), os Estados Unidos, maior economia do planeta e maior potência do futebol feminino, deixou precocemente o Mundial das mulheres, assim como a Alemanha, maior economia da Europa e outra forte equipe que era uma das grandes favoritas ao título na Oceania.
Na Libertadores, estão vivos ainda times de
Bolívia (Bolívar), Colômbia (Deportivo Pereira) e Paraguai (Olimpia). Na CONMEBOL Sul-Americana,
ainda está na briga um time do Equador (LDU), que aliás fez o último campeão
(Independiente del Valle). Desde 2016, não havia tantos times de países
diferentes nas quartas de final da Libertadores. Naquela oportunidade, havia
equipes de seis países diferentes nessa fase, mas é bom lembrar que os
mexicanos participaram daquela edição (o Pumas foi até as quartas de final). A final
de 2016, um tanto quanto surpreendente para muita gente, reuniu Atlético Nacional,
da Colômbia, e Independiente del Valle, do Equador (a equipe de Medellín
conseguiu seu bicampeonato). Neste ano, temos apenas uma certeza na semifinal:
haverá um argentino, o vencedor do confronto entre Boca Juniors e Racing. Podemos
ter uma semifinal sem brasileiros, inclusive. O grande favorito ao título
continental agora é o Palmeiras de Abel Ferreira, mas o futebol colombiano
costuma por vezes apresentar equipes surpreendentes, como o Once Caldas campeão
de 2004, ou mesmo o Tolima, que eliminou em 2011 um rico Corinthians. O
Deportivo Pereira, desde o sorteio o mata-mata, foi rotulado como o “patinho
feio” da Libertadores, muito por sua falta de tradição. Mas, diante do que
estamos vendo até agora na disputa, o Verdão que se cuide.
O Bolívar, que já despachou o Athletico, decide fora contra o Inter, mas tem a chance de abrir vantagem na altitude, um problema para o adversário, mas não o único. O Bolívar é um grande de seu país, assim como é o Olimpia, no Paraguai. O time de La Paz merece respeito também por sua história e organização tática (o Bolívar esteve na semifinal em 2014, quando nós já tínhamos um domínio claro, bastante por razões econômicas, dos brasileiros nos torneios da Conmebol). Uma classificação do Bolívar e do Olimpia para as semifinais não seriam uma grande zebra, embora enfrentem equipes mais endinheiradas. O sucesso do Deportivo Pereira, sim, poderá ser visto como uma surpresa maior, muito pelo nível de competitividade do Palmeiras de Abel, que já conquistou uma Libertadores no Maracanã e espera chegar ao seu tetra continental no mesmo mítico estádio carioca (por razões financeiras também, o Maracanã vai receber outra final).
Na Sul-Americana, há apenas uma equipe de
fora de Brasil e Argentina nas quartas de final, mas é simplesmente a equipe
que lidera o ranking histórico da competição: a LDU. O time de Quito é o que
tem mais pontos (148), mais vitórias (43) e mais gols (140) na história da Copa
Sul-Americana. E curiosamente a LDU vai pegar nas quartas de final o também
tradicional São Paulo, segundo no ranking história da competição continental
(139 pontos, 39 vitórias e 121 gols marcados). O Tricolor chega forte após
virar o duelo contra o San Lorenzo e agora conta com reforços de nível europeu,
casos de James Rodríguez e Lucas Moura, atletas que um time do Equador não
consegue bancar. Defensa y Justicia e Estudiantes são os representantes
argentinos ainda vivos na Sul-Americana, mas apenas o segundo, tetra da
América, parece ter forças para desafiar o poderio maior dos brasileiros, que
colocaram cinco equipes nas quartas de final.
Mudando a chave para o futebol feminino,
vimos a queda do Japão nas quartas de final, caindo assim o último campeão
mundial que ainda estava vivo na disputa na Oceania. A Suécia, de tanta
tradição na modalidade, despachou as japonesas e enfrentam na semifinal a
Espanha, que é mais um caso de sucesso quando o tema é desenvolver o futebol
feminino. A equipe espanhola reúne talentosas jogadoras e pode ser mais uma
equipe a ter título mundial no futebol tanto no masculino quanto no feminino. A
Europa melhorou demais na modalidade, tanto que França e Inglaterra chegaram
entre as seleções mais cotadas. Mas vemos força também na anfitriã Austrália e
assistimos à ascensão de uma surpreendente equipe sul-americana: a Colômbia,
que passou pela sensação Jamaica nas oitavas de final. Brasil e Canadá, assim
como a Alemanha, pararam na fase de grupos, o que já dava uma cara de novidade
para este Mundial feminino. A fraca campanha norte-americana já era vista na fase
de grupos, tanto que Portugal meteu bola na trave dos EUA nos acréscimos em um
jogo que poderia ter colocado as lusitanas nas oitavas.
Este Mundial feminino mais democrático talvez
fosse mais fácil de ser previsto e imaginado, pois é inegável que aumenta no
mundo o interesse pela modalidade, com mais praticantes e com mais
investimento. O que era no início uma festa para poucos países, notadamente nórdicos
e os Estados Unidos, virou uma tendência mundial, com boas equipes em todos os
continentes. A África também mostrou boa evolução nesta disputa na Oceania. O
Brasil tem tradição no futebol feminino, apesar das dificuldades que antigas
gerações tiveram em nosso país, mas hoje há mesmo um equilíbrio entre várias nações
na modalidade. Ficou mais difícil ser campeã mundial com tantas seleções
postulantes. Claro que para a Fifa essa democracia maior na disputa é algo
positivo.
Também é positivo para o futebol sul-americano
ver um rodízio maior de times e países nas fases mais agudas das competições interclubes.
Hegemonias costumam tirar um pouco a graça das disputas esportivas, ainda mais
quando isso se dá pelo dinheiro. A América do Sul tem visto ainda muitas cenas
de racismo, o que precisa ser combatido com cada vez mais rigor (dois homens
foram presos no Morumbi por atos racistas no São Paulo x San Lorenzo pela Copa Sul-Americana),
mas vemos também agora como moda rasgar dinheiro na Argentina para provocar o
povo local por conta da economia do país. Os argentinos vão prender os
estrangeiros que fizerem esse ato também imbecil. Toda forma de preconceito
deve ser condenada. Infelizmente, o racismo não é crime em todos os países do
nosso continente. E, infelizmente, até o dinheiro virou agora moeda de provocação
na América do Sul.
Que tenhamos mais democracia, mas mais
respeito acima de tudo.
Democracia faz bem para os torneios da Conmebol e também para o Mundial feminino de futebol
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